Por: Rafael Patto
Essas “manifestações” são a expressão da abominação cognitiva, da abominação ética e da abominação política da classe média brasileira.
Caramba, eu acabo de chegar da rua e a coisa não tá nada boa.
Eu estou nas ruas desde 1999, quando tinha 16 anos e era aluno do 2º ano do 2º grau e fui às ruas para apoiar as reivindicações dos professores da rede pública de ensino do Estado de Minas Gerais.
Desde então, já estive nas ruas inúmeras vezes em manifestações, protestos e comemorações. Já dei abraço na Avenida do Contorno, em BH, em atos do PT; já caminhei pela Avenida Atlântica aqui no Rio com a foto do Marighela nas mãos em manifestações do Tortura Nunca Mais; já discursei de microfone na mão na Cinelândia em atos pela democratização dos meios de comunicação etc. etc. etc. mas acho que nunca presenciei algo parecido com o que estamos vendo. Vendo, talvez sem compreender direito.
Ver as ruas do Rio lotadas de gente vestida de verde e amarelo tinha tudo para ser lindo. Mas não é. Está assustador!!! Tá de meter medo!!!!
O que está se passando é um espetáculo fascista. Pessoas entoando cantos como “o povo unido não precisa de partido”. Pessoas hostis, antidemocráticas, intolerantes, agressivas, violentas e, sim, criminosas.
Tive a notícia de que uma escola pública foi completamente depredada aqui no Rio. O que eles querem???
Jovens pautados pela Rede Globo. Só pode ser!!! Do contrário, como explicar que de uma hora para outra tenha aparecido um mar de cartazes contra a PEC 37? Parece que é uma forma de provar que as razões do “descontentamento geral” não se resumem mesmo apenas aos vinte centavos.
Então a Rede Globo se encarregou de soprar pra esses jovens animalescos outras “bandeiras de luta”.
No começo, enquanto ainda era possível algum contato civilizado, eu tentei perguntar para uns três ou quatro “manifestantes” que seguravam suas cartolinas com dizeres contra a Emenda o que eles sabiam sobre a PEC 37, ou onde eles ouviram falar sobre o assunto. Todos desconversaram!
No mais, tudo o que se reivindicava era aquilo que faz parte do cardápio da Rede Globo. Cartazes pedindo o julgamento do Mensalão Tucano??? Ou a investigação da Lista de Furnas??? Ou exigindo do Ministério Público Federal a denúncia contra a quadrilha da Privataria Tucana??? Nada disso!!!
As reivindicações levadas às Ruas saíram da redação da Rede Globo. Um bando de bobalhões pautados pelo mesmo grupo midiático que apoiou o golpe de 64. Por que esses fedelhos não estudam História????? Que desgraça!!!!!
A manifestação que eu presenciei me assustou. Me assustou e me envergonhou.
É a total falta de foco. É a total falta de tudo.
Cartazes contra Marco Feliciano. Ok. “Meu cu é laico”. Excelente. Criativo. Bem humorado. Mas ali mesmo onde se lia isso, se ouvia coisas como “Dilma sapatão”. Hein??? Será que eu entendi direito? Não, não entendi. E nem vou conseguir dormir, tentando entender.
Uma manifestação abarrotada de gente preconceituosa. Vi desfilar pela Presidente Vargas todo o sentimento de ódio de classe nutrido pelo setorzinho pequeno-burguês da nossa sociedade. Entre inúmeros absurdos e impropérios, eu li coisas como: “a mentira tem pernas curtas, nove dedos e a língua presa”. Dá pra falar que esse movimento é do povo??? Eu me recuso a admitir que o povo do meu país seja assim tão imbecil, tão mesquinho e pobre de espírito! Toda essa lama de preconceito que deixou imunda uma das mais importantes avenidas do centro do Rio não passa da visão distorcida de uma parcela minoritária da sociedade brasileira e não expressa a essência do povo do meu país.
Os menininhos e menininhas mimadinhos e midadinhas estão achando o máximo dizer que “saíram do facebook”. Mas saíram para tirarem fotos e postarem de novo no... facebook. Vi garotas segurando faixas e posando para fotos. Antes do flash, uma diz: “não amiga, é com cara séria. A gente tá protestando”...
Dá pra confiar nessa juventude acéfala e despolitizada? Nessa gente baranga e metida a besta? Eu temo muito pelo que eles estão fazendo. Pelos fantasmas que eles estão ressuscitando.
Vi velhos, bem velhinhos mesmo, acenando das janelas dos prédios. Os jovens, em sua apoteose exibicionista, retribuíam os acenos se sentindo celebridades. Era como se pensassem (pensassem??? Eu disse isso?? Eles pensam?? Sei lá...) mas é como se passasse algo assim em suas cabeças: “esse velhinho deve estar adorando nos ver fazer uma coisa que a idade dele não o permite mais fazer”. Eu, neurótico, pensava: “deve ser algum milico da reserva, viúvo da ditadura, saudosista de 64, amando ver esse circo pegar fogo e reavivar suas lembranças em preto-e-brando desbotado”.
Um comentário:
Rafael e Aninha
Há pouco vi o final do Jornal da Cultura. Na bancada, a apresentadora, uma outra mulher e um homem. Comentaram sobre as manifestações como se acabassem de transmitir carnaval. Rindo, felizes, elogiando. E incentivando para amanhã haver mais gente, já que é sexta-feira. Sobre a quantidade enorme de vandalismo, que deixa a gente sem palavras, sabe o que disseram? "Não se faz omelete sem quebrar ovos". Rindo. Na maior festa.
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