quarta-feira, 19 de junho de 2013

É importante lutar por direitos







Por Rafael Patto
É importante lutar por direitos, mas é fundamental valorizar conquistas.

  • O exemplo que eu vou citar não tem muito a ver com os acontecimentos dos últimos dias não, mas é interessante pensar sobre esses "detalhes".

    Maria, espanhola, é aluna do curso de PLE (Português Língua Estrangeira) nível avançado, da UFRJ.

    Maria fez um comentário interessante. Segundo ela, "os brasileiros reclamam demais". Ela citou o exemplo do bandejão da Faculdade de Letras da UFRJ.

    "Todo mundo reclama. 'O frango é horrível', 'o arroz é isso', 'o feijão é aquilo'", disse a espanhola, que completou: "no meu país é impossível para um estudante almoçar ao preço de dois reais. Aqui, tem um restaurante excelente e as pessoas só reclamam".

    Eu digo que esse comentário da Maria é interessante pelo seguinte: primeiro, ele desmente aquela máxima preconceituosa de que "brasileiro é acomodado". Não!!! E a percepção da estrangeira diagnosticou isso muito bem. Brasileiro é muito exigente!!!

    O problema é quando essa exigência cai numa reclamonice vazia.

    O exemplo do bandejão pode parecer "nada a ver", mas tem a ver sim. Há bem pouco tempo, não havia bandejão na Faculdade de Letras da UFRJ. Os alunos se viam obrigados a pagar preços caríssimos das cantinas arrendadas.

    O bandejão foi uma conquista da mobilização estudantil, que lutou por isso. Com o bandejão, as cantinas, que antes não enfrentavam nenhuma concorrência se viram forçadas a baixarem seus preços.

    Quer dizer, o bandejão foi bom pra todo mundo, inclusive para quem não precisa almoçar nele. Mas foi melhor ainda para aqueles que não têm mais do que dois reais por dia para fazerem uma refeição e que antes eram obrigados a ficar com fome (sim, é isso mesmo!) porque não podiam almoçar. Quando muito comiam qualquer porcaria para enganar o estômago.

    Hoje os alunos reclamam da comida servida. Falando sério, ela não é ruim. Durante toda minha graduação, na UFMG, eu almoçava e jantava no bandejão do campus da Pampulha. De bandejão eu entendo. rsrsrs

    A questão é: reclamar para que seja sempre melhor é interessante sim. Mas reclamar por reclamar não dá. Até porque, de um modo geral, quem fala mal do bandejão são aqueles alunos que não almoçam ali. Falam mal apenas para desmerecer, apenas para desvalorizar o que deveria ser tratado como uma importante conquista de toda a coletividade estudantil.

    Reclamam porque acham que um bandejão universitário deveria servir foie gras. Ah vá pra peida!!!

    A finalidade de um bandejão universitário é baratear o preço dos alimentos, a fim de que todos os alunos e funcionários que trabalham na universidade possam se alimentar com qualidade. As refeições servidas são balanceadas e nutritivas, e gostosas sim!

    O objetivo de um bandejão universitário é servir refeições, não é servir banquetes não. Quem quer sofisticação, procure um restaurante cinco estrelas e não encha o saco.

    Acho que muito desse comportamento reclamão pode ser visto nas críticas que são feitas aos governos Lula e Dilma.

    Muita gente, que não suporta distribuição de renda, muita gente que se arrepia todinha quando ouve falar em coisas como "ascensão social" ataca esses governos para desmerecer seus méritos. Quem fala mal dos governos Lula e Dilma, são justamente aqueles que, como os que não comem no bandejão e falam mal dele, também não são o público-alvo das políticas sócio-afirmativas que vêm sendo postas em prática com reconhecido êxito nos últimos onze anos.

    Gente ressentida, que não sabe o que é luta, não saberá nunca reconhecer e valorizar conquistas. Gente que come a lavagem que é oferecida pela rede globo deve estranhar mesmo um franguinho ensopado de bandejão universitário.

    Gente que se acostumou com governos que durante 502 varreram toda a sujeira desse país para debaixo do tapete deve se assustar mesmo com governos que pela primeira vez estão tendo a decência republicana de enfrentar as mazelas seculares desse país, as quais sempre nos condenaram ao atraso e ao subdesenvolvimento.

    Vamos reclamar? Vamos sim. Mas vamos reclamar para impulsionar novas e mais profundas conquistas, e não para baratear tudo o que já está sendo feito.

    Protestar por protestar é em vão. O protesto, para ser consequente, precisa ser propositivo. Precisamos protestar para aprofundar conquistas e não para rifá-las.

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