sábado, 24 de agosto de 2013

O DEBATE SOBRE A CHEGADA DE MÉDICOS CUBANOS É VERGONHOSO .

Em vez Havana?



Paulo Moreira Leite

Do ponto de vista da saúde pública, temos um quadro conhecido. Faltam médicos em milhares de cidades brasileiras, nenhum doutor formado no país tem interesse em trabalhar nesses lugares pobres, distantes, sem charme algum – nem aqueles que se formam em universidades públicas sentem algum impulso ético de retribuir alguma coisa ao país que lhes deu ensino, formação e futuro de graça.

Respeitando o direito individual de cada pessoa resolver seu destino, o governo Dilma decidiu procurar médicos estrangeiros. Não poderia haver atitude mais democrática, com respeito às decisões de cada cidadão.

O Ministério da Saúde conseguiu atrair médicos de Portugal, Espanha, Argentina, Uruguai. Mas continua pouco. Então, o governo resolveu fazer o que já havia anunciado: trazer médicos de Cuba.

Como era de prever, a reação já começou.

E como eu sempre disse neste espaço, o conservadorismo brasileiro não consegue esconder sua submissão aos compromissos nostálgicos da Guerra Fria, base de um anticomunismo primitivo no plano ideológico e selvagem no plano dos métodos. É uma turma que se formou nesta escola, transmitiu a herança de pai para filho e para netos. Formou jovens despreparados para a realidade do país, embora tenham grande intimidade com Londres e Nova York.

Hoje, eles repetem o passado como se estivessem falando de algo que tem futuro.

Foi em nome desse anticomunismo que o país enfrentou 21 anos de treva da ditadura. E é em nome dele, mais uma vez, que se procura boicotar a chegada dos médicos cubanos com o argumento de que o Brasil estará ajudando a sobrevivência do regime de Fidel Castro. Os jornais, no pré-64, eram boicotados pelas grandes agencias de publicidade norte-americanas caso recusassem a pressão americana favorável à expulsão de Cuba da OEA. Juarez Bahia, que dirigiu o Correio da Manhã, já contou isso.

Vamos combinar uma coisa. Se for para reduzir economia à política, cabe perguntar a quem adora mercadorias baratas da China Comunista: qual o efeito de ampliar o comércio entre os dois países? Por algum critério – político, geopolítico, estético, patético – qual país e qual regime podem criar problemas para o Brasil, no médio, curto ou longo prazo?

Sejamos sérios. Não sou nem nunca fui um fã incondicional do regime de Fidel. Já escrevi sobre suas falhas e imperfeições. Mas sei reconhecer que sua vitória marcou uma derrota do império norte-americano e compreendo sua importância como afirmação da soberania na América Latina.

Creio que os problemas dos cidadãos cubanos, que são reais, devem ser resolvidos por eles mesmos.

Como alguém já lembrou: se for para falar em causas humanitárias para proibir a entrada de médicos cubanos, por que aceitar milhares de bolivianos que hoje tocam pedaços inteiros da mais chique indústria de confecção do país?

Denunciar o governo cubano de terceirizar seus médicos é apenas ridículo, num momento em que uma parcela do empresariado brasileiro quer uma carona na CLT e liberar a terceirização em todos os ramos da economia. Neste aspecto, temos a farsa dentro da farsa. Quem é radicalmente a favor da terceirização dos assalariados brasileiros quer impedir a chegada, em massa, de terceirizados cubanos. Dizem que são escravos e, é claro, vamos ver como são os trabalhadores nas fazendas de seus amigos.

Falar em democracia é um truque velho demais. Não custa lembrar que se fez isso em 64, com apoio dos mesmos jornais que 49 anos depois condenam a chegada dos cubanos, erguendo o argumento absurdo de que eles virão fazer doutrinação revolucionária por aqui. Será que esse povo não lê jornais?

Fidel Castro ainda tinha barbas escuras quando parou de falar em revolução. E seu irmão está fazendo reformas que seriam pura heresia há cinco anos.

O problema, nós sabemos, não é este. É material e mental.

Nossos conservadores não acharam um novo marqueteiro para arrumar seu discurso para os dias de hoje. São contra os médicos cubanos, mas oferecem o que? Médicos do Sírio Libanês, do Einstein, do Santa Catarina?

Não. Oferecem a morte sem necessidade, as pragas bíblicas. Por isso não têm propostas alternativas nem sugestões que possam ser discutidas. Nem se preocupam. Ficam irresponsavelmente mudos. É criminoso. Querem deixar tudo como está. Seus médicos seguem ganhando o que podem e cada vez mais. Está bem. Mas por que impedir quem não querem receber nem atender?

Sem alternativa, os pobres e muito pobres serão empurrados para grandes arapucas de saúde. Jamais serão atendidos, nem examinados. Mas deixarão seu pouco e suado dinheiro nos cofres de tratantes sem escrúpulos.

Em seu mundo ideal, tudo permanece igual ao que era antes. Mas não. Vivemos tempos em que os mais pobres e menos protegidos não aceitam sua condição como uma condenação eterna, com a qual devem se conformar em silêncio. Lutam, brigam, participam. E conseguem vitórias, como todas as estatísticas de todos os pesquisadores reconhecem. Os médicos, apenas, não são a maravilha curativa. Mas representam um passo, uma chance para quem não tem nenhuma. Por isso são tão importantes para quem não tem o número daquele doutor com formação internacional no celular.

O problema real é que a turma de cima não suporta qualquer melhoria que os debaixo possam conquistar. Receberam o Bolsa Família como se fosse um programa de corrupção dos mais humildes. Anunciaram que as leis trabalhistas eram um entrave ao crescimento econômico e tiveram de engolir a maior recuperação da carteira de trabalho de nossa história. Não precisamos de outros exemplos.

Em 2013, estão recebendo um primeiro projeto de melhoria na saúde pública em anos com a mesma raiva, o mesmo egoísmo.

Temem que o Brasil esteja mudando, para se tornar um país capaz de deixar o atraso maior, insuportável, para trás. O risco é mesmo este: a poeira da história, aquele avanço que, lento, incompleto, com progressos e recuos, deixa o pior cada vez mais distante.

É por essa razão, só por essa, que se tenta impedir a chegada dos médicos cubanos e se tentará impedir qualquer melhoria numa área em que a vida e a morte se encontram o tempo inteiro.

Essa presença será boa para o povo. Como já foi útil em outros momentos do Brasil, quando médicos cubanos foram trazidos com autorização de José Serra, ministro da Saúde do governo de FHC, e ninguém falou que eles iriam preparar uma guerrilha comunista. Graças aos médicos cubanos, a saúde pública da Venezuela tornou-se uma das melhores do continente, informa a Organização Mundial de Saúde. Também foram úteis em Cuba.

Os inimigos dessas iniciativas temem qualquer progresso. Sabem que os médicos cubanos irão para o lugar onde a morte não encontra obstáculo, onde a doença leva quem poderia ser salvo com uma aspirina, um cobertor, um copo de água com açúcar. Por isso incomodam tanto. Só oferecem ameaça a quem nada tem a oferecer aos brasileiros além de seu egoísmo.

O ultrajante jornalixo da CBN (a rádio que TROCA notícia).


Por : Rafael Patto


Como de costume, eu não vou colocar o link aqui porque este mural não é aterro sanitário, mas eu ouvi hoje uma conversa do Carlos Sardenberg (o “analista” dos gráficos birutas do Jornal da Globo) com o Merdal Pereira (o bolagateiro do FHC) que me deixou incrédulo. A conversa foi ao ar, ao vivo, na quarta-feira da semana passada (14/08), e os dois bons amigos conversaram informalmente sobre “amenidades”: o destino que terão as vidas de seres humanos que estão sendo julgados pelo STF na AP 470.


É triste ver picaretas travestidos de jornalistas abordarem de forma tão irresponsável um assunto que requereria tanta sobriedade. Os réus são tratados como inimigos pessoais e, por isso mesmo, o que se quer não é justiça, mas sim punição, a qualquer custo. E que seja rápido! Os dois amigos, confessamente ávidos por verem os réus “em cana” (sic), se assumem despudoradamente como torcedores e não como “analistas”. Eles acompanham um espetáculo e anseiam pelo gran finale. Sequer fingem qualquer distanciamento. Não. Eles querem algemas para os réus e reclamam da demora para a conclusão do julgamento, alegando que essa tal demora pode passar a ideia de que o Supremo está sendo leniente (o curioso é que eles não falam da leniência do Supremo em relação aos réus do processo do MENSALÃO TUCANO, que não tem ainda sequer uma data para começar, se é que acontecerá...).

Eu só me pergunto o seguinte: onde estavam José Dirceu e José Genoíno nos últimos 50 anos da História do Brasil? E onde estavam José Serra, Eduardo Azeredo e FHC? Genoíno e Dirceu lutaram contra a ditadura. Foram perseguidos, presos e torturados por isso. Serra fugiu. Azeredo, ninguém viu. E FHC se dedicava a plágios de textos acadêmicos. Uma coisa é certa: esses que estão sendo escalpelados pelo Supremo são os que sempre incomodaram os privilégios das oligarquias nacionais. É natural que nossas instituições, impregnadas pelos valores rançosos que definem o ethos dessa elite, não desperdiçariam a oportunidade de, ainda que tardiamente, punir seus inimigos por todos esses anos de insubordinação. Já em relação ao Serra, ao Azeredo e ao FHC, esses não têm com o que se preocupar. Eles sempre foram defensores dos interesses e privilégios dessa elite sorrateira e vingativa. E sádica! Eles jamais serão alvo de apostas entre dois “jornalistas”. Ao contrário: eles serão convidados para o jantar e para o brinde.

Pois sim, os bons amigos Sardenberg e Merdal Pereria falam descansadamente sobre as condenações dos “mensaleiros”, as quais serão comemoradas com um elegante jantar regado a bom vinho. Gente fina é outra coisa... Paga o vinho quem perder a aposta. Que aposta? Se os réus “irão em cana” até dezembro deste ano ou não... Se sim, Merdal ganha e Sardenberg paga. Se não, o contrário. Claro que Sardenberg quer que Merdal ganhe.

Então ficamos assim: o STF, em nome do ódio de classe nutrido pela elite brasileira,

promove um espetáculo de perseguição política e vingança contra lideranças que sempre lutaram ao lado do povo (o mesmo povo que sempre foi desprezado pelas instituições brasileiras) e a imprensa trata isso como um evento esportivo. “Jornalistas” fazem apostas como se fossem torcedores.

É aviltante perceber os sorrisinhos sádicos que o Sardenberg deixa escapar despreocupadamente enquanto calcula o prazo que ainda resta para os “mensaleiros irem em cana”. É muito descaramento. É muito despudor. A conversa que os dois travaram deveria ser privada. Eles tinham obrigação de saber que aquilo que eles se diziam não poderia jamais ser tornado público. Mas não, que pudor que nada, vale tudo no espetáculo da indecência e do escárnio contra sociedade brasileira. 

Eu chego a sentir fincadas no estômago de tanta indignação. Se você não sente, acesse o site da rádio que TROCA notícia e vote no vinho que você considera mais indicado para o grande jantar comemorativo que Sardenberg e Merdal Pereira farão na noite em que os “mensaleiros forem em cana”...

O “comentarista de vinhos” (seja lá o que isso for) da rádio dá três opções para os ouvintes elegerem uma. Interatividade é tudo... 
______
Do site da CBN (não é mentira, eles tiveram mesmo a capacidade de fazer isso. Dê uma olhada na descrição dos vinhos e me diga se não é de corar de vergonha e ódio. Mal-aventurado o país que tem uma imprensa dessas):

Opções de vinho para a aposta entre Sardenberg e Merval Pereira
A aposta é a seguinte: se os mensaleiros 'entrarem em cana' até o fim do ano, Sardenberg pagará um vinho ao Merval. Caso contrário, Merval paga ao Sardenberg.

Jorge Lucki apresenta três opções: o barolo de Bartolo Mascarello, um camponês muito intelectual e politizado; o Châteauneuf-du-Pape, em homenagem à pureza e justiça de papa Francisco; por último, o vinho Borgonha é uma boa opção por ser produzido com a uva Pinot Noir, que reflete cruelmente o trabalho do produtor.
____
Não recomendo a ninguém ouvir a conversa. Mas se alguém tiver o mau gosto que eu tive e resolver ir lá ouvir, peço, por favor, para não colar o link aqui nos comentários. Obrigado

Vargas e a revolução errada que o derrubou



Por : Paulo Moreira Leite

O aniversário do suicídio de Getúlio Vargas, que completa 49 anos, é e sempre será motivo de reflexões políticas indispensáveis. Mas esta é uma conversa difícil por uma razão simples. 

Poucos homens públicos e intelectuais tem contas a receber no debate sobre a herança Vargas. 
Muitos têm contas a pagar pelos erros e injustiças que cometeram. 

Um dos poucos homens públicos com coragem para fazer uma avaliação desprovida de preconceitos e segundas intenções, o advogado e antigo ministro José Gregori produziu linhas exemplares em seu livro de memórias, “Os sonhos que alimentam a vida.” Vale a pena recordar o que ele diz. É surpreendente. 

Na década de 1950, estudante da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a mais tradicional do país, Gregori era um líder estudantil vinculado a UDN, principal força de oposição a Vargas. 

O poder de sua oratória era tão grande que, certa vez, usando apenas as palavras e o apoio da platéia, o líder estudantil José Gregori conseguiu impedir um emissário de Vargas de falar aos estudantes.

Gregori estava na linha de frente das mobilizações que, em 1954, ajudaram a criar encurralar Getúlio.
Nas vésperas da tragédia, estava de viagem marcada para o Rio de Janeiro, capital do país, como uma liderança que iria participar de toda agitação civil-militar para forçar a renuncia de Vargas. 

“Abaixo a ilegalidade! Instaure-se a legitimidade,” chegou a dizer num comício. 
Meio século depois, o antigo líder estudantil Gregori se refere a morte de Vargas com palavras que, publicamente, nunca empregou antes. Recordando o que disse, viu e lembrou, diz no livro que com o passar dos anos chegou a conclusão de que ao participar do movimento anti-Vargas tinha “feito a revolução errada.” 
Descreve a noite da morte de Getúlio “como a mais triste que São Paulo já viveu.” 
Afirma que, embora pudesse ter convicções corretas, havia participado de um movimento “contra a história.” 
Ao fazer essa auto-crítica, diz Gregori, foi como se “me libertasse de um fantasma.”
O depoimento é importante quando se considera o personagem. Grande amigo de FHC, personagem destacado na luta pelos direitos humanos sob o regime militar, a atitude de Gregori chama atenção por suas companhias políticas. 

Numa instável aproximação ideológica com o pensamento conservador organizado em torno do Estado de S. Paulo, núcleo principal do anti-varguismo no país desde 1932, intelectuais e personalidades que mais tarde seriam identificadas com o PSDB ajudaram a construir e preservar a visão de Vargas como uma versão brasileira do fascismo. 

Essa noção se encontra em Boris Fausto, o mais importante e competente entre eles. No primeiro tomo da trilogia Getúlio, o escritor Lira Neto recorre a Boris Fausto para dizer que “por diferentes caminhos e diferentes conjunturas, brotaria o fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha, o franquismo na Espanha, o salazarismo em Portugal e, em certa medida, com suas especificidades, o getulismo no Brasil.” 

Pesquisando os jornais no dia da morte de Vargas, em seu blogue de hoje o jornalista Mário Magalhães recorda que os principais veículos da época fizeram um coro unânime de oposição a Getúlio. 

A exceção, recorda Magalhães, era a Ultima Hora, jornal que o próprio presidente ajudou a lançar e financiava com ajuda de dinheiro público e empresários amigos. 

Você vê os jornais e pode pensar que Vargas era um presidente impopular. Pode achar, como é sempre mais confortável em eventos históricos, que “deu-se o inevitável.” Como era comum se dizer em 1964, após a morte de Jango: “Caiu de maduro.” Errado. 

Vargas foi um dos principais líderes políticos vinculados aos trabalhadores e aos mais pobres. Um dos poucos, em 124 anos de república. 

Chefe de governo revolucionário, ditador, presidente eleito, deixou um legado duradouro. Simplificando: como contestar a importância da Petrobras? O que dizer dos direitos trabalhistas num país que menos 60 anos antes da CLT aceitava a escravidão? 

Morto um ano depois da morte de Josef Stalin, Getúlio segue um personagem difícil de nossa história por uma razão muito simples. De uma forma ou de outra, grande parte das forças políticas em atividade naquela época atuaram para inviabilizar seu governo, forçar sua queda – passos que antecederam ao suicídio. Há algo pouco estudado na oposição a Vargas. 

É normal e aceitável que fosse combatido por conservadores, adversários assumidos de seu nacionalismo e sua atuação social. Estava na cartilha da UDN e seus aliados. 

O problema é que, em 1954, os comunistas também estavam contra Vargas. Eram diretos e radicais. A linguagem do partido era revolucionária e sua oposição a Vargas tinha tintas de muita ferocidade. 
Num primeiro momento, os jornais do PCB chegaram a comemorar a morte de Getúlio, aqui também tratado como ditador, revoltando uma população que destruiu a redação. 

Alinhado inteiramente ao comando do aparato comunista na União Soviética, naquele momento o PCB praticava a política da Guerra Fria. Definia Vargas como “agente do imperialismo,” para combate-lo pela esquerda, enquanto a UDN, a Casa Branca e os demais atacavam pela direita. 
Comunistas e conservadores, naquele momento, eram incapaz de enxergar o país com uma nação autônoma, em busca de seu desenvolvimento e com direito a própria soberania. Estavam convencidos, cada um a sua maneira, que era obrigatório alinhar-se e, em última análise, submeter-se. 
Partindo de pontos de vista ideologicamente diversos, ambos chegavam a uma ação comum contra um mesmo governo. 
O pensamento anti-Vargas nunca teve grande aceitação popular, mas deixou ideias e conceitos que fizeram sucesso no meio acadêmico e em nossas elites políticas. 

Noções como “populismo” foram assumidas à direita e à esquerda, como forma de desmoralizar sua herança política, dando caráter de demagogia a medidas de grande alcance na melhoria de vida da população, a começar pelo salário mínimo e o conjunto da CLT. 

Em novo casamento de conveniências, o combate a estrutura sindical, descrita como “herança fascista”, uniu adversários ideológicos em novas comunhões da vida prática, esquecidos de que boa parte da inspiração de Vargas, nesse terreno, e em outros, veio de Franklin D. Roosevelt e o New Deal. (O próprio Roosevelt achava que o New Deal devia muito ao que Vargas fizera no Brasil). 

À direita, Vargas e seus herdeiros eram inconvenientes porque já haviam “feito muito.” À esquerda, eram atacados porque haviam “feito pouco.”

Com tantas contas para ajustar, compreende-se que poucos herdeiros de nossa árvore ideológica mental tenham disposição para contar o que fizeram, falaram e ouviram.

sábado, 10 de agosto de 2013

LULA, 13 ANOS ATRÁS.


Por Rafael Patto

Fui à minha estante de livros pegar o “As grandes esperanças”, do Charles Dickens, para emprestar a um amigo e acabei encontrando um exemplar da saudosa Revista Bundas, número 34, de fevereiro de 2000, que publicou uma grande entrevista com o Lula.

Ainda bem que eu guardei essa revista porque é realmente uma entrevista histórica. Nela, Lula fala do PT, que completava 20 anos desde sua fundação; fala da imprensa brasileira; de Hugo Chávez e da esquerda latino-americana; do Fernando Henrique Cardoso e do patrimonialismo, clientelismo e coronelismo das oligarquias brasileiras, entre outros “ismos”, e muito mais.

A seguir, alguns trechos das respostas de Lula a essa entrevista memorável, que eu dividi por temas. O que aparece entre colchetes é acréscimo meu.

FHC , “o único que, saindo do nosso meio, venderia a sua alma”.

Minha decepção com determinadas pessoas se deve a vacilações delas em momentos decisivos. FHC chegou a participar dos encontros no Colégio Sion, com Sérgio Buarque de Hollanda, Mario Pedrosa, Lélia Abramo, fundando o PT, mas pra cabeça dele era muito difícil participar de um partido político que tivesse um metalúrgico como presidente. Isso era duro prum cara que estudou tanto. Ele pode ser o Príncipe da Sociologia, mas também é o rei da vaidade. Mario Pedrosa, Paulo Freire e Sérgio Buarque assimilaram o PT, ele não.

Durante muitos anos FHC foi considerado um dos grandes intelectuais brasileiros. Só não era o rei da Sociologia por causa do Florestan Fernandes [duas vezes deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores]. Mas nem todo sociólogo sabe fazer política. Parece que no curso que FHC fez não tinha a cadeira de Política, ou, se tinha, ele tirou zero.

Nós do PT poderíamos ter tido uma influência mais forte no governo Itamar. O PT tinha força, mas deliberamos por não participar e nos enfraquecemos. E aí figuras que não tiveram nada a ver com o impeachment, como FHC, ganharam destaque. FHC se aproximou de Itamar, que tinha poucos aliados, e ocupou espaços. Mas ele não tinha participado de nada daquilo. Inclusive, se não fosse a esquerda do PSDB, ele teria entrado na barca do Collor.

A Imprensa

Fui a um debate em Paris com Roberto Marinho e sabe o que ele disse, publicamente? “No Brasil havia três candidatos [em 89]. O governador Brizola vivia dizendo que ia fechar a Globo. O pessoal do PT, representado pelo Sr. Lula, vivia enterrando a Globo, passando em frente da sede do Jardim Botânico com meu caixão. O Collor era filho de um ex-amigo meu, falava fluentemente o inglês, então resolvi adotá-lo como candidato”.

Se um jornalista resolvesse escrever o “Notícias do Planalto” do governo FHC, vocês veriam que o resultado seria ainda pior que o do Collor. Vou contar uma história pra vocês. Junho de 1998. A Folha de SP publica uma pesquisa: “Lula tecnicamente empatado com FHC”. FHC chama a Brasília os donos dos principais canais de televisão: “Se vocês continuarem a falar da fome, do desemprego e da seca no Nordeste, o Lula vai ganhar as eleições e eu não estou disposto a ser candidato para perder. Então escolham outro candidato”. Esse foi o teor da conversa. Quase num passe de mágica, a fome saiu da TV, a seca desapareceu dos jornais, e ninguém mais falou em desemprego.

(Vladimir Sachetta, um dos entrevistadores, emendou: “Você contou esse episódio no Roda Viva e nenhum dono de jornal negou.”)

As elites

Agora por ocasião dos 500 anos do Brasil, estou lendo sobre as revoltas brasileiras. Muitas delas não foram nem contadas. Somente agora aprendemos a verdadeira história de Canudos, porque Antonio Conselheiro era apresentado como um bandido, monarquista inveterado. Zumbi era um monte de coisas, menos herói. Sabe o que mais me assusta? A competência da elite brasileira. Nomes que hoje estão no poder já eram o poder há 200 anos! Algumas famílias estão mandando desde a morte dos dinossauros. Lembrei de uma cena no comício das Diretas em 84, em Belo Horizonte, onde Tancredo Neves pega na minha mão e fala: “Lula, o que a gente faz com esse povo agora?” A elite brasileira que se colocava contra os portugueses queria liberdade mas não queria que o povo viesse junto. Índio, negro e pobre tinham que ficar fora do processo. Essa elite ainda mantém isso.

Qual a diferença entre São Paulo e o Rio Grande do Sul? É simples: a política gaúcha passa por Getúlio, Jango e Brizola [Olívio Dutra e Dilma Rousseff]. A paulista passa por Adhemar de Barros, Jânio Quadros e Paulo Maluf [Serra, Alckmin e FHC...].

Hugo Chávez

O Estadão e a Folha ficaram “nerviosos” porque falei bem do Chávez. Falei bem de um cara que ganhou as eleições com 57% dos votos, que conseguiu juntar toda a esquerda em torno dele, que fez campanha baseada na convocação de uma Constituinte para diminuir o poder das elites, que elegeu 90% dos membros dessa Constituinte, que ainda fez um referendo sobre essa Constituinte e conseguiu 80% de apoio, e que agora vai se candidatar de novo antes mesmo de terminar seu mandato. Porra, o Chávez é muito mais decente do que o FHC que tá aí esse tempo inteiro.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Importância da mãe na vida do filho

Com a correria dos dias, sempre sentimos que não temos tempo mais para nada e muitas vezes gostaríamos de ter mil clones.

Atualmente, muitas mulheres, necessitam dividir seus afazeres do trabalho com a tarefa de ser mãe, esposa, dona de casa e ainda conseguir tempo para cuidar da saúde do corpo, beleza e ainda um tempinho para a diversão Mas não podemos esquecer do principal: dos filhos.
As mães trabalhadoras devem compensar o tempo que permanecem longe dos pequeninos por inúmeros motivos.

“Prestar atenção ao que filho gosta de fazer, acompanhar seu desempenho na escola, alimentação e o mais importante, realizar tarefas ao lado da criança, sejam elas de lazer ou educação e responsabilidade”, alerta o psicólogo Alexandre Bez Alexandre, especializado em relacionamento na Universidade de Miami,
A mãe representa pontos cruciais na formação do ser humano, é a partir dos conceitos passados por ela que se desenvolverão habilidades no trato social, familiar, psicológico e até mesmo ambiental. A harmonia da casa, o bom relacionamento com o marido e a satisfação própria como mulher devem caminhar juntos para um ambiente familiar saudável. “Estes conceitos estão presentes na formação caráter, que são responsáveis pelo desenvolvimento da responsabilidade e crescimento pessoal de cada ser”, afirma o profissional. Relação intensa entre mãe e filho

A figura da mãe dentro de uma família é tão importante que chega a superar a figura paterna. De acordo com o especialista, a presença da mãe representa a continuidade da vivência no útero “Até os 3 anos de idade a criança se enxerga como uma extensão da mãe. Somente após essa idade e que o pai ganha espaço na personalidade do filho”, complementa o psicólogo. A ligação da mãe com o filho é mais intensa, pois foi no útero que o bebê recebeu seus primeiros cuidados, como a alimentação, calor, proteção e conforto. “É através do cheiro, da audição, do paladar que a criança se liga mais à mãe após o nascimento, pois foi dentro do corpo dela que ele sentiu essas primeiras sensações.

O ato de oferecer o peito e mamar já é uma ligação forte entre os dois”, explica Alexandre. Tempo X afeto. Como administrar? Nos casos dos bebês, o ideal é que as mães permaneçam no mínimo duas horas com a criança. Em muitos casos, a ausência faz com que os bebês se identifiquem com quem cuida como avós e babás, e acabem naturalmente rejeitando, o colo da mãe. Outra dica, é aproveitar a hora de dormir para cantar para o bebê, já que no útero ele estava habituado a ouvi-la. Nas crianças com idade de 3 a 7 anos, é realmente importante que a mãe participe de brincadeiras com os filhos.

A partir dessa idade até a pré-adolescência, a criança começa a entender e a sentir a necessidade da presença do pai, principalmente as meninas. Saber dividir o afeto Em muitos casos, as mulheres deixam os maridos de lado após o nascimento do primeiro filho. Para que a relação continue a dar certo, ela deve se dividir entre os cuidados com o bebê e a atenção ao marido, pois o primeiro passo para que o conceito família se estabeleça, é a união do casal. Bater para educar?


Um ponto que gera discussão na educação dos filhos é o ato de bater para educar. Alexandre afirma que dar um tapa é diferente do castigo e poucas vezes faz mais efeito para a criança. “Jamais parta para violência, ela gera revolta e desunião do lar. Uma palmada de leve no bumbum pode servir como advertência. Muitos ainda acreditam que um tapinha de leve no dorso da mão é inofensivo, mas a mão da criança ainda possui ossos finos em formação o que pode levar a uma fratura”, complementa o profissional. 

domingo, 4 de agosto de 2013

Lula foi salvo pela mídia digital



 por Paulo Nogueira


Nem Getúlio e nem João Goulart tiveram um contraponto ao ataque selvagem da imprensa.
Lula está certo em saudar a internet

Lula, com razão, deu ontem graças a Deus pelo aparecimento da internet, “nossa mídia”.
Não que a internet seja dele, ou do PT. Mas o fato de que a mídia digital não é controlada pelos suspeitos de sempre – Marinhos, Frias, Civitas, Mesquitas – é de fato alentador não apenas para Lula mas para a democracia.

No Brasil, os interesses privados da mídia desestabilizaram, ao longo da história, mais de um governo que não fizesse o que o chamado 1% queria que fizesse.
Jango, em 1964, foi derrubado. Antes dele, em 1954, Getúlio foi levado ao suicídio.
Não havia o contraponto que a internet oferece. A sociedade era manipulada sem a menor cerimônia.

Lacerda falava no “Mar de Lama” de Getúlio, e todos reproduziam. A maneira mais canalha e mais barata de atacar governos de esquerda é pelo lado da “corrupção”.

Os cidadãos mais influenciados pelo noticiário são levados a crer que o que existe na política é uma roubalheira, e que tirando o partido do poder o problema estará resolvido.

Quem mais fala em corrupção à luz do sol em geral é quem mais à pratica na sombra. Nos últimos anos, as empresas de mídia, por exemplo, levaram a sonegação de impostos ao estado da arte enquanto bradavam em manchetes sermões moralistas e mentirosos.
Mas o que você pode fazer quando todos os microfones estão com os outros?

Getúlio Vargas, num gesto inteligente e ao mesmo tempo desesperado, tentou criar uma alternativa à voz ultraconservadora dos barões da imprensa.

Ajudou o jornalista Samuel Wainer a lançar a Última Hora, jornal voltado para os interesses populares. Mas foi uma voz solitária contra a de uma matilha.

Carlos Lacerda, o Corvo, o desestabilizador mais estridente, começou a atacar Wainer por não ter nascido no Brasil, o que contrariaria a lei que rege a propriedade de mídia no Brasil.
(Ninguém, mais tarde, reclamaria do fato de a família Civita não ser originária do Brasil, excetuados os Mesquitas aristocráticos, porque ali estava mais uma voz da turma.)
Sob as condições em que foram caçados Getúlio e Jango, é presumível que Lula não tivesse resistido ao assédio.

Imagine o circo do mensalão sem o contrapeso da mídia digital. Provavelmente teríamos hoje um presidente chamado Joaquim Barbosa, a serviço do 1% e comprometido com a Globo e tudo que de maléfico ela representa.


Por isso Lula deve ser mesmo grato à internet. E não apenas ele, mas todos aqueles – petistas ou não – que anseiam por um país menor desigual e injusto do que aquele que a elite representada pelas famílias da mídia impuseram aos brasileiros.

Saber envelhecer



Somos todos nós ? Retocando, aqui e ali?

Eu nunca trocaria os meus amigos surpreendentes, a minha vida maravilhosa, a minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais lisa.  Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo.  Eu tornei-me o meu próprio amigo...  Eu não me censuro por comer um cozido à portuguesa ou uns biscoitos extras, ou por não fazer a minha cama, ou para a compra de algo supérfluo que não precisava.  Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante e livre?

Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.

Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até as quatro horas e dormir até meio-dia?  Eu Dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 &70, e se eu, ao mesmo tempo,  desejo  chorar por um amor perdido ...  Eu vou. Vou andar na praia com um calção excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros no jet set. Eles, também, vão envelhecer.



 Eu sei que às vezes esqueço algumas coisas. Mas há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes. Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado.  Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro?  Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão.  Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.

Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude  gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo.  Você se preocupa menos com o que os outros pensam.  Eu não me questiono mais.

Eu ganhei o direito de estar errado. Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser idoso.

 A idade me libertou.  Eu gosto da pessoa que me tornei.  Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será.  E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).

Autor :desconhecido