sábado, 24 de agosto de 2013

O ultrajante jornalixo da CBN (a rádio que TROCA notícia).


Por : Rafael Patto


Como de costume, eu não vou colocar o link aqui porque este mural não é aterro sanitário, mas eu ouvi hoje uma conversa do Carlos Sardenberg (o “analista” dos gráficos birutas do Jornal da Globo) com o Merdal Pereira (o bolagateiro do FHC) que me deixou incrédulo. A conversa foi ao ar, ao vivo, na quarta-feira da semana passada (14/08), e os dois bons amigos conversaram informalmente sobre “amenidades”: o destino que terão as vidas de seres humanos que estão sendo julgados pelo STF na AP 470.


É triste ver picaretas travestidos de jornalistas abordarem de forma tão irresponsável um assunto que requereria tanta sobriedade. Os réus são tratados como inimigos pessoais e, por isso mesmo, o que se quer não é justiça, mas sim punição, a qualquer custo. E que seja rápido! Os dois amigos, confessamente ávidos por verem os réus “em cana” (sic), se assumem despudoradamente como torcedores e não como “analistas”. Eles acompanham um espetáculo e anseiam pelo gran finale. Sequer fingem qualquer distanciamento. Não. Eles querem algemas para os réus e reclamam da demora para a conclusão do julgamento, alegando que essa tal demora pode passar a ideia de que o Supremo está sendo leniente (o curioso é que eles não falam da leniência do Supremo em relação aos réus do processo do MENSALÃO TUCANO, que não tem ainda sequer uma data para começar, se é que acontecerá...).

Eu só me pergunto o seguinte: onde estavam José Dirceu e José Genoíno nos últimos 50 anos da História do Brasil? E onde estavam José Serra, Eduardo Azeredo e FHC? Genoíno e Dirceu lutaram contra a ditadura. Foram perseguidos, presos e torturados por isso. Serra fugiu. Azeredo, ninguém viu. E FHC se dedicava a plágios de textos acadêmicos. Uma coisa é certa: esses que estão sendo escalpelados pelo Supremo são os que sempre incomodaram os privilégios das oligarquias nacionais. É natural que nossas instituições, impregnadas pelos valores rançosos que definem o ethos dessa elite, não desperdiçariam a oportunidade de, ainda que tardiamente, punir seus inimigos por todos esses anos de insubordinação. Já em relação ao Serra, ao Azeredo e ao FHC, esses não têm com o que se preocupar. Eles sempre foram defensores dos interesses e privilégios dessa elite sorrateira e vingativa. E sádica! Eles jamais serão alvo de apostas entre dois “jornalistas”. Ao contrário: eles serão convidados para o jantar e para o brinde.

Pois sim, os bons amigos Sardenberg e Merdal Pereria falam descansadamente sobre as condenações dos “mensaleiros”, as quais serão comemoradas com um elegante jantar regado a bom vinho. Gente fina é outra coisa... Paga o vinho quem perder a aposta. Que aposta? Se os réus “irão em cana” até dezembro deste ano ou não... Se sim, Merdal ganha e Sardenberg paga. Se não, o contrário. Claro que Sardenberg quer que Merdal ganhe.

Então ficamos assim: o STF, em nome do ódio de classe nutrido pela elite brasileira,

promove um espetáculo de perseguição política e vingança contra lideranças que sempre lutaram ao lado do povo (o mesmo povo que sempre foi desprezado pelas instituições brasileiras) e a imprensa trata isso como um evento esportivo. “Jornalistas” fazem apostas como se fossem torcedores.

É aviltante perceber os sorrisinhos sádicos que o Sardenberg deixa escapar despreocupadamente enquanto calcula o prazo que ainda resta para os “mensaleiros irem em cana”. É muito descaramento. É muito despudor. A conversa que os dois travaram deveria ser privada. Eles tinham obrigação de saber que aquilo que eles se diziam não poderia jamais ser tornado público. Mas não, que pudor que nada, vale tudo no espetáculo da indecência e do escárnio contra sociedade brasileira. 

Eu chego a sentir fincadas no estômago de tanta indignação. Se você não sente, acesse o site da rádio que TROCA notícia e vote no vinho que você considera mais indicado para o grande jantar comemorativo que Sardenberg e Merdal Pereira farão na noite em que os “mensaleiros forem em cana”...

O “comentarista de vinhos” (seja lá o que isso for) da rádio dá três opções para os ouvintes elegerem uma. Interatividade é tudo... 
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Do site da CBN (não é mentira, eles tiveram mesmo a capacidade de fazer isso. Dê uma olhada na descrição dos vinhos e me diga se não é de corar de vergonha e ódio. Mal-aventurado o país que tem uma imprensa dessas):

Opções de vinho para a aposta entre Sardenberg e Merval Pereira
A aposta é a seguinte: se os mensaleiros 'entrarem em cana' até o fim do ano, Sardenberg pagará um vinho ao Merval. Caso contrário, Merval paga ao Sardenberg.

Jorge Lucki apresenta três opções: o barolo de Bartolo Mascarello, um camponês muito intelectual e politizado; o Châteauneuf-du-Pape, em homenagem à pureza e justiça de papa Francisco; por último, o vinho Borgonha é uma boa opção por ser produzido com a uva Pinot Noir, que reflete cruelmente o trabalho do produtor.
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Não recomendo a ninguém ouvir a conversa. Mas se alguém tiver o mau gosto que eu tive e resolver ir lá ouvir, peço, por favor, para não colar o link aqui nos comentários. Obrigado

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