terça-feira, 29 de outubro de 2013

Propinoduto Tucano.

Se você acha que fez papel de bobo porque acreditou no slogan "PEC 37= impunidade", não precisa ficar muito deprimido. Só um pouco. A explicação do procurador Rodrigo de Grandis, que engavetou processo é bisonha.




A descoberta de que o inquérito sobre a Alstom foi parcialmente interrompido, na Suíça, porque o procurador Roberto de Grandis não atendeu a uma solicitação das autoridades daquele país é um fato que merece um minuto de reflexão.

A explicação de Grandis é bisonha. Ele  não teria dado sequencia ao pedido das autoridades suíças, feito em fevereiro de 2011, porque a solicitação ficou guardada na gaveta errada – e nunca mais pensou no assunto.

Há, é claro, uma suspeita de prevaricação no caso.

Código Penal – Prevaricação (art. 319): Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Lei 8429/92 – Art. 11: Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
(…) II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

Há três meses, em 25 de junho, o Congresso rejeitou, sob uma pressão que seria mais conveniente definir como chantagem, a PEC 37, que pretendia  garantir aos delegados de polícia a exclusividade sobre a condução de um inquérito policial. A votação foi um massacre: 430 a 9.

O monopólio dos delegados sobre uma investigação tampouco  era uma boa ideia, quando se recorda o histórico de nossas corporações policiais. Mas a PEC 37 ajudava a fazer um debate necessário e poderia permitir correções úteis. 

Nos bastidores de Brasília, policiais, procuradores e representantes do ministério da Justiça tentavam chegar a um acordo, a partir da PEC, para assegurar os direitos da polícia sobre a investigação sem deixar de atender os principais pleitos do Ministério Público. Pensava-se em criar uma nova divisão do trabalho de apuração, mais inteligente e produtiva.

Mas, com o apoio dos meios de comunicação, que passaram a tratar a rejeição à PEC 37 como se fosse como se fosse uma reivindicação tão popular como a redução da passagem de ônibus, o Ministério Público  garantiu a votação em bloco, sem qualquer concessão à outra parte. Confusos, e mesmo acovardados, vários parlamentares preferiam omitir-se e votar errado para não ser criticados pelos jornais nos dias seguintes.

Naquele momento, o procurador geral da República, Roberto Gurgel, travava uma luta de morte para fazer o sucessor. Seu prestígio atingia o ponto máximo em função do julgamento da ação penal 470.

A denúncia ainda não havia sofrido a primeira (e até agora única) derrota, representada pela aceitação dos embargos infringentes para 12 condenados.

Acreditava-se em junho que qualquer arranhão na imagem do Ministério Público poderia chamar a atenção para incongruências e falhas do julgamento. Foi essa a motivação que impediu uma discussão civilizada, com argumentos ponderados. 

Três meses depois, comprova-se uma verdade fácil de reconhecer, mas que não era conveniente admitir.

Enquanto os manifestantes acreditavam estar berrando contra a impunidade em Brasília, o pedido das autoridades suíças era esquecido na gaveta de De Grandis em São Paulo.

Ergueu-se, ao longo de vários anos, um muro de aço contra a apuração de um dos mais prolongados escândalos de corrupção da história política brasileira, formado por 45 inquéritos arquivados sem o devido esclarecimento (sim, 45!). 

Ninguém ficaria sabendo o que estava acontecendo se não fosse o trabalho competente corajoso de meus colegas da IstoÉ Alan Rodrigues, Pedro Marcondes e Sérgio Pardellas sobre o propinoduto, capazes de produzir reportagens à altura dos fatos descobertos.

Não há instituição a salvo de pressões políticas nem de iniciativas estranhas a sua missão legal. Erros ocorrem. Desvios, também. E coisas piores, você sabe.

Se você acha que fez papel de bobo porque acreditou no slogan “PEC 37= impunidade”, não precisa ficar muito deprimido. Só um pouco.

Muita gente está se sentindo da mesma maneira.

Sim, eu sou marxista.

Por Rafael Patto

Eu pensei que, pelo tempo que eu já "brinco" aqui no feicibuqui, eu já havia recebido todos os "elogios" possíveis. Mas não. Depois desse texto que eu compartilhei ontem (
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=485347501563224&set=a.222579191173391.45804.100002639352550&type=1&theater), me chegou um novo: “marxista ultrapassado”.

Sim, eu sou marxista. Não sei se já tive a oportunidade de me declarar assim, mas, se não o fiz, as coisas que escrevo certamente já o fizeram por mim.

Houve um tempo em que "pegava mal" falar em marxismo ou materialismo histórico em algumas rodas na FAFICH/UFMG. Não sei como as coisas andam por lá ultimamente, mas nunca me conformei com essa "coxinhice acadêmica" de considerar que vivemos uma era epistemológica pós-marxista.

Não vejo como falar de uma sociedade marcada pela disputa de classes, em que uma minoria se apropria indebitamente de privilégios produzidos pela força de trabalho da maioria, sem recorrer a Marx.

Quando Fukuyama veio com aquele papo de fim da história, muita gente embarcou de maneira irrefletida. O fim do bloco da URSS representou mesmo um momento de perda de referenciais para a esquerda em todo o mundo, mas daí a considerar que passaríamos a viver tempos em que apenas um discurso reinaria hegemonicamente já é um tanto fanático, né não?

O "edifício social" continua aí de pé. Combalido, com graves problemas infraestruturais, mas de pé. A superestrutura ideológica continua retroalimentando a infraestrutura econômica, e querem me convencer de que recorrer a conceitos marxistas para interpretarmos esses nossos tempos conturbados é uma prática ultrapassada? Difícil acreditar quando toda a realidade me demonstra o contrário. O pensamento de Marx, para mim, está mais vivo do que nunca. Negá-lo me parece ser uma escolha covarde e intelectualmente desonesta.

Que Marx seja rechaçado nas universidades estadunidenses, nós até entendemos. Mas reproduzir isso aqui é de uma pequenez vergonhosa. Nós não podemos nos conformar em sermos meros satélites acadêmicos dos Estados Unidos. Do contrário não passaremos mesmo de meras colônias culturais.

Mais Althusser e menos Doris Day é o que eu desejo a todos nesta terça-feira. E, se precisarem, façam como eu: call Marx.

Estranha democracia...


Por Rafael Patto

Um telefone público, desses “orelhões”, é um símbolo do capitalismo mundial? Um símbolo da opressão do Estado contra os cidadãos?

Se não é, qual o significado de um ato de depredação desse objeto?

A banca de jornais do Seu Manoel é um símbolo do capitalismo mundial? O sacolão da Dona Maria é? Se não são, qual o significado dos saques que estabelecimentos modestos, como pequenos comércios familiares, vêm sofrendo ultimamente?

É nítido que as práticas black blocs são absolutamente desnorteadas. As ruas das cidades brasileiras estão sendo tomadas por uma horda de vândalos movidos pelo instinto da destruição. Destruição gratuita e sem qualquer propósito. Sem quê nem pra que.

É ridículo essas pessoas acharem que estão contribuindo com alguma coisa. Não, elas apenas estão destruindo. Destruindo e ameaçando aquilo que foi conquistado a duras penas: a nossa ainda jovem democracia.

Que sentido transformador se pode extrair de gestos como esse que vemos na foto? O país será outro, a sociedade será outra, depois que esses vândalos tiverem extravasado a sua agressividade e deixado o rastro de destruição pelo caminho por onde tenham passado? Homens e mulheres do presente extraem alguma lição cívica desses “exemplos”? Esses “exemplos” ficarão como legado para gerações futuras? Claro que não!

Não há justificativa para essas práticas black blocs. Não há defesa para elas. Elas são completamente infecundas. Não trazem nenhuma proposta para um outro mundo. Não trazem nenhuma promessa para um novo tempo. Só destruição. Destruição burra, ainda por cima. Porque não mira os alvos certos. Quem dispara uma metralhadora giratória atinge o que não deve.

O problema maior de tudo isso é que graças a esses black blocs nós estamos entrando numa ditadura da minoria. Sim, os black blocs são a minoria da minoria e, ainda assim, estão conseguindo inviabilizar os atos públicos dos movimentos sociais legítimos. A esmagadora maioria da população brasileira reprova as táticas de depredação utilizadas por esses grupos, mas mesmo assim eles impõem a sua presença. Nesse caso, eu me pergunto: a atuação policial, ao reprimir essas práticas lesivas ao patrimônio público e amplamente reprovadas pela população em geral, não estaria agindo em defesa do interesse público e do bem comum? Claro que os abusos policiais também não se justificam, mas nenhum grupo da sociedade pode se sentir livre para produzir terror impunemente, afetando a vida e a rotina de milhões de brasileiros em diferentes cidades do país. Isso não é democrático!

As ruas sempre foram a alternativa dos sem-mídia. Tradicionalmente, os operários - o proletariado em geral - sempre estiveram privados do acesso aos meios de comunicação. Suas reivindicações, suas demandas, nunca puderam ser amplamente difundidas entre os diferentes setores da sociedade porque a imprensa burguesa sempre silenciou a voz do povo trabalhador. Sair às ruas, debaixo de chuva ou de sol, com cartazes, apitos e buzinas é o gesto agônico daqueles que não dispõem de outros meios para se fazerem ouvir. Claro que seria mais confortável e talvez mais eficiente escrever um artigo num grande jornal de circulação nacional, relatando suas necessidades, denunciando as injustiças sofridas etc., mas esse espaço nunca foi cedido. Daí a necessidade de sair às ruas para gritar tudo aquilo que não pode ser dito de outra forma.

Entretanto, com a infiltração dos black blocs, até isso está perdendo o sentido. É que antes, pelo menos, os trabalhadores conseguiam fazer com que sua pauta de reivindicações e propostas ganhasse alguma repercussão midiática. Quer dizer, o espaço que sempre foi negado nos meios de comunicação acabava sendo conseguido por meio dessas manifestações quando eram noticiadas. Era a forma pela qual a sociedade ficava sabendo das necessidades de uma determinada classe trabalhadora, por exemplo. Às vezes, esse era o único recurso para que os trabalhadores conseguissem fazer com que a sociedade de um modo geral os enxergasse e soubesse de suas necessidades.

E agora com os black blocs??? Esses black blocs têm se mostrado tão perniciosos para a sociedade e para a democracia que até os movimentos sociais eles têm conseguido prejudicar. Se antes os jornais, ao noticiar uma greve, uma passeata, uma assembléia etc. se viam obrigados também a contextualizar aqueles atos e apresentar suas razões de fundo (em geral, de natureza trabalhista), agora não mais. O noticiário dessas tentativas de passeatas e assembleias está totalmente tomado pelos black blocs. A atenção fica toda desviada para eles. O único recurso que restava aos trabalhadores, ao operariado, para conseguirem quebrar a barreira de silêncio que a mídia burguesa historicamente lhes impõe, que são as manifestações de rua, está sendo completamente usurpado por essa horda de vândalos.

Será mesmo que nós temos que os engolir? Democracia é isso? O conjunto da sociedade tem de se prejudicar apenas para que um grupo possa extravasar sua ira de existir?

domingo, 27 de outubro de 2013

Qual a diferença entre regime de partilha e regime de concessão na exploração do petróleo?
Paulo Springer de Freitas


No final de 2009, o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional quatro projetos de lei que tinham por objetivo instituir um novo marco regulatório para a exploração do petróleo no País. A principal alteração proposta foi a introdução do regime de partilha, que passará a substituir o atual regime, de concessão. Em 22/12/2010 o Poder Executivo sancionou a Lei no 12.351, de 2010, que instituiu o regime de partilha.
O objetivo desta Nota é explicar a diferença entre os regimes de concessão e de partilha, realçando alguns argumentos utilizados durante o debate do projeto de lei.

O regime de partilha e de concessão

Mesmo reconhecendo a diversidade de arranjos institucionais entre os diferentes países, a característica comum entre os diferentes regimes de concessão é que o concessionário é dono de todo o petróleo que produz. Já no regime de partilha, o Estado é o dono do petróleo produzido.

A diferença de titularidade entre os diferentes regimes leva à falsa impressão –extensivamente utilizada pelos defensores do regime de partilha – de que, na concessão, a empresa ganha mais, enquanto que, na partilha, é o Estado (e, consequentemente, a sociedade) é quem sai ganhando. Nada mais equivocado!
Receitas do governo em cada regime

Ambos os regimes implicam remunerações para o Estado. No caso da concessão, a empresa concessionária é, de fato, dona do petróleo. Mas é obrigada a pagar diferentes participações governamentais. No caso do Brasil, as principais obrigações da concessionária são o pagamento do bônus de assinatura, dos royalties e da participação especial.

O bônus de assinatura é um pagamento que a empresa faz quando assina o contrato de exploração, para ter direito de explorar determinado campo. O valor do bônus de assinatura é definido em leilão, sendo vencedora a empresa que oferecer o maior valor (além de outros critérios, como participação de equipamentos produzidos no país e plano de exploração). Usualmente, o bônus de assinatura não chega a representar 10% da arrecadação governamental. Em 2010, por exemplo, o governo arrecadou R$
1 Consultor Legislativo do Senado Federal e professor do Mestrado em Economia do Setor Público do Departamento de Economia UnB.

170 milhões com bônus de assinatura, menos de 1% dos R$ 21 bilhões arrecadados com todas as rendas advindas da exploração de petróleo.

Os royalties correspondem a uma alíquota incidente sobre o valor de produção do campo. Assemelha-se, assim, a uma espécie de imposto sobre faturamento. Atualmente, a alíquota mínima é de 5%, e a máxima, de 10%. Na prática, quase todos os campos pagam 10% de royalties.

A participação especial está regulamentada pelo Decreto no 2.705, de 1998. Ela é devida somente em campos de alta produtividade e suas alíquotas, progressivas de acordo com a produtividade do campo, incidem sobre uma espécie de lucro do campo, podendo chegar a 40%. A participação especial assemelha-se, assim, a um imposto sobre lucro. Em valores, royalties e participação especial vêm arrecadando, cada rubrica, cerca de R$ 10 bilhões ao ano. A tendência, contudo, é da participação especial crescer com a descoberta de campos (já leiloados sob o regime de concessão) de maior produtividade, na área do pré-sal.
No regime de partilha, conforme dito anteriormente, a União é dona do petróleo extraído. Obviamente, nenhuma empresa extrairia petróleo se não fosse remunerada para tal. O que ocorre é que a parceira tem direito à restituição, em óleo, do custo de exploração – essa parcela é chamada de custo em óleo – e de uma parcela do lucro do campo – essa parcela é chamada de óleo excedente, ou seja, a parcela de óleo que excede os custos de exploração. O nome partilha deriva justamente do fato de as empresas partilharem com o governo o óleo excedente. Ao final do processo de exploração, a parceira será dona do custo em óleo e de sua parcela de óleo excedente. Já o governo não receberá todo o petróleo produzido, mas somente sua parcela de óleo excedente.

Observem a semelhança entre a parcela do óleo excedente que fica com a União e a participação especial: ambas equivalem a uma alíquota incidente sobre o lucro obtido com a exploração do campo. Há, entretanto, uma diferença importante entre as duas formas de arrecadação, na forma como o regime brasileiro foi instituído. No Brasil, as alíquotas de participação especial são definidas por decreto. Já a parcela de óleo excedente pertencente à União é definida em leilão, sendo o direito de exploração outorgado à empresa que oferecer a maior alíquota. O negrito colocado há pouco é importante para lembrar que nada impede que, no regime de concessão, o critério de outorga seja baseado na empresa que ofereça maior alíquota para participação especial.

Além da participação do óleo excedente, o regime brasileiro de partilha também prevê a cobrança de royalties e de bônus de assinatura. Dessa forma, é óbvio que não há motivos para acreditar que um regime permite maior arrecadação do que outro. Tudo dependerá das alíquotas estabelecidas e dos resultados dos leilões.

É falsa, portanto, a afirmativa de que, em um regime de concessão, o Estado arrecada pouco. No Brasil, o montante que o Estado arrecada é uma decisão do Chefe
do Poder Executivo. Afinal, as alíquotas da participação especial são definidas por decreto, sem necessidade de aprovação por parte do Congresso.

O debate entre partilha e concessão, entretanto, não se restringe à suposta diferença de arrecadação. Os que defendem o regime de partilha também realçam o fato de o Estado, por ser o dono do petróleo, consegue utilizá-lo de melhor forma. Novamente, trata-se de um argumento equivocado.
Há vantagens em o Estado ser o dono do petróleo?

Para os que defendem o regime de partilha, há as seguintes vantagens em o Estado ser dono do petróleo:

i) Pode controlar melhor o ritmo de produção;
ii) Pode controlar melhor a venda do petróleo para o exterior;
iii) Pode fazer política industrial.

Sobre o item i, é importante entender que o regime de partilha, per si, não tem nenhuma relação com o ritmo de produção. Afinal, a partilha somente diz respeito ao quinhão a que o Estado tem direito após a produção já realizada. Ocorre que, no regime brasileiro, foi criada uma empresa estatal – a PetroSal – que tem por atribuição gerir os contratos de partilha. A PetroSal deverá também indicar metade dos assentos nos comitês operacionais, que são comitês responsáveis por importantes decisões relativas às operações dos campos, inclusive relativas ao ritmo de produção.

Sendo assim, de fato, no regime brasileiro de partilha, o governo terá maior controle sobre o ritmo de produção. Isso não necessariamente significa melhor controle. Os que defendem esse controle argumentam que, sem ele, corremos o risco de explorarmos e vendermos nosso petróleo quando o preço estiver ruim, e, quando a situação melhorar, nos virmos obrigados a importar a um preço maior. Um exemplo muito citado na literatura é o da Indonésia, que teria exportado quase todo o seu petróleo quando seu preço estava baixo e hoje, com os preços altos, não consegue sequer ser autossuficiente.

Há duas formas de entender o controle de produção. Uma é a sintonia fina: ao longo de um contrato de partilha (ou de concessão), o preço do petróleo flutua. Corre-se o risco, de fato, de a empresa, ao longo desse contrato, produzir (e vender) muito quando o petróleo estiver barato, e tiver exaurido seu campo quando o petróleo tiver caro. Ocorre que é mais provável que a própria empresa consiga acertar nas previsões (afinal, ela é a mais diretamente interessada nisso), do que um burocrata do governo encarregado disso. Certamente, não é a maior intervenção estatal que conseguirá melhorar o timing da exploração, para que sejam melhor aproveitados os períodos de alta do preço do petróleo.

Outra forma de entender o controle de produção é sob o ponto de estratégico. Independentemente do que ocorrer, pode ser importante para o País dispor de reservas no futuro, por exemplo, para garantir uma produção mínima de derivados, permitindo-nos enfrentar situações com fortes limitações para importação, como em guerras. Se o objetivo é garantir que tenhamos reservas no futuro, só há uma solução: postergar a licitação para quando se julgar conveniente iniciar a exploração. Isso, claramente, independe do regime de outorga, se de licitação ou de partilha.

O controle sobre a quantidade de petróleo que se exporta está muito associado com o que foi discutido anteriormente. Se há um objetivo estratégico de manter as reservas para garantir o abastecimento interno no futuro, a solução é não explorar, e isso independe do regime de outorga. Para a sintonia fina, o governo dispõe de outros instrumentos, como impostos sobre exportação ou quotas.

Resumidamente, se o governo quer garantir o suprimento futuro de petróleo, a solução é adiar a sua exploração. Isso independe do regime de outorga.

Por fim, no regime de partilha, o governo, por ser dono do óleo, pode utilizá-lo para outros fins, como firmar posições geopolíticas ou fazer política industrial. O governo poderia vender o petróleo a um preço abaixo do praticado no exterior para nações amigas, a exemplo do que faz atualmente a Venezuela. Similarmente, o governo pode vender o petróleo a um preço abaixo do mercado para determinados setores que tem interesse em desenvolver, por exemplo, para a indústria petroquímica.

Quando o governo vende petróleo abaixo do mercado, está, de fato, subsidiando o comprador. Com isso, pode favorecer determinado setor de atividade que, de outra forma, não teria competitividade. Não cabe aqui discutir os méritos de uma política industrial, mas somente a necessidade da partilha para implementá-la.

Em um regime de partilha, o subsídio implícito corresponde à diferença entre o preço pago pelo comprador e o preço que ele pagaria se tivesse de comprar no mercado. Esse mesmo subsídio pode ser dado em um regime de concessão: o governo destinaria parte da receita arrecadada para a empresa que quer beneficiar. A diferença é que esse processo, no caso brasileiro, teria de ser feito via orçamento e sujeito, portanto, à discussão com o Parlamento. Em particular, surgiria naturalmente o debate se os recursos deveriam ser realmente transferidos para as empresas que se pretende beneficiar, ou se haveria outras prioridades, como infraestrutura, educação ou saúde.

Ou seja, o governo também pode fazer política industrial em um regime de concessão, e de forma mais transparente do que no regime de partilha. Esse talvez seja o ponto em que, claramente, o regime de concessão é superior ao de partilha. Nos demais, os dois regimes parecem ser equivalentes, sendo que um será melhor ou pior que o outro dependendo das especificidades de cada país.
Fonte: http://www.brasil-economia-governo.org.br/2011/03/14/qual-a-diferenca-entre-regime-de-partilha-e-regime-de-concessao-na-exploracao-do-petroleo/ 
LEILÃO DERROTOU OS BLACK BLOCKS DO MERCADO!



Vitória política de mestre. Econômica, poderia ser uns centímetros a mais

LIBRA: VITÓRIA POLÍTICA COMPLETA. ECONÔMICA, UM POUCO MENOS QUE O POSSÍVEL


Politicamente, a vitória obtida pelo Brasil no leilão não poderia ter sido maior.

A presença minoritária da Shell no consórcio da Petrobras jogou por terra todo o blá-blá-blá de que as regras eram inviáveis, que as empresas comerciais temiam a ingerência do governo, que a partilha era um modelo fadado ao fracasso.

A outra empresa privada, a Total, é muito ligada ao governo francês, que tem participação acionária e já se esperava que pudesse entrar no consórcio por razões estratégicas de abastecimento. Mas não a Shell.

Deixou de queixo caído todos os “mercadistas” que não entenderam que as americanas e inglesas caíram fora por conta da espionagem e a “dupla cidadania” da Shell – também holandesa – a deixou menos exposta ao escândalo.

Nem a Miriam Leitão tem o que falar sobre isso, agora.

Do ponto de vista do resultado econômico do leilão, todos viram que o representante do consórcio esperou até os últimos segundos para entregar aquele envelope.

Claro, porque havia outro, com um lance maior, para o caso de haver outros na disputa.

Se não há, vai a proposta mínima, até porque a Petrobras não tem como forçar seu aumento se não há licitantes a vencer.

Poderíamos ter alcançado os 80% de participação estatal, mas acabamos ficando, como mostrou o post anterior, em 75,73%.

Duas razões nos impediram,

A primeira, o alto bônus de assinatura, que criou dificuldades de desembolso imediato para a Petrobras. E isso, com todo apoio que este blog deu ao leilão, jamais deixou de ser objeto de crítica, sobretudo porque derivou das necessidades imediatas de caixa do Governo para alcançar a meta de superávit primário, aquele do maldito tripé que a direita e, agora, Marina Silva, endeusam.

A segunda, a pressão política.

Não a das poucas dezenas de manifestantes ali fora do leilão que, tirando meia-dúzia de provocadores black blocs – são gente nacionalista.

A pressão vem de outros black blocs, os mascarados do mercado, que vêm vandalizando as ações da Petrobras faz tempo, sob a música de desastre que a mídia incessantemente toca para a empresa com mais reservas novas a explorar neste momento no mundo.

Nada isso, entretanto, diminui meu otimismo com a exploração de Libra. Até porque, fora da parcela de lucro embolsada pela União, pela Petrobras e pelas outras empresas do consórcio, existe uma parcela imensa, de algo perto de US$ 300 bilhões, que vai ser apropriada pelo país na forma de salários, compras de insumos e de encomendas com o máximo possível de conteúdo nacional, como é tradição da Petrobras, e que, por isso, vai irrigar nossa economia com impostos e salários.

Nem falo, também, no horizonte de cooperação que ela abre com a China, que lentamente vai assumindo o seu papel de parceiro estratégico do nosso país.

O Brasil está de parabéns. Provamos que é possível juntar a defesa dos interesses nacionais, o controle de nossas matérias primas estratégicas, a eficiência tecnológica e operacional com a necessária captação de recursos para o desenvolvimento de nossa indústria petroleira.

O petróleo teve três fases neste país.

A primeira, a de acreditar que ele existia e encontrá-lo.
A segunda, a de sermos capazes tecnologicamente de extraí-lo, nas difíceis condições onde ele surgiu.
A terceira, agora, a de sermos capazes de mobilizar, sem perder a soberania sobre ele, os recursos necessários a realizar essa imensa riqueza potencial.

Demos um passo gigantesco e seria tolice deixar de reconhecê-lo por acharmos que se poderia ir alguns centímetros além.

E, depois dos retrocessos que a década neoliberal nos obrigou, estamos mais longe do que qualquer um de nós poderia pensar naqueles anos amargos.

Esta caminhada jamais foi fácil, jamais foi simples.

Mas não há de parar nunca.


Por: Fernando Brito

quarta-feira, 23 de outubro de 2013








POR ANTONIO MACHADO

O resultado de duas gerações, e mais outra saindo da adolescência, submetidas à crença ou à suspeita de que o petróleo nacional corre o risco de ser desnacionalizado por governantes mal intencionados, e assim já era mesmo quando não havia reservas conhecidas para servir o mercado interno, explica a razão embotada dos que temem o leilão do Campo de Libra, o primeiro sob as regras do regime de partilha.

A força dos dogmas turva o raciocínio, como se viu nas críticas de especialistas, ao menos assim apresentados pela imprensa, ignorando o viés estatizante do estreante modelo de partilha da produção. Não é por outra razão que as grandes petroleiras privadas se afastaram do certame, abrindo o caminho para a entrada de empresas estatais, sobretudo da China, cuja prioridade é a garantia de acesso a fontes de energia, não bem o lucro de mercado. Nenhuma dos Estados Unidos compareceu.

A ausência de ícones do mercado de petróleo, como Exxon e Chevron, ambas dos EUA, foi desconsiderada pela mobilização de sindicatos de petroleiros e de partidos de esquerda nas redes sociais e nas ruas contra a venda de uma fração do petróleo de Libra. Como dogma trata de verdade irrefutável, a internet foi inundada de acusações de que o governo Dilma Rousseff cedia ao interesse dos EUA, como denunciou o ex-diretor da Petrobras Ildo Sauer. Ele foi à Justiça para sustar o leilão. Por tal lógica, as estatais da China vieram como laranjas da Exxon. Fato é que, sem o “yankee, go home”, o dogma perde a graça.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), ligada à central sindical CUT, braço do PT, viu a oportunidade de enfrentar o assédio no meio que representa da entidade rival criada pelo PSOL e pelo PSTU — partidos que buscam compensar os poucos votos com manifestações barulhentas, sobretudo no Rio de Janeiro — e contaminou a negociação coletiva da categoria com a Petrobras com uma greve pela suspensão do leilão de Libra.

Na verdade, o embate é salarial: a FUP pede aumento de 16,53% e a Petrobras propõe 6,09%. Alegar a defesa da riqueza nacional, além de mais simpático, constrange a presidente e o PT. Como a campanha à sucessão de Dilma já está na rua, ela concorre à reeleição e está à frente nas pesquisas, o vale-tudo está liberado — até dizer que o leilão configura “entrega do patrimônio nacional”, a diatribe de um diretor da FUP, Francisco José de Oliveira.

Desinformação politizada

O que há de verdade em meio à desinformação? Que a lei de partilha assegura ao governo, representado pelo Tesouro Nacional, a parte do leão do negócio, além do controle do ritmo da exploração, predicado não previsto pelo regime de concessão (anterior à aprovação da lei e que continua válido para as áreas fora do limite do pré-sal).

As condições da partilha de produção são favoráveis ao Estado, não ao mercado. É essa a razão de o leilão de Libra ter atraído somente 11 empresas, entre elas a Petrobras, por dever de ofício e obrigação legal. E foi menor o grupo que compareceu à disputa, que não houve. Houve um único consórcio, formado pela Petrobrás, com 10%, pela anglo-holandesa Shell e pela francesa Total, com 20% cada uma, e as chinesas CNPC e CNOOC, ambas também com 10%. O lance foi único, sem disputa.

Estado terá mais de 70%

Além de operadora única dos campos do pré-sal, a lei prevê para a Petrobras a participação mínima de 30% no capital de quaisquer grupos que sejam formados. Sem investir um centavo, o governo tem poder de veto nas decisões do negócio por meio da estatal criada para gerir e vender o “óleo-lucro”, a Pré-sal Petróleo S.A. (PPSA), no mercado (por meio da Petrobras, provavelmente, como revendedora contratada).

A participação da União nos contratos de partilha da produção será variável, conforme a área do pré-sal. O único objeto em disputa nos leilões é o volume de óleo que os investidores se disponham a ceder ao governo acima da cota mínima. No de Libra, era de 41,65%. E foi isso o que o consórcio vencedor ofereceu. Na conta final, o Estado brasileiro terá o equivalente a 74% da produção de Libra (a parte direta, mais impostos, royalties e dividendos da Petrobras). E a estatal, 40% (30% obrigatórios, acrescidos dos 10% do consórcio).

Partilha entre gigantes

A concessão por 35 anos da exploração de Libra não saiu bem como o governo queria, já que a falta de concorrência implicou menos lucro à União, mas garantiu R$ 15 bilhões à vista, a taxa que o consórcio vai pagar ainda neste ano. O governo conta com isso para o superavit primário de 2013. A entrada de investimento para iniciar a operação também ajudará a fechar o deficit das contas externas sem a pressão de mercado, a médio prazo. E Shell e Total vão diminuir o risco de influência excessiva da China no consórcio. A atenção à geopolítica (num mundo crescentemente chinês), com a opinião do mercado e com o receio de desnacionalização, foi assegurada. Não foi de todo mal.



Brasília, 00h01min
Fonte : Correio Brasiliense 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Marina, morena Marina, você se traiu...
Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre


Vamos ao ponto. Maria Osmarina Silva Vaz de Lima, a Marina Silva, é a incompetência vestida de verde ou laranja, talvez as duas cores juntas, e simboliza tudo aquilo que caminha e não sai do lugar. É como se ela andasse em uma esteira, porque o problema de Marina é a sua pretensão de falar sobre as questões brasileiras, ao tempo que ao fazer suas considerações ela não diz nada com coisa nenhuma, assim como se expressam, igualmente, seus correligionários mais próximos, a exemplo de Alfredo Sirkis e os bajuladores e matreiros Miro Teixeira, Roberto Freire, Cristovam Buarque e Rodrigo Rollemberg, bem como o maior quinta-coluna dos últimos tempos, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, aquele que no programa eleitoral do PSB pede “respeito”, sem, contudo, respeitar seus aliados históricos e a aliança de 25 anos com o PT e o PC do B.

No sábado, a ex-candidata a presidente e tucana de bico verde, Marina Silva, e o quinta-coluna, Eduardo Campos, político que remonta à golpista e reacionária UDN, afinal o PSB nos seus primórdios contava em seus quadros com udenistas e direitistas empedernidos, lançaram a chapa do PSB à presidência da República, sendo que Marina Silva se filiou ao PSB para ser candidata a vice-presidente, porque a Rede Sustentabilidade, partido que ela tentou criar para tentar concretizar seus desejos políticos e ambições pessoais foi rejeitado pelo TSE, porque Marina, incompetente, ideologicamente confusa e enfadonhamente prolixa não conseguiu as 50 mil assinaturas necessárias para que a Rede pudesse ser legalizada e, por sua vez, competir nas próximas eleições de 2014. Enquanto isso, os partidos PROS e Solidariedade foram legalmente aprovados pelo TSE, porque quem se organiza colhe bons resultados, o que, definitivamente, não é o caso de Marina e de seus apoiadores rancorosos, que apostam em qualquer um para verem o PT fora do poder.

Marina teve todo o tempo, mas não conseguiu criar o partido Rede, o que deixou os mundos político e jurídico estupefatos, porque a incompetência dela e dos que estão a participar de seu projeto é irremediavelmente surreal, tanto o é que alguns ministros do TSE, notadamente a presidente Carmem Lúcia, consideraram um absurdo a ecológica Marina Silva ter dado declarações à imprensa de mercado desconcatenadas da realidade, com o propósito de pressionar os juízes a conceder o registro à Rede Sustentabilidade mesmo sem o partido de Marina estar legalmente a cumprir as leis, bem como não comprovou a autenticidade de dezenas de milhares de assinaturas para que a Rede fosse formalizada e, por seu turno, poder concorrer às eleições do ano que vem.

Entretanto, Marina Silva não se faz de rogada, porque não dá ponto sem nó. Por se comportar dessa maneira, a candidata das ONG internacionais, aliada dos fundamentalistas dos “diferentes ecossistemas”, tergiversa sobre sua personalidade egocêntrica, e, ardilosamente, dissimula seu autoritarismo de caráter pentecostal, que jamais a permitiu ter uma posição efetiva sobre assuntos importantes para a sociedade, como o aborto, o casamento gay, as células-tronco embrionárias e a legalização das drogas ilícitas. Cito especificamente a maconha, assunto este muito pertinaz e que tem a atenção do ex-presidente tucano, Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I —, que está muito preocupado com os baseados fumados pela rapaziada de classe média deste País e de outros cantos do mundo.

A verdade é que não há compreensão sobre o que Marina Silva pretende, fala, propõe e muito menos o que pensa em termos de projeto para o Brasil, bem como ninguém sabe qual é o seu programa de governo. Eu não sei e duvido se o Eduardo Campos saiba. Ela nunca disse, mesmo quando foi candidata derrotada do PV, em 2010. Seus parceiros e correligionários também prognosticam e reverberam o nada com coisa alguma, mas a verdade sobre essa realidade não pode ser escondida e dissimulada por tempo indeterminado. Por isso e por causa disso, considero que a candidata biodegradável e de mente reciclável demonstra, imponentemente, a característica  dos prepotentes e dos rancorosos, quando não deveria proceder assim, pois iniciou sua vida política no Partido Revolucionário Comunista (PCR), agremiação marxista que se abrigava no PT.

Depois deixou o partido, em 2008, e se aproximou da direita brasileira, sendo que hoje até o extremista de direita da UDR e dono de terras mil, deputado Ronaldo Caiado (DEM/GO), anunciou seu apoio à Marina e ao Dudu Campos, aquele que pede “respeito” em programa eleitoral, ao tempo que trai seus aliados históricos. Correligionários que, no decorrer de 11 anos, sofreram todo tipo de boicote e sabotagem das “elites” econômicas herdeiras da escravidão, que tem como seu porta-voz o poderoso sistema midiático privado controlado por meia dúzia de famílias, que, de forma arrogante, tratam o Brasil de mais de 200 milhões de habitantes, além de ser a sexta economia mundial, como o quintal de suas casas. Aliás, magnatas bilionários de imprensa que, equivocadamente, pensam que tem a importância e a influência que, na verdade, eles não têm.

Voltemos à Marina. Após ser demitida do PT (na verdade ela se antecipou à demissão) por incompetência e sabotagem ao programa de Governo do presidente Lula, a política, filha de seringueiro, que conheceu Chico Mendes, um dos ícones da esquerda, logo passou a atacar os seus companheiros de lutas, no decorrer de três décadas. Marina seguiu o exemplo de políticos que guardam rancores no freezer, como os senadores Cristovam Buarque e Pedro Simon, lideranças que envelheceram e traíram seus ideais e as ideias que não condizem com os princípios programáticos e ideológicos da esquerda, pois a origem de Simon é o trabalhismo gaúcho, esquecido lá na década de 1950, e o Cristovam, ex-governador do PT, saiu do partido e ingressou no PDT. Contudo, tal político do Distrito Federal até hoje não disse para o que veio, a não ser se aliar aos tucanos e, vergonhosamente, combater, juntamente com a direita, os governos trabalhistas de Lula e de Dilma Rousseff. Cristovam é rancoroso e está “na bronca” há quase uma década, mas foi um medíocre ministro da Educação.

Marina Silva gosta de usar termos vazios e sem fundamento ideológico, como “nova política”, “acabar com o monopólio da política”, “por uma política sustentável” etc etc etc. Assim não dá! Haja paciência para entender o “marinês”. Ela é o FHC de saia. Quando o tucano neoliberal abre a boca é um “deus nos acuda”. Não se entende nada. Marina é a emissora-mor de frases desconexas e ininteligíveis, verbalizadas com falsas conotações de intelectualidade: “Hoje todos nós sabemos que somos finitos como raça. E, além de não saber como lidar com a imprevisibilidade dos fenômenos climáticos, temos pouco tempo para aprender como fazê-lo”. Ou: “Talvez o que tenhamos que aprender a fazer seja algo que tenho chamado de “aeróbica da musculatura do acerto”, fortalecendo-a como a melhor forma de combater a “musculatura do erro”. Oferecendo para este último o melhor dos ensinamentos do amor, que é o ato de oferecer a outra face. Para a face da prepotência, a humildade de aceitar-se também como falho. Para a face do descaso, o compromisso que cria e gera alianças. Para a face da vaidade, da voracidade pelo poder e para a autoria das coisas, o compartilhar autorias, realizações, reconhecimentos”.

É uma loucura, que deixaria um dos personagens da “Escolinha do Professor Raimundo”, Rolando Lero, com inveja de tanta incongruência, prolixidade e presunção, pois Marina Silva é a autêntica pseudo-intelectual, ao ponto de superar também o prefeito Odorico Paraguaçu, personagem de “O Bem Amado”, que também falava muito e não dizia nada, a não ser levar confusão a quem o ouvia e, por seu turno, deixava o público coxinha de classe média com um sentimento de orgulho por acreditar que somente um grupo social “estudado” e “culto” teria a opção em votar em candidato tão “cool” ao tempo que uma “referência” político e eleitoral para aqueles que desejam se livrar de “tudo o que está aí”, como afirmavam, genericamente, os coxinhas reacionários nas manifestações de junho, ao fazerem alusões “apolíticas” e “apartidárias” ao PT e ao Governo trabalhista de Dilma Rousseff.

Então, como se percebe, Marina Silva é autora de frases especialmente ininteligíveis, que se transformam em hilárias pelo ridículo. A líder das palavras incompreensíveis e que não tem programa de governo e muito menos projeto de País, a exemplo de Dudu Campos e do playboy Aécio Neves, se propõe a ser uma intelectual que poderia ser definida como “verde da vanguarda chique” e por isto tão a gosto da burguesia (ricos) e dos pequenos burgueses (classe média coxinha) que procuram, como agulha no palheiro, alguém que represente seus rancores, reacionarismos, conservadorismos, ódios e preconceitos políticos e de classe social para derrotar o PT e seus candidatos e lideranças trabalhistas e socialistas, exemplificados nas pessoas de Lula e Dilma Rousseff.

Marina, além de ser mais uma quinta-coluna das tantas que existem por aí, também se mostrou, ao longo de sua trajetória, ser um animal político que se sente muito bem em seu habitat, que é sempre estar em cima do muro. Afinal sabemos que de habitat, de ecossistemas e de biodiversidades ela entende. Marina é da floresta e por isto sabe muito bem ficar em cima do muro sem jamais cair. Ela é evangélica e defende o estudo do criacionismo (Adão e Eva) nas escolas, mesmo o estado a ser laico. Todavia, a  Teoria da Evolução, de Charles Darwin, também deve fazer parte do currículo escolar. E a ambientalista soltou a seguinte pérola: “No espaço da fé, a ciência tem todo o acolhimento. Eu gostaria que a fé tivesse o mesmo acolhimento da ciência”. Sem palavras. Não as tenho em números suficientes para fazer qualquer comentário sobre este profundo e sábio pensamento de Marina Silva.

A pensadora é contra as pesquisas com células-tronco embrionárias, mas é favorável à utilização de células-tronco adultas, bem como se posicionou contrária à descriminalização do aborto, mas sugeriu que se realize um plebiscito para a população decidir sobre tal assunto tabu. Marina também é contra o casamento gay. Porém, se diz a favor da união de interesse financeiro, material e patrimonial entre as pessoas do mesmo sexo. A verde é contra as drogas consideradas ilegais, mas gostaria de consultar o povo sobre o assunto.  Esta é a Marina Silva, que, na verdade, não tem opinião formada sobre nada, bem como não se entende nada do que ela pensa e fala.

Acontece que muitos de seus eleitores são da classe média branca e conservadora, a de tradição familiar universitária e que controla há mais de um século os melhores empregos dos setores públicos e privados deste País e vão ficar em dúvida se apoiarão Aécio Neves ou Eduardo Campos, a ser o socialista a encabeçar a chapa, na qual Marina vai ser candidata a vice-presidente do Brasil, já que, por incompetência, não conseguiu legalizar a Rede Sustentabilidade. Agora, venhamos e convenhamos: um partido com um nome como esse realmente não poderia neste momento dar certo. Só a Marina mesmo.

Contudo, essa gente de direita sabe que Marina é negra e índia e nascida em uma comunidade pobre e extrativista no Acre, estado da região Norte e considerado pelos burguesinhos brancos e de classe média deste País, principalmente os do Sul e do Sudeste, um local atrasado, cercado por florestas, com um povo ignorante e etnicamente formado por “bugres”. Região que na ótica das “elites” brasileiras somente dá trabalho e despesa e que, por seu turno, não deveria ser alvo de atenção do Governo Federal, porque para eles o Acre e toda a região Amazônica não é Miami e nem Orlando, muito menos Paris ou Londres ou Nova York. A verdade é que se os ricos brasileiros pudessem entregariam a Amazônia aos Estados Unidos e aos europeus, se eles fossem os ingleses.

Para quem pensa que o que falo é exagero, lembro que certa vez, no programa do Sérgio Groisman, da Rede Globo, a atriz Fernanda Montenegro falou alto e em bom som que o Brasil deveria se livrar do riquíssimo Estado de Goiás e concedê-lo ou doá-lo aos Estados Unidos, país que tem estados climaticamente mais secos que o formidável Estado do Centro-Oeste brasileiro, que é uma potência no que tange à agropecuária, bem como tem ecossistemas dos mais ricos e diversificados, além de estar a se industrializar, o que, sobretudo, vai fazer com que Goiás se torne um dos estados mais importantes da Federação em poucas décadas.

Para a Montenegro, o Brasil se reduz às cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, bem como os bairros do Leblon ou Ipanema, Jardins ou Morumbi, por exemplo, são seus habitats, onde os pés da artista devem caminhar, sem esquecer, evidentemente, que a famosa atriz, certamente, tem como suas “cortes” Nova York, Miami, Londres e Paris, porque referências da burguesia brasileira de pensamento, gestos e ações subservientes e colonizados. O jornalista Ancelmo Gois, colunista de O Globo e que joga no time da família Marinho, discordou de Fernanda Montenegro. O colunista demonstrou todo seu descontentamento com o pensamento da artista, que não conhece o Brasil e pensa que Goiás, um estado economicamente poderoso, dono de uma cultura ímpar e que tem um povo trabalhador e produtivo, que ama aquelas terras, não passa de uma região onde não existe ninguém. Seria cômico se não fosse trágico a ignorância da atriz, bem como o é a da “elite” brasileira preconceituosa, ignara e de passado escravocrata. As classes sociais entreguistas.

Contudo, quero dizer que considero deplorável ver o senhor Eduardo Campos e a dona Marina Silva se prestarem a um papel feio desse, a fingir que são uma terceira via, quando a verdade eles querem, a fim de ser eleitos, desconstruir e desqualificar o que até agora foi realizado pelos governos trabalhistas e conquistado pelo povo brasileiro. Quando Marina Silva se coloca como uma novidade na política e se diz ética — a ética que afrontou o TSE por querer legalizar seu partido sem as assinaturas necessárias por lei, com o apoio contumaz da imprensa golpista e de mercado, a política verde e também laranja e agora socialista de carteirinha simplesmente tergiversa e dissimula o desejo de poder e o rancor já indissociável de seu caráter e personalidade egocêntricos, que prefere não reconhecer os avanços do Brasil nos últimos anos ao afirmar, sem nenhuma convicção, que o País piorou e que nada foi construído e melhorado pelos trabalhadores brasileiros, cuja maioria preferiu eleger Lula e Dilma, além de recusar o blá, blá, blá de Marina Silva. O Brasil há 11 anos diz não à política de alienação do patrimônio público e ao entreguismo dos tucanos José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso, que trataram o valoroso povo brasileiro como pária e não tiveram a responsabilidade de pelo menos empregá-lo.

Os propósitos políticos de Marina são como uma colcha de retalhos e suas ideias são díspares, a verdadeira miscelânea, porque seus interlocutores e o cidadão comum que ouvem seus argumentos para governar o Brasil não os compreendem, pois seu pensamento político e ideológico e suas propostas no que concernem à economia e até mesmo à biodiversidade são quase que incompreensíveis, porque a verdade é que Marina Silva e seus escudeiros do Itaú, da Natura, da Globo e da comunidade “verde” nacional e internacional em geral não elaboraram um programa de governo, não formam uma equipe para governar, administrar e projetar um País da complexidade e do gigantismo do Brasil e muito menos tem condições de formar uma maioria no Congresso e, consequentemente, aprovar as proposições para poder governar.

Marina Silva é incompetente. Enquanto o PROS e o Solidariedade cumpriram junto ao TSE com os requisitos básicos para existirem como partidos, o Rede Sustentabilidade da ex-petista demitida pelo presidente Lula, em maio de 2008, não conseguiu listar 492 mil assinaturas de eleitores e, por conseguinte, sua criação foi rejeitada por seis votos a um, a ser o único voto favorável à Rede foi exatamente o do condestável do STF, o juiz Gilmar Mendes, a herança maldita de FHC — o Neoliberal I —, que mais uma vez em sua vida navegou contra a maré da insensatez, do que é legal e constitucional e defendeu, no pleno do TSE, que fosse permitido a criação do partido de Marina Silva, mesmo sem ser reconhecidas como legais e verídicas cerca de 95 mil assinaturas. Gilmar, novamente, fez política. A política baixa, rasteira e devotada aos interesses do partido que ele defende com unhas e dentes, o PSDB, que reiterou a nomeação de FHC — o Neoliberal I — para ser juiz do STF, um magistrado useiro e vezeiro em tentar desestabilizar os Poderes da República.

Resta-nos esperar pelo jogo de xadrez política que se apresenta para 2014. Marina já definiu sua posição ideológica, programática, partidária, e disse: “Nem oposição e nem situação; nem esquerda e nem direita”. Genial, não? Contudo, todo mundo sabe — até os recém-nascidos e os mortos mais antigos — que Marina Silva se exibiu sem propostas na Rio+20, além de fazer o jogo das ONGs estrangeiras alinhadas à agricultura europeia e estadunidense para que a poderosa agricultura nacional não domine mercados específicos deste setor em âmbito internacional. Todos nós sabemos que Marina Silva compôs com os tucanos e os seus apêndices PPS e DEM para derrotar a Dilma nas eleições de 2010. Todo mundo sabe que a ex-candidata verde, por conveniência, traiu o presidente trabalhista, Lula, depois de ser ministra do Meio Ambiente por seis anos, e, mesmo assim, obter péssimos resultados em comparação com o seu sucessor, Carlos Minc.

Minc, em quase dois anos, ou seja, em um tempo muito menor à frente do MMA obteve resultados, no que tange à preservação do meio ambiente — combate às queimadas, aos madeireiros, aos caçadores e multas pesadas aos fazendeiros que não tinham autorização para desmatar, e, criminosamente, poluir ou assorear rios, lagos, córregos e nascentes — muito melhores do que os de Marina Silva, que insiste em uma retórica sem fim, cansativa, enfadonha e nenhuma praticidade como comprovou quando foi ministra. Todo mundo sabe que a Marina Silva não passa de uma quinta coluna que atrai verdes do mercado de capitais e uma classe média ressentida e envergonhada de votar na direita, que entorta o nariz, porém, mais despolitizada (muito mais) que a maioria das pessoas moradoras de comunidades carentes do Rio de Janeiro que eu conheço.

E todo mundo sabe que os quase 20 milhões de votos que a Marina teve (60%) não são dela, mas sim dos eleitores conservadores, que, evidentemente, não iriam votar em Dilma. Eles pensaram que a Marina fosse superar o Serra ou ajudá-lo a ir para o segundo turno, o que aconteceu. Mesmo assim os dois candidatos de oposição acabaram com os burros n’água, pois derrotados pela realidade das conquistas econômicas e sociais efetivadas pelo governante trabalhista do PT. Marina Silva é o que é; porque sua ideologia e seus propósitos são o que são: oportunismo político, inveja da Dilma, traição a Lula e ao PT, ou seja, rancor, muito rancor e ressentimentos congelados no freezer, tal qual, volto a lembrar, o senador Cristovão Buarque (PDT/DF), que, demitido por Lula do Ministério da Educação, saiu do PT e foi fazer oposição ao lado dos tucanos derrotados pelas urnas e pelo povo brasileiro, que sabe que gente neoliberal suga o sangue do direito à cidadania e vende o patrimônio do Brasil.

Marina Silva tem um problema muito sério e grave: o povo do Acre (seu colégio eleitoral) não vota nela. Nas eleições de 2010, ela ficou atrás do Serra e da Dilma. O povo do Acre sabe quem ela é e por isso não a “compra” e nem a “vende”. Somente os burguesinhos verdes de etiqueta e butique e os reacionários de direita também “verdes” ou de outras cores, por oportunismo, votam nela. O sistema midiático neoliberal e de direita vai manipular e criticar açodadamente o governo, pois é de oposição. Contudo, não vai adiantar, porque fatos são fatos; realidades são realidades; e números e estatísticas são números e estatísticas. Não vai dar para mentir e dissimular indefinidamente, para sempre...

Os verdes e principalmente os neoverdes não têm compromisso com o povo brasileiro, com algumas exceções. Eles têm compromissos com os jabás das ONGs estrangeiras e brasileiras, que se dizem verdes e lutam para que o Brasil não se torne a maior potência agroindustrial do planeta, apesar de estar entre as três maiores, porque nós temos terra, água e sol, a base para que uma nação se torne independente e autossuficiente no que diz respeito à agricultura e à pecuária, bem como no que é relativo a outros segmentos do setor primário.

A senhora quinta coluna, Marina Silva, combateu Belo Monte e tenta atrasar o desenvolvimento da superagricultura brasileira, de forma que ela não se torne hegemônica no mundo. Mas vai ser, porque nós temos o que os outros países não têm. Volto a repetir: sol, água e chuva todo ano, além de terras imensas, agricultáveis e apropriadas ao plantio. Ainda temos a nossa Nasa, que é a Embrapa, empresa estatal de ponta, de alto rendimento, que deixa muita gente da oposição e da imprensa entreguista e subserviente com ódio ao tempo que frustradas e inconformadas.


Sorry, periferia. Marina Silva é uma tucana de bico verde como o é também o Cristóvão Buarque, que deveria sair do PDT, partido aliado do governo trabalhista em âmbito federal. Marina tem de ter o cuidado de não cair na Rede e sem base de sustentação e abraçada pela banqueira do Itaú e do empresário dono da Natura. Ela detesta o chavismo do PT e do Governo Federal, como disse recentemente. Por sua vez, Marina sabe, por ter sido ministra do Meio Ambiente, que Lula e Dilma estabeleceram limites e sempre atuaram e agiram politicamente de maneira autônoma e independente mesmo perante seus principais aliados em termos de América do Sul. Marina sabe disso. É que a política verde e também laranja quer agradar como música os ouvidos da direita. Marina, morena Marina, você se traiu... Agora, a pergunta que teima em não se calar: a quem representa, de fato, a senhora Marina Silva? É isso aí.