terça-feira, 31 de julho de 2012


Delúbio: razões políticas excluíram Lacerda do mensalão

Em: 30/07/2012 - Por: 

“Houve ainda aqueles, como Marcio Lacerda, atual prefeito de Belo Horizonte, que também participaram do acordo, mas que, por razões políticas, foram excluídos da denúncia relacionada à Ação Penal 470.”

Delúbio desabafa: “Confio em Deus e na Justiça”

Em São Paulo, o ex-tesoureiro do partido fez a sua última manifestação pública antes do julgamento; disse que foi chamado a quitar uma dívida de R$ 60 milhões do PT e dos partidos aliados na eleição de 2002 e executou a tarefa sem o uso de recursos públicos; sobre o veredicto que o aguarda, demonstrou confiança: “Vai dar certo”
O diretório zonal do PT na Vila Mariana, bairro de classe média em São Paulo, foi o palco escolhido por Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, para sua última manifestação pública, antes do julgamento da Ação Penal 470, que começa na próxima quinta-feira, 2 de agosto. Foi lá, na Vila Mariana, que a sua companheira Mônica Valente, ex-secretária da administração Marta Suplicy, se filiou ao PT. E diante de pouco mais de 30 pessoas, Delúbio, vestido com uma camisa da seleção brasileira, falou por mais de três horas, neste sábado, sobre o processo político que originou a denúncia. “Quero olhar nos olhos de cada um de vocês e assegurar: não houve o uso de recursos públicos”, disse ele.
A narrativa de Delúbio é a mesma que ele vem contando desde 2005, quando o escândalo estourou. Mas que hoje, às vésperas do julgamento, parece mais coerente – e tem mais chances de ser ouvida pelos ministros do Supremo Tribunal Federal e pela opinião pública do que à época em que as chamas das primeiras denúncias ainda ardiam. “Vai dar certo”, afirma Delúbio. “Confio muito em Deus e na Justiça”.
Militante histórico do PT, Delúbio Soares foi radical na juventude. Era daqueles que rejeitavam qualquer tipo de aliança com outros partidos. Em 2002, no entanto, Delúbio fazia parte do grupo que defendia a aliança com o PL (hoje PR), de José Alencar, que foi vice de Lula. Quando a aliança foi selada, Alencar fez uma doação de R$ 2 milhões por meio da Coteminas, mas havia um problema em vários estados: os candidatos a deputado pelo partido, de corte mais conservador, não conseguiriam financiar suas campanhas, estando aliados ao PT, de Lula.
Foi então que surgiu o primeiro acordo político que originaria todo o problema: o PT se dispôs a repassar ao partido de Alencar 20% do que arrecadasse dos seus doadores de campanha. Aos poucos, esse modelo de acordo político passou a ser fechado com outros partidos. E quando Lula se elegeu, em novembro de 2002, o PT e seus aliados acumulavam uma dívida de, aproximadamente, R$ 60 milhões.
Delúbio, como tesoureiro, foi chamado a resolver o problema. E procurou vários bancos, até chegar aos mineiros Rural e BMG, a quem foi levado por meio do empresário Marcos Valério de Souza, apresentado pelo ex-deputado Virgílio Guimarães. “Não criei essa dívida, não fui candidato e busquei apenas arcar com as minhas responsabilidades como tesoureiro do partido”, disse Delúbio aos militantes do PT. “Quero responder pelo que fiz, não pelo que não fiz”.
Na exposição, Delúbio fez até uma diferenciação entre “caixa dois” e “recursos não contabilizados”, expressão que ele repetiu reiteradas vezes ao longo da CPMI dos Correios, em 2005. “As pessoas foram ao banco, deram seus nomes, retiraram os recursos captados via empréstimos de forma transparente”, disse ele. “E isso não é caixa dois, apenas não foi contabilizado nas despesas da campanha”. Outro ponto importante, reforçado por ele, foi o fato de as retiradas bancárias terem ocorrido uma única vez.
Efetivamente, os personagens que sacaram recursos no Banco Rural eram ou tesoureiros de partidos, como Jacinto Lamas, do PL, ou responsáveis por diretórios regionais, como Paulo Rocha, do PT, ou ainda parlamentares com pequenas dívidas de campanha, como Professor Luizinho e João Paulo Cunha, também do PT. Houve ainda aqueles, como Marcio Lacerda, atual prefeito de Belo Horizonte, que também participaram do acordo, mas que, por razões políticas, foram excluídos da denúncia relacionada à Ação Penal 470.
Como os saques ocorrem uma só vez, Delúbio elogiou a decisão do ministro Ayres Britto, do STF, que determinou que o processo seja tratado como Ação Penal 470, e não como mensalão. “A palavra mensalão já representaria uma condenação”, disse ele. “Que mensalão é esse pago uma só vez?”
Sobre o seu veredito, ele demonstrou confiança. Somadas, as penas pelos crimes imputados a ele pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, podem chegar a 111 anos de cadeia. “Estou tranquilo”, disse ele aos militantes. “O dia seguinte é o dia seguinte e vamos aguardar com serenidade”.
No encontro, vários militantes se queixaram do fato de o PT ter se acovardado – por mais de cinco anos, Delúbio esteve expulso dos quadros do partido. “Agora, finalmente, estamos tendo um apoio importante”, disse o ex-tesoureiro, referindo-se ao vídeo produzido pelo presidente da sigla, Rui Falcão. Comandantes anteriores, como Tarso Genro, Ricardo Berzoini e José Eduardo Dutra, não foram solidários a esse ponto, embora tenham tido também suas dívidas de campanha pagas pelo ex-tesoureiro.
Apesar do que ficou para trás e do sofrimento dos últimos sete anos, Delúbio não demonstrou nenhum tipo de mágoa ou ressentimento. Citou até personagens da esquerda que pagaram preços altos no passado, como o sul-africano Nelson Mandela, o uruguaio Jose Mujica, que ficou oito anos numa solitária, e a própria presidente Dilma Rousseff. No fim, pediu a todos apoio espiritual e foi aplaudido. Alguns se emocionaram. Delúbio sorriu, distribuiu abraços e lembrou que o projeto político do PT não significa tomar o poder, mas sim conciliar e dividir.
De certa forma, a eleição de 2002, que uniu o operário Lula ao empresário Alencar, foi o início desse projeto, mas também do pesadelo chamado mensalão.

quarta-feira, 18 de julho de 2012


O "mensalão" como operação de marketing e como golpe branco fracassado


Mais além dos fatos concretos, a operação de marketing do “mensalão” merece fazer parte dos manuais de marketing politico. Nunca na história brasileira uma criação dessa ordem foi capaz de projetar e consolidar imagens na cabeça das pessoas, que as impedem de entender o fenômeno e avaliá-lo na sua realidade concreta, porque sua imaginação, seus instintos, já estão vacinados e conquistados pelas imagens projetadas pela campanha.

Uma jornalista da empresa da “ditabranda” entrevistou um dia a um parlamentar, presidente de um dos partidos da base aliada do governo, que teve uma das pessoas indicadas pelo partido para um cargo governamental, pego em flagrante , filmado, com som, em operação de suborno. O partido que o indicou – PTB – considerou que nao recebeu o apoio devido por parte do governo e seu presidente resolveu ligar o ventilador.

Disse que o governo pagava um “mensalão” a uma porção de gente. O jornal imediatamente cunhou a expressão e deu inicio àquele tipo de campanha cuja reiteração, por todos os órgãos da mídia privada, transformou a insinuação numa verdade supostamente incontestável.

O que ficou na imaginação das pessoas era literalmente que indivíduos chegavam no Palácio do Planalto com malas vazias, entravam numa sala contigua à do Lula, enchiam de dólares e saiam, mensalmente. A operação de marketing tornou-se um caso de manual de marketing, pelo seu sucesso. A partir a insinuação de um politico sem nenhuma respeitabilidade, se dava inicio à campanha, em que a oposição – liderada pela mídia privada – considerava que terminaria com o governo Lula.

Tudo foi se dando como bola de neve. O próprio jornal da família que emprestou carros para órgãos repressivos da ditadura cunhou o selo “mensalão”, com o qual cobria todas as atividades políticas nacionais. Até a eleição interna do PT foi incluída nessa rubrica.

Condenou-se moral e politicamente a dirigentes e políticos ligados ao governo, com o objetivo de ferir de morte o governo Lula, como repetição muito similar à crise de 1954, que terminou com o suicídio de Getúlio. Dois então membros da equipe do Lula chegaram – conforme entrevista posterior de Gilberto Carvalho – a ir ao Lula, levando a proposta opositora: todas as acusações seriam retiradas, inclusive o suposto impeachment, contanto que Lula renunciasse a se candidatar à reeleição.

Tinham receio de propor impeachment, pelas repercussões populares que poderia ter, então preferiam usá-lo como ameaça. O tiro saiu pela culatra. Lula reagiu dizendo que sairia às ruas para defender seu mandato, convocava os movimentos populares a reagir à tentativa de golpe branco.

A oposição, depois da cassação do Zé Dirceu, jogava, partindo do que considerava evidências contra o governo, com a vulnerabilidade do governo, alegando que Lula sabia dos fatos. Não foi o que aconteceu. Conseguiram várias cassações, conseguiram diminuir o apoio do Lula mas, principalmente, deram a pauta política do país.

O caso permitia desqualificar o Estado, o governo Lula, o PT. O Estado, por definição, para a direita, é corrupto ou corruptível. O governo Lula, o PT e os sindicatos teriam “tomado de assalto ao Estado” e imposto seus interesses particulares. O diagnóstico foi retirado diretamente do arsenal neoliberal.

Os governos de esquerda no Brasil – Getúlio, Jango, Lula – não terminariam seus mandatos. Fracassado o governo Lula, se cumpriria o prognóstico de um ministro da ditadura: “Um dia o PT vai ter que ganhar, vai fracassar, aí vamos poder dirigir o país com tranquilidade”.

Sob a forma do impeachment ou da renúncia de Lula a disputar um segundo mandato ou, ainda, com sua eventual derrota, asfixiado pela oposição – que já havia dito que sangraria o governo, até derrotá-lo nas eleições de 2006 -, se daria um golpe branco e a esquerda estaria desmoralizada e derrotada por um longo período.

Mas não contavam com a capacidade de reação de Lula e com os efeitos das políticas sociais, já em marcha. O povo, com a consciência de que era o seu governo e que sua eventual derrubada faria com que ele, povo, pagasse o preço mais alto da operação da direita, reagiu. A oposição foi pega de supresa pelas reações, que levaram à derrota da tentativa de derrubar o governo. Mais do que isso, levaram à derrota do candidato da oposição – o duro e puro neoliberal Alckmin –, porque a oposição também foi vitima da sua própria campanha.

Como esbravejava o Otavinho, na primeira reunião do comitê de direção da sua empresa: - Onde é que nós erramos?

Erraram porque acreditaram que eram onipotentes. Afinal foi a mídia golpista que levou o Getúlio ao suicídio, que promoveu o golpe militar que derrubou o Jango e que, acreditavam, levaria o governo Lula à derrota e a esquerda à desmoralização. 

Foram derrotados em 2006, em 2010 e tem todas as possibilidades de serem derrotados de novo em 2014. Mais do que isso, tiveram que reconhecer que o prestígio do governo vem de suas politicas sociais, que transformaram democraticamente o Brasil. Que seu poder de fogo como cabeça da oposição é decrescente, que entraram em decadência irreversível.

Agora, sete anos depois, tentam ainda explorar o sucesso de marketing, espremendo tudo o que podem, raspando o tacho da panela, buscando voltar a pautar o país em torno do seu sucesso de marketing. Não se dão conta que o país mudou, que desde então perderam duas eleições presidenciais, que o Estado brasileiro reconquistou legitimidade por suas políticas sociais e pela sua ação de resistência à crise internacional? Que as mídias alternativas ganharam um poder de esclarecimento da opinião publica, que não tinham naquele momento? 

Mas não lhes restam outras armas, senão a de explorar o embolorado tema do “mensalão”, para recordar como já foram bem mais poderosos no passado. Seus outros argumento naufragaram: o Estado mostra eficiência na condução do país, o livre mercado levou o capitalismo internacional à sua pior crise em 80 anos, o povo reconhece que melhorou suas condições de vida, apoia e vota no governo, as alianças internacional da política soberana do Brasil projetam o país no plano internacional como nunca antes, ao mesmo tempo que se mostram muito mais eficazes do que o Tratado de Livre Comércio e a Alca que a direita pregava.

Em suma, a história avançou desde 2005 e na direção da derrota da oposição, da criação de uma nova maioria politica no pais. A permanência do monopólio antidemocrático dos meios de comunicação é a arma principal de que a direita dispõe e está disposta a usá-la até o fim, na sua derradeira encenação: o julgamento do “mensalão”.

Mas a história e a vida não se fazem com marketing. Nem mesmo mais vender os produtos da sua mídia mercantil eles conseguem. Lula os derrotou, demonstrando que se pode – e se deve – governar o país sem almoçar e jantar com os donos da mídia. Porque Lula não teve medo da mídia, condição –nas suas palavras – para que haja democracia no Brasil.

A primeira vez a encenação teve ares de tragédia – não consumada pela oposição. Esta segunda tem ares de farsa.

Eles passarão, nós passarinhos.
Postado por Emir Sader

domingo, 15 de julho de 2012



O analfabetismo politico no Brasil
analfabeto_pol_tico


Já dizia Bertold Brecht, em seu poema que criticou tão pesadamente aqueles que dizem ter orgulho de se alienar de conversas sobre política, que essa mesma gente é quem origina o mal social. Notamos sua razão quando olhamos para dentro do Brasil, cujo povo, em sua maioria, tem horror a falar sobre o que acontece em Brasília, exceto falar o popular “dogma” de que “político é tudo ladrão”.
Os hábitos políticos do brasileiro médio, notavelmente, restringem-se a repetir a citada “verdade” e, estritamente em épocas eleitorais, a debater quem é o menos pior candidato. É notável a quase generalizada aversão a se falar do que acontece em Brasília.
Não se fala nas mesas de bar e vizinhanças sobre a votação dos projetos de lei, sobre as manobras limpas ou sujas nas relações de poder, sobre as estratégias políticas, sobre como os parlamentares e chefes do Poder Executivo deveriam proceder em relação a estratégias políticas.
Queira o povo ou não, esse assunto é extremamente importante e ignorá-lo é um delito contra a integridade do país onde vivem, é rejeitar a democracia. Reiterando o que Brecht disse, é desse comportamento que vêm “a prostituta, o menor abandonado e (…) o político vigarista”. Deixar a política de lado, além de ser um não da pessoa à democracia, permite que os tais vigaristas ajam livremente sem a oposição do povo e impede que os políticos mais honrados e que mantêm os laços com seus eleitores – sim, eles existem, queira você ou não – tenham em mãos um maior variedade de estratégias de manobrar sua influência política e conseguir apoio a suas leis.
Por mais que a política no Brasil venha decepcionando, mais válido do que desistir de falar dela é discutir como substituir a corja que domina as casas legislativas dos municípios, dos estados e do País. É um engodo a frase popular que diz que “política não se discute”. Discute-se sim, desde que a simpatia manifestada pela pessoa a determinada corrente política exista mais por racionalidade e menos por sentimentos de fé de que tal corrente irá “revolucionar”.
Discutir a postura de determinado homem/mulher público(a) e estratégias políticas que ele(a) pode adotar não é muito distinto de debater como determinado time de futebol deve agir. Por exemplo, palpitar como Jarbas Vasconcelos deve atuar em seu mandato de senador, desde que haja conhecimento de sua pessoa política, não é tão diferente assim de pensar em que táticas e disposições de jogadores o Sport deve utilizar mais na Taça Libertadores.
Entretanto, é algo que requer um conhecimento aprofundado sobre política, com conhecimento da vida política do sujeito, observação de seu comportamento e um pouco de conhecimento de teoria política. No Brasil, infelizmente, essas características são atributos de poucos, já que a maioria dos brasileiros não gosta de ler e, como está dito aqui, é analfabeta política.
O analfabetismo político, assim como a alienação social, é extremamente nocivo ao País e compromete a sua existência como democracia. É extraordinariamente necessário educar a população para pensar em como ser pode mudar a política, estendendo a atenção aos homens/mulheres públicos(as) para muito além da época eleitoral, e não em se afastar dela.
Autor: Robson Fernando é estudante e escrito

sexta-feira, 13 de julho de 2012


A orfandade das derrotas

Ouvindo uma intervenção em um seminário, imaginei que a pessoa que intervinha tratava de explicar porque o Brasil deu erado. Uma visão linear, em que todas as catástrofes que alguns tinham prognosticado, teriam se realizado. Nada de bom, de resgatável. Mesmo a diminuição da desigualdade seria um engano. Parecia o discurso de alguém que dizia: - “Viu? Nós, que achávamos que o governo Lula ia fracassar, ia ser uma continuidade do neoliberalismo, tínhamos razão e convencemos o povo disto, daí o fracasso do Lula. Deu tudo errado, como prevíamos, por isso o povo finalmente reconheceu que tínhamos razão, derrotou o governo e nos deu uma votação espetacular.”

Incrível, nem parecia que estamos no Brasil, que os que professam esse discurso tiveram 1% dos votos, enquanto que o Lula saía do governo com um apoio extraordinário da população e elegia sua sucessora.

Eu fico imaginando como é a cabeça, a vida, o cotidiano, a relação com o povo, com o Brasil, com o mundo, de quem ainda pensa assim. Será como Marx se referia à pequena burguesia, que sai fragorosamente derrotada das eleições, dizendo-se que o povo ainda não está preparado para seus discursos. Nunca questionam seus discursos, suas posições. É o povo que não está ainda amadurecido. Voltarão de novo, de novo, com o mesmo discurso, até que o povo entenda que eles dizem a verdade.

O que podem pensar do julgamento popular? Não aprendem com a realidade? Poderiam dizer que as eleições não refletem fielmente o que o povo pensa. Mas tampouco conseguem organizar qualquer manifestação popular com participação de um mínimo de pessoas, não constroem sindicatos ou outras formas de organização popular, vivem no maior isolamento em relação ao povo. Daí também que façam um discurso fora do mundo.

Continuam a pregar as mesmas coisas, a fazer as mesmas denúncias. Nunca se perguntam se estão errados e o povo está certo. Se esse projeto fracassou e haveria que repensar os caminhos que adotaram. Nunca se perguntam se estão desarraigados da realidade, isolados do povo, desencontrados com seus interesses. Se estão em um mundinho pequeno, frequentando mais os livros do que a realidade?

Lendo balanços da dura derrota que a esquerda portuguesa – a radical, também – sofreu nas eleições, vejo apenas a crítica do governo por parte dos setores mais radicais, sem explicar porque foi a direita que capitalizou o fracasso do governo socialista e não eles, que perderam tantos votos quanto o Partido Socialista. Se limitam à critica do governo, que teria a responsabilidade de tudo. A responsabilidade sempre é dos outros, que é a melhor maneira de não tirar lição alguma dos erros cometidos, o que significa que voltarão, nas próximas eleições, a agir da mesma maneira e, certamente, ter uma derrota anda maior.

A realidade não é somente o critério da verdade, como é implacável com os nossos erros. Por isso alguns estão vitoriosos, reconhecidos pelo povo, enquanto outros estão reduzidos a discursos fora da realidade que os rejeitou e à intranscendência. 
Postado por Emir Sader 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Política, para que política?



A gente não quer só comida, mas o que a gente quer?
A gente já não quer só saída, mas onde é que a gente está?
A gente não quer só promessa, mas o que é que a gente faz?

“Política não se discute”: o que não se discute é a necessidade de discutir política, de pensar, todos os dias, que tudo começa a partir da ação de um único indivíduo, o eu - você. O que não se discute é a verdade universal de sermos cidadãos de direito e, como tais, termos a honrada missão de estar cientes do que se passa em nossa volta. O que não se discute é que todos, sem exceção, somos responsáveis diretos pelo país que construímos.

É fácil – repito, fácil – culpar aqueles que estão distantes. É fácil apontar os dedos para os nossos governantes e atribuir a eles tudo quanto há de errado no mundo. É fácil falar de uma sociedade problemática sem nos colocarmos dentro dela. É cômodo derramarmos mil lágrimas sob a corrupção e não nos darmos ao trabalho de analisar o candidato que nos sorri na urna de votação. É cômodo repetirmos, aos quatro cantos, que tudo está errado no mundo e não abrirmos nossos olhos para o que está sendo feito para melhorá-lo. É comodíssimo partirmos da ideia de que não adianta tentar. É conveniente criticar os que criticam.

Por definição, política é arte. Mas não é – ou não deveria ser – a arte falha da encenação, com plateia e roteiros definidos. Arte do improviso, menos ‘stand up’.

“Não gosto de política, mas gostaria de ter um trânsito seguro, uma escola pública eficaz, um hospital que me privasse do pagamento de um plano particular”.

“Não gosto de política, mas queria que o meu filho não fosse obrigado a estudar em uma Universidade no outro canto do país porque no meu estado não há vagas”.

“Não gosto de política, mas acharia ótimo se os impostos que me cobram fossem bem aplicados, que a violência diminuísse, que não houvesse esgotos a céu aberto no meu bairro”.
“Definitivamente, não gosto de política. Mas como gostaria de ver o Brasil dando certo e ‘fazendo bonito’ lá fora!”.
Há a política. Há os políticos. Há os que a constroem mal e porcamente. E  existe todo o resto.
"Lembre-se: quem tem nojo de política é governado por quem não tem."*
Poderíamos, então, nos enojar pelo que nos é de direito?
*Frei Betto - Revista Caros Amigos, Janeiro - 2012

segunda-feira, 9 de julho de 2012


Overdose de diagnósticosÉ raro encontrar uma criança em idade escolar que não use remédio para domar a hiperatividade ou desatenção. Adultos e jovens adotam o cloridrato de metilfenidato para ter boa concentração em dia de prova ou no trabalho. Sites comercializam a droga e trazem depoimentos de usuários

Luciane Evans
Maria Isabel* e a filha, Letícia* (nomes fictícios): a menina usou o remédio dos 8 aos 11 anos e só falava em morrer. A mãe optou por interromper o tratamento
Maria Isabel* e a filha, Letícia* (nomes fictícios): a menina usou o remédio dos  8 aos 11 anos e só falava em morrer. A mãe optou por interromper o tratamento (Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press )

Crianças confusas, agitadas, desatentas, que não conseguem acompanhar o ritmo da escola. Educadores sem preparo para lidar com alunos que necessitam de mais atenção. Pais sem tempo e cheio de dúvidas em relação à educação dos filhos. Médicos que encontram um diagnóstico para responder a todas essas questões e “sossegar” esse desespero. As “drogas da obediência”,  assim chamadas as medicações Concerta e Ritalina, que têm como princípio ativo o  cloridrato de metilfenidato, são receitadas para quem sofre do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), e estão sendo vendidas, tanto para os diagnósticos corretos, incorretos e até para quem sequer tem suspeita do distúrbio, conforme vem mostrando a série de reportagens do Estado de Minas publicada desde segunda-feira. 

Apesar dos medicamentos serem tarja preta – classificação que indica se tratar de remédio de alto risco para o paciente, pois ativa o sistema nervoso central (SNC) ou provoca ação sedativa e, por este motivo, pode causar dependência física ou psíquica – e somente comprados com receita especial, o acesso às drogas é fácil. Além das crianças, o cloridrato de metilfenidato tem sido amplamente usado por jovens que querem se dar bem em provas e por adultos que precisam enfrentar uma reunião, um concurso ou mesmo falar em público, diante de uma apresentação de trabalho.

Pelas escolas particulares de Belo Horizonte é difícil encontrar uma criança que não esteja sendo medicada. “Tudo virou TDAH. Fui chamada pela escola do meu filho, me disseram que ele tem que tomar Ritalina. O ensino está cada vez mais apertado e, quem não dá conta dele, tem que ser dopado?”, questiona uma mãe, que prefere não se identificar. Seu dilema é o mesmo de centenas de pais que neste exato momento devem estar na sala da diretoria recebendo o mesmo diagnóstico para o filho. 

Foi assim com Letícia*, hoje com 16 anos. Ela estudava em uma escola particular de BH, que cobrava muito no ensino. “Ela não conseguia acompanhar. Aos 8 anos ela foi diagnosticada com o TDAH e, durante três anos foi medicada com Ritalina. Foram os piores anos da minha filha. Ela não se adaptou ao medicamento, teve depressão e só falava em morrer”, conta Maria Isabel*, mãe da menina. Desconfiada com o medicamento que só poderia ser usado durante as aulas, sendo suspenso nos fins de semana, férias e feriados, Isabel mudou a menina da escola que não lhe deu apoio e a transferiu para outra com nível de cobrança mais leve. “Suspendi o remédio e passei a fazer um acompanhamento com psicólogos. A autoestima dela melhorou. Hoje faz inglês e está no 2º ano do ensino médio”, conta.

De acordo com a consultora pedagógica do Sindicato das Escolas Particulares de BH e especialista em educação infantil, Renata Gazzinelli, está cada vez mais comum alunos com diagnóstico de desatenção e hiperatividade e muitos professores não estão preparados para lidar com o problema. “Apesar de muitas escolas contarem com um corpo de psicopedagogos e psicólogos, que têm conhecimento no assunto, há as que não têm essa estrutura, dependendo da percepção de professores para os casos.” Para ela, o que dificulta essa observação é que na sala de aula com 35 alunos há um com necessidade especial, cujos pais querem mantê-lo nessa instituição. “Mas, muitas vezes, ele não tem o perfil. Então, os pais deve se perguntar se o filho é para aquela escola; se não é hora de repensar uma forma mais leve de estudos que não seja tão firme. Só que a escola muitas vezes não dá conta de lidar com essa criança. Então, falta às vezes, esse limite das famílias. Aí, eles caem nas mãos de médicos que estão afim de resolver o problema e pegar o próximo cliente”, avalia.

 FILHOS DO ESTRESSE Renata Gazzinelli diz que o número de crianças e jovens sem limites tem sido um absurdo nas instituições escolares. “Eles fazem o que querem e parecem um carro desgovernado. São os filhos do estresse. E os educadores ficam de mãos atadas, pois os cursos de pedagogia não os preparam para isso. Os professores se tornaram refém da situação e a escola se vê também em outros dilemas, com professores mal formados, gestão frágil e escassez de bons profissionais. A família põe a culpa dos transtornos dos filhos nas escolas, mas não participam do ambiente escolar. Se não dermos as mãos, não sairemos desse círculo.”

 De acordo com a psicóloga Juliana Baldo, do setor de psicologia educacional do tradicional Colégio Santo Antônio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, realmente tem havido muitos equívocos médicos para uso das medicações. “Aqui, primeiro investigamos com cautela, pois a desatenção é causada por muitos fatores. Temos percebido que há muitas crianças sendo medicadas e cujo diagnóstico real não é de TDAH. Nosso setor de psicologia tem feito uma discussão sobre esse aumento no uso do remédio. É um fenômeno social, da educação privada”, diz.
 
>> OS SUBNOTIFICADOS DA REDE PÚBLICA 

Enquanto jorram diagnósticos para TDAH em meninos e meninas das escolas privadas, na rede pública o caminho é inverso. De acordo com estudo em andamento pelo setor de psiquiatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o transtorno tem passado despercebido nas instituições de Belo Horizonte e também do interior do estado. “Ainda não temos a análise completa para divulgar. Mas em uma das escolas analisadas, dos 90 estudantes examinados de 5% a 10% apresentavam o distúrbio, mas nenhum deles estava sendo tratado. Ou seja, se está havendo prescrição excessiva, é da escola particular. Na rede pública, isso está sendo subnotificado”, preocupa-se o professor de psquiatria infantil da UFMG Arthur Kummer, lembrando que os medicamentos via Sistema Único de Saúde ainda não estão disponíveis em Minas, como em outros estados.

No Rio Grande do Sul o problema tem sido o mesmo. De acordo com o professor titular de psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e professor de Pós-Graduação em Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), Luís Augusto Paim Rodhe, estudo feito em Porto Alegre em 12 escolas públicas examinou 500 crianças com potenciais para o transtorno. “Dessas, 100 confirmaram o TDAH, com prejuízos no aprendizado. Somente três tinham o diagnóstico prévio e tratamento”, pontua.

"Meu filho não queria estudar, não conseguia acompanhar nada do que passavam para ele na escola. Tomou duas bombas. Até que foi diagnosticado com TDAH e medicado. Deu certo. Há quatro anos ele toma o remédio, tem conseguido estudar e já pensa no vestibular.”  

D.D.R., funcionária pública 
 Fonte:Jornal Estado de Minas

"Droga da obediência"

"Droga da obediência" prestes a se tornar epidemia explode no Brasil o consumo de medicamento para tratar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Em nove anos, a venda subiu de 71 mil caixas para 2 milhões


Psicólogos estão preocupados com o grande número de alunos que usam os remédios em
Belo Horizonte

Autoria: Luciane Evans

 Estão prestes a estourar no Brasil as sequelas de um surto mundial silencioso que, aqui, tem tido como principais alvos crianças e adolescentes de classe média. Adultos também integram o grupo. Apontadas por muitos como o veneno da atualidade, mas aceitas por outros como solução mais acertada para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), as ‘drogas da obediência’ – assim conhecidos os medicamentos que têm como princípio ativo o cloridrato de metilfenidato – têm sido consumidas em larga escala no país e também em Belo Horizonte. Em 2006, a capital mineira registrava consumo quatro vezes maior que a média do Brasil, nação que tem o título de segundo maior consumidor mundial do psicotrópico e onde, só em 2009, cerca de 2 milhões de caixas das pílulas foram vendidos. A projeção feita por especialistas é de que, em 2012, esses números sejam muito mais altos.

Para piorar o cenário, não há consenso sobre o uso do medicamento entre a classe médica. Há os que o defendem, garantindo que os remédios cumprem sua função para quem sofre do transtorno; do outro lado, gente que teme o pior ao comparar os efeitos das doses aos da cocaína, alertando que meninos e meninas que usam a droga correm risco de vida. Diante do quadro, em que muitos médicos preocupados com o futuro da nova geração chegam a duvidar até mesmo da existência do TDHA – distúrbio neurológico identificado, na maioria das vezes, na idade escolar, em crianças e adolescentes desatentos, agitados e com dificuldades de aprendizagem .

Na capital mineira, elas têm se tornado “moda” em escolas tradicionais da cidade, preocupando psicólogos que dizem estar diante de um crescimento assombroso no número de alunos medicados. Polêmico, o assunto envolve a indústria farmacêutica, põe em xeque pesquisas científicas e divide a medicina. Não sem razão. Diante da bomba relógio prestes a explodir, laboratórios não divulgam dados de produção nem de vendas. Órgãos públicos, idem; restando ao Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos extrair da publicação de um instituto suíço, que mantém atualizados os dados do mercado farmacêutico brasileiro, assombrosos números que dão o sinal da fumaça.

De acordo com o instituto, em 2000 foram vendidas 71 mil caixas dos psicotrópicos no Brasil, passando para a marca de quase 2 milhões de caixas em 2009. Em São Paulo, onde as drogas são distribuídas via Sistema Único de Saúde (SUS), uma pesquisa de 2011 do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, composto por cerca de 40 entidades, mostrou que 154 municípios paulistanos compraram em 2005 cerca de 55 mil comprimidos da ‘droga da obediência’. Cinco anos depois, o consumo saltou para 946 mil, 17,2 vezes maior. A projeção para 2011 era de que a compra chegasse a 1.493.024 de doses.

Em Minas Gerais, contrariando a vontade de muitos psiquiatras, a medicação ainda não chegou ao SUS, o que configura, para muitos especialistas, a droga da vez da classe média, já que uma caixa, de acordo com a dosagem e variação no número de pílulas, custa entre R$ 20 e R$ 220. Um levantamento do Centro de Estudos de Medicamentos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) feito com crianças diagnosticadas com TDAH em BH tem números considerados perigosos. “O estudo, ainda em andamento, teve início em 2006 e naquele ano constatamos que a média de consumo da Ritalina em Belo Horizonte era quatro vezes maior que a média nacional e três vezes maior que a projeção calculada para o estado. É preocupante”, alerta o coordenador do centro, Edson Perini.

 O especialista diz que o consumo está concentrado nas regiões Centro-Sul e Leste da cidade. “Percebemos o predomínio do uso pelo sexo masculino. Em geral, as prescrições estão dentro dos padrões de dosagem, mas encontramos algumas superdosagens, que não deveriam existir”, alerta.

Pode ser o caso do pequeno M.A.G, de 9 anos. Aos 7, ao sofrer bullying na escola, desenvolveu um quadro de depressão e síndrome do pânico. Os médicos aconselharam os pais a dar Concerta ao garoto, que durante três meses sob o efeito da droga não dormia, ficou ansioso e perdeu o apetite. Aí receitaram, além da “droga da obediência”, antidepressivo e um remédio para abrir o apetite. Os pais recusaram. “O que estão fazendo com as nossas crianças? Como estão sendo diagnosticados esses pacientes? E os remédios, como estão sendo prescritos? É algo que está sendo dado para a ansiedade dos pais, dos educadores e dos psiquiatras para responder às inquietações dos meninos. Alguém está preocupado com isso?”, questiona Perini.


CORRENTE CONTRA

Causa insônia, cefaleia, alucinações, psicose e até casos de suicídio. Faz com que a criança fique quimicamente contida em si mesma, todos considerados sinais de toxicidade, indicando a retirada da droga. No sistema cardiovascular o remédio causa arritmia, taquicardia, hipertensão e parada cardíaca. O risco de morte súbita inexplicada em adolescentes é maior entre aqueles que tomam o remédio. Além disso, interfere no sistema endócrino, na secreção dos hormônios de crescimento e dos sexuais. É uma substância com o mesmo mecanismo de ação e as mesmas reações adversas da cocaína e das anfetaminas, segundo médicos que não adotam o medicamento.

Ponto crítico

Esses medicamentos são tão vilões quanto parecem?

Maria Aparecida Affonso Moysés doutora em medicina, professora titular de pediatria da Unicamp e membro fundadora do fórum de medicalização

SIM

O consumo exacerbado das “drogas da obediência” é o genocídio do futuro. Vivemos, sim, uma epidemia. A Ritalina e o Concerta são drogas derivadas da anfetamina e da cocaína. A medicação age aumentando a concentração de dopamina (neurotransmissor associado ao prazer). Como o remédio age por algumas horas, quando o efeito passa, tudo que o usuário quer é ter aquele prazer de volta. Quem usa esse estimulante fica com a atenção focada. A criança só consegue fazer uma coisa de cada vez, por isso, fica quimicamente contida, não questiona nem desobedece. Cada vez mais os pais estão sendo desapropriados pelos profissionais da saúde e da educação de ver seus filhos e de ouvir o que eles querem dizer. Então, se ele está agitado, desatento, impulsivo, vamos dar um remédio para que fique calado e dopado? É mais fácil lidar com um problema ‘médico’ a mudar o método de educação da criança. O TDAH pode ser o grito de socorro de uma criança que está vivendo um conflito em ambientes em torno dela. A pessoa que faz uso desse tipo de remédio tem de sete a 10 vezes mais chances de ter uma morte súbita inexplicada.

Fonte: Jornal Estado de Minas

Reação ao 'sossega leão'Sociedade se manifesta à forma abusiva de indicação do cloridrato de metilfenidato para manter crianças mais atentas. Remédio, apesar de necessário em muitos casos, tem sido prescrito em excesso

Luciane Evans

Preocupados com o rumo que o excesso de indicação de medicamentos para colocar um freio em crianças inquietas e desatentas tem tomado no país e, principalmente, em Minas Gerais, entidades de classe do estado, pais, pesquisadores e órgãos públicos começam a se manifestar e abrir ainda mais a discussão para a polêmica, que saiu do silêncio e passou a fazer barulho. Assim como vem mostrando a série de reportagens publicadas no Estado de Minas desde segunda-feira, as reações são divergentes: há os que alertam sobre os riscos do excesso de uso das medicações Concerta e Ritalina (à base de cloridrato de metilfenidato) e os que querem provar a importância que as pílulas têm para quem sofre do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e temem um alarde da população diante dos questionamentos colocados pelos especialistas ouvidos na série. Mesmo com a repercussão do tema, um dos órgãos que deveria se manifestar, a Secretaria de Estado de Saúde (SES), não se pronunciou sobre assunto. 
As reportagens provocaram reações dos envolvidos quando se fala no distúrbio. O tema preocupou o Conselho Regional de Psicologia – Seção Minas Gerais que já articula ações para sensibilizar a sociedade tanto para os abusos na indicação de Concerta e Ritalina, quanto para a overdose de diagnósticos mal feitos. “Já tem um tempo que esses excessos estão preocupando nossos profissionais e impressionando o conselho. Sabemos que as vendas dos medicamentos estão altíssimas e os laboratórios escondem isso. Estamos preocupados com o discurso de que é possível ter uma medicação para que as crianças obedeçam. Os pais estão se rendendo a isso e, muitas vezes, tem havido mais danos do que benefícios”, destaca o membro da diretoria do conselho, Celso Renato Silva, que diz que os psicólogos estão se unindo para sensibilizar os pais de filhos com TDAH da importância de um tratamento bem estruturado. “Não somos contra a medicação, mas a banalização dela pode trazer consequências graves”, alerta.

Depois das matérias divulgadas, a Associação Médica de Minas Gerais registrou uma alta procura de pais de crianças e adolescentes por respostas, o que levou a Associação Mineira de Psiquiatria a enviar uma carta ao EM e aos leitores, esclarecendo que o tratamento medicamentoso não causa dependência química, “como é capaz de proteger contra isso”. “Há uma vasta literatura científica mostrando que as pessoas com TDAH tratadas com metilfenidato têm menor potencial de desenvolver uso de drogas e comportamento antissocial em relação às pessoas com TDAH não tratadas. Os benefícios na esfera acadêmica, emocional e até mesmo física são evidentes”, diz o texto assinado pelo psiquiatra e membro da entidade Arthur Kummer. 

O barulho também motivou o Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, composto por mais de 40 entidades, entre profissionais da educação, assistência social e saúde, a criar, ainda este ano em Belo Horizonte, um núcleo local, já presente em São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro. A polêmica também despertou pesquisadores a mostrar novos números. Defendendo a medicação como uma forma de proteger as novas gerações, a doutora em gestão do conhecimento e coordenadora do curso de pós-graduação em neurociência e psicanálise aplicada em educação da Faculdade São Camilo, Lucília Panisset, trouxe para a discussão dados que, segundo ela, são mais preocupantes do que os de consumo de Ritalina e Concerta no país, que passou de 71 mil caixas em 2000 para 2 milhões em 2009, colocando o Brasil como o segundo maior consumidor do mundo desses medicamentos, como mostrou a primeira reportagem da série.

“De 75% a 85% dos detentos da Europa e dos Estados Unidos foram diagnosticados com TDAH e não se trataram ou receberam o diagnóstico mais tarde. Outra pesquisa dos EUA mostra ainda que dos 3 mil infratores de lá, 60% tinham problemas com aprendizagem decorrentes do TDAH”, aponta Lucília. A especialista está fazendo um estudo sobre a prevalência do distúrbio em menores infratores em Minas Gerais. De acordo com ela, de modo geral, 13% das crianças estão propensas a repetir o ano escolar. “Com TDAH, esse percentual passa para 45%. Em um universo em que 40% dos menores roubam, com TDAH esse percentual sobe para 55%, motivados pela forte impulsividade. Por isso, a população tem que estar ciente da importância do tratamento dessa disfunção”, diz. 

ALVO DA POLÊMICA

Um dos pontos que mais chamaram atenção na série Geração controlada foi a declaração da professora titular de pediatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro-fundadora do Fórum de Medicalização, Maria Aparecida Affonso Moysés, na matéria publicada segunda-feira, quando a especialista disse que a Ritalina e o Concerta são derivados da anfetamina e da cocaína. A Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) diz que a especialista foi sensacionalista e causou pânico e medo na sociedade. “Esses medicamentos não são derivados da cocaína”, informou a AMMG. Procurada novamente ontem, Maria Aparecida rebateu, atestando que a informação está na literatura farmacêutica. “É o mesmo mecanismo de ação sim. A discussão está no mundo todo. Se minha declaração irritou os médicos é porque abalou o autoritarismo deles. Eles passaram a ser questionados. A ciência tem que ser sempre discutida. É um serviço para a população.”

Depoimento 

F., de 9 anos - aluno do ensino fundamental
“Sempre tive boas notas, mas faço bagunça e não gosto muito de estudar. Odeio fazer dever de casa. Eu sempre questiono muito os professores e, por isso, eles disseram que eu era doente. Questionava porque não estava entendendo a matéria, mas acho que quem tem dúvida tem que perguntar, não é? Quando estou na sala presto atenção no recreio lá fora e no barulho do cortador de grama. Mas, com o remédio, prestei mais atenção na professora e parei de questioná-la. Fiquei mais quieto e na minha. Mas tinha dor de cabeça, enjoos e dor na barriga. Com isso, só conseguia ir na aula e não podia mais brincar. Não gosto das matérias da escola, prefiro a hora do recreio. Hoje, sem a medicação, estou mais feliz e continuo bagunceiro.” 

Alerta a professores e farmacêuticos
O Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais quer, a partir da série do Estado de Minas, orientar farmacêuticos do estado sobre os riscos e benefícios das medicações. “Existe, sim, um uso exacerbado desses remédios e isso nos preocupa. Como essas medicações estão sendo dispensadas?”, questiona o vice-presidente do conselho, Claudiney Ferreira. Uma outra orientação, também com tom de preocupação, vem da Secretaria de Estado de Educação, que, por meio de nota, diz que os professores devem estar sempre atentos às dificuldades de aprendizagem ou comportamentais dos alunos, que podem ter causas diversas. “Não é papel do professor realizar diagnósticos, mas buscar identificar possíveis problemas e orientar os pais para que procurem auxílio médico ou psicológico para seus filhos. Diante de um diagnóstico positivo, o professor deve orientar-se com um especialista para saber como lidar com aquele caso específico. Caso não se confirme o problema de saúde, cabe ao professor e a escola buscarem alternativas para solucionar as dificuldades apresentadas pelo aluno”, diz o texto. 

O alerta da Sociedade Mineira de Pediatria está para os diagnósticos bem feitos. “O mal existe e é importante que se façam exames corretos. Ao se ter a suspeita do distúrbio de TDAH, são vários testes a serem feitos: um para o TDAH e outros para avaliar a existência de outros transtornos associados. Somente um terço dos pacientes sofrem somente com o TDAH. Há os que têm problemas depressivos, de ansiedade, entre outros. As medicações são seguras, mas é preciso serem prescritas com responsabilidade”, comenta Marli Marra de Andrade, presidente do comitê de neuropediatria da entidade.

PAIS Muitos pais procuraram o jornal, por meio de telefonemas e e-mails, dando seus relatos. Uma dessas mães, muito preocupada com as reações dos medicamentos, quis que seu filho, F., de 9 anos, que tomou Ritalina por dois meses, mas parou por causa dos efeitos, contasse ao EM a sua história.

domingo, 8 de julho de 2012

Ser ou não ser marionete na política
Com a realização de mais um  pleito eleitoral , surgem algumas perguntas importantes: O brasileiro é um analfabeto político ou é um apolítico? O analfabeto político é o cidadão...
Com a realização de mais um  pleito eleitoral , surgem algumas perguntas importantes: O brasileiro é um analfabeto político ou é um apolítico?
O analfabeto político é o cidadão que é avesso à política e a todo e qualquer assunto a ela vinculado. E o apolítico, faz questão de afirmar que “não se envolve em política”, e que odeia a mesma. Mal sabe ele, que o apolítico é culpado por diversas mazelas sociais, tais como, desemprego, pobreza e prostituição.
O apolítico diz “esses políticos são todos iguais”, ou “este país nunca irá para frente”. Mas nem só de corruptos e vigaristas configura-se a política. O apolítico também não sabe que muitos dos governantes não querem cidadãos capazes de formular pensamentos e idéias críticas a respeito de sua sociedade, mas sim alienados, marionetes manipuláveis, que possam ser controlados.
Como a maioria da população, o apolítico costuma confundir “política” com “politicagem”. A primeira é a forma utilizada para governar, e administrar a sociedade e todas suas vertentes. A outra, por sua vez, é a arte de enganar, levar vantagem de maneira demagógica e desonesta por meio da política.
Para que um país possa desfrutar de um processo político válido, os alienados políticos – apolíticos – precisam ser a minoria, e o restante da população deve perceber que a fuga do debate e de assuntos que envolvem política é de extrema irresponsabilidade para qualquer país. Apenas agrava uma situação que muitas vezes já é ruim.
Pense, análise, questione, compare, debata, procure a origem, conheça o passado, busque informações, só conhecendo profundamente o seu candidato é que você poderá deixar a condição de marionete manipulável para se tornar um cidadão de verdade.
Por Bia Montes – Jornalista

terça-feira, 3 de julho de 2012


Patrus Ananias é indicado como candidato do PT em Belo Horizonte

Patrus Ananias foi ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo Lula. Foto: Valter Campanato/ABr
Patrus Ananias foi ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo Lula. Foto: Valter Campanato/ABr


A executiva nacional do PT decidiu nesta terça-feira 3 que o partido terá candidato próprio nas eleições municipais em Belo Horizonte. A cúpula petista indicou o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias como candidato.
Os petistas mineiros romperam a aliança com Marcio Lacerda (PSB) no último sábado. Lacerda foi eleito numa chapa que, entre outros partidos, tinha PT e PSDB juntos na eleição de 2008. O PT desistiu de apoiar a reeleição do atual prefeito porque o PSB não quis fazer uma aliança nas eleições para a Câmara dos Vereadores. A decisão deve enfraquecer a bancada de vereadores petistas na capital.
Segundo a direção do partido, Lacerda não cumpriu com a sua promessa. “O Marcio Lacerda não cumpriu o acordo que estava escrito e, conforme noticiado pela imprensa mineira, a pedido do senador Aécio Neves (PSDB) e do governador (Antonio) Anastasia (PSDB)”, disse o presidente do PT, Rui Falcão, que é deputado estadual em São Paulo.
Após o rompimento com Lacerda, foi feita uma convenção às pressas que colocou o atual vice-prefeito Roberto Carvalho como candidato do PT. O partido agora deve convencer Carvalho a abdicar de sua candidatura à prefeitura até quinta-feira 5, data limite do registro na Justiça Eleitoral. Carvalho deve ir nesta quarta-feira a São Paulo para se reunir com a direção do partido.
A direção petista quer a formação de uma comissão estadual com Carvalho, Patrus e o deputado federal Miguel Correa, que seria o candidato à vice na chapa de Lacerda. Eles esperam que os três referendem a candidatura de Patrus até a data limite, quando deve ser feito um ato solene para lançar o candidato. Do contrário, a executiva do partido pode intervir e impor o nome de Patrus.
Carta Capital