quinta-feira, 24 de março de 2011

Prós e contras da legalização das drogas.


Régina Sélia Durães Amaral
Psicóloga Clinica Cognitiva

Prós e contras da legalização das drogas.
Uma discussão. UMA DISCUSSÃO.

Drogas, assunto polêmico em qualquer situação, pois divide opiniões. A tendência maior é sempre enfatizar os perigos: violência, vulnerabilidade para doenças, marginalização, uso e abuso etc.
Legalizar significa liberar o acesso, tornar legal o seu uso. Inevitável, então, a discussão quando uma questão tão perturbadora é lançada. Impossível uma resposta imediata à questão, posto que, é necessário sopesar os prós e os contras. Para a efetiva abertura dependemos de entendimento, e de reconhecer que o diálogo está a caminho, mas não tão próximo.
Tentaremos mostrar alguns pontos positivos e/ou negativos da legalização em questão.
1-Com a droga legalizada, acreditamos na eliminação do mercado negro da mesma e como conseqüência um ganho na diminuição da violência; o consumidor teria segurança na aquisição da droga, vez que adquiriria a mesma em mercados e lojas autorizadas, a exemplo da bebida e do cigarro, sem precisar deslocar-se até as “bocas de fumo”, resguardando-se, assim, de serem vítimas de balas perdidas ou mesmo das intencionais, quando confundidos por policiais como sendo traficantes.

2-Com a legalização seria mais fácil a identificação de usuários, vez que eles sairiam do casulo, não se sentiriam marginalizados e teriam assim, a oportunidade de usufruir de políticas públicas de atendimentos aos drogados de uma forma mais ampla e sem máscaras. Vale lembrar que as autoridades teriam o controle de acordo com a demanda, podendo o governo fazer maior investimento com tratamentos para dependentes, com os recursos oriundos da sua comercialização, porém pensar essa dinâmica, em um país onde o Sistema Único de Saúde é precário, beira a utopia imaginarmos que os recursos (impostos) oriundos da legalização das drogas pudessem ser direcionados para a saúde, e mais ainda para tratar dependentes químicos que a nossa sociedade cria e ao mesmo tempo descrimina.

3-Hoje, o álcool e o cigarro são drogas liberadas. Cigarro mata! Álcool, também. O álcool é talvez, o maior responsável por destruição de vidas, principalmente no trânsito e, no entanto é legal. Vale ressaltar que o uso de drogas continuará acontecendo, sejam elas legalizadas ou não. A questão quanto à legalização é: Deve-se, realmente, legalizar? O Brasil está preparado para a legalização?Esta é a solução? A população do Brasil não seria tal qual uma criança imatura para absorver a legalização do uso de drogas?

4-Quais seriam as conseqüências dessa legalização num país como o Brasil, onde boa parte da população é mal educada e desinformada? Ao legalizar as drogas, com o intuito de também reduzir a violência, não estaríamos somente mudando o curso do rio? Qual seria a reação dos traficantes, com a perda do seu objeto de comércio e manutenção do status quo? Ao deixarem de ganhar dinheiro com o tráfico, muito possivelmente passariam a seqüestrar mais, roubar mais e matar mais, e, assim procedendo agravaria a violência.

5-Com a legalização das drogas, outro negócio rentável (o que seria?), possivelmente, viria suprir a perda do que se ganha com a ilegalidade daquelas. É a questão sócio-econômica ditando as regras do mercado, decorrente da oferta e da demanda de ambições, prazeres e desejos instantâneos, bem como a preocupação com o sustento familiar, posto que quem trafica também tem família, e esta muitas vezes não tem culpa das escolhas de seus comandantes.

6-Temos consciência de que a discussão, na tentativa de se chegar a um consenso, é árdua, posto que a subjetividade é um componente muito forte em razão de que ela é construída de processos e formas de organização dentro de uma cultura que se constitui também em suas relações sociais e pode confundir-se com a própria historia da droga.

7-Mais: Quando falamos em cultura surge um complexo padrão de comportamentos, de crenças nas instituições, etc. Como saber que comportamentos surgirão após a legalização? Legalizar seria certeza de manutenção da ordem? Evitaria o abuso do uso? As doenças, decorrentes do uso de drogas, seriam mais facilmente tratadas? Minoraria a violência e a conseqüente redução de crimes? Interessa ao Estado legalizar as drogas?

8-Considerando os danos causados pelas drogas, Amar (1988), pontua que elas afetam o individuo já na vida intra-uterina, quando os pais já são viciados; o seu uso deve ser entendido como um processo que atravessa gerações e cada vez mais é usada por indivíduos em diversas idades, sob diversos aspectos, penetrando em todos os segmentos da sociedade e em todos os paises do mundo.

9-Para uma parcela da população, as drogas são motivos de crimes bárbaros, entretanto não se pode afirmar, por exemplo, que, crimes são cometidos em virtude do seu uso. Acreditamos que a questão da droga está relacionada a um desequilíbrio não só do individuo que usa, mas também de uma instabilidade coletiva de proporções globalizada. É complexa, a questão.

10-A priori, entendemos que a liberalização poderia se dar de forma paulatina, como por exemplo: liberar somente a maconha, e o Estado se responsabilizar em medir os impactos gerados na sociedade, números de aumento/redução de delitos, aumento/redução de violência, aumento/redução de dependentes seria imprescindível para tomarmos como parâmetro real e base para decisões futuras.

11-Retomamos a questão do comportamento do individuo ao ter a droga legalizada. Levando-se em consideração que a maior parte da clientela consumista tem sido os jovens (os mais velhos já morreram, por conta da mesma droga, talvez. É preciso renovar o mercado!), há de se convir que nos deparamos com uma realidade perigosa. O homem sempre buscou, e busca viver experiências novas. Cada vez mais ele procura contato com o diferente em busca de novas descobertas, e, assim sendo, o risco que se corre com a liberalização das drogas é a busca por outra coisa, de preferência proibida, para ocupar o lugar do “proibido, do ilegal, que dá a onda, que dá o barato”, bem como o prazer especial de querer transgredir regras que lhe foi retirado.

12-Além das questões acima corre-se o risco de que o individuo passe a buscar doses cada vez maiores e as consuma em menor espaço de tempo. Imaginemos, então, o dano: Uma sociedade despreparada para o uso, adoece por completo e o pior das conseqüências seria a destruição (em interpretação literal) dessa mesma sociedade em um curto espaço de tempo. O individuo que faz o uso de forma ilegal, é controlado pelo sistema repressor. Retirando o controle não produziríamos o caos?

13-Acreditamos na redução da violência como conseqüência da eliminação do tráfico. Acabar, porém, com um negócio que movimenta trilhões de dólares por ano não é tão simples. Qual o governo é capaz de tal ação? Os EUA, dita maior potência do mundo, lutam há décadas contra o cartel das drogas sem sequer vislumbrar um fim imediato. Não podemos olvidar entretanto, que aliado ao tráfico de drogas está o contrabando de armas. Ambos se completam e não vivem em divórcio. Aos EUA não interessam a produção de drogas ilícitas, mas interessam a produção de armas. Qual dos mercados gera mais lucro? Como resolver o conflito de interesses?

Uma grande questão: A favor da saúde, qual a ação mais efetiva contra o tráfico de drogas?

A grande resposta continua em construção, em virtude do hábito que temos de pensar, sentir e agir em relação às mesmas, na maioria das vezes de forma negativa, com mitos e culpas, e, se o governo legaliza, grande parcela da população pode entender que as drogas não fazem mal algum e começar a fazer uso das mesmas. Seria, então, uma questão de se investir primeiro em educação/informação - somos um tanto quanto céticos quanto à eficácia de tal ação, posto que países, ditos de primeiro mundo convivem com situações iguais ou piores que as do Brasil - para depois pensar em legalizar as drogas?

Não podemos vendar os olhos para o que acontece: as drogas têm sido usadas cada vez mais por pessoas, com o intuito único e exclusivo de buscar o prazer, e entendemos ser um equívoco afirmar que elas são responsáveis por todos os atos impensados, embora muitos as usemos como desculpas para justificar determinado comportamento que a sociedade rejeita. Segundo Aratangy (1998), a droga exerce uma atração, ela chega proporcionando prazer dependendo da estrutura física, psíquica e biológica de cada.

Quanto à legalização/liberalização não é algo para se resolver da noite para o dia. Precisaria, no nosso entender, de uma estabilização na esfera educacional, bem assim, outras providências, a exemplo de uma maior conscientização por meio de palestras, propagandas, encontros com jovens, projetos sociais etc. Com educação, acreditamos na possibilidade de uma legalização com menor escala de turbulências . Ainda de acordo com Aratangy (1998) um programa de prevenção eficiente teria que considerar a dimensão emocional, oferecer opções que permitam canalizar suas emoções para se contrapor a intensidade das emoções propiciada pelas drogas.

Somos contra o uso de drogas ilícitas. Não fazemos apologia às mesmas até porque sabemos o poder destrutivo que elas contem. O objetivo é ser ouvido

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