domingo, 13 de março de 2011

A vida em família


A vida em família

A vida em família se caracteriza pelas projeções, transferências e manifestações de sentimentos. Sempre estamos realizando uma dessas condições mesmo que inconscientemente. Quando reencarnamos, não sabemos como vamos encontrar aqueles com os quais contracenaremos na vida material. Criamos expectativas antes e durante o reencarnar. Quando criança, tender-se-á a adotar-se uma postura mais receptiva, mas não passiva, a qual torna o espírito vulnerável às transferências, pois se atribuirão às pessoas poderes e qualidades que nem sempre possuem.

A partir da adolescência, sem que cessem as tendências transferenciais, iniciam-se as projeções que afastarão o espírito por um bom tempo da possibilidade de que se enxergue o si mesmo, vivendo num mundo de personas.

Na vida adulta e até que venha a morte do corpo, as emoções e sentimentos adquiridos ao longo das encarnações bem como aqueles resultantes das experiências da vida atual, estarão em ebulição exigindo direcionamento adequado.

Os conhecimentos intelectuais, que tanto capacitam as pessoas a viver no mundo, são vetores importantes para que o espírito lide adequadamente com seus sentimentos. Estes sim, devem merecer atenção dobrada, pois a natureza humana se move sobre seu terreno movediço. Quando ele se alicerça em bases sólidas, o espírito está pronto para o encontro consigo mesmo. Quando os sentimentos são percebidos e tratados com o contributo da dimensão intelectiva, se constituem em poderosos recursos estruturantes no psiquismo.

O convívio em família requer a percepção das transferências, a eliminação das projeções e a expressão equilibrada dos sentimentos.

Torna-se muito importante, para qualquer filho, os adjetivos empregados pelos pais na convivência com eles. Quanto mais elogiarmos sinceramente nossos filhos, mais eles tenderão a corresponder ao que ouviram. Filhos que foram estimulados pelos pais tendem a alcançar mais sucesso do que aqueles que não foram impulsionados a um futuro promissor. Uma palavra bem colocada, um adjetivo aplicado no momento adequado, podem ser sempre lembrados para o sucesso de uma encarnação.

As relações humanas, além de serem permeadas de projeções e de transferências, se estruturam em cima de papéis pré-definidos que norteiam a comunicação entre as pessoas. Tendemos a 'exigir' que as pessoas assumam modelos de comportamento que criamos e idealizamos. Sempre esperamos que as situações se desenrolem dentro de um esquema tal que não fujam de nossas expectativas. Não gostamos quando as coisas saem de um padrão pré-estabelecido. Nem sempre sabemos lidar com o que nos foge ao controle. Não é difícil observar em família que queremos que cada um siga seu papel e não nos aborreça.

É preciso estar atento para não despejar críticas duras sobre os filhos por eles não estarem fazendo as escolhas que se esperava que fizessem. As escolhas deles podem frustrar as expectativas dos pais, não por rebeldia ou agressão, mas por estarem seguindo o impulso natural, próprio, de crescimento que trazem no íntimo. Educar é flexibilizar ou rever as próprias convicções em favor da singularidade do outro.

Aquele pai funcionou como um pescador de valores nobres para sua filha, pois em tão pouco tempo de convivência nessa encarnação, deixou marcas estruturantes em seu psiquismo.

Nem sempre nos damos conta de que as relações familiares são influenciadas por espíritos que delas participam. A qualidade dessas influências varia de acordo com o tipo de vínculo que entre eles existe. Em face de suas vinculações de natureza afetiva que conservam com seus entes queridos, como também devido a ligações cármicas negativas que os atraem, a atuação dos espíritos pode ou não contribuir para o equilíbrio familiar.

Pode-se considerar que uma família não se constitui apenas de seus membros encarnados, visto que no entorno deles vivem entidades desencarnadas dos mais variados tipos. Nela encontram-se desencarnados cujos laços se devem à atual encarnação ou outros que se encontram vinculados pelo convívio em encarnações passadas. Por outro lado, pode-se encontrar eventualmente numa família espíritos que não tenham nenhum vínculo com ela, mas que ali se encontram por intercessão de terceiros, com os mais variados objetivos.

Considerar a existência desse universo espiritual participante da família propicia a percepção das causas não só de conflitos como também das mais inusitadas alegrias. Não basta crer na existência dos espíritos. Importa considerar suas influências conscientizando-se da relevância que elas têm. Dar-se conta da presença dos espíritos e da influência que exercem constantemente pode ser o diferencial entre famílias. Enquanto ela não se dê conta de suas influências, sofre-lhes as conseqüências, ficando seus membros passivos, tal qual autômatos. Caso os considere como participantes da dinâmica familiar, podem lhes aproveitar a presença para o crescimento espiritual do grupo.

As relações humanas são permeadas por mecanismos psíquicos conscientes e inconscientes. Por este último aspecto nem sempre sabemos os motivos que nos levam a essa ou aquela atitude, pois eles podem nascer das camadas mais profundas da mente até alcançar a consciência. O inconsciente contém experiências (e emoções delas resultantes) acumuladas nas várias encarnações do espírito. Por esse motivo, as relações são influenciadas por outras que tivemos com os mesmos espíritos que hoje renascem e convivem no mesmo teto. Poucos espíritos estão juntos pela primeira vez, pois, via de regra, já se relacionaram antes, no desempenho dos mais diversos papéis sociais.

A lei de Deus nos reúne ao necessário aprendizado e para a manifestação do amor pleno. A vida em família é, portanto, o grande laboratório onde os espíritos reciclam-se para a própria felicidade. É ali onde se reúnem antigos amores e velhos desafetos para que, no desempenho dos papéis familiares, aprendam a se amar verdadeiramente.

Ao reencarnarmos, trazemos gravados os sentimentos que tivemos em relação a cada pessoa que reencontramos. Em nossos arquivos perispirituais constam as mágoas, tanto quanto as gratidões, bem como tudo que foi projetado por nós naquele espírito em vidas passadas. Quando falo em projeção quero dizer aquilo que se configura a imagem da pessoa em nós, carregada das emoções que lhe endereçamos. Se, por exemplo, reencontramos, pela reencarnação, um antigo pai que nos foi muito querido no qual confiávamos e o víamos como uma pessoa provedora, honesta, séria e competente, tenderemos a projetar essa imagem nele caso o reencontremos. Se ele renasce, como irmão consangüíneo, tenderemos a projetar nele a imagem daquele pai, gravada em nós. Em família estamos sempre projetando as emoções gravadas internamente, oriundas do passado, nos espíritos que retornam à nossa convivência. Quando, por algum motivo, aqueles espíritos não retornam à nossa convivência, tenderemos a projetar aquelas imagens em pessoas que ocupem o mesmo papel familiar. No exemplo citado, caso o antigo pai não tenha reencarnado, tender -se-á a exigir do novo pai que ele corresponda à projeção atribuída ao anterior.

Escolhemos entre pessoas que fazem parte de nosso universo consciente, tenhamos ou não relações estreitas com elas, para que ocupem funções de destaque no psiquismo. Queremos que os personagens do universo familiar sejam modelos de perfeição e de caráter. O pai será aquele indivíduo bem sucedido, sábio, experiente, moderno e conselheiro, à semelhança da imagem arquetípica gravada psiquicamente. Da mesma forma o fazemos com a mãe.

Essas imagens são modelos cunhados pela tendência que todos temos de encontrar um pai ou uma mãe exemplares e idealizados. Cristalizamos psiquicamente figuras cujas características se aproximam daqueles modelos e as transformamos em imagens recorrentes na mente inconsciente.

Imaginemos alguém que teve um péssimo pai, na atual ou em outra encarnação. Terá que fazer algum esforço para aceitar um novo pai, mesmo que ele seja efetivamente um bom pai. O mesmo ocorrerá em relação aos outros papéis familiares.

O acúmulo dos papéis resultantes das vidas sucessivas formará internamente uma imagem de pai, que tenderá a ser projetada externamente, sendo que o último exercerá maior influência na encarnação posterior.

Devemos entender que todos temos a tendência arquetípica de projetar nosso mundo interno no externo. As pessoas com quem convivemos servem também para que, inconscientemente, lancemos nosso próprio caráter nelas. Os aspectos inconscientes da personalidade do ser humano são invariavelmente colocados sobre aqueles com os quais nos relacionamos. Daí a importância de analisar a idéia que se tem dos próprios familiares como parte do seu psiquismo inconsciente. Assim pode-se conhecer um pouco mais sobre si mesmo través da relação com o outro, pois nele projetamos boa parte daquilo que somos.

Fundamental para o equilíbrio e a paz em família é o diálogo afetivo entre seus membros, principalmente nos momentos onde a tensão interna da casa ameace a harmonia doméstica. Cabe sempre aos responsáveis pelo lar a iniciativa, não se esperando que; quem não tenha razão peça desculpas ou fale primeiro. Quem compreende mais deve iniciar o processo de harmonização.

Tais diálogos devem também ocorrer fora dos momentos de tensão, quando os ânimos não estejam exaltados. Após as discussões deve-se refletir sobre qual a melhor forma de retomar o diálogo e de que maneira ele deve ser conduzido para não ferir a suscetibilidade dos outros. Será sempre importante observar o tom da voz e as palavras, que devem ser colocadas de forma a expressarem afetividade e amorosidade. Às vezes não conta o que dizemos, mas com que modulação de voz e emoção o fazemos. Uma mesma crítica poderá ser aceita por alguém que tenha dificuldade de admitir que está equivocado, se o fizermos com amorosidade.

Quando conversarmos com alguém, devemos procurar poupar a pessoa do nosso mau humor e da agressividade que porventura tenhamos, pois, caso contrário, estaremos nas mesmas condições de quem assim age conosco e, sabemos por experiência, o quanto tal tratamento é desagradável. A fala amorosa desperta no outro um sentimento recíproco que permite a comunicação num nível profundo, conectando os corações. Foi dessa forma que o Cristo conseguiu atingir as pessoas e perpetuar suas palavras até hoje.

Quando falamos com o coração, quem nos ouve guarda nossas palavras e permite que elas repercutam por muito tempo em sua mente.

Todos nós somos suscetíveis às influências do meio da mesma forma que interferimos nele. Difícil é determinar o que tem mais importância. Não é diferente na vida em família. Todos interferem no grupo como também sofrem interferência dos demais. Porém, há um fator que influencia o grupo familiar e que, de tão sutil, não é percebido por ninguém. Trata-se do modo de ser de cada um que não aparece explicitamente nos atos nem nas palavras e que não é dito, mas que é captado inconscientemente por todos.

- O que não se diz, mas se pensa;

- o que não se expressa, mas se sente;

- o que não se faz, mas se deseja;

moldam o comportamento do outro, exercendo tanta influência quanto o meio e quanto aquilo que é dito e feito pelos demais.

Quando se aconselha que prevaleça o diálogo é também no intuito de diminuir a influência do que não é dito. Quanto mais se exercita o diálogo buscando explicar aquilo que se pretende para com o outro, estreitam-se os laços e se estabelece a confiança mútua.

Tudo que se deseje fazer e que implique em reciprocidade ou atuação por parte de alguém, deve ser explicitado com o máximo de clareza possível. Quanto mais se puder explicar o que se faz, mais se obtém êxito quando o que se quer depende de terceiros.

Quando falta o diálogo na relação com alguém ou quando se economizam as palavras, permite-se que se estabeleça uma certa distância com o outro. Isso contribui para que o outro possa exercer sua imaginação e criatividade para com o desejo de quem lhe aciona. Abre-se um campo imenso de possibilidades para que o outro possa pensar o que lhe aprouver quanto às reais atitudes de quem o busca.

Quando isso se refere aos filhos, cujas personalidades podem ainda estar em vias de consolidação, sobretudo na juventude, torna-se fundamental que a comunicação se estabeleça com muita precisão e clareza.

A vida muito voltada para o trabalho que naturalmente exige atenção, pois sem ele não se sobrevive, limita uma maior aproximação entre as pessoas na família. O diálogo se dá em tempo restrito e as conversas são prejudicadas pelo estresse diário. O cansaço, o sono, dentre outros fatores, interferem na disposição em se conversar com alguém. Muitas vezes, chega-se em casa disposto apenas a ir para a cama. Qualquer outra coisa seja exaustiva demais.

Acresce a essa dificuldade, a natural timidez e dificuldade em falar de si mesmo aos outros. Restringem-se os diálogos às reivindicações, queixas e ao trivial, sem que se tenha o cuidado de abordar questões relevantes da vida de cada um.

As acusações, mesmo que tenham fundamento, que são feitas contra um outro membro da família, tendem a desestabilizar a estrutura familiar e levar dificuldades ao diálogo e ao convívio fraterno. Pode-se abordar alguém que cometeu um equívoco sem acusá-lo ou agredi-lo. Tendo-se o cuidado de colocar a questão com o objetivo de educar e não de punir sumariamente.

As brigas domésticas, as quais ocorrem naturalmente, nunca devem ameaçar o equilíbrio e a harmonia do lar. Quem discute com outra pessoa deve atentar para que, após a discussão, a paz se estabeleça.

Não se pode esquecer que estamos cercados de testemunhas invisíveis, espíritos desencarnados, que participam de nossas vidas, com os mais diversos interesses e que contribuem positiva ou negativamente para o que ocorre em casa.

"Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. (Mateus, 4:19)

Interessante a fala de Jesus no que diz respeito a comparar pessoas a peixes. Parece que ele quis mostrar àqueles pescadores que havia algo mais nobre a fazer além de pescar peixes. Pescar é retirar de dentro da água para fora, isto é, colocar no claro algo que está no escuro; é iluminar o que se encontra nas sombras; é permitir que algo saia do inconsciente para a consciência; é elevar o que está em baixo; é exaltar o que se encontra em situação de inferioridade. Poder-se-ia pensar que o Cristo estaria colocando que é necessário estimular aquele cuja auto-estima se encontra baixa. Suas palavras podem servir para os pais que podem se transformar em pescadores de seus filhos a fim de que eles se sintam confiantes em si mesmos. Nenhuma das palavras do Cristo deve ser entendida apenas em seu sentido genérico ou literal, mas considerando-as como dirigidas ao mundo psíquico de cada um. Ele falava para poucos, pois, naquela época, não havia recursos técnicos de propagação da fala. Comparar pessoas a peixes é mais do que uma figura de retórica. É colocar que cada ser humano pode, com suas palavras e atos, contribuir para estimular o outro em seu processo de desenvolvimento da consciência espiritual. Estimular os filhos é dever dos pais e não lhes exige nenhum preparo especial. Basta que se tenha o cuidado de estar atento a essa necessidade para que eles, um dia, se sintam mais do que peixes no fundo das águas, mas criaturas de Deus, nascidas para a iluminação.

O Cristo convidou pescadores para se transformarem em apóstolos, num ministério diferente do que estavam habituados. Enxergou habilidades que eles mesmos desconheciam que poderiam exercer. Agiu como um pai ao descobrir as potencialidades dos filhos estimulando-os a que as utilizem em suas vidas. Ao convocá-los diretamente transmitiu segurança no que fazia não deixando margem de dúvidas quanto ao que queria. Serviu de guia para aquelas pessoas simples.

Essa é a tarefa que nos cabe diante da indecisão dos filhos.

Iluminar suas consciências para a escolha do caminho mais seguro em suas vidas. Dar-lhes educação doméstica, a qual não pode ser substituída pela educação formal.

Nesse aspecto é também importante para os pais passar aos filhos a confiança no auxílio espiritual, visto que somos seguidos por eles, os filhos, quando reencarnamos. Eles também nos influenciam nas escolhas profissionais e contribuem para que encontremos o melhor caminho de acordo com os planejamentos reencarnatórios que fizemos. Nenhum ser humano é uma ilha, pois mesmo encarnado não se encontra isolado daqueles que fazem parte de sua família espiritual. Saber que contamos com os Bons Espíritos contribui para nosso sucesso.

Tornar-se 'pescador de homens' significa ser capaz de entender a natureza humana e encantar-se com ela iluminando os caminhos dos outros que vêm atrás de nós. Nenhum egoísmo deve fazer parte de nossa vida quando estivermos atuando na educação de nossos filhos. Eles são um dos mais importantes campos de realização nas nossas vidas. Todas as vezes que colocamos o egoísmo à frente de nossas ações, estaremos longe do verdadeiro encontro conosco mesmos, do encontro com o Self.

Cada ser humano pode se tornar o nosso 'peixe', pois poderemos elevá-lo à luz, e assim iluminarmos seu caminho da mesma forma que alcançamos as claridades da superfície.

Adenáuer Novaes

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