Geralmente, o Radical Classe Média se apresenta como politizado, para, na verdade, repetir os velhos cacoetes do senso comum da política - é contra partidos;
domingo, 29 de março de 2015
O radical classe média
sábado, 28 de março de 2015
Homo ignorans
Pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos bancos, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo.Por: Ladislau Dowbor,27/03/2015
O homo sapiens todos conhecemos. Inclusive a maior parte da teoria econômica e das teorias das transformações sociais se baseia numa compreensão otimista de que o homem absorve conhecimentos, confronta-os com os seus objetivos racionalmente entendidos, e procede de acordo. Quando erra, analisa os erros e corrige a sua visão para não repeti-los.
Naturalmente, é agradável pensarmos que somos, conforme aprendi na escola, animais racionais, racionalidade que nos separaria confortavelmente dos animais. As minhas dúvidas aumentam proporcionalmente à minha idade, o que significa que são elevadas. Pensar que somos mais do que somos é uma atitude muito difundida. A bíblia já abre com o tom adequado: Deus nos criou à sua imagem e semelhança, o que implica por virtude dos espelhos que somos semelhantes nada mais nada menos que a Ele. O tamanho desta pretensão, e o fato de passar tão desapercebida e natural, já mostra a que ponto a nossa racionalidade pode ser adaptada ao que é agradável, mas não necessariamente ao que é verdadeiro.
Pensar na dimensão irracional da nossa inteligência, ou nas raízes interessadas e ideologicamente deformadas do que nos parece racionalmente verdadeiro, é muito interessante. Fazemos uma construção racional em cima de fundamentos profundamente enterrados na confusão de paixões, medos, ódios e sentimentos contraditórios. Quanto maior o preconceito – no sentido literal, raiz emocional que assume a postura antes do entendimento – maior parece ser a busca do sentimento de superioridade moral.
Devemos lembrar como foram denunciados e massacrados ou ridicularizados os que lutaram pelo fim da escravidão, pelo fim da discriminação racial, pelos direitos de organização dos trabalhadores, pelo voto universal, pelos direitos das mulheres? A imensa batalha que foi chegar ao intelecto dos dominantes que um povo colonizar outro não dá certo? Hoje é a mesma luta pela redução das desigualdades, pelo fim da destruição do planeta, pela democratização de uma sociedade asfixiada por interesses econômicos. Aqui precisamos de muito bom senso e generosidade. Ou seja, emoções e indignações sim, mas apoiadas na inteligência do que acontece no mundo e visando o interesse maior de todos, e não no interesse particular de defesa dos privilégios.
Aqui realmente é preciso de muita ignorância, ou seja, desconhecimento (voluntário ou não), para não se dar conta dos desafios reais. O aquecimento global é uma ameaça real, mas a direita tende a negar, como se o termômetro e os gazes de efeito de estufa fossem de esquerda. O desmatamento generalizado do planeta está levando a perdas de solo fértil em grande escala, quando iremos precisar de mais área de plantio. A vida nos mares está sendo esgotada pela sobrepesca e em 40 anos, segundo o WWF, perdemos 52% da vida vertebrada no planeta. É um desastre planetário espantoso, mas não aparece na mídia comercial. Os dados sobre a inviabilização ambiental do planeta são hoje amplamente comprovados. Há controvérsias, nos dizem. Mas é questão de opinião ou de conhecimento dos dados?No plano social é mais impressionante ainda: até o Fórum Econômico em Davos escuta e divulga as pesquisas da Oxfam, do Banco Mundial e das Nações Unidas, dos inúmeros institutos de pesquisa estatística em todos os países sobre a desigualdade crescente da renda. Pior, temos agora os dados da desigualdade do patrimônio acumulado das famílias – 85 famílias são donas de mais riqueza acumulada do que 3,5 bilhões de pessoas na base da pirâmide social – gerando tensões insustentáveis. Mas em Wall Street enchem a boca e declaram “greed is good”. Sobre esta desigualdade de patrimônio uma das principais fontes é o Crédit Suisse, que tem boas razões para entender tudo de fortunas familiares. Nem os dados da própria direita parecem convencer a direita, se não confirmam os seus preconceitos.
Vamos tampar os olhos e fazer de conta que acreditamos que é possível manter a paz política e social num planeta onde 1,3 bilhões não têm acesso à luz elétrica, 2 bilhões não têm acesso a fontes decentes de água, e 850 milhões passam fome? Tem sentido acreditar no bom pobre¸ que se resigna e aceita, quando hoje até no último degrau da pobreza há uma consciência do direito a ter uma escola decente para o filho, saúde básica para a família? Aqui já não são apenas os olhos e os ouvidos que estão tapados, e sim a própria inteligência. O homo ignorans raciocina com o fígado.
E porque toda esta riqueza acumulada no topo não serve para as reconversões tecnológicas que nos permitam salvar o planeta, e para financiar as políticas sociais e inclusão produtiva capaz de reduzir as desigualdades? Basicamente porque está situada em paraísos fiscais, aplicada em sistemas de especulação financeira, sequer orientada para investimentos produtivos tradicionais. Os 737 grupos que controlam 80% das atividades corporativas do planeta são essencialmente grupos financeiros. Fonte? O Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica. São recursos que não só se aplicam em especulação financeira em vez de financiar investimentos produtivos, como migram para paraísos fiscais onde não pagam impostos. O Economist estima que sejam 20 trilhões de dólares, um pouco menos de um terço do PIB mundial.O Brasil tem cerca de 520 bilhões de dólares em paraísos fiscais, da ordem de 25% do PIB. O HSBC que o diga. Mas no Brasil a grande vitória é a eliminação da CPMF que cobrava ridículos 0,38% sobre movimentações financeiras. No Brasil pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos grandes intermediários financeiros, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo. Em particular quando comete o pecado de melhorar a condição dos pobres. Ainda bem que temos a corrupção para canalizar a atenção e os ódios. O uso produtivo dos recursos não seria mais inteligente?
Não há nenhuma confusão sobre as dimensões propositivas: se estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria que pouco produz e muito especula, trata-se de tributar a riqueza improdutiva para financiar as políticas tecnológicas, ambientais e sociais indispensáveis aos equilíbrios do planeta. Com Ignacy Sachs e Carlos Lopes apontamos rumos básicos no documento Crises e Oportunidades em Tempos de Mudança, não são ideias que faltam: falta muita gente que tampa o sol com a peneira dos seus interesses se dar conta dos desafios reais que enfrentamos. Aliás, o norte é bem simples: toda política que reduz as desigualdades, protege o meio ambiente, e tributa capitais improdutivos contribui não para salvar um governo, mas para nos salvar a todos. E um país do tamanho do Brasil tem como trunfo fundamental, nesta época de turbulências planetárias, a possibilidade de ampliar a base econômica interna através da inclusão produtiva.
Confesso que ando preocupado. Parece que quanto maior a bobagem declarada, maior o sentimento de superioridade moral. E o ódio, esta eterna ferramenta dos preconceituosos, é um sentimento agradável quando se consegue encobrir o interesse com um véu de ética. Nesta nossa guerra permanente entre o frágil homo sapiens e o poderoso e arrogante homo ignorans, a olhar pelo mundo afora, e pelos gritos histéricos de extremistas por toda parte – sempre em nome de elevados sentimentos morais e com amplas justificações racionais – o direito ao ódio parece superar todos os outros. Pobre Deus, nosso semelhante.
domingo, 1 de março de 2015
CCC, a Cartilha Coxinha de Conduta
Texto imperdível de Alexandre de Oliveira Périgo
Artigo primeiro: Nem toda pessoa de esquerda é “petista” ou ”petralha”,
ó tartamudeante coxinha. Usar tal denominação e generalização apenas demonstra
sua profunda miopia em relação a conjuntura política nacional e internacional.
Parágrafo único: Denotar aspecto pejorativo ao termo “petista” é mero e
vil preconceito, ó direitoso coxinha (vide artigo sexto). Petistas são, via de
regra, gente muito bacana.
Artigo segundo: Não use o termo “esquerda caviar”, ó amantíssimo
coxinha; ele entrega sua limitação cognitiva de forma cabal. Entenda de uma vez
por todas: há sim pessoas humanistas que dentro da realidade capitalista que se
impõe ganham dinheiro e nem por isso se tornam menos socialistas ou abandonam
seus ideais de esquerda. Sou solidário à sua dificuldade de absorção da
realidade, contudo esteja ciente que nem todo comunista é pobre, barbudo, mal
ajambrado e sujo consoante seu limitadíssimo imaginário.
Artigo terceiro: Comunismo não tem nenhuma relação com “invasão de
casas de veraneio por descamisados”, nem com “divisão de salários com
mendigos”, ó odioso coxinha. Mendigos são frutos do capitalismo. E tampouco há
um “golpe comunista em curso” no Brasil, pois o PT não é um partido comunista,
muito longe disso. Considerável porcentagem das medidas petistas no governo
federal privilegiam o mercado financeiro e a parte mais abonada da população.
Sendo assim, informe-se antes de zurrar pudins de ignorância dos mais fétidos
sabores e que machucam os tímpanos de qualquer interlocutor um pouco mais
consciente que um banquinho manco de boteco.
Parágrafo único: Há sim Marxistas críticos e que acham que a
experiência soviética foi um rotundo fracasso, ó extremista coxinha; todavia
nem por isso tiram do centro de suas problematizações a nefasta lógica
capitalista de acumulação de capital e nem abrem mão das ululantes demandas do
proletariado do século XXI. Assim, pare de usar o termo “Marxismo” associado a
Stalin e aberrações congêneres e, se possível, leia mais que 3 linhas no Google
sobre Marx antes de escrever suas brilhantes teses sobre esse grande pensador.
Artigo quarto: Dobre sua enorme língua e limpe seus perdigotos
infectados com toneladas de vírus atemporais de burrice antes de chamar os
valentes e heroicos combatentes da ditadura de “terroristas”, ó troglodita
coxinha; terroristas propriamente ditos são os malditos milicos que matavam
primeiro, perguntavam o nome depois e que hoje se escondem, covardes que são,
atrás das saias da Lei da Anistia e de mentiras deslavadas à Comissão da
Verdade. É graças a gente como Dilma, que usou sua juventude para pegar em
armas e não gastou suas noites nos bailinhos dos anos dourados embalados pela
alienada “jovem guarda” que você pode hoje se manifestar como quiser, inclusive
para criticá-la. E por obsequio, não me venha com essa esparramela rotundamente
ignóbil de “os terroristas não queriam combater a ditadura, apenas instalar o
comunismo no Brasil” pois isso é de uma inverdade histórica que dói conteúdo e
continente de meu saco escrotal; estude um pouco e não pronuncie tamanhas
bobagens, pois nunca - repito, nunca - nem chegou-se perto de um golpe
comunista no Brasil e a intenção de muitos combatentes da ditadura - que nem
eram comunistas - resumia-se a pleitear a volta da democracia no país. Quer um
exemplo marcante de um valente combatente da ditadura que nunca foi comunista?
Lula! Deu, né?
Artigo quinto: Não diga que “esquerdistas querem uma ditadura gay”, ó
relinchante coxinha. Não, por favor, mil vezes não! Não existe “ditadura gay”,
seja lá o bizarro sentido que você considere para o termo! Os gays têm
exatamente os mesmos direitos que você e eu, sem sectarismo de qualquer espécie
- contra ou a favor. E pare com esse papo de “se dar ao respeito”, essa
colocação é ridícula e explicita que você deveria estar é preocupado com quem
fomenta guerra e violência e não com demonstrações de carinho e amor. Simples,
não?
Artigo sexto: Não justifique seus preconceitos com uma suposta
“liberdade de expressão”, ó obscuro coxinha. Essa liberdade não é infinita tal
qual seu ódio e ignorância; ela tem como limite justamente o direito do outro.
Não gostar de negros, judeus, ateus, religiosos ou ser machista não é
“liberdade de expressão”, mas sim uma putrefata mistura de sectarismo,
preconceito, sexismo, misoginia e ignorância. Além de crime.
Artigo sétimo: Pare com essa estupidez de afirmar que “maconha é o
primeiro degrau na escalada sem fim rumo às drogas mais pesadas”, ó esfumaçado
coxinha. Poupe-me de seus faniquitos moralistas regados a cervejinha; há
milhões de pessoas que fazem uso recreativo da maconha - como você faz do
álcool e de remedinhos para dormir ou emagrecer - e que jamais injetarão
heroína nas veias da têmpora para assaltar sua casa babando e com os olhos
esbugalhados e vender sua TV para comprar mais droga. A questão das drogas é
séria e portanto demanda serenidade e não grunhidos desta sorte em sua
discussão. Fume um baseado lá no cantinho do castigo enquanto pensa a respeito,
ok?
Artigo oitavo: Para sua surpresa completa, as pessoas de esquerda e que
apoiam o PT nesse segundo turno das eleições não aprovam nem são lenientes com
a corrupção, ó probo coxinha. Ao contrário, se manifestam contundentemente para
que todos os casos investigados sejam esclarecidos, o que inclui aqueles que
envolvem a direita e que foram parar debaixo do tapete da história recente.
Quem curte uma corrupçãozinha básica é você, que aplica sua memória e
indignação seletivas quando o assunto envolve as falcatruas dos partidos que
defende e que não perde a chance de subornar um guarda e outras autoridades
públicas, que não respeita as regras mais básicas de convívio social e que
adora levar vantagem em tudo. Da próxima vez que baixar o vidro de seu carro
para jogar lixo na rua, aproveite e atire também sua hipocrisia para bem longe
de mim, por favor.
Artigo nono: Ser contra a diminuição da maioridade penal não é adorar
bandido, ó revoltado coxinha. Tome uma vitamina de banana com leite e ponha
seus três neurônios para funcionar: ninguém quer ser assaltado, estuprado e nem
é conivente com seres humanos que agem de forma atroz e que merecem a punição
prevista em lei. Ninguém “pensaria diferente se fosse sua filha” ou quer “levar
bandido para morar em sua casa”. Esses argumentos são de um simplismo e
ignorância que quase me persuadem a perder as esperanças na espécie humana. Saiba
que as pessoas de esquerda entendem que há meios mais humanos e eficazes de se
diminuir a criminalidade do que prender e linchar jovens negros e favelados já
condenados no nascimento pela herdada exclusão a que estão submetidos. Entenda:
a esquerda quer é atacar as causas da violência, enquanto você quer somente
metralhar os seus efeitos.
Parágrafo único: a próxima vez que você, ó truculento coxinha,
relinchar para mim que “bandido bom é bandido morto” vou sugerir que aplique
essa máxima aos bandidos de colarinho branco que frequentam sua sala de estar
nos churrascos de domingo, seja pessoalmente seja na TV. E por favor, não
escreva mais “estrupo”, pois isso estupra meus ouvidos.
Artigo décimo: Não defenda a meritocracia, ó hidrofóbico coxinha. Se
você era pobre e “venceu na vida” isso vai mostrar sua intolerância e
desconhecimento das dificuldades dos outros pobres que são diferentes de você;
e se você for rico, pior ainda - isso mostra que você é prepotente, folgado e
usa dois pesos e duas medidas na vida: um para os pobres e outro para si
próprio que teve tudo na vida de mão beijada. Nesse último caso, a vergonha
alheia manda um beijinho no ombro.
Parágrafo único: o pobre de direita é um “ornitorrinco social” que
merece toda minha solidariedade, ó heterodoxo coxinha. Não é fácil ser o bravo
perdigueiro do capital alheio. E se esse for seu caso, deixo a você um breve e
incontido recado: os ricos renitentes agradecem sua postura e mandam lembranças
lá de Miami, prometendo um empreguinho de doméstica não registrada à sua mãe
assim que voltarem da Disney.
Artigo décimo primeiro: Ateus não adoram o demônio nem são pessoas
aprioristicamente más ou sem caráter, ó teocrático coxinha. Pare de vociferar
esse mantra obscuro onde associa-se bondade e caráter com religiosidade. Hitler
era cristão e Chaplin era ateu - e sabe o que isso significa? Absolutamente
nada. Entenda de uma vez: todos são ateus com os deuses das outras religiões
que não a sua. Eu sou ateu com todos os deuses e exijo respeito.
Artigo décimo segundo: pare de defender o capitalismo usando como
exemplos países ricos como os EUA, ó disneylândico coxinha; você pode não
saber, mas há milhões de pessoas passando necessidades nesses lugares todavia a
grande mídia que você tanto venera e cultua não mostra. Abra os olhos: o
problema não é a quantidade de dinheiro, mas o sistema que o concentra nas mãos
de poucos.
Parágrafo único: já que mencionei a grande mídia, seja mais
questionador e menos massa de manobra, ó crédulo coxinha. Não aceite como
verdade absoluta tudo que é veiculado na grande mídia. Ela defende seus
próprios interesses e não quer informar você; ao contrário, quer manipulá-lo.
Pense - sei que é difícil, mas pense - antes de repetir como um papagaio
acéfalo o que vê na Globo ou lê na Folha de São Paulo e lixos afins.
Artigo décimo terceiro: Respeite para ser respeitado, ó perdigotante
coxinha. Lembre-se que todo ser humano é diferente de você e isso não é crime,
por mais que você pense o contrário. Não invada a página de desconhecidos para
xingar ou impor seu ponto de vista cheio de letras maiúsculas e vazio de bom
senso. Além de demonstrar total falta de educação, a tentativa de colonização
do outro entrega sua falta de espirito democrático, já diria Saramago.
Argumentos Ad Hominem só atestam sua truculência exasperada e completa falta de
conteúdo.
Parágrafo único: Não arrisque menção a nomes como Aécio Neves ou Olavo
de Carvalho, é vergonha na certa, ó falante coxinha; na dúvida, permaneça em
silencio. A parte pensante do universo agradecerá imensamente.
Assim concluo os treze artigos de minha cartilha.
E que Tutatis proteja as almas coxinhas, pois seus cérebros já estão
comprometidos com a nobre função de peso de papel no jornaleiro da esquina.
Amém?
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