Por Daniel Menezes *
Geralmente, o Radical Classe Média se apresenta como politizado, para, na verdade, repetir os velhos cacoetes do senso comum da política - é contra partidos;
Mais. Todo político é ladrão. Aliás, para o Radical Classe Média,
o problema do Brasil não é o da desigualdade, mas o da corrupção. Por
isso, não perde a oportunidade de comparar a nossa suposta natural
propensão para a malandragem com a sonhada condição positiva dos EUA, ou
numa perspectiva intelectualizada, dos países escandinavos;
Nesse sentido, a eleição não passa de uma chantagem. Tanto faz quem vai ganhar - "é tudo igual mesmo". O Radical Classe Média, quando não é capturado pelo moralismo e/ou suposta superioridade gerencial de um bonachão, prega o voto nulo;
O Radical Classe Média não
gosta muito de se "misturar". Quer exclusividade. No fundo, ele não
suporta que ônibus coletivo passe nas praias "nobres" de sua cidade. Ou,
em sua versão intelectual, defende a criação de "espaços" para os mais
"humildes";
Para o Radical Classe Média, as instituições devem aprender a se relacionar com ele, já que o dito cujo apresenta muitas especificidades;
Instituição a favor dele é democracia. Contra ele? Fascismo;
Seguranças-policiais-trabalhadores devem fazer cursos de capacitação só para aprenderem a se relacionar com ele;
Ele é anarquista para os deveres, mas não para os direitos;
Ele é contra impostos, mas quer que tudo funcione a seu favor;
Um bom Radical Classe Média
critica o inchaço do Estado, mas sempre tem alguém da família gozando
de acesso privilegiado ao próprio Estado - um cargo, um contrato etc;
O Radical Classe Média não
tem diploma de graduação. Ele tem diploma de nobreza. E o "resto"? É
resto, alienado. Ele se vê como o (único) "intelectual orgânico";
Ele é terminantemente contra o Bolsa Família, a quem ele chama de bolsa-esmola, pois produz preguiçosos e premia quem nunca "quis" estudar;
Para o Radical Classe Média,
quem não sabe escrever o português corretamente deveria ser impedido de
votar, de expor sua opinião num blog ou jornal. Enfim, de argumentar;
Pensar é sinônimo de dominar a gramática. Do contrário, o dito cujo se encontra no nível dos animais irracionais;
Para ele, às
vezes, o problema do Brasil é porque o pobre-analfabeto - ele chama de
"não esclarecido" - não sabe votar. Uma cientista política advinda da
USP teria um bom conceito radical de classe média para isso - ausência
de "sofisticação política";
Na versão intelectualizada, o Radical Classe Média é
um crítico do jeitinho brasileiro, gosta de ler Nietzsche, Foucault,
Deleuze, Guatarri. É um crítico do "micropoder", dos "fascismos da
norma", conceitos mobilizados para negar qualquer coisa que lhe cobre
alguma contrapartida social;
Há também aquelas versões do Radical Classe Média que tornam Karl Marx, ou o socialismo, numa questão de superioridade ético-moral;
O Radical Classe Média é um supercidadão. Os demais... subcidadãos;
Afinal, o Radical Classe Média estudou. Merece mais do que os simples mortais;
O Radical Classe Média se imagina como o que resta de bom no Brasil. Não raro, flerta com o fascismo.
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