CCC, a Cartilha Coxinha de Conduta
Texto imperdível de Alexandre de Oliveira Périgo
Artigo primeiro: Nem toda pessoa de esquerda é “petista” ou ”petralha”,
ó tartamudeante coxinha. Usar tal denominação e generalização apenas demonstra
sua profunda miopia em relação a conjuntura política nacional e internacional.
Parágrafo único: Denotar aspecto pejorativo ao termo “petista” é mero e
vil preconceito, ó direitoso coxinha (vide artigo sexto). Petistas são, via de
regra, gente muito bacana.
Artigo segundo: Não use o termo “esquerda caviar”, ó amantíssimo
coxinha; ele entrega sua limitação cognitiva de forma cabal. Entenda de uma vez
por todas: há sim pessoas humanistas que dentro da realidade capitalista que se
impõe ganham dinheiro e nem por isso se tornam menos socialistas ou abandonam
seus ideais de esquerda. Sou solidário à sua dificuldade de absorção da
realidade, contudo esteja ciente que nem todo comunista é pobre, barbudo, mal
ajambrado e sujo consoante seu limitadíssimo imaginário.
Artigo terceiro: Comunismo não tem nenhuma relação com “invasão de
casas de veraneio por descamisados”, nem com “divisão de salários com
mendigos”, ó odioso coxinha. Mendigos são frutos do capitalismo. E tampouco há
um “golpe comunista em curso” no Brasil, pois o PT não é um partido comunista,
muito longe disso. Considerável porcentagem das medidas petistas no governo
federal privilegiam o mercado financeiro e a parte mais abonada da população.
Sendo assim, informe-se antes de zurrar pudins de ignorância dos mais fétidos
sabores e que machucam os tímpanos de qualquer interlocutor um pouco mais
consciente que um banquinho manco de boteco.
Parágrafo único: Há sim Marxistas críticos e que acham que a
experiência soviética foi um rotundo fracasso, ó extremista coxinha; todavia
nem por isso tiram do centro de suas problematizações a nefasta lógica
capitalista de acumulação de capital e nem abrem mão das ululantes demandas do
proletariado do século XXI. Assim, pare de usar o termo “Marxismo” associado a
Stalin e aberrações congêneres e, se possível, leia mais que 3 linhas no Google
sobre Marx antes de escrever suas brilhantes teses sobre esse grande pensador.
Artigo quarto: Dobre sua enorme língua e limpe seus perdigotos
infectados com toneladas de vírus atemporais de burrice antes de chamar os
valentes e heroicos combatentes da ditadura de “terroristas”, ó troglodita
coxinha; terroristas propriamente ditos são os malditos milicos que matavam
primeiro, perguntavam o nome depois e que hoje se escondem, covardes que são,
atrás das saias da Lei da Anistia e de mentiras deslavadas à Comissão da
Verdade. É graças a gente como Dilma, que usou sua juventude para pegar em
armas e não gastou suas noites nos bailinhos dos anos dourados embalados pela
alienada “jovem guarda” que você pode hoje se manifestar como quiser, inclusive
para criticá-la. E por obsequio, não me venha com essa esparramela rotundamente
ignóbil de “os terroristas não queriam combater a ditadura, apenas instalar o
comunismo no Brasil” pois isso é de uma inverdade histórica que dói conteúdo e
continente de meu saco escrotal; estude um pouco e não pronuncie tamanhas
bobagens, pois nunca - repito, nunca - nem chegou-se perto de um golpe
comunista no Brasil e a intenção de muitos combatentes da ditadura - que nem
eram comunistas - resumia-se a pleitear a volta da democracia no país. Quer um
exemplo marcante de um valente combatente da ditadura que nunca foi comunista?
Lula! Deu, né?
Artigo quinto: Não diga que “esquerdistas querem uma ditadura gay”, ó
relinchante coxinha. Não, por favor, mil vezes não! Não existe “ditadura gay”,
seja lá o bizarro sentido que você considere para o termo! Os gays têm
exatamente os mesmos direitos que você e eu, sem sectarismo de qualquer espécie
- contra ou a favor. E pare com esse papo de “se dar ao respeito”, essa
colocação é ridícula e explicita que você deveria estar é preocupado com quem
fomenta guerra e violência e não com demonstrações de carinho e amor. Simples,
não?
Artigo sexto: Não justifique seus preconceitos com uma suposta
“liberdade de expressão”, ó obscuro coxinha. Essa liberdade não é infinita tal
qual seu ódio e ignorância; ela tem como limite justamente o direito do outro.
Não gostar de negros, judeus, ateus, religiosos ou ser machista não é
“liberdade de expressão”, mas sim uma putrefata mistura de sectarismo,
preconceito, sexismo, misoginia e ignorância. Além de crime.
Artigo sétimo: Pare com essa estupidez de afirmar que “maconha é o
primeiro degrau na escalada sem fim rumo às drogas mais pesadas”, ó esfumaçado
coxinha. Poupe-me de seus faniquitos moralistas regados a cervejinha; há
milhões de pessoas que fazem uso recreativo da maconha - como você faz do
álcool e de remedinhos para dormir ou emagrecer - e que jamais injetarão
heroína nas veias da têmpora para assaltar sua casa babando e com os olhos
esbugalhados e vender sua TV para comprar mais droga. A questão das drogas é
séria e portanto demanda serenidade e não grunhidos desta sorte em sua
discussão. Fume um baseado lá no cantinho do castigo enquanto pensa a respeito,
ok?
Artigo oitavo: Para sua surpresa completa, as pessoas de esquerda e que
apoiam o PT nesse segundo turno das eleições não aprovam nem são lenientes com
a corrupção, ó probo coxinha. Ao contrário, se manifestam contundentemente para
que todos os casos investigados sejam esclarecidos, o que inclui aqueles que
envolvem a direita e que foram parar debaixo do tapete da história recente.
Quem curte uma corrupçãozinha básica é você, que aplica sua memória e
indignação seletivas quando o assunto envolve as falcatruas dos partidos que
defende e que não perde a chance de subornar um guarda e outras autoridades
públicas, que não respeita as regras mais básicas de convívio social e que
adora levar vantagem em tudo. Da próxima vez que baixar o vidro de seu carro
para jogar lixo na rua, aproveite e atire também sua hipocrisia para bem longe
de mim, por favor.
Artigo nono: Ser contra a diminuição da maioridade penal não é adorar
bandido, ó revoltado coxinha. Tome uma vitamina de banana com leite e ponha
seus três neurônios para funcionar: ninguém quer ser assaltado, estuprado e nem
é conivente com seres humanos que agem de forma atroz e que merecem a punição
prevista em lei. Ninguém “pensaria diferente se fosse sua filha” ou quer “levar
bandido para morar em sua casa”. Esses argumentos são de um simplismo e
ignorância que quase me persuadem a perder as esperanças na espécie humana. Saiba
que as pessoas de esquerda entendem que há meios mais humanos e eficazes de se
diminuir a criminalidade do que prender e linchar jovens negros e favelados já
condenados no nascimento pela herdada exclusão a que estão submetidos. Entenda:
a esquerda quer é atacar as causas da violência, enquanto você quer somente
metralhar os seus efeitos.
Parágrafo único: a próxima vez que você, ó truculento coxinha,
relinchar para mim que “bandido bom é bandido morto” vou sugerir que aplique
essa máxima aos bandidos de colarinho branco que frequentam sua sala de estar
nos churrascos de domingo, seja pessoalmente seja na TV. E por favor, não
escreva mais “estrupo”, pois isso estupra meus ouvidos.
Artigo décimo: Não defenda a meritocracia, ó hidrofóbico coxinha. Se
você era pobre e “venceu na vida” isso vai mostrar sua intolerância e
desconhecimento das dificuldades dos outros pobres que são diferentes de você;
e se você for rico, pior ainda - isso mostra que você é prepotente, folgado e
usa dois pesos e duas medidas na vida: um para os pobres e outro para si
próprio que teve tudo na vida de mão beijada. Nesse último caso, a vergonha
alheia manda um beijinho no ombro.
Parágrafo único: o pobre de direita é um “ornitorrinco social” que
merece toda minha solidariedade, ó heterodoxo coxinha. Não é fácil ser o bravo
perdigueiro do capital alheio. E se esse for seu caso, deixo a você um breve e
incontido recado: os ricos renitentes agradecem sua postura e mandam lembranças
lá de Miami, prometendo um empreguinho de doméstica não registrada à sua mãe
assim que voltarem da Disney.
Artigo décimo primeiro: Ateus não adoram o demônio nem são pessoas
aprioristicamente más ou sem caráter, ó teocrático coxinha. Pare de vociferar
esse mantra obscuro onde associa-se bondade e caráter com religiosidade. Hitler
era cristão e Chaplin era ateu - e sabe o que isso significa? Absolutamente
nada. Entenda de uma vez: todos são ateus com os deuses das outras religiões
que não a sua. Eu sou ateu com todos os deuses e exijo respeito.
Artigo décimo segundo: pare de defender o capitalismo usando como
exemplos países ricos como os EUA, ó disneylândico coxinha; você pode não
saber, mas há milhões de pessoas passando necessidades nesses lugares todavia a
grande mídia que você tanto venera e cultua não mostra. Abra os olhos: o
problema não é a quantidade de dinheiro, mas o sistema que o concentra nas mãos
de poucos.
Parágrafo único: já que mencionei a grande mídia, seja mais
questionador e menos massa de manobra, ó crédulo coxinha. Não aceite como
verdade absoluta tudo que é veiculado na grande mídia. Ela defende seus
próprios interesses e não quer informar você; ao contrário, quer manipulá-lo.
Pense - sei que é difícil, mas pense - antes de repetir como um papagaio
acéfalo o que vê na Globo ou lê na Folha de São Paulo e lixos afins.
Artigo décimo terceiro: Respeite para ser respeitado, ó perdigotante
coxinha. Lembre-se que todo ser humano é diferente de você e isso não é crime,
por mais que você pense o contrário. Não invada a página de desconhecidos para
xingar ou impor seu ponto de vista cheio de letras maiúsculas e vazio de bom
senso. Além de demonstrar total falta de educação, a tentativa de colonização
do outro entrega sua falta de espirito democrático, já diria Saramago.
Argumentos Ad Hominem só atestam sua truculência exasperada e completa falta de
conteúdo.
Parágrafo único: Não arrisque menção a nomes como Aécio Neves ou Olavo
de Carvalho, é vergonha na certa, ó falante coxinha; na dúvida, permaneça em
silencio. A parte pensante do universo agradecerá imensamente.
Assim concluo os treze artigos de minha cartilha.
E que Tutatis proteja as almas coxinhas, pois seus cérebros já estão
comprometidos com a nobre função de peso de papel no jornaleiro da esquina.
Amém?
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