quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Leitura de ponta a ser compartilhada diariamente e se necessário de hora em hora!
Esqueçam o que ela escreveu, por Janio de Freitas

Esqueçam o que ela escreveu
Transgênicos e religião associam-se para desmentir de uma só vez duas negações atuais de Marina

Janio de Freitas

O tiroteio verbal entre os candidatos à Presidência está estendido, por balas perdidas de Marina Silva, aos que nos jornais e na internet tratem de suas contradições atuais, pretensos desmentidos e outros malabarismos. Quem se ocupa desses assuntos faz, a seu ver, "uma das ondas de mentira, calúnia e difamação feitas pelo desespero dos nossos [lá dela] adversários". Acusação exposta, agora, em Belo Horizonte.

O assunto pré-sal incluiu-se no centro da disputa eleitoral, o que vale até como indicador de surpreendente atenção de parte do eleitorado por tema assim sério. Daí que Marina procure fugir às restrições ao pré-sal que se ligaram ao seu nome. Mas não é tão simples a solução de culpar terceiros moralmente.

No dia 29 de agosto, formalizada já a substituição de Eduardo Campos, a seleção dos pontos mais importantes do programa de governo de Marina era divulgada com a inclusão desta proposta: "Redução da importância do pré-sal na produção de combustíveis" ("O Globo"). No mesmo dia, entre elogios a usineiros na feira de agronegócios em Sertãozinho (SP), disse Marina: "Temos que sair da Idade do Petróleo. Não é por faltar petróleo, é porque já estamos encontrando outras fontes de energia". Depois, ao responder sobre a restrição ao pré-sal, repetiu: "Há outras fontes de energia".

Marina Silva confirmou, portanto, a restrição presente no programa. E nele incluída pela revisão, para a sua candidatura, do programa do PSB e de Eduardo Campos. A propósito, o comentário feito aqui do novo programa, logo em seguida, notou que Marina Silva dava sinais de ignorar "o que é a Idade do Petróleo, que lhe parece restringir-se à energia". E mencionava a clamorosa falta de percepção para a liderança do petróleo como matéria-prima, em derivados da produção industrial hoje essenciais à vida dita civilizada.

Palavras da própria Marina Silva comprovam que posição avessa às suas restrições ao pré-sal, e ao petróleo mesmo, não é mentirosa, não contém calúnia nem difamação. Ou, a haver, parte dela, ao acusar outros para se desdizer.

A segunda mais importante negação desejada por Marina é o seu condicionamento religioso. Frase sua, reiterada com diferentes formas: "Minhas decisões políticas não são ditadas pela religião". Outra, esta em resposta a Patrícia Poeta e William Bonner no dia 27 de agosto: "Há uma lenda de que sou contra os transgênicos. Mas isso não é verdade".

Colunista do carioca "O Dia", Fernando Molica encontrou ao menos seis discursos da senadora Marina Silva, apenas entre 1998 e 2002, contra os transgênicos. Para contornar resistências, aliás, apresentou um projeto destinado a impedir a utilização dos transgênicos, de início, durante cinco anos. Depois, claro, seriam mais cinco, e outros mais.

Em continuidade, o "blog do Mário Magalhães", no UOL, foi buscar um dos discursos de Marina Silva. Muito instrutivo: a senadora explica que condena os transgênicos com base em "cinco referências bíblicas" e "tendo em vista o lado espiritual". Argumentos que torna mais substanciosos com a reprodução de um salmo em que é recomendado o respeito à integridade das sementes.

Transgênicos e religião associam-se para desmentir de uma só vez duas negações atuais de Marina. Mas não lhe falta também um modo peculiar, e muito adequado para as circunstâncias, de se desmentir. Está na adoção, como candidato a nada menos do que seu vice-presidente, do deputado gaúcho Beto Albuquerque, notório combatente no Congresso a favor dos transgênicos. E detentor de apoio eleitoral e financeiro da indústria de armas, contra a qual Marina Silva já se manifestou.

Fernando Henrique gostaria, ao que disse, de ver Marina Silva e Aécio Neves no mesmo governo. Pelo que as pesquisas sugerem, desejo para esquecer --como tantos outros esquecimentos inesquecíveis.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Por Pablo Villaça

Hoje, um ex-aluno e leitor veio dizer, no Twitter, que "não consegue confiar no governo federal" e que este "não fez nada em quatro anos que inspirasse confiança". Pedi que fosse mais específico em suas críticas, já que é impossível esclarecer o que quer que seja quando alguém se entrega a generalizações. A resposta dele? "As jornadas de junho comprovam" e pronto.

Suspiro.

Pra piorar, mesmo não apresentando um único argumento que sustentasse sua posição, ele imediatamente disse que eu defendia "cegamente" o governo. É o tipo de retórica mais canalha que existe: você ataca, ataca, ataca (mesmo sem argumentos); quando o outro defende, ELE é o "radical", o "cego".

Sabem qual é o problema desses coxinhas? Eles não podem dizer o que querem de verdade: "O governo pensa mais nos pobres do que em mim!", então precisam ficar inventando desculpa. "Podia estar melhor", "O 'mercado' não quer Dilma", blablabla. Não sabem o que foi viver no Brasil na era FHC. Não sabem o que era o desemprego que levava gente com curso superior a fazer prova pra gari. Não sabem o que era ter o país vivendo um apagão. Não sabem o que é ter que escolher entre almoço e jantar - com sorte. O que é um moleque de 9 anos ter que trabalhar pra ajudar em casa. Nao sabem o que era estudar numa universidade federal sucateada e sob ameaça constante de privatização. Não sabem o que era viver de um salário mínimo que não dava pra comprar UMA cesta básica (hoje compra mais de duas). Então ficam no "blablajornadasdejunhoblablamensalãofoiopiorcasodecorrupçãodahistóriablabla".

Sejam honestos, porra! Digam: "PENSO SÓ EM MIM".

Não falem de corrupção pra atacar um governo que fez o que FHC e o PSDB não fizeram e não fazem: permitiu investigação. É MUITO FÁCIL bancar o honesto quando se mantém a imprensa amordaçada. Foi só sair de MG que os podres de Aécio começaram a surgir. Aliás, surgir FORA de Minas, porque aqui os principais jornais continuam calados.

Estou cansado de ter que rebater retórica vazia. Como seria bom ter uma oposição que pensasse, que permitisse debate de igual pra igual. Em vez disso, tenho que passar raiva ouvindo gente falar de "mensalão" e perguntando "quando PT vai devolver dinheiro público". QUE DINHEIRO PÚBLICO? MESMO aceitando que mensalão foi compra de votos (e não foi; foi caixa 2), não houve dinheiro público envolvido. Dinheiro público foram os 100 BILHÕES que a privataria custou ao nosso patrimônio. Mas isso esses idiotas preferem ignorar.

Chega uma hora em que isso começa a cansar.

Ok, eu oferecerei alguns argumentos, mesmo que ele não tenha conseguido:

PIB em bilhões de reais
2002 - 1.477
2013 -4.837
Fonte IPEA

Falências requeridas
2002 -19.891
2013 - 1.758
Fonte IPEA

Inflação
2002 - 12,53%
2013 - 5,91%
Fonte IPEA

Desemprego % mês dezembro
2002 - 10,5
2013 - 4,3
Fonte IPEA

Juros selic
2002-24,9%
2013-11%
Fonte IPEA

Divida pública % do PIB
2002-60,4%
2013-33,8%
Fonte ANDIFES

Salário mínimo em reais
2002- 364,84
2014-724,00
Fonte IPEA

Taxa de pobreza %
2002-34%
2012-15%
Fonte IPEA

IDH
2000-0,669
2005-0,699
2012-0,730
Fonte Estadao

Reservas cambiais em bilhões
2002-38
2013-375
Fonte IPEA Banco mundial

Gastos públicos saúde
2002-28bi
2013-106bi
Fonte orçamento federal

Gastos públicos educação
2002-17bi
2013-94bi
Fonte orçamento federal

Risco Brasil
2002-1.446
2013-224
Fonte IPEA

Economia mundial
2002-14a economia mundial
2013-6a economia mundial.

E mais: como lembrou um leitor, entre 1994 e 2002, houve apenas 48 operações da Polícia Federal; entre 2003 e 2012, houve 1.273 operações, com mais de 15 MIL presos. Em 2003, a Justiça Federal tinha 100 varas pelo país; em 2010, já tinha 513.

Às vezes, penso que Lula e Dilma não deveriam ter dado independência à PF e à Procuradoria-geral. Parece que o pessoal preferia antes, quando nada era investigado e ninguém era punido.

Mas nem seria necessário citar todos esses dados. Como lembrou outro leitor, só por ter reduzido a miséria no Brasil PELA METADE este governo já foi revolucionário e mereceria todos os aplausos do mundo.

Em vez disso, porém, sou obrigado a escutar retórica vazia, sem base e calcada no preconceito e no mais intenso elitismo.

E - VEJAM QUE BELEZA - AINDA ME PREJUDICO PROFISSIONALMENTE, perdendo leitores.

"Eu gostaria mais do Pablo se ele falasse só de Cinema".

E eu seria mais feliz se pudesse fazê-lo. Mas sou cidadão em primeiro lugar. E me recuso a ficar calado e contribuir, por inação, para que o país retroceda nas mãos daqueles que por décadas só se preocuparam em encher os próprios bolsos e em ignorar as necessidades de uma população que merece muito mais do que só uma refeição miserável ao dia.
Adriano Benayon: Economista filiado ao PSB diz que Marina Silva é afronta à memória de Miguel Arraes
Brasil. Como sobreviver?
por Adriano Benayon*


1-   As TVs e a grande mídia promovem intensamente a candidata que surgiu com a morte do desaparecido na explosão. Marina Silva costuma ser apresentada como defensora do meio-ambiente e como diferente de políticos que têm levado o País à ruína financeira e estrutural, como foram os casos, em especial, de Collor e de FHC.

2. Mas Marina não representa ambientalismo algum honesto, nem qualquer outra coisa honesta. O que tem feito é, a serviço do poder imperial angloamericano, usar a preservação do meio ambiente como pretexto para impedir — ou retardar e tornar absurdamente caras — muitas obras de infra-estrutura essenciais ao desenvolvimento do País.

3. Pior ainda, a tirania do poder mundial, com a colaboração de seus agentes locais, já ocupa enormes áreas, notadamente na região amazônica, para explorar não só a biodiversidade, mas os fabulosos recursos do subsolo, verdadeiro delírio mineral, na expressão do falecido Almirante Gama e Silva, profundo conhecedor da região e, durante muitos anos, diretor do projeto RADAM.

4. Além da pregação enganosa sobre o meio ambiente, o império vale-se de hipocrisia semelhante em relação à pretensa proteção aos direitos dos indígenas, a fim de apropriar-se de imensas áreas, que os três poderes do governo têm permitido segregar do território nacional, pois brasileiro não entra mais nelas.

5. As ONGs ditas ambientalistas, locais e estrangeiras, financiadas pela oligarquia financeira britânica, como a Greenpeace e o WWF (Worldwide Fund for Nature) trabalham para quem as sustenta, não estando nem aí para o meio-ambiente.

6. Isso é fácil de notar, pois não dão sequer um pio contra a poluição dos mares, produzida pelo cartel anglo-americano do petróleo: a mais terrível poluição que sofre o planeta, pois os oceanos são a fonte principal do oxigênio e do equilíbrio da Terra.

7. Marina foi designada ministra do meio ambiente, em Nova York, quando Lula, antes de sua posse, em janeiro de 2003, foi peitado por superbanqueiros, em reunião após a qual anunciou suas duas primeiras nomeações: Meirelles para o BACEN e Marina Silva para o MME.

8. Empossada no MME, Marina, nomeou imediatamente secretário-geral do ministério o presidente da Greenpeace, no Brasil.

9. Marina foi dos poucos brasileiros presentes, quando o príncipe Charles reuniu, na Amazônia, outros chefes de Estado da OTAN e caciques das terras que ele e outros membros e colaboradores da oligarquia mundial já estão controlando por meio de suas ONGs e organizações “religiosas”, como igreja anglicana, Conselho Mundial das Igrejas etc.

10. Todos deveriam saber que os carteis britânicos da mineração praticamente monopolizam a extração dos minerais preciosos, e a maioria dos estratégicos, notadamente no Brasil, na África, na Austrália e no Canadá.

11. Os menos desavisados entenderam por que Marina desfilou em Londres, nas Olimpíadas de 2012, única brasileira a carregar a bandeira olímpica.

12. É difícil inferir que o investimento da oligarquia do poder mundial em Marina Silva visa a assegurar o controle absoluto pelo império angloamericano das riquezas naturais do País?

13. Algo mais notório: a mentora ostensiva da candidatura de Marina é a Sra. Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, o que tem maiores lucros no Brasil, beneficiário, como os demais, das absurdas taxas de juros de que eles se cevam desde os tempos de FHC, insuficientemente reduzidas nos governos do PT.

14. Não há como tampouco ignorar as conexões do Itaú e de outros bancos locais com os do eixo City de Londres e Wall Street de Nova York.

15. D. Marina nem esconde desejar que o Banco Central fique ainda mais à vontade para privilegiar os bancos a expensas do País, que já gasta 40% de suas receitas com a dívida pública, sacrificando os investimentos em infra-estrutura, saúde, educação etc.

16. Contados os juros e amortizações pagos em dinheiro e os liquidados com a emissão de novos títulos, essa é despesa anual com a dívida pública, a qual, desse modo, cresce sem parar (já passa de quatro trilhões de reais).

17. Ninguém notou que Marina — além de regida pelo Itaú — já tem, para comandar sua política uma equipe de economistas tão alinhada com a política pró-imperial como a que teve o mega-entreguista FHC, e como a de que se cercou Aécio Neves?

18. Como assinalou Jânio de Freitas, Marina e Aécio se apresentam com programas idênticos. Na realidade, é um só programa, o do alinhamento com tudo que tem sido reclamado pela mídia imperial, tanto pela do exterior, como pela doméstica.

19. Da proposta de desativar o pré-sal – a qual fere mortalmente a Petrobrás, que ali já investiu dezenas de bilhões de reais, e beneficia as empresas estrangeiras, as únicas, no caso, a explorá-lo — até à substituição do Mercosul por acordos bilaterais — como exige o governo dos EUA — Marina e o candidato do PSDB estão numa corrida montando cavalos do mesmo proprietário, com blusas idênticas, diferenciadas só por uma faixa.

20. Por tudo, a figura de Marina antagoniza o pensamento do patrono do PSB, João Mangabeira, e o de seu fundador, Miguel Arraes, cujas memórias estão sendo rigorosamente afrontadas.

21. Não há, portanto, como admitir que os militantes do PSB fiquem inertes vendo a sigla tornar-se instrumento de interesses rapinadores das riquezas nacionais e prestando-se a que oligarcas internos e externos se aproveitem do crédito que os grandes nomes do Partido granjearam no coração de milhões de brasileiros de todos os Estados.

22. Há, sim, que recorrer a medidas apropriadas, previstas ou não, nos Estatutos do Partido, para que este sobreviva e ajude o Brasil a sobreviver.

23. De fato, estamos diante de um golpe de Estado perpetrado por meios aparentemente legais, incluindo as eleições. Parafraseando o Barão de Itararé, há mais coisas no ar, além da explosão de avião contratado por um candidato em campanha.

24. A coisa começou quando políticos e parlamentares notoriamente alinhados com os interesses da alta finança, e outros enrustidos, articularam a entrada de Marina na chapa do PSB, acenando a Eduardo Campos com o potencial de votos e de grana que ela traria.

25. Fazendo luzir a mosca azul, a Rede o pegou como peixes de arrastão.

26. Alguém viu a foto de Marina sorrindo no funeral do homem? Alguém notou que, imediatamente após a notícia da morte dele, a grande mídia, em peso, dedicou incessantemente o grosso de seus espaços à tarefa de exaltar D. Marina?

27. Os golpes, intervenções armadas e outras interferências, por meio de corrupção, praticadas a serviço da oligarquia financeira angloamericana, em numerosos países, inclusive o nosso, desde o Século XIX, deveriam alertar-nos para dar mais importância a contar com bons serviços de informação e de defesa.

28. Golpes de Estado podem ser dados através de parlamentos, poderes judiciários, além de lances como os que estão em andamento. Agora, a moda adotada pelo império angloamericano, como se viu em Honduras e no Paraguai, na suposta primavera árabe, na Ucrânia etc., é promover golpes de Estado, sem recorrer às forças armadas, as quais, de resto, no Brasil, têm sido esvaziadas e enfraquecidas, a partir dos governos dirigidos por Collor e FHC.

* Adriano Benayon é doutor em economia, autor do livro “Globalização versus Desenvolvimento” e ainda filiado ao PSB

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Jorge Furtado lista motivos para votar em Dilma, 'contra tudo que está aí'

Jornal GGN - O cineasta brasileiro Jorge Furtado, em artigo reproduzido pela Revista Fórum, comemora a aparente retirada da "direita autêntica" - PSDB, DEM e PTB - da disputa eleitoral deste ano. Para ele, esse fenômeno vai garantir ao Brasil mais espaço para discutir os rumos certos para o crescimento. E colabora com o debate declarando o voto e os motivos: "Voto na Dilma e contra tudo isso que ainda está aí: a desigualdade social, o poder crescente do capital, a cobiça sobre nossos recursos naturais, o preconceito contra os homossexuais, a criminalização do aborto, o obscurantismo que impede avanços científicos, a criminalização da política, as palavras vazias, os salvadores da pátria", diz. Abaixo, o artigo na íntegra.
Por Jorge Furtado, na Revista Fórum
Se alguém me dissesse, em 2004 – quando o primeiro governo Lula sofria a oposição feroz de toda a mídia brasileira e tinha pouco ou nada para mostrar de resultados – que em dez anos o segundo turno da eleição presidencial seria disputado entre duas ex-ministras do governo Lula, uma pelo Partido dos Trabalhadores e uma pelo Partido Socialista Brasileiro, eu diria ao meu suposto interlocutor que a sua fé na democracia era um comovente delírio. A provável ausência, pela primeira vez no segundo turno das eleições presidenciais, de candidatos da direita autêntica, do PSDB, do DEM e do PTB, é mais uma boa notícia que a democracia nos traz. Imagina-se que, vença quem vença, muitos dos derrotados voltarão correndo para os braços confortáveis do novo governo, esta é a má notícia.
Tenho familiares e bons amigos que vão votar na Marina e também no Aécio. Eu vou votar na Dilma. Acho que foi o Todorov quem disse (mais ou menos assim) que a democracia nos reúne para que a gente resolva qual é a melhor maneira de nos separar. Não sou nem nunca fui filiado a qualquer partido, já votei em vários, tenho amigos em alguns. Neste que é o maior período democrático da nossa história (25 anos, sete eleições consecutivas), o Brasil não parou de melhorar e não há nada que indique que vá parar de melhorar agora.
Votei no Lula, desde sempre até ajudar a elegê-lo em 2002, com o palpite de que um governo popular, o primeiro em 502 anos, talvez pudesse enfrentar com mais vigor o grande problema brasileiro: a desigualdade social. Achei que, talvez, substituindo a ideia de que o bolo deve primeiro crescer para depois ser divido pela ideia de incentivar o crescimento do país com melhor distribuição de farinha, ovos, manteiga, fogões, casas com luz elétrica, empregos e vagas nas escolas e nas universidades, finalmente poderíamos começar a nos livrar da nossa cruel e petrificada divisão entre a casa grande e a senzala. Meu palpite estava certo. A desigualdade brasileira continua grande e cruel mas está, finalmente, diminuindo.
Voto, ainda, primeiro contra a desigualdade social, ainda o maior problema do país, um dos mais injustos do planeta, em poucos lugares há uma diferença tão grande entre pobres e ricos. A elite brasileira (sim, ela existe, esta aí), fundada e perpetuada no escravismo, luta para manter seus privilégios a qualquer custo. Eles são donos dos bancos, das grandes construtoras, fábricas e empresas, das tevês, rádios, jornais e portais da internet e defendem ferozmente sua agradável posição. A única maneira de enfrentar seu enorme poder é no voto.
Voto contra o poder crescente do capital sobre as políticas públicas. Quem vive de rendas pensa sempre mais no centro da meta da inflação e menos nos níveis de emprego, mais na taxa dos juros e menos no poder aquisitivo dos salários. O poder do capital especulativo, rentista, é gigante, mora na casa dos bilhões de dólares. Voto contra, muito contra, a autonomia do Banco Central, que tira do governante, eleito pelo nosso voto, o poder de guiar o desenvolvimento segundo critérios sociais, protegendo o país do ataque de especuladores e garantindo renda e empregos, e entrega este poder ao tal mercado, hereditário e eleito por si mesmo, sempre predador e zeloso em garantir a sua parte antes de lamentar os danos sociais causados por seus lucros. (Ver Espanha, Grécia, EUA, Finlândia, etc.)
Voto contra submeter os critérios de uso dos nossos recursos naturais não renováveis, como o petróleo, ao interesse de grandes empresas estrangeiras. O petróleo brasileiro e seu destino é o grande assunto não mencionado nas campanhas eleitorais. Os ataques contra a Petrobras, que acontecem invariavelmente às vésperas de cada eleição, atendem interesses das grandes empresas petroleiras, especialmente as americanas, que querem a volta do velho e bom sistema de concessões na exploração dos campos de petróleo, sistema que, na opinião delas, deveria ser extensivo às reservas do pré-sal. Aqui o interesse chega na casa do trilhão. Garantir que o uso da riqueza proveniente da exploração de nossos recursos não-renováveis tenha critérios sociais, definidos por governantes eleitos, me parece uma ideia excelente da qual o país não deveria abrir mão.
Voto contra o poder crescente das religiões sobre a vida civil. Respeito inteiramente a fé e a religião de cada um, gosto de muitos aspectos de várias religiões, sei do importante trabalho social de várias igrejas, mas não aceito o uso de argumentos ou critérios religiosos na administração pública. Mesmo para os que professam alguma fé religiosa a divisão entre os poderes da terra e do céu deveria ser clara. Diz a Bíblia, em Eclesiástico, XV, 14: “Deus criou o homem e o entregou ao poder de sua própria decisão”. (Esta é a versão grega, a versão latina fala em “de sua própria inclinação” ou “ao seu próprio juízo”.) Erasmo faz uma boa síntese desta ideia: “Deus criou o livre-arbítrio”. Ele, se nos criou a sua imagem e semelhança e criou também as árvores, haveria de imaginar que, criadores como ele, criaríamos o serrote, e com ele cadeiras, mesas e casas, e ainda, Deus queira!, a ciência que nos permita usar com sabedoria os recursos naturais e viver bem, com saúde. O poder crescente das igrejas, com suas tevês e bancadas no congresso, deve ser contido por um estado laico.
Voto contra o preconceito contra os homossexuais. O estado não tem nada a ver com o desejo dos indivíduos. Ninguém (seriamente) está falando que o sacramento religioso do casamento, em qualquer igreja, deva ser definido por políticas públicas, mas os direitos e deveres sociais devem ser iguais para todos, ponto. Os preconceituosos e mistificadores, que vendem a cura gay ou bradam sua lucrativa intolerância contra os homossexuais, devem ser combatidos sem vacilação ou mensagens dúbias.
Voto contra a criminalização do aborto. A hipocrisia brasileira concede às filhas da elite o direito ao aborto assistido por bons médicos, em boas condições de higiene, e deixa para as filhas dos pobres os métodos cruéis e o risco de vida, milhares de meninas pobres morrem de abortos clandestinos todos os anos. A mulher deve ter direito ao seu corpo, independente de vontades do estado ou de dogmas religiosos.
Voto contra o obscurantismo que impede avanços científicos. Há quem se compadeça com os embriões que serão jogados no lixo das clínicas de fertilização e ignore o sofrimento de milhares de seres humanos, portadores de doenças graves como a distrofia muscular, a diabetes, a esclerose, o infarto, o Alzheimer, o mal de Parkinson e muitas outras, cuja esperança de cura ou melhor qualidade de vida está na pesquisa com as células tronco.
Voto contra palavras vazias. Nossa era da mídia transformou a oralidade num valor em si, esquecendo que há canalhas articulados e bem falantes e pessoas de bem e muito competentes que são de pouca conversa, ou até mesmo mudas. Tzvetan Todorov: “A democracia é constantemente ameaçada pela demagogia, o bem-falante pode obter a convicção (e o voto) da maioria, em detrimento de um conselheiro mais razoável, porém menos eloquente”. (1) Há quem diga de tudo e também o seu oposto, dependendo do público ouvinte a quem se pretende agradar, há quem decore frases feitas repetíveis em qualquer ocasião, há quem não fale coisa com coisa. Prefiro julgar os governantes e aspirantes a cargos públicos menos por suas palavras e mais por seus atos, seus compromissos e sua capacidade de trabalho em equipe, ninguém governa sozinho.
Voto contra os salvadores da pátria. Pelo menos em duas ocasiões o Brasil apostou em candidatos de si mesmos, filiados a partidos nanicos, sem base parlamentar, surfando numa repentina notoriedade inflada pela mídia e alimentada pelo discurso “contra a política”, prometendo varrer a corrupção e as “velhas raposas”. No primeiro caso, a aventura personalista de Jânio Quadros acabou num golpe militar e numa ditadura que durou 25 anos. No segundo, a aventura personalista de Fernando Collor, sem base parlamentar e passada a euforia inicial, terminou em impeachment, bem antes do fim de seu mandato.
Voto na Dilma e contra tudo isso que ainda está aí: a desigualdade social, o poder crescente do capital, a cobiça sobre nossos recursos naturais, o preconceito contra os homossexuais, a criminalização do aborto, o obscurantismo que impede avanços científicos, a criminalização da política, as palavras vazias, os salvadores da pátria. Com a direita autêntica fora do jogo podemos, sem grandes riscos de voltar ao passado, debater o melhor caminho para seguir avançando. Ponto para a democracia.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Consultório médico e o encontro com "COXINHAS"



Ao chegar a sala de espera de quase todos os consultórios  , a gente encontra a televisão sempre ligada na Rede Boba e um monte de revista VEJA.
Nesta consulta a cardiologista não foi diferente.Sento e para  não perder o vicio ,sintonizo o celular no face e twitter.
Rindo das  noticias tipo , tucanos criam bolsa plateia ,Eduardo Guimarães relatando caso do padeiro de cara grande ,porque a copa está dando certo etc. Comento com o marido e começamos a rir de tudo que líamos no face e twitter..

Consulta com duas horas de atraso observei que tinha um casal mãe idosa e filho nos olhando. O filho puxa conversa meio estranha sobre a copa. Critica a lama ao redor do estádio de Porto alegre, o horário do jogo de hoje, ter jogos no nordeste (detalhe fez questão de frisar q não tem nada contra o nordeste ) (risos ,aliás gargalhadas). A pintura da grama no estádio de Natal.Não entendia porque a abertura não foi no Maracanã . Bom papo  de gente que não quer dar o braço a torcer.. Entendendo tudo,  mas  e me fazendo  de desentendida ,comecei a zoar:

- Que maravilha os estádios ficaram, não é?Copa é um sucesso Conheci o estádio de Brasília e é maravilhoso.Os aeroportos funcionando a mil maravilhas.A Rede Globo,aliás a midia de modo geral, está decepcionada, pois detonou a copa o tempo todo e agora está tendo de reconhecer ,que tudo está perfeito.Os turistas do mundo todo estão encantados com o tratamento maravilhoso que estão recebendo dos brasileiros.

 Nesta altura do campeonato o cara me olhando cada vez mais feio ( risos). Não me dei por satisfeita e continuei (petista é um caso sério não consegue engoli sapo de jeito nenhum),pois é né ,a mídia está de cara no chão ,pois a organização da  copa é elogiada até no exterior.

Neste momento que disse isso entrou  uma moça no papo. Começou pegando pesado. É uma vergonha esta copa. Não sei q jornal a senhora leu elogiando a realização da copa no Brasil. Leu quais jornais? E foi citando todos os jornais estrangeiros.

Então  na maior cara de pau respondi :
- Li todos estes pela manhã antes de sair ( risos).Completei e de acordo com o  jornal britânico Eurosport ,pessoas de todo planeta sugerem que o evento sediado no Brasil está a caminho de ser um dos maiores torneiros realizados. 

Nesta altura meu marido já estava me beliscando ( risos) .O filho e a mãe pegaram força e ajudaram a mocinha a detonar. A velha disse que o jogo foi no campo do Coríntias para agradar o Lula. Para a felicidade do meu marido  chegou a minha vez e  a médica me chamou .

Antes de entrar para a consulta soltei uma  faísca:
_ Os brasileiros como vcs precisam urgentemente se tratar deste complexo de vira-latas.
   
Ao sair da sala da médica , encontrei os três com a cara de muito ódio, quase me engoliram no olhar. Sai sorrindo e despedindo de todos! kiakaiakaia

Acho que até outubro não mais irei a consultas médicas. 

É muito triste constatar que o que eles sentem, é preconceito puro. O de nordestino é talvez o maior deles. Eles estão desesperados e com muito ódio.   

Os esqueletos de Aécio


Os esqueletos de Aécio

Ninguém é obrigado a ser candidato a presidente. Mas quem abraça a causa deve saber que sua vida está sujeita a ser esquadrinhada –Mirian Cordeiro que o diga. O tucano Aécio Neves, agora candidato oficial do PSDB, parece incomodado nesta missão.

Ainda pré-candidato, Aécio começou mal. Decidiu fugir de perguntas incômodas, atacar as críticas como obra de um submundo e acionar a Justiça para tentar limpar uma biografia no mínimo controvertida. Nada a favor dos facínoras que inventam mentiras em redes sociais para desqualificar adversários. Mas daí a ignorar questionamentos vai uma distância enorme.

A repórter Malu Delgado, da revista "piauí", prestou um belo serviço ao escrever um perfil do tucano. Lá estão prós e contras, alinhados com sobriedade e rigor jornalístico. Cada um que chegue às suas conclusões. Por enquanto, elas soam desfavoráveis ao candidato.

Deixe-se de lado qualquer falso moralismo. É direito do eleitor sabatinar quem se propõe a dirigir o país. A fronteira entre o público e o privado se esmaece, sem que isso signifique a condenação a priori de qualquer um.

Vídeos na internet mostram práticas nada republicanas, como gostam de falar, por parte do então governador de Minas Gerais. Entre outras façanhas em bares e blitze, montou uma tropa de choque midiática para sufocar críticas.

Tanto fez que a guilhotina tucana decapitou sem piedade inúmeros jornalistas em Minas Gerais. Os testemunhos estão à disposição, basta querer ver e ouvir.
Sombras permanecem. A questão das drogas é uma delas, e cabe ao candidato refutá-las ou não; ao eleitor, mensurar a sinceridade dos depoimentos e até que ponto o tema interfere na avaliação do postulante. Aécio tem se embaralhado frequentemente no assunto. Adotou como refúgio a acusação de que tudo não passa de calúnias. Ao vivo, acusou jornalistas reconhecidamente sérios de dar vazão a rumores eletrônicos. Convenceu? Algo a conferir.

Na reportagem citada, destaca-se um mistério. Uma verba de R$ 4,3 bilhões, supostamente destinada à saúde, sumiu dos registros oficiais do Estado. Apesar de contabilizada na propaganda, a quantia inexiste nos livros de quem teria investido o dinheiro.

O caso foi a arquivo sem ter o mérito da questão examinado. A promotora autora da denúncia insiste na ação de improbidade. Na falta de esclarecimentos dos acusados, aguarda-se o veredicto da Justiça.

Esqueletos à parte, na convenção de sábado (14) Aécio teve a chance de ao menos apresentar um programa que justificasse a candidatura. Perda de tempo. O evento faria corar a banda de música da finada UDN. Discursos mirabolantes se esforçaram para preencher o vazio de alternativas.

Ouviram-se insistentemente anátemas contra a corrupção. Ninguém se referiu, contudo, às peripécias do mensalão mineiro e às manobras, também nada republicanas, do correligionário Eduardo Azeredo para escapar de uma condenação.

O distinto público continua sem saber se o salário mínimo vai mudar, se a aposentadoria fica como está, se haverá um tarifaço e quais medidas um governo tucano propõe para melhorar o bem-estar do povo. Ministérios serão cortados, esbraveja o senador. Mas quais? A reeleição, comprada a peso de ouro pelo seu partido na gestão FHC, vai mesmo acabar? A respeito disso tudo, o que ressoa é o eco das tais "medidas impopulares".

Em lugar de propostas, metáforas mal construídas que começam com brisa, crescem para ventania e acabam em tsunami. Talvez porque Minas não tenha acesso ao mar.

Se quiser seguir em frente, Aécio Neves está muito a dever. Saiu da zona de conforto mineira, em que a imprensa é garroteada impiedosamente para abafar desmandos de gestão. O jogo mudou, e o neto de Tancredo deve providenciar urgentemente garrafas para vender.

Não adianta apostar apenas no erro do adversário. Amante de relógios caros, muitos deles capazes de quitar com seu valor dezenas e dezenas de prestações de aspirantes a uma casa própria, o tucano já deveria ter aprendido que quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Fonte :
JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO
16/06/2014  
Por: Ricardo Melo
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ricardomelo/2014/06/1470970-os-esqueletos-de-aecio.shtml

domingo, 15 de junho de 2014

A direita mostra a cara


Por Mauricio Dias, na revista CartaCapital:

O decreto de criação da Política Nacional de Participação Social (PNPS) fez a direita botar a cara para fora mais uma vez. Assumiu a distância que a separa do cidadão e, principalmente, dos movimentos sociais. Desde 1964, quando radicalizou e sustentou a derrubada de um governo constitucionalmente eleito, a reação conservadora não se assanhava tanto quanto agora.

Tangida pelo vozerio da mídia contra o decreto, enviado há duas semanas ao Congresso por Dilma Rousseff, a decisão da presidenta esbarrou no batismo de fogo. À falta da ameaça comunista, manuseada pelos idiotas da Guerra Fria, foi o PNPS tachado pelos patetas recentes de repetir políticas bolivarianas, chavistas.

Traduzindo a acusação, o decreto seria uma forma de reduzir o papel do Legislativo. E, mais, seria uma tentativa do governo de usar um instrumento da democracia direta para controlar os movimentos sociais.

Medo. Medo de quê? O decreto orienta a criação de conselhos, comissões, ouvidorias, audiências públicas, conferências e mais coisas no sentido de instruir consultas à “sociedade civil” sobre ações do governo.

“Somos a favor da consulta, a favor da participação de todos os segmentos no processo de estruturação das políticas do governo”, afirmou a presidenta em defesa da política de participação social.

Para alguns, porém, o decreto seria algo como o Cavalo de Troia. Traria embutido nos seus 22 artigos um processo de superação dos trabalhos do Legislativo. Pura superstição conservadora.

Debruçada sobre a questão há vários anos, a professora Thamy Pogrebinschi afirma que “há um alto grau de diálogo entre deliberações propostas nas conferências nacionais e a ação dos parlamentares no Congresso”.

De acordo com as pesquisas feitas por ela, considerando projetos e legislação aprovada, “o Parlamento brasileiro espelhou de forma convergente em sua ação legislativa as demandas da sociedade civil em 3.057 oportunidades”.

Decididamente, não gostam da democracia do lado de baixo da linha do Equador. Gostam de vê-la engessada por descaso com as transformações exigidas nas mobilizações sociais, como ocorreu nas jornadas populares de 2013.

Não é difícil rastrear as reações primárias da direita. Se a PNPS representa para ela um dos princípios da política chavista, o programa Mais Médicos chegou a ser identificado como infiltração do regime cubano no Brasil. Elementar: como os médicos são funcionários do governo cubano, logo são espiões. O sistema de cotas para negros, pardos, pobres e indígenas foi rejeitado, inicialmente, por uma suposição preconceituosa: quebraria o princípio da meritocracia.



Para dar o último exemplo de uma lista muito mais longa, fica registrado o fracasso da democracia brasileira: a regulação da mídia não foi discutida e muito menos votada. Prevaleceu a falsa ideia de que o objetivo era censurar a imprensa.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O ANALFABETO POLITICO E O DEBATE POLITICO



Todo analfabeto político num debate , adora partir para o xingamento .E como nós petistas temos uma característica comum de nunca deixar o debate fugir ,encaramos e mostramos nossa posição. Nunca ficamos em cima do muro.
Nos chamam de xii
tas,de fanáticos ,de manipuladores, arrogantes e vários adjetivos bonitos. Bom.. quem não se segura e não tem conteúdo, não deve reclamar de quem tem.
Hoje li um comentário que um tucano que ama FHC fez a uma companheira nossa que ri muito:

“Quando eu digo q o PT é um partido com vocação hegemônica, autoritário, eu me refiro a isso! Ninguém pode pensar diferente q passa a ser inimigo!!!”
e continua ... “corja" no sentido de demonizar todos aqueles q não comungam com seu pensamento, reconheço é um coletivo pesado... Mas o vento q seu partido semeou começa a dar esses frutos... Vem muita tempestade aí. E ainda manda ver a comprovação nas nossas páginas petistas .
E completa:.. Veja os posts fabricados pela Rede PT... Aí vc compreenderá pq usei esse coletivo..."
( risos) Estamos ansiosamente esperando esta tempestade! kaikaiakai

Santareno, é professor da rede estadual de ensino e universitário tem uma posição sobre isso que gosto muito:

"No debate de ideias – um debate político é um grande exemplo disso – quem se coloca a fazê-lo deve apresentar suas propostas de modo a fazer com que o outro tenha, também, contra-argumentos.

No debate de ideias, a concordância quase sempre é sinônimo bajulação e a discordância parece tornar-se ofensa, o que nem sempre é verdade. Embora muitos partam para a agressão quando não sabem debater.

Saramago atirou na Lua e acertou no Universo quando disse “Com a tripa em sossego qualquer um tem ideias, discutir, por exemplo, se existe uma relação direta entre os olhos e os sentimentos, ou se o sentido da responsabilidade é a consequência natural de uma boa visão, mas quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos”.

Queremos ideias para discutirmos ideias
.É este o jeito de petista debater política!Sinto muito se somos mesmo duro na queda. Não é qualquer tempestade que nos derruba .Saudações petistas!

sábado, 24 de maio de 2014

A GUERRA CONTRA A COPA
Paulo Moreira Leite

Depois de combater políticas de bem-estar, nossos dinossauros escondem números reais e usam fantasia social

Na medida em que dados concretos começam a ser divulgados, começa a ficar claro que a guerra contra a Copa é expressão de um delírio conservador que recebe, acessoriamente, o apoio ruidoso de uma retórica de ultraesquerda – bastante comum em situações políticas como a atual.

 Alguns números.

A sugestão de que os estádios de futebol tiveram reajustes e sobre preços excessivos não resiste a uma matemática contábil. A inflação acumulada do país, no período, chegou a 40%. A alta média dos estádios ficou em 36%. Num país que convive com metas inflacionárias como política oficial, reajustes desse tipo são parte natural da paisagem dos investimentos públicos e privados.

  Imaginar que o futebol retirou dinheiro da Educação é um acinte. Em 2007, quando o país foi confirmado como sede da Copa, o orçamento do Ministério da Educação consumia R$ 50,4 bilhões. Em 2014, a conta é de R$ 112,3 bilhões – mais que o dobro, em valores deflacionados.

   Os gastos totais com a Copa, somando empréstimos públicos, privados, investimentos estaduais e municipais, chegam a R$ 26,7 bilhões.

    Não é pouco dinheiro, convenhamos. Mas é menos, por exemplo, que metade do patrimônio da família Marinho, dona da TV Globo, segundo a revista Forbes. Em outra conta: num país com PIB de R$ 4,5 trilhões, os R$ 26 bi continuam  sendo um bom dinheiro mas não vamos perder a perspectiva dos números.

Agora, algumas ideias.

É claro que toda pessoa tem direito de ser contra a realização da Copa no Brasil.

Em 2007  levantei críticas neste espaço – como qualquer pessoa, interessada na arqueologia da internet, poderá comprovar.

Sete anos depois, essa discussão está fora de lugar. Depois da crise de 2008, a maior do capitalismo mundial em 85 anos, não é possível ignorar o lugar da Copa no estimulo a investimentos realizados no país. Os trabalhos da Copa garantem um acréscimo anual de 0,4% no PIB brasileiro. Também ajudam a criar 3,6 milhões de empregos. Talvez não seja a melhor saída. Nem a mais duradoura. Mas cabe lembrar que, sem alternativas, que jamais foram apresentadas, as pessoas não tem o que comer nem o que vestir, não é mesmo? Do ponto de vista dessas pessoas, a Copa já é uma vitória, ainda que parcial, beneficiando a população mais pobre. Ou desemprego no orçamento dos outros não arde?

Além de sugerir medidas de austeridade, que afundaram a Europa, alguém apareceu com ideias mais adequadas, socialmente aceitáveis?

 A campanha contra a Copa é antiga. Se você fizer a arqueologia de seus críticos, irá encontrar declarações solenes de que o governo brasileiro deveria render-se definitivamente a supostas  mediocridades nacionais e devolver a Copa para a FIFA. O argumento, na época, é que nem os estádios ficariam prontos. Sem comentários, não é mesmo?

O debate seguinte foi outro. Nossos dinossauros se tornaram sociais – e foi para isso que a aliança com porta-vozes de uma retórica de ultra-esquerda se tornou necessária.

Repare: a mesma turma que em 2007 – o ano em que o Brasil foi escolhido como país-sede --derrubou a CPMF, aquele imposto semi-invisível que garantia verbas para a saúde pública, resolveu pedir dinheiro para postos de saúde como argumento para combater a Copa.

Sem ruborizar, teve a mesma reação diante do programa Mais Médicos.

   A tecnologia política é conhecida. Depois de negar recursos que poderiam, de forma consistente e duradoura, promover uma mudança real na saúde pública, vamos à rua pedir hospitais padrão-FIFA.

   Com todo respeito pela população que dá duro na fila dos hospitais públicos – e também pelos que são ludibriados regularmente pelos planos privados – cabe perguntar: quem queremos enganar com isso?

Quem está falando de indignação real? Quem joga na hipocrisia total?
A resposta virá em outubro. Até lá, o que se quer é enganar o eleitor
Aécio pode fazer os tucanos sentirem saudade de Serra

Por : Paulo Nogueira



A última pesquisa Ibope é uma paulada em Aécio. Compare os 20% dados a ele com os quase 24% que o instituto Sensus lhe atribuíra semanas atrás.

Fica agora claro que o que realmente ergueu Aécio foi a decisão do Sensus de usar a ordem alfabética nas cartelas mostradas aos eleitores.

Seu nome vinha em primeiro e isso o elevou artificialmente.

O patamar real de Aécio é, ao que tudo indica, os 20%, e se ele não sair daí a eleição deve ser decidida no primeiro turno, dada a anemia eleitoral de Eduardo Campos.

Temos, aparentemente, “2 and a half” candidatos: Dilma, Aécio e Campos.

Campos perdeu a chance de mostrar que é um político diferente ao não fazer o que as intenções de voto gritavam que fizesse: deixar Marina ser a candidata da coalizão.

Aécio pode crescer a ponto de forçar o segundo turno?

Numa palavra: não. Não com seu discurso thatcherista, atrasado em mais de trinta anos.

Nem os conservadores ingleses ousam repetir as teses de Thatcher, que ajudaram a levar o mundo a uma brutal concentração de renda. Desregulamentar, privatizar, ceifar direitos trabalhistas etc etc.

É incrível que ele faça do thatcherismo a base de sua campanha em 2014.

Isso vai dar a ele um apoio torrencial dos barões da mídia e do chamado 1%. Mas não vai lhe dar votos.

Imagine a seguinte cena num debate: Candidato Aécio, o senhor poderia descrever as medidas impopulares que prometeu tomar? O senhor concorda que o salário mínimo cresceu muito, como diz seu conselheiro econômico, Armínio Fraga?

Nelson Rodrigues dizia que gostava que os atores fossem burros ao interpretar peças suas. Burros para não melhorar, aspas, o texto original de NR.

Se fosse inteligente, Aécio seria burro. Pegaria a essência do discurso do Papa Francisco e a adaptaria a seu discurso. As pessoas iam querer conversar com ele, como querem conversar com Francisco.


Bastava, de cara, falar em desigualdade como o grande mal brasileiro. E falar, e falar, e falar.

“Carta aos companheiros presos” Por Hamilton Pereira

Secretário de Cultura do Distrito Federal, poeta e militante do PT há mais de 30 anos, Hamilton Pereira (Pedro Tierra) escreve uma carta a José Genoino, José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha. Uma análise de peso sobre o significado das transformações perpetradas no país nos últimos onze anos e o que está por trás das condenações dos petistas.  Acompanhem a íntegra da Carta publicada originalmente no Carta Maior:

“Carta aos companheiros presos”Por Hamilton Pereira 


(Para ser lida em voz alta com os companheiros que chegam à militância…)
(Brasília, fevereiro / maio de 2014)

A aventura de construir um partido de base popular que viesse a representar de maneira independente os interesses dos trabalhadores na sociedade brasileira, ainda sob a ditadura empresarial-militar imposta ao país pelo golpe de abril de 1964, percorre a esta altura, cerca de três décadas e meia. Se pensarmos bem, tempo relativamente curto, considerados os cinco séculos desde o desembarque dos colonizadores portugueses nesses trópicos.

Depois das grandes mobilizações sociais catalisadas por S. Bernardo do Campo, no final dos anos 70, e das históricas assembleias do Estádio de Vila Euclides, o 10 de fevereiro de 1980, reuniu, no Colégio Sion, sob os olhos distraídos das velhas elites oligárquicas, vencedoras em 1964 e algum nervosismo das novas elites nutridas pela ditadura empresarial-militar, variadas vertentes dos movimentos populares e sindicais que resistiram a ela para constituir sob a liderança dos operários do ABC um instrumento que organizasse e unificasse sua ação.

Estavam amadurecidas as condições para dar forma a um organismo que representasse as aspirações de uma classe social que estava incluída, como mão-de-obra, no setor de ponta da economia – a indústria automobilística – mas excluída da arena política, que se revelou capaz pelo instrumento das greves, das mobilizações de massas e da ação parlamentar de estabelecer alianças com diferentes setores sociais para por abaixo uma tirania já em declínio.

A reforma política articulada para dividir as oposições à ditadura empresarial-militar percebeu o PT como um acidente, um ovo indesejado na incubadora do general Golbery. O PT foi diagnosticado inicialmente como um incômodo a ser digerido e eliminado pela repressão pura e simples ou pela própria dinâmica do metabolismo institucional da transição pelo alto engendrada por seu principal estrategista.

Ao forçar as portas daquele sistema político concebido para abrigar as disputas, sob estrito controle da legislação emanada do regime ditatorial, entre os grandes senhores da indústria, das finanças, do agronegócio nascente e dos antigos monopólios de comunicação nutridos pelo regime, o Partido dos Trabalhadores cometeu um crime.

O crime original de ter nascido

Com voz própria, ainda que desafinada, mas vigorosa, por liberar uma polifonia, àquela altura irreprimível, de reivindicações, desejos, esperanças, agredia com seu timbre dissonante os ouvidos de uma sociedade alfabetizada pelo silêncio. A campanha pelas “Diretas Já”! mobilizou milhões de vozes em torno da proposta do Deputado Dante de Oliveira. Se não venceu de imediato, sacudiu irremediavelmente os alicerces do regime. Com os movimentos sociais em ascensão, sua base primeira, o PT se consolidou como expressão política dos de baixo e como projeto alternativo de desenvolvimento para o Brasil.

A vitória eleitoral de Collor de Melo sobre Lula e o PT, do ponto de vista dos setores conservadores, no segundo turno de 1989, foi exatamente isso: uma vitória eleitoral. Olhando desde o ponto de vista dos trabalhadores: a derrota eleitoral de Lula e do PT em 1989, foi uma derrota eleitoral e, ao mesmo tempo, uma vitória política. Converteu o PT numa força capaz de disputar de forma independente o projeto de desenvolvimento do país. Collor naufragou um ano e nove meses depois de sua posse, sob o peso de forte mobilização popular, particularmente da juventude, e abandonado por seus antigos apoiadores, particularmente a mídia que fizera dele “O caçador de marajás” para fazer frente ao ímpeto das esquerdas lideradas por Lula.

O advento do real no final do governo Itamar Franco, produziu uma reviravolta nas expectativas das esquerdas, em 1994. Consolidou na sociedade a vertente conservadora da transição pelo alto. Ampliou as condições sociais e políticas para o avanço do projeto neoliberal com a eleição de Fernando Henrique Cardozo, uma liderança mais confiável para as forças conservadoras do que o intempestivo Collor de Mello. O sinal político que definiu o duplo caráter do governo FHC foi impresso por duas ações: a mobilização dos tanques contra a greve dos trabalhadores da Petrobrás, em maio de 1995 e a largada para as privatizações do patrimônio público. Esse duplo caráter marcou a passagem do sociólogo ao longo dos oito anos do seu governo: repressão econômica contra os sindicatos nos moldes de Margareth Thatcher – e nos momentos de crise, o uso da força simplesmente – e privatizações de empresas públicas. Cavalgando o discurso do êxito do Real e da estabilidade da economia, FHC, utilizando-se de uma vasta operação de compra de votos de parlamentares, emendou a Constituição em seu próprio benefício e obteve facilmente a reeleição para um segundo mandato.

Passados vinte e dois anos de batalhas ganhas e perdidas, mas, sobretudo ganhas, o Partido dos Trabalhadores liderou a ampla aliança que venceu as eleições de 2002. Levou à chefia do governo central o operário metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, tendo como Vice um empresário outsider bem sucedido, José Alencar.

O PT cometeu aí um crime derivado:

Alcançou algo surpreendente. Inconcebível para os de cima e por isso mesmo imperdoável pelas instituições moldadas à sua semelhança: venceu as eleições dentro das regras estabelecidas por seus adversários, os senhores do agronegócio, da indústria, das finanças, dos meios de comunicação e seus partidos. E pôs à frente do país um homem que encarna tudo que aquelas elites políticas tradicionais, herdeiras da cultura da Casa Grande, rejeitam: ele vem do nordeste do país, região identificada pelos de cima, como paradigma do atraso e da dependência; ele vem do mundo do trabalho num país em que as elites descendentes dos senhores de escravos rejeitam o trabalho como coisa para negros e inferiores; ele vem do chão da fábrica, das ruas e não das universidades nem da caserna que produziram os principais dirigentes da nação. Trata-se, portanto de um despreparado, voluntarista, incapaz de perceber a complexidade da tarefa de conduzir um país das dimensões do Brasil e os condicionamentos impostos à sua inserção no contexto internacional.

Desmentindo os vaticínios dos pretensos ‘formadores de opinião’, esse homem conduziu o país, sob o fogo quotidiano e implacável da mídia de direita, por dois mandatos à frente de um governo que incorporou no seu percurso, além dos seus aliados tradicionais no campo da esquerda, parcela do centro do espectro político do país (PMDB) e mesmo setores de direita pulverizados em representações partidárias de menor relevância. Um governo complexo que produziu modificações profundas no perfil da distribuição de renda do Brasil, combateu a fome e as desigualdades regionais, deu os passos necessários para consolidar um mercado interno de massas, imprimiu um novo ritmo e uma nova qualidade ao nosso desenvolvimento.

E, a partir daí, renovou o rosto da diplomacia brasileira e afirmou a imagem do Brasil diante do mundo como nunca na história. Reorientou as relações internacionais para uma perspectiva Sul-Sul, sem deixar as parcerias anteriores, Europa e EUA e ampliou-as firmando novas em extensão e qualidade. Apresentou o país como destino seguro para investimentos, afirmou a soberania pagando as dívidas com o FMI libertando-se da condição humilhante, subalterna de nação tutelada.

Chegou ao fim do segundo mandato apoiado pela maioria esmagadora da população, independentemente do extrato social, do credo religioso ou da filiação partidária. As descobertas das jazidas do Pré-Sal e a adoção do Sistema de Partilha para sua exploração, liquidaram naquele momento as tentativas de privatização da empresa símbolo da soberania nacional, a Petrobrás estabelecendo um sólido vínculo programático entre o PT e a tradição trabalhista anterior, vigente no período Vargas. Ao encerrar o segundo mandato do Presidente Lula, o PT cometeu um terceiro crime:

Elegeu uma mulher pra dirigir o Brasil

No país herdeiro da cultura política do patriarcalismo dos coronéis de rebenque, espora e chapelão, do machismo explícito ou dissimulado, elegeu pela primeira vez na história uma mulher para a Presidência da República: Dilma Rousseff. Militante da resistência à ditadura desde a juventude e da reconstrução da democracia depois de cumprir pena nas prisões do regime. Trouxe consigo os sonhos da geração que se lançou à vida pública para enfrentar a tirania e devolver à nação sua perspectiva de retomada do desenvolvimento democrático e soberano, interrompido pelo golpe empresarial-militar de 1o de abril de 1964.

Os setores sociais conservadores vêm sucessivamente perdendo terreno em todas as frentes onde se trava a disputa política democrática na sociedade. Os partidos que representam esses segmentos reduziram dramaticamente sua representação parlamentar em três pleitos seguidos. E ambos são partidos de atuação caracteristicamente parlamentar. O PSDB que elegeu 99 deputados em 1998 quando foi reeleito FHC, viu reduzida sua bancada a 54 deputados em 2010; e o PFL (Democratas) que em 1998 elegeu 105 deputados ficou reduzido a uma bancada de 43 deputados em 2010.

Os conservadores se refugiaram nas áreas do Estado que não se submetem ao crivo da cidadania: os órgãos de controle concebidos e constituídos num período em que o país se encontrava estagnado ou com taxas de crescimento inexpressivas, ou no Judiciário, um poder paralítico e oligarquizado. No Brasil, quando um delito é flagrado no exercício de um mandato no Poder Legislativo ou no Executivo, a sociedade já demonstrou a capacidade de removê-lo pelo voto, cassá-lo quando for o caso ou promover o impeachment dos responsáveis, para que sigam vigentes as regras do jogo democrático. Quando acontece um delito no exercício de um poder que só presta contas a si mesmo, o que ocorre? Nada. O judiciário brasileiro se assemelha nesse aspecto a um anacronismo monárquico que subsiste dentro da instituição supostamente republicana. Protegido pela toga de toda e qualquer aspiração de controle da sociedade.

No Brasil o cargo de Presidente da Suprema Corte e de Presidente do Conselho Nacional de Justiça, órgão que deveria fiscalizar as ações do Judiciário, são ocupados pela mesma pessoa. Ou seja, ele é fiscal e fiscalizado ao mesmo tempo. Essa distorção produz absurdos jurídicos como foram identificados vários ao longo da Ação Penal 470. Sem um eficaz controle da cidadania abre-se aí um espaço que deriva para o exercício do arbítrio como testemunhamos hoje no tratamento dos prisioneiros condenados naquela ação. O melhor do Brasil ofereceu ao jurista Joaquim Barbosa, a oportunidade de se tornar Ministro e mais tarde Presidente do STF. Conquistou, por seus méritos pessoais, a oportunidade de se afirmar como um Magistrado, escolheu entrar para a história como carcereiro.

A campanha para arrecadar fundos com o objetivo de pagar as multas impostas pelo STF, no final de 2013, aos companheiros José Genoíno, José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha em função da sentença proferida na ação 470 impressiona por vários aspectos: a solidariedade, a generosidade, a rapidez da resposta, a transparência e revela a extensa rede de apoios que o Partido dos Trabalhadores teceu na sociedade brasileira. Para avançarmos é necessário estabelecer vínculos com os novos Movimentos Sociais, oxigenar as direções nos três níveis: nos Municípios, nos Estados e em nível Nacional. 

O Partido deve estar atento à transição geracional inevitável que nos alcança. Para que sejamos capazes de manter a necessária sintonia com os novos atores sociais que emergiram a partir das transformações conduzidas pelo próprio PT, ao consolidar sua presença na cena política do país. Aquela campanha de solidariedade aos nossos companheiros foi uma campanha bela como outras belas mobilizações que a militância do PT ofereceu como testemunho ao país nesses 34 anos.

Bela e insuficiente. Porque não basta reagir com grandeza, solidariedade e presteza a uma condenação injusta, sem provas e às provocações de um escroque togado que mede as instituições pelo metro de sua própria conduta mercantil. É necessário para avançar na construção da sociedade democrática que desejamos estabelecer o debate em torno das relações entre as instituições do Estado que construímos e pactuamos na Constituição de 1988 e sua fonte legitimadora: a cidadania.

As elites conservadoras brasileiras, herdeiras dos senhores de escravos, cultivam ao longo de 500 anos de História um surpreendente – macabro – costume no tratamento daqueles que ousam se levantar contra elas: o esquartejamento. A cabeça de Zumbi, líder dos escravos aquilombados em Palmares, foi exposta no Largo do Carmo, no Recife, no final do século XVII; em 1720, Felipe dos Santos teve o corpo atado às patas dos cavalos que o despedaçaram por se recusar a pagar impostos à coroa portuguesa; em 1792 o corpo do Tiradentes foi esquartejado e exposto em postes na estrada que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais; a cabeça de Antônio Conselheiro, durante quase um século, foi exposta à curiosidade pública num museu da Bahia; o mesmo ocorreu com Lampião, Maria Bonita e seus cangaceiros emboscados nos Angicos, em 1938; mais recentemente, durante os anos da Ditadura Militar registram-se casos de esquartejamento e decapitação na Casa da Morte, em Petrópolis e em São Geraldo do Araguaia, no sul do Pará.

Impedidas pela reconstrução da Democracia de dedicar-se a esse exercício bizarro para calar seus adversários, as elites conservadoras se entregam nessa etapa da História ao esquartejamento moral dos opositores, servindo-se do machado cego de uma mídia corporativa que escapa a qualquer tipo de prestação de contas à sociedade…

O Partido dos Trabalhadores não tem avaliado adequadamente a extensão e a profundidade do estrago que sua presença produziu no cenário político, ao longo desses 34 anos, aos interesses dos setores conservadores e – com a projeção que o país adquiriu no cenário internacional – aos interesses dos setores econômico-financeiros dos países capitalistas centrais. Sob a liderança do Presidente Lula, convertemos o Brasil numa das mais importantes economias do mundo. Esse fato determina que os processos sociais e políticos no Brasil deixaram de ser assunto doméstico e que o PT tenha se tornado alvo permanente dos ataques dos setores ligados àqueles interesses. É daí que deriva a fúria com que a mídia conservadora, incapaz de nos derrotar pelo voto, bombardeia o PT, bombardeia a atividade parlamentar, bombardeia a atividade política e seus agentes, os Partidos, buscando criminaliza-los para provocar a repulsa da sociedade e adere a uma perspectiva fascista historicamente conhecida que, ao fim e ao cabo, defende a abolição da Política como forma de resolver os conflitos sociais.

A mídia de direita se oferece como substituta da falência programática e política dos partidos de direita que sequer têm coragem de se apresentar como tais. Sacrifica dessa forma um dos elementos essenciais do exercício democrático: o direito do cidadão à informação. Se afasta de qualquer vínculo com a verdade factual. O que importa é a versão, não é o fato. Vende opinião como se fosse informação. Em síntese defende de forma implícita – não poucas vezes explícita – a ditadura do grande capital como único mecanismo viável para o desenvolvimento do país.

O Partido dos Trabalhadores depois de três décadas e meia de protagonismo nas lutas contra a Ditadura empresarial-militar e pela reconstrução da Democracia se encontra numa encruzilhada. Ou aprofundamos o processo de transformação que desencadeamos na sociedade brasileira, produzindo alterações relevantes no sistema político partidário do país e que resultou nos governos Lula e Dilma, nos afirmando como um partido socialista ou sucumbimos a uma espécie de síndrome que acometeu um partido liberal democrático como o PMDB desde a morte do Dr. Ulisses Guimarães: um partido sem projeto nacional, um aglomerado de mandatos incapaz de se por à altura da tradição que construímos e dos desafios para conduzir uma das maiores economias do mundo.

As eleições de 2014 reúnem, quem sabe, pela primeira vez, as condições de amadurecimento dos novos interesses de classe até agora difusos que vieram ganhando contorno ao longo do período de transição e foram acentuados pela emergência social da última década: para os setores ligados ao capital financeiro, indústria automotiva e segmentos do agronegócio, cujos interesses são expressos no discurso organizado pela mídia de direita, está esgotado o modelo de crescimento com distribuição de renda, inclusão social e combate às desigualdades regionais. Esses setores que ampliaram exponencialmente seus ganhos com a estratégia de crescimento adotada nos últimos doze anos e com a maneira como o Brasil enfrentou a crise de 2008, se inclinam agora, mirando o exemplo europeu, para a radicalização do programa neoliberal de acumulação baseado na redução dos investimentos públicos, no desemprego em massa, na anulação das conquistas alcançadas pelos trabalhadores ao longo do século XX, que alcançaram seu ápice com o “Estado de Bem Estar Social”, sobretudo no pós-guerra.

Para o Partido dos Trabalhadores o desafio é dar um passo adiante no sentido de não se contentar apenas com o modelo de distribuição de renda em curso. É necessário superar a condição de refém das atuais alianças sociais e eleitorais, ampliar seu diálogo com os setores de classe que emergiram na última década, para por o país em marcha na direção de um modelo que radicalize a democracia, enfrente o problema da distribuição da riqueza como forma de combater as criminosas desigualdades da sociedade brasileira e inclua a agenda da sustentabilidade socioambiental ao novo ciclo de desenvolvimento.

A radicalização da democracia hoje, no Brasil, se traduz em duas bandeiras: em primeiro lugar a garantia do direito à liberdade informação, negada pelos monopólios da mídia corporativa, constitucionalizando as relações entre a mídia e a sociedade. Apenas isso: pondo em prática o que está assegurado na Constituição de 88; e, em segundo lugar, uma Constituinte Exclusiva capaz de realizar uma Reforma Política assentada no financiamento público de campanha, no voto em lista, que rompa o controle do poder econômico sobre as campanhas eleitorais, principal fonte alimentadora da corrupção do sistema político-eleitoral brasileiro.

Essa nova etapa exigirá o aprofundamento da política de valorização do Salário Mínimo, pautar o debate e aprovar o Imposto Sobre Grandes Fortunas; implantar o Regime de Partilha na exploração do Pré-sal, que assegure o investimento em educação, portanto, defender a integridade da Petrobrás como garantia de um novo ciclo de desenvolvimento que assegure as condições para o ingresso definitivo do Brasil na sociedade do conhecimento.

Voltamos para as ruas para encarar a batalha para reeleger Dilma Rousseff, sem esquecer que os companheiros José Genoíno, José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha foram condenados sem provas porque fazem parte dessa História que lhes contei aqui. Entre as novas tarefas que o Partido dos Trabalhadores deverá cumprir nessa campanha está a recuperação da autoestima dos brasileiros e de sua própria autoestima sistematicamente demolidas pela mídia de direita. Ela não suporta a altivez que conquistamos com os governos Lula e Dilma, diante do mundo. A direita brasileira, à falta de um projeto próprio de desenvolvimento para o país, cultiva a subserviência, herdeira de uma visão colonizada e provinciana do mundo. E retomar nossas bandeiras de compromisso com os trabalhadores e os mais pobres para que as elites conservadoras que há alguns anos expressaram publicamente o desejo de “acabar com essa raça”, entendam, três décadas e meia depois, que viemos para ficar. E lembra-los inspirados em Neruda “Para nascer, nascemos”.
Hamilton Pereira (Pedro Tierra) é Secretário de Cultura do Distrito Federal e militante do PT há 30 anos.