A GUERRA
CONTRA A COPA
Paulo
Moreira Leite
Depois de combater políticas de bem-estar, nossos dinossauros escondem números reais e usam fantasia social
Na medida em
que dados concretos começam a ser divulgados, começa a ficar claro que a guerra
contra a Copa é expressão de um delírio conservador que recebe, acessoriamente,
o apoio ruidoso de uma retórica de ultraesquerda – bastante comum em situações
políticas como a atual.
Alguns números.
A sugestão
de que os estádios de futebol tiveram reajustes e sobre preços excessivos não
resiste a uma matemática contábil. A inflação acumulada do país, no período,
chegou a 40%. A alta média dos estádios ficou em 36%. Num país que convive com
metas inflacionárias como política oficial, reajustes desse tipo são parte
natural da paisagem dos investimentos públicos e privados.
Imaginar que o futebol retirou dinheiro da
Educação é um acinte. Em 2007, quando o país foi confirmado como sede da Copa,
o orçamento do Ministério da Educação consumia R$ 50,4 bilhões. Em 2014, a
conta é de R$ 112,3 bilhões – mais que o dobro, em valores deflacionados.
Os gastos totais com a Copa, somando
empréstimos públicos, privados, investimentos estaduais e municipais, chegam a
R$ 26,7 bilhões.
Não é pouco dinheiro, convenhamos. Mas é
menos, por exemplo, que metade do patrimônio da família Marinho, dona da TV
Globo, segundo a revista Forbes. Em outra conta: num país com PIB de R$ 4,5
trilhões, os R$ 26 bi continuam sendo um
bom dinheiro mas não vamos perder a perspectiva dos números.
Agora,
algumas ideias.
É claro que
toda pessoa tem direito de ser contra a realização da Copa no Brasil.
Em 2007 levantei críticas neste espaço – como
qualquer pessoa, interessada na arqueologia da internet, poderá comprovar.
Sete anos
depois, essa discussão está fora de lugar. Depois da crise de 2008, a maior do
capitalismo mundial em 85 anos, não é possível ignorar o lugar da Copa no
estimulo a investimentos realizados no país. Os trabalhos da Copa garantem um
acréscimo anual de 0,4% no PIB brasileiro. Também ajudam a criar 3,6 milhões de
empregos. Talvez não seja a melhor saída. Nem a mais duradoura. Mas cabe
lembrar que, sem alternativas, que jamais foram apresentadas, as pessoas não
tem o que comer nem o que vestir, não é mesmo? Do ponto de vista dessas
pessoas, a Copa já é uma vitória, ainda que parcial, beneficiando a população
mais pobre. Ou desemprego no orçamento dos outros não arde?
Além de
sugerir medidas de austeridade, que afundaram a Europa, alguém apareceu com
ideias mais adequadas, socialmente aceitáveis?
O debate
seguinte foi outro. Nossos dinossauros se tornaram sociais – e foi para isso
que a aliança com porta-vozes de uma retórica de ultra-esquerda se tornou
necessária.
Repare: a
mesma turma que em 2007 – o ano em que o Brasil foi escolhido como país-sede
--derrubou a CPMF, aquele imposto semi-invisível que garantia verbas para a
saúde pública, resolveu pedir dinheiro para postos de saúde como argumento para
combater a Copa.
Sem
ruborizar, teve a mesma reação diante do programa Mais Médicos.
A tecnologia política é conhecida. Depois de
negar recursos que poderiam, de forma consistente e duradoura, promover uma
mudança real na saúde pública, vamos à rua pedir hospitais padrão-FIFA.
Com todo respeito pela população que dá duro
na fila dos hospitais públicos – e também pelos que são ludibriados
regularmente pelos planos privados – cabe perguntar: quem queremos enganar com
isso?
Quem está falando de indignação real? Quem
joga na hipocrisia total?
A resposta
virá em outubro. Até lá, o que se quer é enganar o eleitor
Um comentário:
Pois é, você tinha total razão. O dinheiro jogado fora na Copa não fez a menor diferença pro país. A economia está ótima, o legado da Copa foi fantástico, está tudo às mil maravilhas.
Talvez agora você tenha aprendido que matemática não mente. Torrar dezenas de bilhões de reais em estádios inúteis e obras que não sairam do papel (apesar da grana ter sumido) em um momento onde se está pedalando fiscalmente pra sumir com deficit público era de uma irresponsabilidade atroz. Como ficou amplamente comprovado
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