terça-feira, 20 de maio de 2014

Lula e a regulação da mídia



Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

Estou em São Paulo, participando do 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais, que você pode assistir ao vivo no site do Barão de Itararé. Ao longo dos próximos dias, escreverei alguma coisa sobre o evento. Aliás, ainda estou devendo ainda textos sobre o nosso encontro de blogueiros no Rio.

A cobertura da mídia à fala de Lula na abertura do encontro nacional de blogueiros tinha de omitir, naturalmente, a parte principal de seu discurso. Não agisse assim, não seria a velha mídia golpista de guerra. Na verdade, talvez tenhamos que agradecer a mídia. Não fosse tão mentirosa, os blogs não seriam tão essenciais para termos um contraponto às notícias.

Lula leu um texto de Franklin Martins que explica, didaticamente, que todos os países desenvolvidos do ocidente possuem sistemas de regulamentação da mídia. França, EUA, Austrália, Alemanha, todos os países tem normas de mídia.

Nos EUA, é terminantemente proibido a propriedade cruzada: um canal de TV não pode ter um jornal impresso e vice versa. Não só isso. Reino Unido e União Europeia criaram, recentemente, novos parâmetros legais para coibir abusos da imprensa corporativa e fomentar a pluralidade de opiniões.

Pela primeira vez, Lula defende, de maneira direta, objetiva e com muita segurança, uma regulamentação democrática da mídia brasileira, para quebrar monopólios.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, presente no encontro, também fez um discurso bastante articulado, defendendo normas e leis que garantam a pluralidade de ideias no debate público. Ele lembrou que, no Brasil, além da propriedade cruzada, há o emprego cruzado.

O cartel midiático só emprega gente do clubinho. Band emprega Monica Bergamo da Folha. A Globonews emprega Eliane Cantanhede, também da Folha. Reinaldo Azevedo, da Veja, agora tem programa na CBN. É sempre a mesma curriola. Não muda.

Alexandre Padilha, candidato a governador no estado de São Paulo, também estava presente.

Lula deixou claro que pretende ser aliado da blogosfera na luta pela democratização da mídia. Ele comparou os blogs a Davids lutando contra Golias muito mais poderosos do que o personagem bíblico, porque não basta tacar uma pedrinha em sua cabeça. Esse Golias tem inúmeras cabeças e infinitos tentáculos, espalhados por toda parte.

A postura de Lula pode representar uma nova etapa na luta pelo aprofundamento da democracia brasileira. O ex-presidente prometeu que, de agora em diante, não irá dar nenhuma entrevista para a grande imprensa sem mencionar, com prioridade, a necessidade de uma regulamentação democrática dos meios de comunicação.

Ele também defendeu a criação de uma constituinte exclusiva para formular e aprovar uma verdadeira reforma política no país. O ex-presidente lembrou que o Brasil foi o último país da América Latina a criar sua primeira universidade, o último a obter independência política, o último a abolir a escravidão. E deixou implícito que está caminhando para ser o último a aprovar uma regulamentação democrática da mídia, que estimule a pluralidade e contenha a concentração dos meios de comunicação em mãos de poucos.

Ele admitiu estar preocupado com a despolitização da juventude, o que poderia vir a se tornar uma semente de tendências nocivas ao regime democrático. A negação da política, repetiu Lula várias vezes, não gera nada de bom. “Acha que Lula não presta? Ótimo! Então entra na política e faz melhor. O que não pode é negar a política.”


Como não podia deixar de ser, o discurso de Lula foi recheado de piadas ferinas contra a oposição. Ele disse que os blogueiros de São Paulo, se forem chamados de sujos, a culpa é de Alckmin, por causa da falta d’água.

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