terça-feira, 1 de março de 2011

O JULGAMENTO



O JULGAMENTO

Hoje, no mundo moderno, busca-se sempre que as pessoas sejam julgadas de qualquer forma, como é muito comum nas diversas classes sociais, uma apreciação de alguém sobre alguém a todo instante, tal como “alguém não presta”, “cicrano roubou”, “beltrano é assassino”, e até mesmo um juízo de valor sobre a justiça que não faz bons julgamentos. Isto acontece porque criminosos na boca popular deveriam ser condenados a grandes penas em cadeia, ou até mesmo pena de morte e, isto não acontece; todavia, quem tem o poder de julgar, deve fazê-lo em cima de provas, não sobre conversa de meio de rua. É sobre estas questões que se pretende contribuir para um melhor esclarecimento da problemática do julgamento em qualquer nível em que se encontre esta questão, para que o julgar não seja um simples apreciar que paire na cabeça de todos que querem justiça.

O julgar é uma questão muito difícil, porque envolve muitas vezes problemas de ordem pessoal, ou quando isto não acontece, está sempre presente juízo de valor que diz respeito a algo estritamente particular, envolvendo sentimentos emotivos de pena, outras vezes de raiva e ódio. O julgamento deve transcorrer dentro de um clima de imparcialidade, somente considerando estudos sobre o universo do problema, ouvindo os envolvidos e testemunhas, fazendo acariações, e perguntas contraditórias para sentir a firmeza dos participantes. Não se pode se apegar em fatos do disse me disse, comentários de calçadões, devido poder envolver desafetos, ou alguém que tenha alguma amizade próxima, todavia isto pode conduzir a um desvirtuamento do real sentido de julgar com imparcialidade.

Ao se pensar em julgamento, tem-se logo em mente a questão da sensibilidade que, quem vai julgar deve ter, para que não haja super estimação, nem sub estimação das informações que estão na mesa, para estabelecer os critérios de julgamento a que alguém está envolvido neste instante. Julgar uma pessoa passa pelo crivo do conhecer o que é certo e o que não é certo e esses dois pontos de vista dizem respeito a relatividade da verdade, ou não verdade, que a sociedade criou para estabelecer o que é bom e o que é ruim. Ao longo da história se tem um amontoado de erros que a humanidade tem presenciado quanto ao se julgar alguém levando muitas vezes à pena de morte um fulano que talvez existisse apenas indícios de culpa, contudo seu resultado final quiçá não incriminasse tanto quando foi culpado e morto.

Uma história simples que envolve o bom julgar é uma que diz respeito ao Rei Salomão, embora seja uma alegoria para fazer apologia a um julgamento, entretanto tem seu fundo de verdade que é o caso de uma mãe que reivindicava a posse de seu filho e Salomão foi o juiz. A história diz que cada mãe queria tomar conta daquela pequena criatura, quando o Rei, depois de ouvir as duas pessoas envolvidas chegou a seu veredicto dizendo: bom, faz-se necessário que se divida a criança ao meio, e cada qual fica com a sua parte, cuja mãe verdadeira abdicou da sua. Aquela senhora resolveu que o seu filho não fosse partido ao meio, mas ficasse com a outra que não era a sua mãe, dando provas de que o filho seria o seu, e teria amor por ele, cujo Rei Salomão prontamente lhe restituiu o filho.

Um outro exemplo importante que pode ser mencionado é quanto àquela passagem evangélica de que uma mulher adúltera estava preste a ser apedrejada pelos habitantes de uma cidadezinha vizinha por ter traído o seu marido, pois o costume da época mandava ao apedrejamento. Foi quando apareceu JESUS, como conta a Bíblia e ao presenciar aquele ato de selvageria e ignorância do bem, isto é, dos verdadeiros princípios de amor, ordenou que parassem com aquele ato e imediatamente disse: quem não tem pecado que atire a primeira pedra, e todos se recolheram. Como se sabe, talvez isto seja uma parábola, no entanto, serve como exemplo para as pessoas que em tudo querem emitir o seu parecer, isto significa dizer, querem fazer o seu julgamento, pois quem tem ainda as inferioridades dentro de si, não pode julgar ninguém.

Esta é uma prova do julgar e julgar bem, tendo em vista que não se podem haver emoções, nem exaustões sobre o objeto que está sendo matéria do julgamento, como acontece muitas vezes com alguém que se entusiasma no ato de tomar decisões que dizem respeito a uma trajetória de vida. O ato de julgar é muito difícil e precisa de muita independência sobre as peças processuais para que não se possam praticar injustiças, cujo relatório final envolve toda uma vida que, por um momento de insensatez cometeu algum delito e que precisa ser reparado. O julgar é tão difícil que até a justiça oficial não emite seu parecer final sobre determinado processo quando não se encontra em condições de dizer que alguém deve ser condenado ou absolvido, pois na dúvida solte-se o réu.

Quando acontece um caso da espécie que foi citado acima, começam a surgir as pedradas contra a justiça que não condenou alguém que a sociedade aparentemente tinha provas suficientes para condená-lo, cuja autoridade judicial não ousou condená-lo tal como os desconhecedores da justiça queriam. Esta é uma questão interessante em todos os sentidos porque todo mundo quer condenar pelo fato de sua raiva e ódio falarem mais altos que a realidade dos dados e à luz da justiça, conhecedora das verdades que a própria sociedade criou. Entretanto, muitos fazem da raiva e ódio terrenos como justiça divina, dizendo até que está praticando aquele ato em nome de Deus que seria a justiça suprema, no entanto a da Terra reflete o grau moral em que se vive aqui neste planeta.

Do ponto de vista jurídico, verifica-se a missão dos juizes quanto ao julgar o cidadão que está envolvido em determinado delito, como de costume o magistrado busca as provas cabais que devem estar presentes no processo e que sejam contundentes quanto ao caso que se está analisando. Frente ao processo, o senhor juiz estuda todas as peças, analisa a hermenêutica da palavra, procurando a lógica de toda formação processual, tentando formar um juízo diante de um caso que envolve pessoa humana e que vai afetar toda a sua vida futura. Depois de conhecido o processo, é que vai se ouvir as testemunhas e o réu, sempre imputando perguntas contraditórias para ver se o investigado não está sonegando informações, tentando esconder a verdade que está se levantando para o julgamento.

Veja como é difícil o julgar, porque, mesmo com muitos dados à disposição do Excelentíssimo Juiz, muitas vezes não existem condições de se dar um veredicto sobre um caso ou outro, tendo em vista que as informações não estão bem fundamentadas, necessitando de maior clareza. Desta feita, não há como continuar o processo, endereçando-o quase sempre ao arquivo do cartório, cujo réu passa a ser colocado em liberdade, para desespero dos que foram lesados por este cidadão que praticamente saiu em pune deste problema que às vezes é grande. Esta é uma dificuldade do julgamento que poucas pessoas entendem as nuanças do julgar, cuja consciência humana, pratica o ato de julgar sem as devidas compreensões do significado real do termo, caindo muitas vezes em desagrado por conta de irresponsabilidade moral.

Do ponto de vista religioso, os agrupamentos buscam ensinar que não se deve julgar ninguém, não se deve condenar e não se deve se apegar às primeiras informações que cheguem ao conhecimento de qualquer pessoa e daí tomar como verdadeiras, podendo até eliminar vidas. As religiões mostram como é difícil fazer julgamento a qualquer ser humano, por envolver estado espiritual, grau de sabedoria, aprendizado intelectual e uma série de outras variáveis que devem ser consideradas para que o resultado sirva de lição e não de depressão. A maior lição de julgamento passa por Jesus o CRISTO quando disse que aquele que não tiver culpa que atire a primeira pedra, falando-se do caso da prostituta que o povo daquele tempo queria condenar, como era costume daquela época.

Quanto à religiosidade, os católicos e protestantes, explicam que não se deve julgar ninguém, no entanto, não explicam claramente o porque de não se julgar ninguém, ao considerar que tudo tem uma razão de ser, e não fazer isto por não fazer não significa nada. Neste vazio, de não julgar para não ser julgado, proporciona-se uma abertura muito grande e todos aqueles que vêem uma iniquidade de alguém, ou algo que se faça que é recriminável, não se mede distância, inicia-se uma cadeia de leva e traz violenta com danos profundos. O julgar para não ser julgado traz também uma outra questão interessante, isto é, não se julga porque se acha que alguém vai o julgar e ninguém quer ser julgado, porque tem todas aquelas coisas ruins que vêem nos outros que praticam tais atos.

Diferentemente, não com os espíritas, mas com a doutrina espírita que não pede para ninguém julgar outrem, entretanto, mostra que este processo envolve o nível de evolução espiritual que esse alguém tenha, pois na sublimidade espiritual não existe julgamento de ninguém, mas a auto conscientização. O espiritismo diz que não se julgue alguém, pelo simples fato de nenhum ser humano, nem espiritual, tem o direito de julgar um seu irmão e amigo e isto parte de seu auto conhecer, libertando-se de suas inferioridades e maledicências. Não é que os espíritos salvam a todos, nem retiram suas inferioridades e maledicências, todavia, quando são chamados, orientam ao caminho correto, no caso os bons, ou desviam para a perdição, como é mais comum, quando as amizades são de espíritos inferiores ou maledicentes.

Diante de todo o exposto, verifica-se que a capacidade de julgar está intrínseca ao homem que tem adquirido algum conteúdo intelectual que se acha maior do que os demais, salientando-se fortemente o orgulho, a inveja e o seu poderio dominador e usurpador. Todavia, aqueles que não têm conhecimentos da realidade que o cerca, a sua condição de julgar é bem menor ou inexistente, pois o ódio, a raiva, que se possa ter, é mais uma impulsão animal do que o extravaso maledicente, consciente de seus atos. É isto que se pretende mostrar quanto à questão do julgar que tanto as pessoas em seu dia-a-dia praticam e não sabem o alcance desta palavra que não fica unicamente no pensar, ou falar de alguém, mas de trazer repercussões muito mais fortes do que se imagina.

Finalmente, é preciso eliminar de dentro de si as inferioridades e maledicências que ainda existem no fundo de cada um para poder, não julgar, mas ter algumas condições de tecer algum comentário sobre alguém, ou alguma falta que alguém tenha cometido, não como julgamento, mas como conselho para se melhorar. O julgamento se dar por tudo aquilo que se tem dentro da pessoa, no entanto, ver-se tudo isto nas outras, como uma forma de se auto julgar, mas não enxerga a sua maneira de ser ainda infantil que perdura numa mente que deve encontrar o caminho de seu aprendizado.

Em síntese, todos devem julgar primeiro a si próprio, antes de querer que os outros sejam aquilo que você gostaria de ser, e não consegue, devido às condições de não libertação que ainda têm, e que não consegue se desgarrar com muita facilidade e desprendimento.
Luiz Gonzaga de Sousa

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