Escrito por Cátia Manoela Gasparetto
A presente obra divide-se em sete capítulos, onde
conta à história de uma águia criada como uma galinha. Essa história é
compreendida como uma metáfora da condição humana. Cada um poderá lê-la e
interpretá-la conforme o chão que os seus pés pisam. Essa obra sugere caminhos,
mostra uma direção e projeta um sonho promissor.
O autor Leonardo Boff, em 1938, formou-se em
Teologia e Filosofia no Brasil e na Alemanha. Durante mais de vinte anos foi
professor de Teologia Sistemática no Instituto Teológico Franciscano de
Petrópolis. Por vários anos esteve à frente do editorial religioso da Editora
Vozes. Junto com outros ajudou a formular a Teologia da Libertação, que por
causa desta teve conflitos com a Igreja Católica, sendo proibido de dar aulas
por um determinado período e a fazer um ano de silêncio. Mais tarde foi
professor de Ética e Filosofia da Religião na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. É autor de mais de sessenta livros ligados à teologia, à filosofia, à
espiritualidade e à ecologia, em sua grande maioria publicados pela Editora
Vozes. É membro da Comissão da Carta da Terra. Em 2002, em razão de seu
compromisso com o direito dos pobres, ganhou o prêmio Nobel alternativo para a
paz.
Ao ler a obra você vai se confrontar com duas
dimensões fundamentais da existência humana: a dimensão do enraizamento, do
cotidiano, do limitado, que seria o símbolo da galinha e a dimensão da
abertura, do desejo, do ilimitado, o qual seja o símbolo da águia. A partir
disso o autor nos questiona em como equilibrar essas duas dimensões. E como
impedir que a cultura da homogeneização afogasse a águia dentro de nós e nos
impeça de voar.
Para dar uma resposta convincente a esses desafios,
o autor visita a moderna cosmologia, a nova antropologia, a psicologia
profunda, a ecologia, a espiritualidade e a mística. O resultado é uma reflexão
instigante que provoca entusiasmo na busca da identidade humana através da
inclusão das contradições e da superação dos eventuais obstáculos a nível
pessoal, social e planetário.
A história da águia e a galinha evoca dimensões
profundas do espírito, indispensáveis para o processo de realização humana: o
sentimento da autoestima, a capacidade de dar a volta por cima nas dificuldades
quase insuperáveis, a criatividade diante de situações de opressão coletiva que
ameaçam o horizonte da esperança.
Mas não podemos nos limitar a sermos somente
galinha ou somente águia. Como galinhas somos seres concretos e históricos, mas
jamais devemos esquecer nossa abertura infinita, nossa paixão indomável, nosso
projeto infinito, nossa dimensão águia. Se não buscarmos o impossível (a águia)
jamais conseguiremos o possível (a galinha).
Cada ser humano tem uma estrutura básica que se
manifesta mais como a águia em alguns, mais como a galinha em outros. Cada um
precisa escutar essa natureza interior, captar a águia que se anuncia ou a
galinha que emerge. Após escutá-las, importa usar a razão para ver claro e o
coração para decidir com inteireza. Somente assim se conquistará a promessa de
um equilíbrio dinâmico.
A história da águia e da galinha nos evoca o
processo de personalização pelo qual todo ser humano passa. Não recebemos a
existência pronta. Devemos construí-la progressivamente. Há uma larga tradição
transcultural que representa a caminhada do ser humano, homem e mulher, como
uma viagem e uma aventura na direção da própria identidade.
Recusamo-nos a ser somente galinhas. Queiramos ser
também águias que ganham altura e que projetam visões para além do galinheiro.
Acolhemos prazerosamente nossas raízes (galinha), mas não à custa da copa
(águia) que mediante suas folhas entra em contato com o sol, a chuva, o ar e o
inteiro universo. Queremos resgatar nosso ser de águias. As águias não
desprezam a terra, pois nela encontram seu alimento. Mas não são feitas para andar
na terra, senão para voar nos céus, medindo-se com os picos das montanhas e com
os ventos mais fortes.
Hoje, no processo de mundialização homogeneizadora,
importa darmos asas à águia que se esconde em cada um de nós. Só então
encontraremos o equilíbrio. A águia compreenderá a galinha e a galinha se
associará ao voo da águia.
Ao final do livro, o autor apresenta a bibliografia
de alguns títulos em português que ajudarão o leitor no aprofundamento da
metáfora da águia e da galinha, entre eles; BARRÈRE, Martine. Terra. Patrimônio
comum. São Paulo, Nobel, 1995; BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da Terra, grito
dos pobres. São Paulo, Ática, 1995; BONAVENTURE, Leon. Psicologia e mística.
Petrópolis, Vozes, 1978; e outros.
A obra nos traz uma compreensão de que cada ser
humano tem suas próprias dimensões e devemos respeitar cada uma delas. Há
momentos em nossa vida que devemos articular as relações e realizar a síntese a
partir da realidade da águia e em outros, a partir da realidade da galinha.
Na nossa atual humanidade e em nosso planeta,
assistimos aos mandos e desmandos dos mais fortes, dos detentores do saber, do
ter e do poder, que querem controlar, para nos reduzir a simples galinhas e nos
subordinar aos seus interesses, mas é preciso que não aceitemos essa submissão,
que rejeitemos os conformismos, os comodismos, porque essa dominação sempre
será causadora de muitos sofrimentos à maioria da humanidade diante da pobreza
e da exclusão social, por isso é necessário que despertemos a águia que existe
dentro de nós para juntos construirmos um mundo melhor, onde todos possam
participar e decidir sem omissões, libertando-se da opressão.
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