Fale-me sobre política que direi
quem tu és...
Dando sequência às minhas
"Memórias de Um Alienado" vou falar agora sobre o que aconteceu com minha vida depois que deixei de
ser um papagaio da direita e fui conscientemente para a esquerda.
A primeira consequência é
positiva. Trata-se, claro, de deixar de ser um boçal alienado convicto que fica
dado palpite em tudo quanto é assunto sem entender nada do que está sendo dito
– só para fazer de conta que entende ou então, pior, para irritar
“esquerdistas”. Quando você passa a ter consciência das coisas e “sai da
Matrix”, percebe que é muito melhor ficar quieto escutando o que os outros tem
a dizer.
Isso me ensinou grandes lições
que todo boçal alienado convicto não conhece, tais como: ser humilde, saber
ouvir, entender que quanto mais você aprende mais percebe que nada sabe e que
não conseguir admitir tudo isso é coisa de gente fraca e covarde.
Agora vem o lado ruim. O problema
de você sair da direita e ir para a esquerda, especialmente quando ainda é
adolescente, é o choque de perceber quanta gente que antes dizia te adorar vai
começar a tratá-lo como o se fosse o belzebu em pessoa! Comigo não foi
diferente.
Familiares, amigos e conhecidos,
que antes apertavam minhas bochechas, davam tapinhas nas costas e me elogiavam
quando eu concordava com o que diziam, de repente passaram a me xingar e
agredir só porque ousei defender o Lula ou o Fidel Castro. Assim, de “menininho
querido da titia” me transformei “naquele moleque perdido que sofreu lavagem
cerebral dos comunistas”. E de nada adianta você tentar dizer que ninguém fez
lavagem cerebral em você, muito pelo contrário: antes é que faziam...
Comigo foi assim. Lembro até hoje
do dia que, depois de deixar de ser um papagaio da direita, cheguei em casa e
resolvi falar sobre política com meu pai – coisa que nunca tinha feito antes.
Imaginem a cena. Eu, com 18 anos, todo empolgado querendo falar com meu velho
sobre aquelas coisas novas que tinha aprendido, de repente sendo tratado com um
trapo sujo e repelente! Sim, foi isso que aconteceu. Foi só eu falar todo
ingênuo que ia votar no Lula e pronto. Só faltou me dar um sopapo na orelha!
E com minha mãe não foi diferente.
Nem com o vizinho, que de velhinho simpático e bonachão, transformou-se num
clone do Adolf Hitler assim que eu falei bem do “sapo barbudo”! Meus amigos de
infância então, nem preciso dizer o que aconteceu, preciso? Óbvio: foi só eu
falar da minha nova ideologia que começaram todos a me ridicularizar e repetir
aquelas papagaiadas “para irritar esquerdista”...
Foi nessa época que aprendi uma
coisa triste. As pessoas só revelam mesmo quem realmente são e o que pensam
quando falam de política. O sujeito pode ser o mais bonzinho do mundo, fã de
Beatles, Pinky Floyd e dos filmes de Walt Disney, amante da paz e da natureza,
mas na hora que começa a falar de política transforma-se, como aquele meu
vizinho, numa cópia mal feita do Hitler e passa a vomitar preconceitos,
elitismo, racismo, homofobia, ignorância e outras nojeiras que deveriam deixar
qualquer pessoa com bom senso envergonhada. E olha que estou falando aqui de
pessoas de classe média, que tiveram acesso a tudo do bom e do melhor em
relação a estudo e cultura!
Nem preciso dizer que, daquela
época em diante, perdi muitos “amigos” e deixei de ser o “queridinho” de muitos
familiares, que passaram a me hostilizar ou me irritar constantemente com
provocações baratas e ridículas. Por que eu não percebia o quanto aquelas
pessoas eram rancorosas, odiosas e preconceituosas antes, perguntava-me. A
resposta é simples: porque antes não falávamos de política, exceto talvez para
repetir um ou outro jargão idiota da direita, do tipo “detesto política” ou
“político é tudo igual”.
E tem gente, incluindo familiares
e amigos, que ainda fazem isso comigo até hoje. Nem preciso dizer também que,
depois das duas vitórias do Lula e da ascensão de políticos como Chávez, Evo
Morales e afins, tudo ficou ainda pior e até aqueles que conseguiam disfarçar
um pouco melhor seus ódios perderam completamente o controle!
Depois de todas essas
experiências, criei uma máxima que, infelizmente, continua valendo até agora:
“Fale-me sobre política que direi quem tu és”...
Postado
por Crítico-Spam
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