Hoje é dia 31 de março de 2012. O dia de lembrar o sentimento de impunidade e impotência que assolou o país durante anos. Um dia que não podemos esquecer jamais. Em 1964, nessa data, perpetrou-se a consumação do Golpe Militar que a partir de 1º de abril deixaria o Brasil envolto numa aura de violência, estupidez e terror. A motivação dessa bestialidade armada se deu pelo medo.
O medo do novo, o medo da renovação e da liberdade para um povo que não podia nem devia ter sua própria forma de ver o mundo e seu próprio jeito de construir suas vidas.
A colonialidade do poder fechou os caminhos de todos nós durante 564 anos. Sua face grosseira e covarde fez-se mais arrogante e autoritária nos anos de chumbo da ditadura militar e ainda agora coloca as garras de fora num momento particular onde a maturidade e o sentimento de emancipação estão fortes.
O que faz militares usarem tortura, abuso e terrorismo contra civis? O que faz a polícia militar usar gás de pimenta, cassetete, choque e espancamento numa manifestação popular ou numa greve de trabalhadores? É o mesmo sentimento que faz agentes penitenciários maltratarem e espancarem presos, tratando-os como se fossem lixo humano.
As mesmas motivações que fazem com que jovens adolescentes espanquem e coloquem fogo em mendigos ou roubem e matem por dinheiro. São as mesmas reações que fazem com que haja o preconceito e a agressão do outro pela simples diferença no pensar, no portar-se e nas escolhas de vida.
O medo... O que faz com que a sociedade prefira tratar a violência com mais violência, a truculência com mais truculência e a desumanidade com mais desumanidade? A cultura do medo tem condicionado nossa forma de agir. O medo fabrica o crime e a perversão.
Um país que foi colonizado dentro de uma visão civilizatória de expropriação de sua própria história, a partir de uma cultura escravocrata, é um país onde o medo grassa, com todos os contornos infelizes das sensações que causa.
Todas as pessoas que agem de forma violenta têm medo! Medo de si mesmas, medo da transformação, medo da liberdade e da responsabilidade da assunção de suas fraquezas.
Como não podem se surrar e se bater faz-no em quem joga na sua cara a sua castração e o seu medo de ver-se. Querem castigar quem afronta seus recalques e frustrações.
A herança colonial do Brasil vem custando caro a todos nós há muitos anos. Urge superarmos essa dependência.
A herança colonial do Brasil vem custando caro a todos nós há muitos anos. Urge superarmos essa dependência.
É preciso confrontar todos os medos, todas as agruras, toda a violência que durante todo esse tempo ainda permanece fazendo parte de nós.
Um povo que não conhece sua história é um povo que não conhece o seu poder. A abertura dos arquivos da ditadura é essencial para fazer essa catarse necessária à nossa subjetividade.
Opressores e oprimidos precisam se enfrentar e enfrentar seus medos e suas marcas. Não dá mais para fingir ou nos iludirmos de que pouco ou nada aconteceu.
A punição para os crimes ocorridos será um modo exemplar de fazer com que todos os atores desse processo reconheçam suas dores, sua morbidez e seu recalque.
Para sermos outros temos que virar a página definitivamente dessa história. Assim, hoje 31 de março temos que lembrar nossa liberdade, nossa superação, nossa força de transformação.
Não há o que ser comemorado como queriam os militares do Clube Militar, mas, há o que se pensar e, principalmente, o que se fazer para que esse capítulo de nossa história seja um aprendizado para as próximas gerações, para que o medo nunca mais faça vítimas e para que a consciência política que estamos desenvolvendo traga paz agora e no futuro.
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