Por Eduardo
Guimarães, no Blog da Cidadania:
Quem pensa que
o Brasil não está inovando em termos do modelo golpista à espreita, engana-se.
Inovou, sim – e bastante. O país da jabuticaba – que só dá no Brasil – tinha
que inovar, ainda que, em essência, o golpe em curso transite por modelo
inaugurado em Honduras há alguns anos e posteriormente reproduzido, com
“aperfeiçoamentos”, no Paraguai.
A inovação
reside em que nosso golpismo é oportunista, pois depende de que uns poucos
cargos-chave no Judiciário e no MPF estejam ocupados por oposicionistas, enquanto
que os golpes hondurenho e paraguaio decorreram de correlação de forças
institucionais muito mais desfavorável do que a do Brasil, do ponto de vista
dos golpeados.
Tanto em
Honduras quanto no Paraguai, os governantes depostos chegaram ao poder sem base
parlamentar sólida; no Brasil, ainda que a base de Dilma não seja o que se
possa chamar de estritamente confiável, seguramente sustenta seu governo em
amplitude que inexistiu nos outros dois países citados quando neles sobreveio a
decisão de golpear a democracia.
Assim, se
naqueles países não havia por onde evitar derrubadas dos governos puras e
simples, tomadas como se fossem uma troca de camisa – isso por força de que as
instituições, ali, estavam tomadas por gangsters quando Manoel Zelaya e
Fernando Lugo se elegeram –, no Brasil os golpistas terão que suar muito a
camisa para chegar sequer perto do governo.
Não que não
ousassem tentar, se houvesse tempo. Mas não haverá. E, antes de explicar por
que, esclareçamos o seguinte: o STF que julgará os recursos contra a decisão
que aquela Corte tomou no primeiro dia útil desta semana ao invadir a
competência de outro Poder decretando cassação dos parlamentares condenados na
Ação Penal 470, não será o mesmo.
Vai daí que,
até aqui, ainda não aconteceu nada. Se irá acontecer, é outra história. Mas,
como todos sabem, as perdas de mandato só se efetivariam daqui a vários meses,
já tendo sido cogitado, até, que a decisão do STF sobre os recursos contra elas
pode se postergar até o fim efetivo dos mandatos dos parlamentares
recém-cassados naquela Corte.
O que se deve
pensar, portanto, é no futuro. E o que se pode dizer de bom sobre ele é que
existe possibilidade concreta de equilibrar o jogo bem onde os golpistas só
obtiveram vantagem por ela ter sido entregue de bandeja a eles por seus
adversários, sobretudo por Lula e Dilma, que nomearam ministros do STF e
procuradores-gerais de olhos fechados.
Mas com as
vagas que surgirão no STF no futuro próximo e com a troca de procurador-geral
da República, que ocorrerá em agosto, a vantagem que a direita midiática
ostenta hoje pode sumir, caso a presidente da República tenha se utilizado de
critérios minimamente racionais ao nomear o ministro Teori Zavascki.
Claro que
Dilma ter nomeado alguém como Luiz Fux, é de lascar. A célebre entrevista dele
à Folha de São Paulo mostra a ingenuidade dela, precedida pela de Lula. Mas,
convenhamos, a mulher que preside o Brasil não é uma maluca que daria a seus
adversários – de novo – instrumentos para impedirem a si ou a Lula de disputarem
a eleição de 2014.
Tudo isso,
claro, só faz sentido se Zavascki for mesmo sério, pois se Dilma tiver feito
sua nomeação sem se certificar de que o nomeado não irá ficar de quatro para a
mídia, as nomeações que restam a ela não serão suficientes para equilibrar o
jogo.
Mas se Dilma
estiver consciente do que está ocorrendo no país a disputa volta para as urnas,
onde as últimas pesquisas de opinião mostram que o PT continua nadando de
braçada, com possibilidades de chegar a 2014 com uma dianteira irreversível
sobre os possíveis candidatos a anti-Lula, anti-Dilma e anti-PT, entre os
quais, claro, pode estar um Joaquim Barbosa.
Aliás, façamos
uma pausa para refletir que o melhor dos mundos seria se Barbosa realmente
decidisse se candidatar a presidente em 2014 – e convenhamos que seu nome não
teria sido incluído na pesquisa Datafolha divulgada no domingo se o grupo
empresarial midiático que a fez não soubesse de alguma coisa…
O fato, porém,
é que a saída de Barbosa do STF a fim de se candidatar daria chance a Dilma de
ferir de morte o grupelho partidarizado que se apoderou daquela instituição,
pois a presidente teria mais um ministro para indicar durante seu mandato.
Em suma, se
você está desanimado com o show de golpismo a que assistiu na segunda-feira na
mais alta instância do Judiciário brasileiro, não fique assim. O trunfo da
direita midiática se equilibra em alguns poucos homens que ocupam postos no
Judiciário e no MPF por tempo limitado, o que torna a vantagem golpista muito
mais precária do que parece.
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