11 pesquisas inovadoras de combate ao câncer
Avanços promissores foram apresentados nas conferências da Sociedade Americana de Oncologia Clínica e da Sociedade de Medicina Nuclear
Guilherme Rosa
Dois grandes congressos trouxeram, neste mês, uma série de descobertas e
avanços contra o câncer, de novos métodos de diagnóstico ao tratamento
da doença. O Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica
(ASCO, sigla em inglês) é a maior conferência sobre câncer de todo o
mundo.
Todos os anos, ela reúne especialistas que apresentam as mais
novas pesquisas e possibilidades de tratamento contra a doença. Este
ano, a reunião aconteceu entre os dias 1 e 5 de junho, em Chicago. "A
intenção do encontro é apresentar os trabalhos mais promissores no
tratamento do câncer.
Grande parte do que usamos hoje em dia apareceu
por lá", diz Solange Moraes Sanches, oncologista clínica do Hospital A.
C. Camargo, em São Paulo, um dos principais do Brasil no tratamento do
câncer.
Já o congresso anual da Sociedade de Medicina Nuclear aconteceu entre
os dias 9 e 13 de junho, na Flórida. Ali, foram mostrados os mais novos
avanços no campo, com foco no uso de substâncias radioativas no combate e
diagnóstico de doenças. Neste ano, muitas das novidades apresentadas
tinham foco no campo do câncer. Por enquanto, muitas dessas descobertas
ainda estão sendo assimiladas pelos médicos, mas em pouco tempo estarão
disponíveis para os pacientes. Segundo o oncologista clínico Milton José
de Barros e Silva, do Hospital A. C. Camargo, a maioria dessas
pesquisas sinalizam que estamos entrando numa nova era do combate à
doença.
"Historicamente, todos os tratamentos eram voltados a combater
diretamente o câncer. Agora estamos voltando nossa atenção para os
mecanismos por trás da doença e na sua relação com os pacientes", diz o
médico. "O futuro são drogas cada vez mais direcionadas a mutações
específicas no tumor e com menos efeitos colaterais."
Conheça as principais pesquisas apresentadas nos dois congressos:
Nova droga usa o sistema imunológico do paciente para combater o câncer
O que diz a pesquisa: Usando uma substância chamada
BMS-936558, cientistas conseguiram usar o próprio sistema imunológico de
alguns pacientes contra o tumor que estavam desenvolvendo. Normalmente,
o câncer consegue se disfarçar e não ser atacado pelas nossas células
de defesa. Um dos métodos utilizados pelas células cancerígenas para
passar despercebidas é pela ação de uma proteína chamada PDL1, que se
comunica com uma outra proteína presente em nossos glóbulos brancos, a
PD1. A nova droga impede essa comunicação, e faz com que essas células
de defesa ataquem o tumor.
Como foi feita: O remédio foi administrado a 76
pacientes com câncer de pulmão de células não-pequenas, o tipo mais
comum da doença. Em 18% dos casos, o tumor diminuiu ou parou de crescer.
De 33 pacientes com câncer nos rins, 27% também responderam ao
tratamento, e de 94 que tinham melanoma, 28% apresentaram melhoras.
Porque é importante: A pesquisa ainda é inicial, mas
já se mostra promissora – são os melhores resultados conseguidos com
algum tratamento de imunoterapia até hoje. Particularmente importantes
foram seus efeitos nos pacientes com câncer de pulmão, que sempre se
mostraram resistentes a esse tipo de tratamento.
Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A. C. Camargo
"É uma pesquisa inicial, mas sem sombra de dúvida bastante estimulante,
pelas perspectivas futuras que abre. Seu mecanismo de ação é
inteligente e ela apresenta bons resultados preliminares."
"A célula que podia destruir o câncer é o linfócito T. O problema é que
quando ela chega no tumor, existe uma substância que desliga o
linfócito. O que essa droga faz é se ligar no linfócito e cobrir esse
botão de desligar. No entanto, o tratamento não é isento de efeitos
colaterais. O sistema imunológico também pode atacar os tecidos
saudáveis."
"A área da imuno-oncologia está em franca expansão. Ela não está
voltada ao desenvolvimento de drogas contra o câncer, mas em drogas que
estimulem o sistema imunológico contra os tumores. Hoje, já temos uma
droga deste tipo em uso: a Anti–CTLA-4. Ela já foi aprovada nos Estados
Unidos, e está sendo analisada pela Anvisa."
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