O dilema da oposição, por Marcos Coimbra
O Dilema da Oposição
Por Marcos Coimbra
Em mais um de seus elegantes artigos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso repetiu coisas conhecidas. Lá estavam, por exemplo, o cosmopolitismo de sempre e as contradições que marcam seu pensamento de uns anos para cá. Disse, porém, algo novo.
Aos 86 anos, Touraine permanece ativo na discussão dos rumos de seu país e dedica o ensaio à campanha bem sucedida de François Hollande, que terminou por levá-lo à vitória contra Sarkozy e a se tornar o primeiro presidente socialista francês desde Mitterrand.
Discutir as reflexões do colega foi uma oportunidade para que exibisse sua familiaridade e conhecimento da situação internacional. Transitando com facilidade entre temas tão complexos quanto o cotidiano das sociedades avançadas e os acontecimentos recentes nos países árabes e na China, FHC deixou claro que não pendurou as chuteiras: provou que - a seu modo - entende tudo que acontece no mundo.
Não foi, no entanto, apenas para mostrar-se cidadão do mundo que FHC decidiu comentar o livro.
Como fazê-lo?
O caminho estaria em sair do espaço convencional da política, superar os partidos, buscar as ruas. Como diz o ex-presidente: “Só os movimentos sociais e de opinião, movidos por um novo humanismo expresso por lideranças respeitadas, pode despertar a confiança perdida”.
O ex-presidente se sente bem no papel de “sábio maduro”. Afinal, integra o grupo dos Elders (os “Anciãos”), que congrega lideranças experientes do mundo inteiro - de Desmond Tutu a Jimmy Carter. E tem proposto a discussão de temas polêmicos, como a descriminalização do uso de drogas leves.
Mas seria com esse discurso que as oposições deveriam se apresentar nas próximas eleições municipais? Ou na sucessão de Dilma?
Por Marcos Coimbra
Em mais um de seus elegantes artigos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso repetiu coisas conhecidas. Lá estavam, por exemplo, o cosmopolitismo de sempre e as contradições que marcam seu pensamento de uns anos para cá. Disse, porém, algo novo.
Publicado no último domingo, o texto tem o título “Política e Moral” e
foi escrito a propósito do livro recém lançado de um amigo - e
ex-comensal dos tempos de Palácio da Alvorada -, o sociólogo francês
Alain Touraine.
Aos 86 anos, Touraine permanece ativo na discussão dos rumos de seu país e dedica o ensaio à campanha bem sucedida de François Hollande, que terminou por levá-lo à vitória contra Sarkozy e a se tornar o primeiro presidente socialista francês desde Mitterrand.
Mas não foi isso que motivou o artigo de FHC.
Discutir as reflexões do colega foi uma oportunidade para que exibisse sua familiaridade e conhecimento da situação internacional. Transitando com facilidade entre temas tão complexos quanto o cotidiano das sociedades avançadas e os acontecimentos recentes nos países árabes e na China, FHC deixou claro que não pendurou as chuteiras: provou que - a seu modo - entende tudo que acontece no mundo.
(Daí, provavelmente, vem sua preferência por assinar-se “sociólogo”,
deixando em segundo plano a menção a que “foi presidente da República” -
um modo curioso de dizer quem é (não seria engraçado se Lula
continuasse a se apresentar como “sindicalista”?).
Não foi, no entanto, apenas para mostrar-se cidadão do mundo que FHC decidiu comentar o livro.
Ele mesmo explica a razão: “Porque, mutatis mutandi, também
no Brasil se sentem os efeitos da crise (da sociedade industrial)”
diagnosticada por Touraine. Que adviria da “petrificação” das
instituições e de sua perda de legitimidade, em um mundo regido por um
economicismo que nega espaço ao humanismo.
Para enfrentá-la, seria necessário ir além da social-democracia, e
libertar o “pensamento político da mera análise econômica”. Nas palavras
de FHC: “É preciso contrapor os temas morais ao predomínio do
econômico”.
Como fazê-lo?
O caminho estaria em sair do espaço convencional da política, superar os partidos, buscar as ruas. Como diz o ex-presidente: “Só os movimentos sociais e de opinião, movidos por um novo humanismo expresso por lideranças respeitadas, pode despertar a confiança perdida”.
Talvez seja uma receita adequada para o sociólogo Fernando Henrique.
Mas será boa para os partidos de oposição? Se só os movimentos
sociais são confiáveis, para que serviriam os partidos - incluído o
PSDB?
O ex-presidente se sente bem no papel de “sábio maduro”. Afinal, integra o grupo dos Elders (os “Anciãos”), que congrega lideranças experientes do mundo inteiro - de Desmond Tutu a Jimmy Carter. E tem proposto a discussão de temas polêmicos, como a descriminalização do uso de drogas leves.
Quem lideraria o “novo humanismo”? Quem conseguiria transformar o
“rosário do mal-estar cotidiano” dos brasileiros e mobilizá-los? Quem
melhor que ele?
Mas seria com esse discurso que as oposições deveriam se apresentar nas próximas eleições municipais? Ou na sucessão de Dilma?
É difícil acreditar que Fernando Henrique não perceba que a agenda da
vasta maioria da sociedade brasileira nada tem de “pós-econômica”. Que a
discussão relevante para ela é como alcançar níveis satisfatórios de
vida, de acesso ao consumo e aos bens públicos.
E que não compreenda que não será inventando prioridades que as oposições terão de volta o apoio popular que perderam.
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