A CPI das Reviravoltas, por Marcos Coimbra
A CPI do Cachoeira está apenas no início e já ganha o troféu de a
mais inusitada dos últimos anos. A cada dia, confirma a antiga sabedoria
mineira a respeito da política.
É como as nuvens: você olha e vê uma coisa; olha de novo e tudo mudou.
Foi assim desde o começo.
Quem acompanhava o noticiário estava convencido de que a CPI era uma
invenção de Lula. Embora ninguém soubesse com certeza o que ele queria,
havia quase um consenso a respeito de suas intenções: usá-la contra
antigos - e novos - desafetos.
Não só, mas principalmente para atingir Marconi Perillo. (Consta que
ele nunca teria perdoado o governador de Goiás por tê-lo acusado, em
2005, de nada ter feito quando o informou sobre o mensalão.)Era, nessa altura, a CPI do Acerto de Contas.
Os comentaristas de nossa imprensa estavam perplexos. Não havia
precedente de uma CPI - arma tradicionalmente usada pelas oposições para
atacar o governo - patrocinada pelo partido que está no poder. Sem ter
outra coisa para dizer, puseram-se a repetir a verdade acaciana: “Todos
sabem como começa, mas ninguém como termina uma CPI”.
Quando as lideranças da oposição perceberam que ela seria mesmo
realizada, correram para estar na foto de comemoração da instalação.
Isso tranquilizou os analistas, que logo formularam a hipótese de que
Lula, no afã de prejudicar os oponentes, havia cometido uma ingenuidade:
o feitiço ia se virar contra o feiticeiro.
A comissão mudou de nome. Passou a ser a CPI do Juízo Final.
Daí, alguém achou que havia descoberto a verdade. Lula tinha, de
fato, segundas intenções e não temia perder o controle da CPI. O que ele
queria era servir-se dela para desviar a atenção do Supremo Tribunal
Federal. Atrapalhar o julgamento do mensalão.
A suposição é tosca, mas teve larga circulação. Só poderia acreditar
nela quem possui péssima imagem dos ministros do STF e imagina que
julgam ao sabor das circunstâncias, de acordo com o que leem no jornal.
Nem por isso, no entanto, deixou de ser reproduzida mil vezes, como se
fosse uma descoberta extraordinária.
Já então, a CPI recebeu o terceiro batismo: era a CPI da Cortina de Fumaça.
Na semana que passou, a confusão aumentou. As reviravoltas se sucederam diariamente.
Começou com o primeiro depoimento que colheu, do delegado da Polícia
Federal responsável pela investigação da Operação Vega – o ponto de
partida da história inteira.
A parte relevante foi quando ele disse que o inquérito havia sido
concluído e encaminhado à Procuradoria Geral da República em 2009. Uma
dúvida ficou no ar: por que só em 2012 ela o remeteu ao Supremo?
Se a tese da “cortina de fumaça” fizesse sentido, a questão seria ainda mais intrigante. E conduziria a outras perguntas.
Será que o retardo - que fez com que as denúncias viessem à tona
justo na véspera do julgamento do mensalão - significaria que o
procurador-geral estava mancomunado com alguém? Será que queria melar o
mensalão? Afinal, não foi de sua ação - ou omissão - que resultou que
acontecessem ao mesmo tempo?
Logo que escutaram as declarações do delegado, vários membros da
Comissão entenderam que precisavam ouvir o procurador. Os que primeiro
se manifestaram foram parlamentares do PSOL e do DEM.
Isso não o perturbou. Afirmou que não iria e que quem o criticava
eram os “que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão”.
Como? Se foi ele quem criou as condições para que o caso fosse
utilizado como “cortina de fumaça”, o revelando agora? Como, se quem
saiu à frente para convocá-lo foram políticos que nada têm a ver com o
julgamento?
Será que a CPI precisa trocar, outra vez, o nome (que tal CPI das Piruetas da Lógica)?
Ou é melhor ficar como CPI do Cachoeira, uma oportunidade para que
discutamos políticos, empresários, jornalistas, magistrados e
procuradores?
Do Correio Braziliense
A CPI das Reviravoltas
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