domingo, 12 de setembro de 2010
Teoria da pedra no lago é a última esperança de Serra
Volta à tona a velha teoria da pedra no lago, a partir da qual denúncias da grande mídia contra políticos petistas atingiriam o “centro” da opinião pública – os ditos formadores de opinião – e, a partir dali, propagar-se-iam, em ondas, para as “margens”, ou seja, para os setores “desinformados” da população, exatamente como as ondas se propagam quando se atira uma pedra num lago.
Essa teoria é o que está sustentando a estratégia corrente dos meios de comunicação aliados a José Serra de continuarem martelando denúncias contra Dilma Rousseff na esperança de que, após atingirem os “mais informados”, sejam levadas por estes aos “desinformados”, cumprindo, assim, o objetivo de levar a eleição presidencial para o segundo turno.
A teoria não é nova e foi muito popular na grande mídia à época da eclosão do escândalo do “mensalão do PT”, em 2005. Surgiu exatamente quando as primeiras pesquisas de opinião posteriores à primeira rajada de denúncias da mídia contra petistas e contra Lula não detectaram prejuízo relevante aos denunciados, sobretudo ao presidente da República.
Na prática, o que aconteceu foi o oposto. Nos anos seguintes, a teoria foi se desmanchando. Apesar da comprovação inequívoca de que petistas envolveram-se ao menos com caixa 2, as popularidades tanto de Lula quanto do PT cresceram e atraíram os que supostamente levariam o descrédito petista aos “desinformados”.
Hoje, Dilma ainda tem bem mais votos do que Serra entre os mais escolarizados, mesmo com algumas defecções nesse estrato social. Exatamente como acontece com Lula, cuja popularidade entre os de maior instrução – que, supostamente, seriam os “mais informados” – é estratosférica, muito maior do que a que FHC chegou a ter em seus momentos de maior popularidade.
Nas últimas semanas, porém, a mídia desencadeou campanha antipetista do mesmo porte da que promoveu desde meados de 2005 até próximo às eleições de 2006. E, como daquela vez, agora também colheu um sucesso inicial e restrito da estratégia. Um sucesso localizado, de baixo alcance e previsivelmente efêmero.
Há poucos dias, um dos mais notórios serristas na grande imprensa, o blogueiro da Globo Ricardo Noblat, recebeu do PSDB, em primeira mão, informações do “tracking” (levantamento diário de intenção de voto) tucano que mostravam o mesmo que o “tracking” petista e até o do IG-Vox Populi haviam detectado, que Dilma caíra entre os tais “formadores de opinião” após o bombardeio denuncista de que fora alvo.
Conforme havia antecipado o blogueiro da Globo, prestador de serviços a Serra que o PSDB recheia com informações que quer ver divulgadas, o PT reagiu preventivamente a um movimento ainda insipiente, mas que certamente acreditou que teria potencial para talvez levar a eleição para o segundo turno.
A reação petista mostrou, sim, que havia preocupação. O PT chegou ao ponto de usar a sua “bomba atômica” (o presidente Lula) para reagir à ofensiva tucano-midiática no programa eleitoral de Dilma na TV e no rádio.
Todavia, a pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira mostrou que houve, de fato, prejuízo de imagem para Dilma entre o público de Globos, Folhas, Vejas e Estadões, mas que foi um movimento tênue, largamente compensado pelo eleitorado mais humilde e menos escolarizado que continua se achegando a Dilma conforme vai descobrindo que ela é a candidata de Lula.
A teoria da pedra no lago falhou em 2006, quando o país ainda estava estagnado por conta da catastrófica octaetéride tucana na Presidência, que tantos anos depois ainda obriga o PSDB a esconder FHC e a levar Lula ao seu programa eleitoral. Por que será que a mídia tucana acha que funcionará hoje, com o povo vivendo o que meramente vislumbrava em 2006?
Na verdade, Serra e sua mídia não almejam tanto quanto naquela época. Esperam, pelo menos, tirar alguns pontinhos e empurrar a eleição para o segundo turno. Por conta dos resultados iniciais, pode-se admitir que venha a funcionar.
Contudo, como há uma parcela residual da população que entra no clima eleitoral só na reta final da campanha, com base na mais pura ciência estatística considero que a divisão desse eleitorado deve favorecer mais a Dilma do que a Serra. E como o uso do bombardeio midiático do “Receitagate” já se aproxima da overdose, estão surgindo novas denúncias.
A nova denúncia contra Dilma saiu pela Veja no sábado e no domingo foi encampada pelos jornalões, como era previsível. O Jornal Nacional de sábado, porém, não levou a denúncia ao ar. Seria escandaloso se o fizesse sem também levar ao ar a denúncia da Carta Capital desta semana contra a filha de Serra. A Globo decidiu esperar por essa razão e também porque deve ter farejado a fragilidade da denúncia da revista tucana.
Mas há uma outra razão para acreditar que a nova denúncia não se tornará alvo de aposta similar à que foi feita pela coalizão tucano-midiática sobre a violação de sigilo fiscal de tucanos. O uso abusivo de denúncias pode ter efeito oposto, deixando mais claro que é tudo jogada eleitoral até para os zumbis que ainda dão bola para a mídia serrista. Desta maneira, a aposta central continuará no caso da Receita.
Diante de tudo isso, é possível prever que duas decisões terão que ser tomadas, uma pelos petistas e outra, pelos tucanos.
Há, por certo, uma última “bomba” que Serra e sua mídia cogitam usar na antevéspera da eleição. Será de alto risco, mas será usada como aquela última cartada sobre a qual têm surgido seguidas especulações na blogosfera. Mas só será usada em caso de esgotamento da mobilização do público dos jornais e revistas, ou caso esse público não consiga formar opiniões dos setores “desinformados”.
Pelo lado petista, haverá que decidir se a tão sonhada reação contra a mídia finalmente deverá ser usada. Na campanha de 2006, o PT preparou uma peça publicitária arrastando a mídia tucana para a briga. Não chegou a usá-la porque Lula disparou à frente logo depois do primeiro turno e venceu a eleição até com relativa facilidade.
Tudo dependerá, portanto, de a teoria da pedra no lago funcionar mais do que está funcionando. Até pela própria natureza dessa teoria, o auge de sua eficácia deverá ocorrer a partir desta semana. Se não funcionar, o que se está vendo em termos de baixaria tucano-midiática terá sido um aperitivo. Este país será esbofeteado com a campanha mais sórdida que a direita já fez.
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