sábado, 12 de junho de 2010
Tó com vergonha! PIG nojenta!
A reportagem de Eduardo Souza marca uma inflexão na cobertura jorn...alística que a Folha de São Paulo vinha fazendo da campanha presidencial. Comparada à do Estadão, ela era isenta. Fazia questão, por exemplo, de adjetivar o "dossiê" como "suposto", e fornecia ao leitor informações mais ou menos precisas a respeito das evidências a que tinha tido acesso e da confiabilidade de cada uma delas.
A reportagem de Eduardo Souza é um verdadeiro escândalo em termos de jornalismo. Começa assumindo como certa a existência de um "grupo de espionagem" que, por tudo que se sabe até agora, jamais existiu:
A "equipe de inteligência" da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência levantou e investigou dados fiscais e financeiros sigilosos do vice-presidente-executivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.O grupo obteve documentos de uma série de três depósitos na conta de EJ no valor de R$ 3,9 milhões, além de outras informações de seu Imposto de Renda.Os papéis integram um dossiê elaborado por um time de espionagem que começava a ser montado com o aval de uma ala da pré-campanha de Dilma.
A afirmação é fortíssima: diz que foi a "equipe de inteligência" de Dilma Rousseff quem "levantou e investigou dados fiscais e financeiros sigilosos" de EJ. O que se espera, no mínimo, é que a reportagem nos dê uma pista, por mínima que seja, (1) de que "documentos" são esses (extratos bancários? cópia da declaração de IR? transcrição de dados sem indicação da origem?) e (2) de como teve acesso aos mesmos e (3) das evidências que tem para dizer que eles foram reunidos pela "equipe de inteligência" de Dilma Rousseff - ou "equipe de espionagem", que é como o grupo de Dilma passa a ser chamado no texto de Eduardo Souza.
Em frente:
A equipe reuniu três conjuntos de documentos. Dois tinham dados, respectivamente, sobre um aliado de José Serra (PSDB) investigado pela CPI do Banestado (2003-2004) e de negócios atribuídos à filha do tucano.Agora, a Folha teve acesso às informações da terceira pilha de papéis, com dados fiscais e financeiros confidenciais de EJ disponíveis somente nos sistemas da Receita Federal e no computador pessoal em que ele preencheu sua declaração de IR.Como a "Veja" revelou no mês passado, o esquema foi desfeito após o vazamento da movimentação do grupo.EJ foi homem-forte no governo Fernando Henrique Cardoso, no cargo de secretário-geral da Presidência.
Os dois primeiros grupos de documentos citados por Eduardo Souza são conhecidos, e a Folha foi muito correta quando deu publicidade a eles num primeiro momento. Trata-se de material recolhido pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr. durante a pesquisa para a elaboração do livro que deverá lançar brevemente. Amaury fez o que qualquer jornalista da Folha também faz - saiu à cata de informações junto às suas fontes. Quando lançar o livro, avaliaremos as evidência que apresentar da mesma forma que estamos avaliando as apresentadas por Eduardo Souza. É uma desonestidade dizer que esse material integrava um "dossiê" elaborado por uma "equipe de espionagem". Até onde sabemos, integra o material de pesquisa de um jornalista que está escrevendo um livro.
Se a Folha teve acesso, agora, a uma "segunda pilha de papeis", é preciso saber que pilhas são essas, e qual a relação entre a primeira e a segunda. Esses documentos foram encontrados onde? Não se sabe. Que evidências temos de que foram obtidos pela "equipe de espionagem" de Dilma Rousseff, e não, digamos, pela "equipe de falsários" de José Serra, ou (hipótese bastante provável) pela equipe de "esquentamento de matérias" da revista Veja? Nenhuma evidência. Eduardo Souza nos dá sua palavra, e devemos atribuir a ela uma infalibilidade papal. Eduardo dixit. E está acabado.
Prosseguindo:
A espionagem é recente, já que um dos depósitos na conta de EJ foi feito neste ano. Os outros dois, também de R$ 1,3 milhão cada um, ocorreram em 2007 e 2009.Procurado pela Folha, EJ confirmou as informações e afirmou que só poderiam ter sido obtidas por meio da quebra de seu sigilo fiscal. "É um completo absurdo essas informações terem chegado até eles. Demonstra a repetição do método do PT", disse.
Suponha que EJ, interessado em favorecer a campanha tucana, tenha ele próprio produzido esse material. Nenhum crime. Afinal de contas, ninguém está proibido de fazer cópias de seus extratos bancários ou de suas declarações de renda. Suponha, além disso, que (sabe lá Deus como) esse material tenha chegado às mãos de um subalterno tucano, ou de um mero simpatizante que tenha se disposto a levar esse "material" à redação da revista Veja. Pronto. Temos aí o "flagrante" de espionagem que esse repórter da Folha de São Paulo acredita ter conseguido. Uma simples armação tucana, que teria a mesmíssima forma lógica do "grampo" no telefone do ministro Gilmar Mendes - um círculo fechado, sem nenhuma evidência externa que vá além da palavra dos próprios envolvidos.
Avante:
Em tese, uma quebra de sigilo pode envolver vários crimes. Se feita por um servidor público e repassada a informação para pessoas fora de sua competência, ele pode responder por violação do sigilo funcional. A pena varia de multa a detenção.A Folha confirmou com duas pessoas ligadas à equipe de espionagem que os documentos seriam usados para atacar o grupo de Serra.
Aqui, a reportagem começa a ganhar contornos surreais. Quebra de sigilo é crime, como nos lembra o aplicado Eduardo Souza. O que fazem dois membros da "equipe de espionagem" (cúmplices do crime, portanto) quando perguntados? Isso mesmo que você acaba de ler: eles confessam o crime! Ao contrário desses maridos assassinos, que vivem fugindo dos repórteres, ou dessa procuradora que alega uma "perseguição" contra ela, os espiões petistas confessam sem pejo que são criminosos, sim, e que merecem por isso a tal pena brandida pelo repórter, que vai da multa à detenção.
História para lá de estranha. É preciso esperar para saber exatamente que material é esse, que "espiões" são esses, e que motivos têm para, em se tratando de material reunido criminosamente, confessar tão despreocupadamente um crime. Meu palpite: Eduardo Souza não ouviu ninguém. Está se referindo, não a declarações dadas agora, a respeito desse material envolvendo EJ, mas sim às declarações dadas anteriormente à Folha a respeito do material reunido pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr., que seria, este sim, usado na campanha de Dilma Rousseff. Legitimamente usado, diga-se de passagem. Não há nada de errado nisso.
Uma coisa é praticamente certa. Não há nada de errado com essas contas de EJ. Assim como o "grampo" envolvendo o trio Gilmar Mendes, Demóstenes Torres e revista Veja não flagrou nada além de uma conversa que só poderia caber na boca de zelosos servidores e representantes associados a zelosos jornalistas, o "dossiê" contra EJ deve com toda a probabilidade do mundo conter apenas movimentações perfeitamente justificáveis. Nada mais conveniente. Constatada a lisura do braço direito de FHC, restaria apenas sobre a mesa a atitude torpe dos "espiões" de Dilma Rousseff. Não é necessariamente mentirosa, portanto, a declaração de EJ a esse respeito:
EJ diz que os depósitos em sua conta, no Banco do Brasil, decorrem da venda de imóveis do espólio de seu sogro (uma chácara e uma loja no município de Maricá, RJ).Ele contou que se tornou o inventariante de todo o espólio após a morte de sua sogra, quatro anos atrás. "Está tudo devidamente documentado no inventário", disse, repassando os dados do processo.
É possível que isso seja a mais pura verdade. Se for, fica reforçadíssima a tese de uma armação tucana. Mas prossigamos:
Segundo a Folha apurou, a investigação da equipe da pré-campanha petista tem origem no desdobramento de um procedimento administrativo aberto pelo Ministério Público Federal.No começo de 2009, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) enviou uma comunicação para a Procuradoria da República no DF, alertando para a insuficiência na renda declarada do tucano para justificar o depósito de R$ 1,3 milhão em sua conta em julho de 2007.No ano passado, o jornal "Correio Braziliense" publicou parte do trabalho da Procuradoria da República.
Epa! Aqui, começamos a perceber a presença de um providencial fio dessa meada. A "espionagem" dos asseclas de Dilma Rousseff, ao que parece, não era outra coisa senão o desdobramento de uma "espionagem" que já estava em curso no Correio Brasiliense! Mas, ora, vejam só que coisa! Não é de hoje, então, que dados sigilosos do processo envolvendo EJ escorregam para fora do âmbito do Coaf e da Procuradoria. Os "espiões" do Correio Brasiliense já tinham acesso aos dados desde o ano passado. Agora, o que temos é um "desdobramento" do mesmo processo administrativo - e, poderíamos pensar, o desdobramento da mesma reportagem. Enquanto o repórter Eduardo Souza não fornecer pistas que indiquem a que tipo de documentos ele teve acesso e que tipo de evidência ele tem para afirmar que os documentos foram conseguidos ou elaborados por "espiões" a serviço de Dilma Rousseff, só podemos ficar no campo das conjecturas. Vejam, porém, como ele encerra seu texto:
Ao tomar conhecimento da investigação, EJ prestou esclarecimentos ao Ministério Público, mas os procuradores entenderam que deveriam continuar apurando.O vice-presidente do PSDB, então, entrou com um mandado de segurança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região e conseguiu trancar a investigação. No pedido à Justiça, o próprio EJ forneceu dados do caso, mas falando somente sobre sua movimentação financeira até 2007.A partir do mandado de segurança, a equipe de espionagem começou a rastrear as movimentações financeiras de EJ, tendo obtido documentos que não constam do trabalho do Ministério Público, como cópias das declarações de IR do tucano e dados de depósitos de 2009 e 2010.
Como é que ele sabe que "a equipe de espionagem começou a rastrear as movimentações financeiras de EJ"? Que evidências ele tem para fazer uma afirmação desse tipo? Ninguém está pedindo que ele entregue suas fontes. Mas o leitor precisa saber ao menos de que lugar ele está falando. Ouviu dizer? A fonte era confiável? O outro lado foi ouvido? Foi afastada a hipótese altamente provável de uma armação? De onde veio essa "pilha de documentos"? Como ela surgiu? Foi trazida até Eduardo Souza por um espião criminoso, em pessoa? Ou lhe foi repassada pela equipe de reportagem de uma revista descaradamente engajada na campanha de José Serra?
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