segunda-feira, 7 de junho de 2010

Jornalista envolvido com crise do dossiê diz que aceita acareação com ex-delegado

Jornalista envolvido com crise do dossiê diz que aceita acareação com ex-delegado
RUBENS VALENTE

DE BRASÍLIA

O jornalista Amaury Ribeiro Júnior disse que aceita ser acareado com o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa.

Em entrevista à revista “Veja”, o delegado disse que recebeu pedido da campanha eleitoral de Dilma, durante uma reunião ocorrida em Brasília, em abril, para que investigasse “coisas pessoais” do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra (PSDB). Amaury, que participou do encontro, negou que o pedido tenha ocorrido.

Segundo o jornalista, na reunião o delegado relatou que pessoas ligadas ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estão levantando dossiês contra pessoas do PMDB, que vai indicar o vice na chapa de Dilma.

No sábado, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse que pedirá uma investigação sobre a possível produção de dossiês pela campanha de Dilma Rousseff (PT).

A seguir, trechos da entrevista.

Folha – Foi pedido ao delegado Onézimo que investigasse José Serra ou foi sugerido grampo telefônico?
AMAURY RIBEIRO JUNIOR – Não tem nada a ver com José Serra. A questão [da reunião] era para saber quem estava vazando informações. E saber quem roubou [as informações]. Na verdade se fala muito em espionagem, mas o que aconteceu é que roubaram coisas. Roubaram o cartão do próprio delegado. Eu fui chamado exatamente para tentar ver o que estava acontecendo na casa, o que estava vazando na casa.

Não foi sugerido ao delegado algum tipo de investigação sobre a família de Serra?
O que está parecendo agora é uma retaliação. Ele está falando isso agora como uma retaliação porque ele não foi contratado. [...] Agora, sendo um cara araponga, ele tem que provar. Eu tenho como provar que não rolou esse papo na conversa. Ele vai se dar mal, porque vou processá-lo. Porque tenho como provar tudo que se passou naquela conversa.

Como você pode provar?
Detalhes, diálogo por diálogo. Eu tenho como provar tudo o que foi falado. Agora, eu fui [à reunião] porque conheço outra pessoa, um amigo dele. Ele [Sousa] trabalhou na inteligência do Itagiba, no Ministério da Saúde, que o Serra montou.

Por que ocorreu a reunião?
Não era só vazamento, começaram a roubar coisas lá dentro. Sabotagem. [...] O Onézimo chegou nessa reunião dizendo que ele tinha condições de destruir isso porque ele havia trabalhado antigamente, e que tinha brigado com o pessoal, da inteligência do Itagiba. [...] Quando o Serra assumiu o Ministério da Saúde, ele montou –com o pretexto de investigar laboratórios– uma central de espionagem, que era formado por quem? É só você ver quem estava cadastrado. Era um agente do SNI, o “agente Jardim”, que até pouco tempo estava no gabinete [de Itagiba na Câmara], um ex-delegado… Isso quem falou foi o próprio Onézimo.

Ele chegou nessa reunião [e disse]: “Pô, vocês estão atrasados, porque essa equipe está trabalhando há dois anos”. “Fazendo o quê?” “Ah, eles estão levantando dossiê contra o pessoal, esse povo do Itagiba está levantando 300 dossiês contra pessoas do PMDB, e quem do PMDB não votasse com o PSDB, estão fazendo chantagem, estão chantageando”. [...] E disse o seguinte: que tinha sido convidado, inclusive, para integrar esse grupo. “Então pra gente descobrir quem está com vocês, aí, é muito fácil, porque eu já trabalhei lá”. Ele contou também que trabalhou –o que facilitaria [seu trabalho]– que já tinha trabalhado no grupo de inteligência da campanha de Fernando Henrique em 1994.

Ele disse que esse grupo do Itagiba, depois de vasculhar a vida do Aécio Neves e da Dilma e não ter encontrado nada contra, eles estavam desesperados. E disse que tem uns 500 dossiês contra o pessoal do PMDB. Essa é a verdade. Então qual era a intenção –ele falou– “se esse pessoal [está atuando contra], nós temos que nos proteger”. Mas acontece que havia problemas, e isso eu concordo com ele, sobre o direcionamento da campanha. Porque eu achei confuso. Primeiro, que daí o pessoal da reunião começou a falar que estava desconfiando de fogo amigo. Aí ele falou, “vamos investigar o [grupo do] Serra ou vamos investigar o fogo amigo?”. E aí realmente não chegamos a um acordo. Eu abortei. Porque o pessoal que podia estar na casa, não podia fazer esse trabalho externo. Eram dois serviços: um era proteger a casa e outro era saber quem eram esses caras do Itagiba. Eu vou poupar o nome, mas ele chegou até a mandar um cara para conversar com o “Jardim”, saber o que ele estava fazendo, deu um relatório sobre o “Jardim”, tudo. [...] Então o que era o plano? Era desmontar essa base.

O empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto seria o responsável por pagar os serviços?
Eu acho que ele é um cara que coordena a casa e estaria ali para saber como que seria o pagamento, se fechasse. Tanto que ele foi para a reunião acho que para… ele foi como representante do esquema da QI [a casa no Lago Sul onde funcionava a área de imprensa da campanha de Dilma].

Qual o interesse direto dele em pagar esse custo?
Ele ia ver as planilhas de custos, avaliar os gastos, se valia a pena, como qualquer contrato empresarial. Ele é amigo de Lanzetta e era tipo um contador da casa. Ele tinha uma equipe. A maior parte do staff da casa é ligada a ele. Lanzetta pegou uma pessoa para organizar. [...] Eles são sócios. Foi lá para dar um apoio. Pepper, americanos e Lanzetta fizeram um pool para tocar a casa. Parece que ele largou um monte de contratos [no governo] para participar da campanha.
Na área empresarial, ele pegou as empresas do pai e transformou a gráfica numa das maiores do Brasil, tem um faturamento de milhões. Ele transita em vários meios e é amigo de várias pessoas. Ele e Lanzetta são amigos inseparáveis, um não faz uma coisa sem o outro. Lanzetta chamou Benedito para organizar as finanças da casa, desde o aluguel, contratação de pessoas. Mas eu estou dizendo o que eu acho, aquilo que entendi.

Haveria pagamento em dinheiro?
Não, só em contratos. Isso ficou bem claro [na reunião]. O Benedito falou bem claro que não era esse tipo de pessoa, que emitiria comprovantes de pagamento e serviços. Seria tudo declarado.

E a presença de Idalberto na reunião?
Foi ele que levou o Onézimo. Eu conheço o Idalberto há muitos anos e ele nunca pegou, nunca…

Ele foi contratado pela campanha?
Não foi contratado, não. Ia se formar esse grupo que não se formou, entendeu? [...] Eu nem cheguei a fechar contrato, foi abortado, eu não entrei na campanha. Eu fui lá para tentar desmontar um sistema de espionagem. [...] Havia espiões lá dentro [da casa]. A “Veja” mostrou fotos de todo mundo, o cartão roubado do delegado. Eu falei [para um repórter da revista] que “sua matéria é produto de roubo, de sabotagem”.

Vocês chegaram a fazer uma denúncia sobre esse suposto roubo?
Eu procurei o Ministério Público Federal, um procurador da República amigo, mas mas fui demovido da ideia por Lanzetta, que pediu, encarecidamente, que eu não formalizasse a denúncia. Havia suspeitas sobre os próprios integrantes da casa, então como poderia ser uma denúncia contra? Eu não fiz na hora, mas agora vou entregar todos os documentos, junto com os resultados das minhas investigações, para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.

Foi o Lanzetta quem lhe convidou para a reunião?
O Lanzetta, porque ele não é da área, tem um perfil de empresário. Eu sou jornalista. Eu converso com esse povo há dez anos, como todo jornalista conversa.

Os achados que você fez para seu livro, sobre as privatizações, foram relatados a Fernando Pimentel, chegaram a conhecimento…
Não. Isso é um material que nunca passei para ele porque eu tinha feito em outra circunstância. (..) Na verdade, eles [PSDB] estão preocupados com o que eu tenho. Não é feito de espionagem, nada de grampo, nada de ilegalidade. O que importa é se o que eu tenho aqui é legal, se tem fé pública, se não tem. É isso que importa. Agora, ninguém quer saber disso, né? Ganhei mais de 30 prêmios de jornalismo e nunca fiz matéria com base em grampo telefônico. Nunca trabalhei assim.

Quando sairá o livro?
No livro eu vou contar a história desde o início. Toda essa rede de intrigas. Eu, como não tenho contrato com ninguém, posso falar de todos os lados. Tem fogo amigo dos dois lados. Vou publicar os documentos. Já estou procurando um laudo de um especialista, um tributarista com especialização em lavagem de dinheiro, para dar um parecer sobre todos os documentos. Vou entregar tudo para a Polícia Federal. Vou até o fim.

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