sábado, 8 de agosto de 2015

CRISE

Muito bom os esclarecimentos da economista sobre a "TAL CRISE "

Por Adriana P. Sousa
Sobre o texto que a economista Renata Barreto publicou em resposta aos questionamentos do Tico Santa Cruz, tratando sobre questões políticas e econômicas atuais da economia brasileira.
Como Economista, Professora Universitária e Cidadã brasileira me senti no direito de emitir minha opinião.
Sobre o questionamento do Tico Santa Cruz sobre a existência de uma crise, já que acabamos de passar por um período de grande expansão econômica com crescimento do consumo e da produção, aumento do emprego e do nível de renda da população e, de repente, não mais que de repente como diria Vinícius de Moraes “do riso fez-se o pranto”... e a economia brasileira entrou num espiral negativo onde se prenuncia e se anuncia uma crise alarmante que é de botar medo em qualquer cidadão.

Bom, para identificar que crise é essa pela qual passamos primeiro qualquer cidadão e em especial qualquer economista que se preze deve estar munido de muita informação, de muito conteúdo e conhecimento histórico, para então se poder fazer qualquer predição sobre o que é que está acontecendo na economia brasileira.

O contexto histórico e econômico brasileiro deixa claro que o Brasil é um país que vive de ciclos de expansão e contração econômica. Isso é muito devido ao fato de sermos um país ainda em desenvolvimento com toda a nossa carga histórica de instabilidade econômica gerada na década de 80 onde o país viveu um período de inexistência de investimentos e de taxas de inflação astronômicas. Como por exemplo em 1986 que a taxa anual de inflação era de 79,664%. Claro que muita gente não vai se lembrar disso, mas muita gente vai saber exatamente do que estou falando.
Por ai já podemos identificar que realmente a afirmação do Tico Santa Cruz não está errada ao dizer que o país já passou por situações muito piores.

Se hoje estamos apavorados com uma iminente inflação em torno de 9% ao ano, imaginem uma inflação de 79% ao ano... Já parou pra pensar numa perda de valor da moeda de 79% ao ano? Isso certamente é bem mais grave do que perder 9 % ao ano.

Tudo bem, devem estar pensando: mas isso foi em 1986 e nós estamos em 2015. A moeda já mudou várias vezes e já foi implantado o Plano Real desde 1994, então a comparação não vale.

Ok, então busquemos dados de 2002 para pegar um período após a implantação do Plano Real e uma situação de economia “mais estabilizada” que a da década de 1980. Em 2002 a inflação fechou o ano em 12,530% e nós não estávamos em “crise”. Dessa forma, podemos afirmar então que a medida da inflação não indica que estamos em uma crise econômica.

Consideremos então outra variável para comparar, vamos então utilizar o poder de compra do salário mínimo a partir da criação do Plano Real.

Sobre essa questão, apesar de se perceber uma elevação nos preços dos produtos, observa-se que nesse período a renda do cidadão também teve uma elevação. Não se pode fazer uma comparação apenas em termos de que R$ 1,00 comprava 10 pães em 1994 e agora compra apenas 2 pães.

Isso conta, é claro, mas o que se percebe é que essa queda do poder de compra da moeda é apenas nominal, visto que em termos reais o que tem ocorrido é a elevação do poder de compra do brasileiro.

A percepção ou constatação de valorização ou desvalorização de uma moeda depende de diversos fatores. No caso do Real o que ocorreu nestes últimos 20 anos foi uma elevação do poder de compra do brasileiro.

Observe que em termos da cesta básica, olhando para a realidade mais próxima , no meu caso, por exemplo, em Goiânia, em dezembro de 1994 a cesta básica custava cerca de R$ 70,71 enquanto que o salário mínimo da época era de R$ 70,00, ou seja, mal dava para comprar uma cesta básica.

Já em 2015 o valor de cesta básica goiana foi estimado para o mês de abril como sendo de R$ 327,69, ou seja, 4,6 vezes mais cara que em 1994, contudo, com o valor atual do salário mínimo de R$ 788,00 é possível adquirir duas cestas básicas e ainda sobrar um pouquinho.

Outro ponto de análise é que a necessidade real de renda também variou bastante nos últimos 20 anos. Enquanto em 1994 o salário era de R$ 70,00, a necessidade real de renda era de R$ 728,00 para os gastos totais mensais, ou seja, o brasileiro precisava de um salário 10 vezes maior do que o que recebia para poder realizar seus gastos mensais com tranquilidade.

Hoje, o salário mínimo é de R$ 788,00 e a necessidade real de renda é de R$ 3.251,61, o que corresponde a uma necessidade de 4 vezes o salário atual para que o brasileiro viva com um certo conforto financeiro.
Disso tudo, o que conta é que apesar de notar um claro aumento de preços nestes últimos 20 anos de plano real, o que pode dar a impressão de queda no poder de compra da moeda, o que tem ocorrido é uma desvalorização da moeda diante da ocorrência normal de um nível aceitável de inflação, visto que a inflação não é algo sempre negativo, pois uma economia onde não ocorre o mínimo de elevação de preços, configura uma economia estagnada, pois em uma economia de mercado, se não há elevação de preços é, muito provavelmente porque não está havendo consumo.

Sendo assim, a moeda brasileira, mesmo perdendo valor diante desse cenário, tem apresentado uma elevação considerável em seu poder de compra, visto que o brasileiro tem conseguido adquirir produtos que não eram possíveis, ou que não faziam parte do universo de compra da maioria da população, antes da implantação da moeda, como por exemplo, produtos eletroeletrônicos e importados.

Claro que uma elevação de preços afeta este cenário e reduz um pouco o poder de compra do brasileiro, mas essa elevação de preços por si só não indica um momento de crise.

Foi falado também sobre a questão do país ser dependente dos preços internacionais das commodities e da baixa industrialização do país. Realmente, neste ponto tenho que concordar com a economista. Um país dependente do mercado internacional de commodities, com industrialização fraca torna-se dependente da economia internacional.

Contudo, vimos o mundo passando por uma crise fortíssima em 2008 e o Brasil se manteve de pé. Claro que isso, e com uma certa razão para a economista, baseado muito nos incentivos e gastos governamentais como a implantação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em várias frentes, como programas de redução de juros e isenção de impostos. Esses programas podem ser vistos de diversos ângulos, contudo não se pode negar que, por exemplo, o PAC atuou em frentes de investimentos e infraestrutura para garantir a melhoria e expansão dos investimentos industriais brasileiros, pois sem infraestrutura não há empresa que invista, sem contar que a década de 1990 o Brasil sofreu uma forte queda nos investimentos em infraestrutura que só foi retomada a partir da década de 2000, com especial atenção para o PAC.

No que tange à redução dos juros, estes visaram sim o aumento do consumo por parte da população juntamente com a facilitação do acesso ao crédito para diversos fins. Por um lado essa medida causou endividamento da população, o que, e lógico traria um período de redução desse consumo em algum momento. Fato que está acontecendo agora. Por outro lado, a redução de juros e facilitação de crédito em uma economia também tem como objetivo, incentivar os investimentos, daí o crescimento no nível de postos de trabalho com consequente redução do desemprego e elevação do nível de renda da população.

Quanto ao questionamento do Tico Santa Cruz sobre se as empresas não poderiam manter esses funcionários nesse período a resposta é: o setor privado visa lucro e após um período de lucros extraordinários, aceitar uma redução na margem de lucro não é o objetivo da empresa, então, com a redução do consumo, as empresas devem reduzir produção e para manter a margem de lucro elas irão elevar os preços dos produtos, piorando a sensação de crise.

A elevação dos juros da economia para 14,25% na última reunião do Copom vem sim, dizer para a economia, mais especificamente, para o setor produtivo que a fase de ritmo acelerado já passou que é momento de reduzir a marcha. Essa sinalização certamente reduz o nível de investimentos e consequentemente o nível de emprego, fazendo com que haja uma redução no nível de renda e de consumo dos brasileiros.

Mas isso, por si só não significa que estamos em crise, mas que passamos por um período de aceleração e agora estamos num período de contração, fato comum para qualquer economia em desenvolvimento.

Sobre a taxa de câmbio, a taxa de câmbio atual é de R$ 3,4851/U$, enquanto que em dezembro de 2014 era de R$ 2,6562/U$, realmente houve uma subida no valor do dólar. Contudo em 2002 o dólar estava cotado em R$ 3,5333/U$. Ou seja, houve sim uma variação, mas uma variação pequena considerando o período 2002-2015.

Essa elevação do dólar causa sim uma dificuldade nas importações e pode sim afetar o preço de alguns produtos nacionais, especialmente aqueles que dependem de matéria-prima importada. Todavia o dólar mais caro incentiva as exportações, então não são todos os setores que estão sofrendo com a alta do dólar. Os exportadores devem estar satisfeitos. Contudo, é claro que quanto mais se exporta a tendência de elevação dos preços internos é maior. Porém, se o país conseguir manter essa variação sem muita amplitude, o equilíbrio deve voltar.

Bom sem nos alongarmos nas questões econômicas as quais até aqui não configuram crise alguma, não posso deixar de falar de um fator psicológico capaz de gerar diversas reações econômicas. Esse fator chama-se “EXPECTATIVAS”. Um país com expectativas positivas tende a apresentar crescimento e desenvolvimento econômicos positivos, enquanto que um país com expectativas negativas pode retrair a atividade econômica. Isso se dá porque a atividade econômica é um ato humano e os seres humanos são movidos por expectativas.

Daí a observação do Tico Santa Cruz não estar de todo errada. As expectativas podem ser sim modificadas de positivas para negativas, por meio de manipulações. Sejam elas políticas e/ou sociais.

No caso do Brasil, a nossa crise é política, é uma crise institucional, criada pela figura encravada na política brasileira, conhecida como corrupção. Essa é a crise brasileira, mas ela não é nova, não é de agora, é de sempre. Está arraigada na nossa sociedade, infelizmente.

O que de bom tem trazido esse momento é o fato de que movimentos escusos estão sendo investigados, descobertos e punidos (assim espero). Contudo esse movimento de expurgar os corruptos (e que sejam todos eles expurgados, independente do partido político ou da elite de poder a qual pertencem), esse movimento tem trazido para o Brasil uma sensação de insegurança, uma sensação de não saber o que realmente está acontecendo politicamente no país.

Além disso, as forças de oposição ao atual governo tem aproveitado dessa situação para piorar a crise política criando uma ilusão de “maior crise econômica” do Brasil. O que pelos dados não é verdadeira.

Nesse ponto, concordo com o Tico Santa Cruz, porque devemos olhar além do óbvio e ver que as elites políticas brasileiras sempre estiveram em confrontos pesados à custa da população.

É necessário ver que para além da recessão econômica, estão sim, interesses políticos, isso fica claro quando toda essa situação e essa sensação de crise surge logo após as eleições presidenciais.

E a tão bradada “crise” que estão se pregando aos quatro ventos pode sim se tornar verdadeira, quando todas as expectativas da população brasileira estiverem ruído. Ai sim a crise será iminente.

A crise é muito mais uma luta de poder do que econômica até porque a crise econômica ainda não aconteceu. Mas se as investidas contra as expectativas positivas prevalecerem ela poderá vir. Com certeza.

Deve-se ter muito cuidado com o que se ouve e se lê sem questionar.

Aliás, a informação e o conhecimento são bem vindos sempre e não necessitam de ofensas para convencer.

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