Os limites,
as leis e o papel dos pais em transmiti-los
Muitas vezes nos parece fácil falar de limites.
Educadores e psicólogos enumeram uma série de regras e "porquês" do
que se deve ou não fazer com uma criança para transmitir-lhe os tais
"limites". Mas por que na prática isso se torna uma tarefa tão
difícil? Por que os pais tantas vezes se vêem esgotados em repreender os filhos
e, na maioria das vezes, não obtêm resultados?
A questão do limite no desenvolvimento de uma
criança é muito mais complexa do que se imagina e são justamente os pais (ou
aqueles que cuidam da criança) os grandes responsáveis pela sua adaptação
crítica às regras sociais.
Bom, você deve estar se perguntando o porquê desta
questão ser tão complexa, e também o porquê qualquer teoria acerca do
comportamento infantil não ser capaz de "dar conta do recado na hora
H", isto é, na hora de impor limites a uma criança.
A resposta para essa questão é que essa
complexidade se funda na forma através da qual os limites são passados. Na
verdade trata-se de um aprendizado puramente emocional e, portanto, falar de
teoria neste momento não ajuda muito.
A maior dificuldade encontrada nesse aprendizado
sustenta-se na afirmativa: os pais, ao tentarem impor limites para seus filhos,
inevitavelmente estarão tendo que lidar com suas próprias questões e problemas
relacionados a limites.
Entendendo-se a palavra limite como regras ou leis
em geral podemos citar alguns exemplos. Um pai ou uma mãe que teve dificuldade
em internalizar ou apreender os limites dados pelos seus próprios pais, terão
inevitavelmente dificuldade em transmitir esse aprendizado aos filhos, pois
estarão tentando passar um aprendizado que não se afirma na sua prática
cotidiana. Um pai que tem como hábito cometer excesso de velocidade ao dirigir
veículos, certamente não poderá convencer o seu filhinho de que ele não deve
cometer excessos, pois ele mesmo não respeita esses limites.
A partir desse momento creio que "papais e
mamães" já estejam começando a compreender porque impor limites para um
filho é tão complicado. Na verdade, esta complicação surge porque o tempo todo
estamos lidando com nossos próprios limites, atualizando-os e revivendo a
maneira pela qual estes nos foram transmitidos pelos nossos pais.
Neste momento lembro-me daquela antiga frase,
"faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço" . Isso porque a
maioria dos pais busca dar limites aos filhos desta forma, repreendendo a
criança de cometer excessos, porém praticando atos excessivos, como por
exemplo, bater com violência.
Infelizmente, não posso ensinar aos pais o que
fazer durante esse aprendizado dos filhos (até porque cada casal é diferente e
cada filho também), todavia, constitui-se tarefa fundamental para os pais
durante esse processo rever suas atitudes, crenças e valores; procurando
transmitir aos filhos apenas aquilo que lhes seja legítimo.
É importante, ainda, dizer que os pais devem sempre
representar figuras de autoridade diante dos filhos, porém isto não
necessariamente significa que desempenhem apenas funções punitivas. A figura de
autoridade deve ser firme porque esse papel primariamente desempenhado pelos
pais e respeitado pela criança, será futuramente desempenhado pela sociedade e
retratado pelas leis.
Dessa forma, a figura de autoridade dos pais, a
maneira pela qual a criança vai lidar com ela e com os limites, constitui-se a
base para a introjeção das regras sociais e a adaptação a elas na idade adulta.
Fernanda Travassos
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