sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fundamentalismo Mundial


Fundamentalismo Mundial

Leonardo Boff, 9 de janeiro, 2004


Três tipos de fundamentalismo dominam a cena mundial: o do pensamento único representado pela globalização imperante, o suicidário dos muçulmanos cujo principal representante é Bin Laden e o do Estado terrorista da guerra preventiva, corporificado por Bush e por Sharon. Sabidamente, o fundamentalismo não é uma doutrina mas uma maneira excludente de ver a doutrina. O fundamentalista está absolutamente convicto de que sua doutrina é a única verdadeira e todas as demais, falsas. Por isso elas não têm direito, podem e devem ser combatidas.

O fundamentalismo do pensamento único apresenta o modo de produção capitalista com seu mercado globalizado e a ideologia política do neoliberalismo com sua democracia eleitoral e delegatícia como a única forma razoável de organizar o mundo. O que Bush quer impor por própria conta ao Iraque destroçado traduz esse fundamentalismo.

O fundamentalismo suicidário muçulmano parte da convicção de que o Ocidente, inimigo histórico desde os tempos das cruzadas, é o Grande Satã, porque é ateu prático, materialista, imperialista e sexista. Por isso, deve ser combatido em todas as frentes e fazer vítimas mais que se puder com as bênçãos do Altíssimo. São os únicos tão convencidos que aceitam jovialmente ser homens-bomba.

O fundamentalismo do Estado terrorista à la Sharon é movido pela convicção de que os judeus têm o direito, acima de qualquer outro direito dos palestinos, de montar Israel ao tamanho que tinha nos tempos do rei Davi. Por isso Sharon prossegue com as colonizações e enquanto não realizar esse propósito boicotará qualquer projeto de paz.

O fundamentalismo do Estado terrorista à la Bush possui fortes raízes religiosas, ligadas a sua biografia pregressa. Foi por vinte anos dependente de álcool até que em 1984, a convite de um amigo, Don Evans, atual secretário do comércio, começou a freqüentar o círculo bíblico dos evangélicos fundamentalistas. Após dois anos não era mais ébrio de álcool mas ébrio da ideologia salvacionista destes fundamentalistas que se divulgava fortemente dentro do partido republicano.

Segundo ela, “o destino manifesto” dos EUA hoje é melhorar o mundo na medida em que o impregnar com os valores da cultura norte-americana: com liberdade, democracia, e livre mercado. Bush filho fazia a campanha da reeleição do pai se apresentando como “um homem que tem Jesus em seu coração”. O brasilianista Ralph della Cava e o teólogo J. Stam contam que mais tarde, ao postular-se candidato, Bush reuniu os pastores da zona e lhes comunicou: “fui chamado [por Deus]”. Em seguida fez-se o ritual “da imposição das mãos”, sagrando-o Presidente preventivo.

Essa pré-história é importante para se entender a fúria fundamentalista que se apossou de Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001. Optou combater o mal com o mal, ameaçando com guerra preventiva a todos os países do “eixo do mal”. Deixou claro: “Quem não está conosco, está contra nós”, é terrorista.

Antes do ultimato a Saddam Hussein, pediu aos assessores que “o deixassem a sós por dez minutos”. Qual Moisés foi consultar-se com Deus. E numa entrevista ao New York Times de 26/04/03 declarou: "Tenho uma missão a realizar e com os joelhos dobrados peço ao bom Senhor que me ajude a cumpri-la com sabedoria”. Pobre Deus! Como salvaremos a humanidade desses desvairados?

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