Ela
resolveu o problema do mensalão sem se indispor com a Globo, que gosta do novo
ministro.
Resolveu
um problema sem criar outro
O
que você faz para resolver um problema e não criar outro?
Bem,
no caso do STF, você nomeia Luís Roberto Barroso.
Barroso
resolve o problema do mensalão. Sua chegada ao Supremo muda o cenário no
momento fundamental dos recursos.
Desfaz-se
o estado de espírito anti-réus que dominou o STF, e que por um momento pareceu
que levaria Zé Dirceu à cadeia.
Quem
não se lembra do relato de Mônica Bergamo, na Folha, sobre o dia em que Dirceu
fez as malas à espera de que o levassem pela madrugada?)
Joaquim
Barbosa, o grande derrotado na nomeação, agora é minoritário, e é uma benção
que seja assim, tamanha a inépcia grosseira, pedante e autoritária do ex
Batman.
A
segunda etapa do julgamento – aquela, sabemos agora – quase que começa do zero.
Dirceu pode desfazer a mala, se já não desfez.
As
sentenças extraordinariamente rigorosas comandadas por Barbosa, e alinhadas com
a mídia, vão sofrer uma enorme redução.
Teses
como a Teoria do Domínio do Fato, pela qual você pune sem provas, voltarão ao
ostracismo.
Será
difícil, como aconteceu, condenar alguém com base em denúncias de jornais e
revistas – a maior parte delas sem comprovação.
Barroso
trouxe isso a Dilma – a certeza de que ela não terá que aturar a expressão de
sarcasmo vitorioso de Barbosa, tão bem expressa no funeral de Niemeyer.
Para
os repórteres, Dilma disse que a nomeação nada teve a ver com o mensalão, mas
chamo aqui Wellington para comentar: quem acredita nisso acredita em tudo.
É
um pastelão, é verdade – mas o final é melhor que o começo, tamanhas as
barbaridades dos juízes no mensalão.
Dilma,
com Barroso, resolve também um problema, como foi dito acima
Ela
poderia enfrentar muitas críticas da mídia com a indicação. Com Barroso, ela
neutralizou o maior foco das críticas: as Organizações Globo. Monopolista como
a Globo é, você ganha a aprovação dela e o resto está feito no capítulo das
relações com a mídia.
Barroso
é amigo da Globo. Foi advogado da Abert, a associação que defende os interesses
da Globo. Conforme mostrei num artigo anterior, chegou a escrever um artigo em
que defendia a reserva de mercado para a Globo. (Os argumentos eram ridículos:
até Mao Tsetung era invocado como um risco. Mas o fato é que ele escreveu o
artigo e ele foi publicado no Globo.)
Portanto:
você não vai ver Jabor, Merval, Ali Kamel, Míriam Leitão ou quem quer que seja
na Globo atacando Barroso agora ou, um pouco depois, em suas intervenções no
julgamento do recurso.
A
família Marinho gosta dele: então seus vassalos também gostam.
São
todos papistas, para usar a expressão com que o ex-diretor do Globo Evandro de
Andrade se insinuou a Roberto Marinho quando quis o cargo.
Faço
o que o senhor mandar, disse Evandro. É o que todos ali fazem, basicamente.
Barroso
só não resolve o problema dos brasileiros de ter um Supremo patético – mas nada
é perfeito.
Paulo
Nogueira
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