Estamos em um momento
de reinvenção
diz Debora Messenberg sobre envelhecimento dos partidos
diz Debora Messenberg sobre envelhecimento dos partidos
Professora de Sociologia da UnB afirma que descrença de
jovens na política institucional é mundial e frisa que mudança passa por escola
‘realmente pública’ e plural
Os partidos políticos poderiam ter aproveitado as
ruas, avalia Débora Messenberg, pesquisadora da Universidade de Brasília (Unb)
e doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), sobre as
manifestações de junho de 2013. Os partidos não foram capazes de canalizar a
mobilização popular, ao mesmo tempo que o desinteresse das ruas por esta forma
de representação política ficou evidente. Messenberg destaca que os jovens não
acreditam na política institucionalizada e que esse movimento de reinvenção não
é uma particularidade do Brasil.
Quais foram os resultados de sua pesquisa sobre a
participação política dos estudantes da UnB?
Pouco antes das jornadas de junho (de 2013), especialistas
latino-americanos e de outros países se reuniram num seminário em Brasília para
debater os desafios da consolidação democrática na América Latina. Foi
discutida a percepção de certa amorfia em relação à participação política no
continente. Não é que a gente teve uma surpresa? Poucos dias depois, explodiram
as manifestações no país. Muitas pesquisas tentaram explicar de onde veio essa
energia. No caso da UnB, identifiquei um nível baixo de participação nas vias
tradicionais da política. Mais de 87% não participam de nenhuma associação, nem
são membros de conselho, sindicato ou movimento social. Cerca de 40% não se
identificam com partidos políticos.
Por que essa baixa adesão?
Eles não acreditam na política institucionalizada, acham que
a política é espaço de corrupção. E dizem que há falta de tempo para se
dedicarem a esse tipo de atividade. Não acompanham a política porque não são
socializados para isso. A política é tratada como coisa dos políticos, quando é
a administração de conflitos de toda uma sociedade. Não somos socializados para
discutir o bem comum. Não é um problema brasileiro, é mundial. Tivemos
mobilizações que demarcam a insatisfação com as instituições formais da
política. Acontece com os indignados da Espanha, pessoas que não querem mais a
política formal. Recentemente, tivemos a ascensão de membros desse movimento
assumindo cargos municipais. Os indignados da Espanha vieram mostrar que essa
insatisfação pode ser canalizada para as instituições formais, mas é preciso
dar continuidade ao movimento.
O que pode ser feito para que os jovens participem mais?
Uma educação que meramente repasse conteúdos
profissionalizantes não adianta. Tem que haver a vivência de práticas
democráticas, em escola realmente pública, onde os alunos experimentem a
pluralidade, convivam com classes e etnias diferentes, e vivam a política como
prática cotidiana. Estamos em um momento de reinvenção da política. Temos uma
estrutura de séculos atrás, e a lógica e o mundo são outros. Aqueles que
poderiam revelar vocação política não têm chance de disputar o jogo político.
A internet é uma alternativa?
A TV ainda pauta a agenda de forma intensa, mas está cada
vez mais perdendo espaço para a internet, porque ela dá a possibilidade do
retorno. Manuel Castells (sociólogo espanhol) diz que fazer política é
descobrir as metáforas mobilizadoras. As jornadas de junho começaram com
demandas por tarifas de transporte, que se desdobraram em manifestações não
previstas. Estamos diante de grandes desafios.
Fonte : http://oglobo.globo.com/brasil/estamos-em-um-momento-de-reinvencao-diz-pesquisadora-sobre-envelhecimento-dos-partidos-16591574
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