segunda-feira, 29 de junho de 2015

Estamos em um momento de reinvenção
  diz Debora Messenberg sobre envelhecimento dos partidos


Professora de Sociologia da UnB afirma que descrença de jovens na política institucional é mundial e frisa que mudança passa por escola ‘realmente pública’ e plural

 Os partidos políticos poderiam ter aproveitado as ruas, avalia Débora Messenberg, pesquisadora da Universidade de Brasília (Unb) e doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), sobre as manifestações de junho de 2013. Os partidos não foram capazes de canalizar a mobilização popular, ao mesmo tempo que o desinteresse das ruas por esta forma de representação política ficou evidente. Messenberg destaca que os jovens não acreditam na política institucionalizada e que esse movimento de reinvenção não é uma particularidade do Brasil.

Quais foram os resultados de sua pesquisa sobre a participação política dos estudantes da UnB?

Pouco antes das jornadas de junho (de 2013), especialistas latino-americanos e de outros países se reuniram num seminário em Brasília para debater os desafios da consolidação democrática na América Latina. Foi discutida a percepção de certa amorfia em relação à participação política no continente. Não é que a gente teve uma surpresa? Poucos dias depois, explodiram as manifestações no país. Muitas pesquisas tentaram explicar de onde veio essa energia. No caso da UnB, identifiquei um nível baixo de participação nas vias tradicionais da política. Mais de 87% não participam de nenhuma associação, nem são membros de conselho, sindicato ou movimento social. Cerca de 40% não se identificam com partidos políticos.

Por que essa baixa adesão?

Eles não acreditam na política institucionalizada, acham que a política é espaço de corrupção. E dizem que há falta de tempo para se dedicarem a esse tipo de atividade. Não acompanham a política porque não são socializados para isso. A política é tratada como coisa dos políticos, quando é a administração de conflitos de toda uma sociedade. Não somos socializados para discutir o bem comum. Não é um problema brasileiro, é mundial. Tivemos mobilizações que demarcam a insatisfação com as instituições formais da política. Acontece com os indignados da Espanha, pessoas que não querem mais a política formal. Recentemente, tivemos a ascensão de membros desse movimento assumindo cargos municipais. Os indignados da Espanha vieram mostrar que essa insatisfação pode ser canalizada para as instituições formais, mas é preciso dar continuidade ao movimento.

O que pode ser feito para que os jovens participem mais?

Uma educação que meramente repasse conteúdos profissionalizantes não adianta. Tem que haver a vivência de práticas democráticas, em escola realmente pública, onde os alunos experimentem a pluralidade, convivam com classes e etnias diferentes, e vivam a política como prática cotidiana. Estamos em um momento de reinvenção da política. Temos uma estrutura de séculos atrás, e a lógica e o mundo são outros. Aqueles que poderiam revelar vocação política não têm chance de disputar o jogo político.

A internet é uma alternativa?


A TV ainda pauta a agenda de forma intensa, mas está cada vez mais perdendo espaço para a internet, porque ela dá a possibilidade do retorno. Manuel Castells (sociólogo espanhol) diz que fazer política é descobrir as metáforas mobilizadoras. As jornadas de junho começaram com demandas por tarifas de transporte, que se desdobraram em manifestações não previstas. Estamos diante de grandes desafios.

Fonte : http://oglobo.globo.com/brasil/estamos-em-um-momento-de-reinvencao-diz-pesquisadora-sobre-envelhecimento-dos-partidos-16591574

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