Ser feito de bobo da
corte parece ser um papel histórico da classe média que você pode romper, para
seu próprio benefício
Um alerta para você
perceber a tempo que pode estar fazendo o jogo do (seu) inimigo
Você que é classe
média, seja a favor da redução de impostos, sim: menos impostos para a classe
média e imposto zero para famílias pobres, para periferias. Defenda mais imposto
para ricos. Essa agenda, a da tributação progressiva, a da justiça tributária –
paga mais quem tem mais –, é sua. Assim é que vai se financiar a melhoria dos
serviços públicos. Não caia na conversa fiada de que imposto para rico, banco,
fazenda e empresa é um fardo que inviabiliza a competitividade econômica – na
verdade, eles nunca serão a favor de abrir mão de qualquer parte de seus ganhos
e lucros, evidentemente, e se pudessem não pagariam nada. Repare como os
jornais, a TV, nunca debatem esse tema. Ou melhor, até debatem, mas quando o
fazem é sempre do ponto de vista do andar de cima. É um sinal, não acha?
Você que é classe
média, seja sim a favor do combate à corrupção: a compra de jornais ditos
independentes por políticos que tentam tapear você manchete após manchete
vendendo como notícia o que é manobra de blindagem; a chantagem de promotores
que ameaçam com denúncias para amealhar fortunas; o financiamento privado de
campanhas eleitorais, que torna os representantes no parlamento marionetes dos mais
diversos interesses empresarias ou de máfias. É óbvio, mas repare que (quase)
ninguém defende uma correção radical dessa anomalia.
Classe média, não
seja complexado(a). A síndrome de vira-lata em relação ao Brasil é
sistematicamente alimentada no contexto de uma estratégia geopolítica. Claro,
seja crítico. Mas não seja derrotista, envergonhado. Você nasceu aqui, ou veio
viver aqui: defenda seu lugar. Repare que muitas vezes o noticiário que você
lê, ouve ou vê, embora seja veiculado em português, parece ter sido produzido
fora daqui. Não é curioso?
Você que é classe
média, seja conservador. Conserve o que vale a pena ser conservado: a
Constituição, por exemplo, ou a política de distribuição de renda, ou a
excelente concepção do SUS. Lembre que certos tribunos da República de hoje
promoveram há pouco tempo a compra de votos para aprovar a reeleição
presidencial no curso do primeiro mandato do maior interessado na mudança. Isso
que é subversão! Note que forçar condenações sem provas e espernear contra o direito
de recorrer é inconstitucional. Isso é subversão. Entenda que educação e saúde
públicas, universais e de qualidade liberariam seu orçamento de classe média de
um grande fardo. Lembre quem derrubou a CPMF, que financiaria a saúde pública.
Pense em quem nunca investiu na expansão das universidades federais. Faça esse
esforço e você vai perceber que estão tentando fazer você de bobo. Ser feito de
bobo da corte parece ser um papel histórico da classe média que você pode
romper, para seu próprio benefício.
Autoria : Ricardo Whiteman
Muniz é jornalista, bacharel em Direito (USP) e trabalha no Laboratório de
Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp.
Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/ser-feito-de-bobo-da-corte-parece-ser-um-papel-historico-da-classe-media-que-voce-pode-romper-para-seu-proprio-beneficio/
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