sexta-feira, 28 de maio de 2010

Que a força do medo que eu tenho não me impeça de viver o que anseio,

Metade

Que a força do medo que eu tenho não me impeça de viver o que anseio,

Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos nem a boca, porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouça ao longe, seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo seja para sempre amada mesmo que distante, porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem imundado de sentimentos, porque metade de mim é o que eu ouço mas a outra metade é o que calo.

Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço... e essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste e com o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável,

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro de ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que foi, e a outra metade eu não sei.

Que seja preciso mais do que uma simples alegria que me faz vir aquietar o espírito, e que teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba. E que ninguém tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer, porque metade de mim é platéria e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor,

E a outra metade... também!

Oswaldo Montenegro

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