Ofensa pessoal
Tânia Fusco , jornalista
Imagine se fosse a presidente da Argentina e não o Lula a protagonista de um acordo como esse que envolve Irã e Turquia? Argentinos de A a Z estariam todos de peito estufado enrolados no azul e branco do orgulho nacional. Si, si. Como no? Hicimos! Cada argentino carregaria vida afora uma porção dessa glorieta.
Mas aqui não. Aliás, já disse Tom Jobim: No Brasil, sucesso é ofensa pessoal. E a torcida do contra vem que vem. No caso dessa intermediação com o Irã tem sido de lascar. Ou se debocha da ousadia de Lula de se meter em briga de cachorros tão grandes assim.
E, ainda por cima, ter a ousadia de ir contra a posição oficial dos donos do mundo? Ou tenta-se provar por A mais B que não vai dar certo por isso, aquilo e aquele outro. Afinal, esse pulo ainda é maior do que nossas pernocas emergentes.
A causa do nariz torcido seria ranhetice da nossa inteligenzia? Complexo crônico de inferioridade? Ou será preconceito – aquele escondidinho que aflora até sem querer, quebrando a cadeia do politicamente correto? O que é que esse Lula ta pensando? Não basta ser o cara local, e agora quer também ser o cara mundial, antagonista do belo Obama? Ganhar Copa do Mundo é obrigação. Se meter na política internacional já é pretensão demais. Esse Lula não se enxerga, não?
Ta bom que é ano eleitoral e as torcidas contra e a favor ficam mais acirradas, sem nem disfarçar nas manchetes de que lado estão. Ta certo que estamos disputando O Poder e que, nessas ocasiões, ninguém é cordial e bonzinho com o adversário. Ta bom que toda a unanimidade é burra e a gente precisa ficar atenta e alerta contra o adesismos. Ta bom que uma torcidinha contra não faz mal a ninguém. Até segura o salto alto. Não deixa o cara ficar se achando muito.
Tudo certo. Mas não precisa exagerar. Ninguém é obrigado a admirar o Lula, nem só babar ovo por ele. Pode-se dizer que essa articulação Irã/Turquia ajuda Lula a galgar uns degrauzinhos na direção do sonho de comandar a ONU. Mas e se der certo – as duas coisas, o caminho para o acordo e a ONU –, não será muito bom para o orgulho nacional? Não será vitória para o Brasil?
Ou a gente vai justamente repetir o próprio Lula que deixou de apoiar um ilustre brasileiro, Marcio Barbosa, para direção da UNESCO, ficando na furada de um egípcio de quinta? Foi bonito isso? Não foi. E não importam os motivos. Vamos combinar: também ta feio paca essa torcida explícita pro causo Irã não dar certo.
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