quarta-feira, 29 de junho de 2016

O QUE VOCÊ TEM A VER COM A POLÍTICA?



Hoje em dia é muito comum ouvirmos de pessoas que “não gosto de política”, “prefiro não me envolver com essas questões”, “todos os políticos são ladrões”, “sempre que um político aparece na televisão eu desligo a TV”, horário eleitoral é um saco” ou “ política envolve corrupção e desvio de verba”.

No dia-a-dia, quando se fala de política, geralmente se pensa nela como uma coisa ruim e distante, como se fosse assunto apenas para os especialistas ou políticos. Ou então até mesmo, pensamos que a política só se restringe ao voto.  Mas será que é isso mesmo? Afinal, o que você tem a ver com a política?

SE OUVIMOS TANTAS COISAS RUINS SOBRE A POLÍTICA, POR QUE NOS DIZEM QUE ELA É TÃO IMPORTANTE?

Bom, apesar da existência de corrupção e de manipulação de ações para atender interesses específicos no ato político, temos que entender que esse quadro negativo só poderá mudar através da própria política. Isso porque a política é o instrumento de ação de transformação da sociedade.

Quem nunca ouviu na escola a frase: “o homem é um animal político”? Pois bem, quando Aristóteles declamou essa frase, ele quis dizer que todo homem precisa um do outro, que é da natureza humana viver em sociedade e que através da busca pelo bem comum é que se tem a constituição da polís, ou seja, a cidade, o lugar onde é compartilhada a vida pública.

Portanto, podemos entender que política está relacionada com aquilo que diz respeito ao bem público, à vida em comum, às regras, leis e normais de conduta dessa vida, nesse espaço, e, sobretudo, ao ato de decisão que afetará todas essas questões.

Assim, o que distingue o ser humano das outras espécies é a sua capacidade de raciocinar. E foi por meio desta habilidade que ele compreendeu a importância da vida comunitária e de conviver nesse meio de forma harmônica. E foi para isso que a Política foi criada: para regular os conflitos.

Vamos utilizar um exemplo prático. A Associação de Moradores de Umbará obteve uma vitória com a instalação de um semáforo na rua Nicola Pellanda, localizada em Curitiba. Essa rua era famosa pelo número expressivo de acidentes, inclusive fatais, devido à imprudência dos motoristas, que não respeitavam os limites de velocidade.

Para resolver esse problema, dificilmente você sozinha conseguiria alguma resposta do poder público, mas graças à organização dos moradores de Umbará, que possuem uma representação política, o problema foi solucionado. Depois de algumas manifestações e protestos foi reivindicado junto à prefeitura a instalação de um semáforo na localidade. Juntos, os moradores tiveram um peso muito maior.

Portanto, a política não se limita aos governantes e à profissão em si, mas abarca também uma participação na associação dos moradores do seu bairro, por exemplo, para debater sobre problemas existentes e possíveis soluções para melhorar a vida daquele local, ou quando você articula com seus amigos de escola para tentar deliberar sobre assuntos relacionados ao bem comum, como contribuir com a limpeza da escola, propondo a instalação de lixeiras de reciclagem e, consequentemente, facilitar o trabalho dos catadores de materiais recicláveis.

A política é tão presente na vida das pessoas que até quando você decide não participar da política, você também está agindo politicamente, pois está deixando que as coisas permaneçam do jeito que elas estão e não vê necessidade de mudança.

Daí a importância da participação cidadã. Se muitos permanecerem apáticos, deixando as decisões para terceiros, um grupo limitado acabará comandando sem oposição as decisões mais importantes do nosso país e os nossos interesses poderão não ser atendidos. Dessa forma, temos uma responsabilidade política e exercê-la também é uma forma de participação.

Assim, nós fazemos a política, através da participação em associação de bairro, colegiado, partidos, manifestações, passeatas, nas eleições, por exemplo. Mas será que é só assim que se “faz política”?


Este texto foi criado por Hanah Aridi Moura. Hanah é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Viçosa e trabalha na Assembléia Legislativa do Espírito Santo.



POLÍTICA E VOCÊ, TUDO A VER


 A política é tão presente na vida das pessoas que até quando você decide não participar dela, também age politicamente, pois está deixando que as coisas permaneçam do jeito que elas estão e não vê necessidade de mudança.



Já parou para pensar que nós experimentamos e praticamos a política a todo o momento em nossas vidas? Na verdade, e isto é mais corriqueiro do que parece.

As relações sociais são permeadas pela política, seja no âmbito familiar – quando queremos ir numa festa e para isso precisamos dialogar e convencer os nossos pais a nos deixar ir (lembrando que política refere-se a relações de poder, de interesse e tomada de decisão) – como na formação de um time de futebol do bairro – quando são atribuídas responsabilidades para alguns, através de candidaturas e eleições… Nesses casos também ocorrem mini processos políticos.

Quando estamos parados em um ponto de ônibus para irmos à escola, enquanto alguém com melhores condições está indo de carro, não estamos pensando em política. Contudo, se pensarmos que para conseguir o nosso pé-de-meia é necessário algumas condições, aí sim, estamos vivendo a política.

Ora, mas como assim?  Vamos explicar: para adquirir um automóvel de luxo, provavelmente seja necessário um trabalho que pague bem. Isso envolve ter oportunidade de planejarmos a nossa própria vida, de juntar dinheiro, de investir. De uma maneira ou de outra, essa condição está relacionada a fatores políticos, pois é um processo político que vai definir as condições para a acumulação do pé-de-meia.

Por exemplo, se não há oportunidade de educação para todos, consequentemente, uns terão mais dificuldade para atingir os objetivos do que outros.  Se não há uma política econômica que favoreça o desenvolvimento e o acesso a oportunidades de trabalho bem remunerado, é grande a chance de que apenas alguns poucos tenham essa oportunidade.

Por isso, é importante você se informar e participar da política, pois ela é a condução da nossa própria existência coletiva, que será refletida na nossa experiência individual, ou seja, na nossa educação ou não, na nossa saúde ou não, na nossa oportunidade de acesso ou não.

Dessa forma, a política não é um mecanismo exclusivo de políticos e muito menos envolve apenas discursos, eleições e promessas falsas.  Não é algo distante de nós; pelo contrário, faz-se presente em nossas vidas, por menor que seja o assunto abordado. A política foi criada para que possamos debater discutir e questionar questões, sem que seja preciso a utilização da violência. Através dela, foram estabelecidas regras, leis e normas, bem como o estabelecimento de direitos e deveres para conduzir as nossas ações.

  
A natureza, a essência e o funcionamento da política têm que ser voltadas para a busca do interesse e bem comum. E cabe a nós participar desse processo, para contribuir e construir uma política mais desejável, afinal, no sentindo mais amplo da palavra, somos todos políticos.

E agora, ainda acha que você e a política não têm nada a ver?

Este texto foi criado por Hanah Aridi Moura. Hanah é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Viçosa e trabalha na Assembléia Legislativa do Espírito Santo

 A política é tão presente na vida das pessoas que até quando você decide não participar dela, também age politicamente, pois está deixando que as coisas permaneçam do jeito que elas estão e não vê necessidade de mudança.

Já parou para pensar que nós experimentamos e praticamos a política a todo o momento em nossas vidas? Na verdade, e isto é mais corriqueiro do que parece.

As relações sociais são permeadas pela política, seja no âmbito familiar – quando queremos ir numa festa e para isso precisamos dialogar e convencer os nossos pais a nos deixar ir (lembrando que política refere-se a relações de poder, de interesse e tomada de decisão) – como na formação de um time de futebol do bairro – quando são atribuídas responsabilidades para alguns, através de candidaturas e eleições… Nesses casos também ocorrem mini processos políticos.

Quando estamos parados em um ponto de ônibus para irmos à escola, enquanto alguém com melhores condições está indo de carro, não estamos pensando em política. Contudo, se pensarmos que para conseguir o nosso pé-de-meia é necessário algumas condições, aí sim, estamos vivendo a política.

Ora, mas como assim?  Vamos explicar: para adquirir um automóvel de luxo, provavelmente seja necessário um trabalho que pague bem. Isso envolve ter oportunidade de planejarmos a nossa própria vida, de juntar dinheiro, de investir. De uma maneira ou de outra, essa condição está relacionada a fatores políticos, pois é um processo político que vai definir as condições para a acumulação do pé-de-meia.

Por exemplo, se não há oportunidade de educação para todos, consequentemente, uns terão mais dificuldade para atingir os objetivos do que outros.  Se não há uma política econômica que favoreça o desenvolvimento e o acesso a oportunidades de trabalho bem remunerado, é grande a chance de que apenas alguns poucos tenham essa oportunidade.

Por isso, é importante você se informar e participar da política, pois ela é a condução da nossa própria existência coletiva, que será refletida na nossa experiência individual, ou seja, na nossa educação ou não, na nossa saúde ou não, na nossa oportunidade de acesso ou não.

Dessa forma, a política não é um mecanismo exclusivo de políticos e muito menos envolve apenas discursos, eleições e promessas falsas.  Não é algo distante de nós; pelo contrário, faz-se presente em nossas vidas, por menor que seja o assunto abordado. A política foi criada para que possamos debater discutir e questionar questões, sem que seja preciso a utilização da violência. Através dela, foram estabelecidas regras, leis e normas, bem como o estabelecimento de direitos e deveres para conduzir as nossas ações.
  
A natureza, a essência e o funcionamento da política têm que ser voltadas para a busca do interesse e bem comum. E cabe a nós participar desse processo, para contribuir e construir uma política mais desejável, afinal, no sentindo mais amplo da palavra, somos todos políticos.

E agora, ainda acha que você e a política não têm nada a ver?


Este texto foi criado por Hanah Aridi Moura. Hanah é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Viçosa e trabalha na Assembléia Legislativa do Espírito Santo

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Desmoralizar a política para acabar com a democracia



Por EMIR SADER

Temer como presidente do Brasil é para acabar de desmoralizar a política. Um político corrupto, golpista, traidor, medíocre, sem nenhuma ideia na cabeça para dirigir o país é o objetivo maior dos que querem acabar com o que há de democracia no Brasil e entregar de vez o poder nas mãos dos mercados e das corporações midiáticas.

Do que se trata é de desmoralizar definitivamente a política. O Brasil pode ser governado pelo Lula ou pelo Temer. Igualar tudo por baixo. Se trata de tentar envolver o maior líder político que o Brasil já teve na mesma lista de suspeitos de corrupção. Não importa que não exista prova alguma contra o Lula. Não importa que os outros sejam acusados de corrupção direta de milhões, enquanto Lula é acusado de ter um sítio e um apartamento que não são seus. O que interessa é jogar todos na mesma fogueira. Ou para buscar um salvador da pátria de fora da política, na mídia, ou de ter sempre governos fracos, que tenham que se render aos mercados e às campanhas da mídia.

Para isso Temer é perfeito. Ninguém duvida que é um corrupto, um pulsilânime, um tipo que vai passar rápido pela história para desaparecer depois de ter prestado o serviço de dar um golpe na democracia e tirar o PT do governo, devolvendo-o aos ricos e poderosos. E, com isso, receber em troca, a absolvição dos seus casos de corrupção.

E aí está o Supremo Tribunal Federal, que deveria ser a instância superior do Judiciário, que se não se pronuncia sobre se houve ou não crime de responsabilidade, não serve para nada. E, como cala, consente com o mais grave golpe contra a democracia, porque se faz supostamente dentro da democracia. E confirma, junto com as ações arbitrárias da PF e de promotores, que a política está completamente corrompida.

O cinismo com que a direita apoia o governo Temer serve para confirmar que, se todos os políticos são corruptos, pode governar qualquer um, contanto que enfraqueça mais ainda o Estado e a política. Temer serve duplamente: confirma a canalhice dos políticos e debilita o Estado.

Os fins justificam os meios e isso justifica o apoio da direita ao governo Temer. Se tudo correr como a direita deseja, o pais estará desmontado em 2018, tanto o patrimônio publicado, que será privatizado, como os direitos dos trabalhadores, recortados, e os recursos para políticas sociais, diminuídos. Além da reinserção internacional do Brasil, que passará de uma política externa soberana a outra, subordinada.

O Globo retoma o que sempre achou: a fonte da corrupção não é o dinheiro privado, mas as estatais. Privatizar tudo moralizaria o pais. Os próprios processos de privatização do governo FHC desmentem isso, mas é preciso esquecer o passado vergonhoso, para promover um futuro vergonhoso. Se possível sem Estado, sem políticos, sem partidos, mas principalmente sem o Lula, sem a esquerda, sem sindicatos, sem campanhas salariais. Em suma, uma ditadura com roupagem de democracia.

Cabe à esquerda tratar de evitar isso, buscando alternativas que impeçam os dois terços no Senado, com que a direita trata de consolidar o golpe e o desmonte do Brasil.

sábado, 4 de junho de 2016

A BANALIDADE DO MAL

857Quanto mais superficial uma pessoa for, mais provável será que ela ceda ao mal, principalmente por não percebê-lo. A propensão dos seres humanos a fazer parte de um grupo no qual se identifiquem, aderindo impensadamente a ideias, opiniões e “deveres”, pode levar ao cometimento de males inseparáveis. Assim, ideais perturbadores conduzem nações ao massacre de outros povos. No âmbito da vida familiar ocorre o mesmo, nos lares que são destruídos por intolerância e violência, ora dos pais, ora dos cônjuges, ora dos filhos.
O pertencimento a ideologias fabricadas pelo sistema político, e veiculado pelo aparato midiático ao longo do último século, fomentam o consumo e a competição, e portanto, a rivalidade e a indiferença na convivência; assim, ao exigir o alinhamento a estes “conceitos plastificados”, são custeados o desrespeito, o ódio e a destruição do “diferente”.
A adesão a opiniões da maioria – ou de um grupo – carrega consigo a possibilidade de matar aquele que não se adequa a tal “modus vivendi”. Convencido de que cumpre seu papel, o homem tolo, deformado pelos moldes do interesse das elites que governam, toma por dever as pueris e inconsequentes convenções estabelecidas, deixando de pensar por si mesmo.
Refletir e interrogar os próprios pensamentos e atos, as normas e os padrões a que fomos condicionados, é a única condição para não sermos tragados por esse mal, no qual as mentes fracas agridem, revidam e se vingam, convictas de que estão vestidas com a túnica da justiça.
Pensemos nisso
(Extraído do pensamento de Hanna Arendt, em seu livro “Eichmann em Jerusalém”)

# mal banal




Autor: Z. Iljitsch Samsa

A filósofa alemã (e judia) Hanna Arendt cunhou a célebre expressão "banalidade do mal" para explicar a sua tese do que houve no regime nazista, mais especificamente depois de acompanhar, em Nuremberg, ao vivo, o julgamento de Adolf Eichmann, um tenente-coronel do regime de Hitler e reconhecido como o executor-chefe do Terceiro Reich.

Eichmann foi responsabilizado pela logística de extermínio de milhões de pessoas, organizando a identificação e o transporte de pessoas para os distintos campos de concentração – era a chamada "solução final", na porta de entrada dos trens.

Ao se referir à "banalidade do mal", Arendt em momento algum busca rebaixar a sua gravidade, mas, pelo contrário, aumentá-la – e isso, à época, foi muito pouco compreendido, maiormente pelo furor dos tão recentes acontecimentos.

Na verdade, é que o mais horrível do mal está no fato das autênticas perversões poderem se apresentar e ser vividas como atos corriqueiros, triviais, indiferentes e neutros do cotidiano.

Ora, se chego a acreditar que praticar tais atos é um direito (ou um dever) meu, é muito mais fácil cometê-lo, publicizá-lo e defendê-lo.

Assim, sob tal concepção, Eichmann não era um assassino monstruoso.

Ele era, simplesmente, um funcionário estatal comum encarregado de fazer pessoas entrarem nos trens para que chegassem a um determinado lugar, inadmitindo juízo de valor.

Sim, mera peça de uma engrenagem, circunstancialmente travestida de "gente", que deveria funcionar sob estrito aparo da convicção e da convenção populares vigentes no contrato social daquela Alemanha.

E uma peça de engrenagem não é moral e nem é imoral: é, simplesmente, uma "peça".

Logo, qual o paralelo que queremos propor?

É que a mesma lógica sucede com esta coisa chamada "mercado" que nesta sociedade produz, como fruto fiel da sua capital libertinagem, uma atroz "injustiça social", banalizando-se na sua essência.

A dinâmica invisível de uma estrutura abstrata que afeta a vida de bilhões de pessoas assenta-se em comportamentos cujos reflexos são encarados como meros fenômenos naturais – e a sua existência, pois, refuta qualquer ordem valorativa.

Não há monstruosidade na conformação deste regime do capital e não há perversidade na atuação dos seus agentes: neles somente se fazem "escolhas" e "investimentos”.

Como Eichmann, que só organizava transportes e pessoas.

Ora, os responsáveis em ambas as situações não se movem por instintos malévolos, por regras de conduta malvadas e por ódio; há, apenas, a renúncia a ser homem e, pois, a "pensar".

Pensar não deve ser entendido, jocosamente, como uma abstração máxima da não-atividade.

Pensar revela-se como a capacidade para refletir e para saber as causas e as consequências dos próprios atos, ainda que resultem da mera obediência e cumprimento do dever, sem reduzi-los às dimensões individuais e sem abstraí-los das implicações globais, como inclusive aqui já foi narrado.

Pois é, neste anonimato do "mercado", pessoas tomam singelas decisões sócio-econômicas que abrem o caminho para dramas, tragédias e a falência financeira, pessoal e moral de outras bilhões.

Tal qual Eichmann e os agentes do mercado, mundo afora agentes políticos também trabalham com esta "lógica".

E se não levam centenas de milhares de seres humanos aos trens que levam às câmaras de gás, amontoam-nas pelas periferias sob a redoma de uma câmara de asfixia pessoal e social.

Estes agentes políticos são cruéis e malevolentes?

Não, certamente não.

Afinal, tal qual os agentes do mercado (e Eichmann), eles também creem que estão apenas a cumprir os seus deveres.

E assim segue a toada, e assim se perpetua a banalização do mal, no caso, a banalização da injustiça social.


Diante da qual poucos se atrevem a pensar ("sapere aude!"), como lá atrás exigia a filósofa judia alemã, sob a lição de Kant.

Fonte: http://abuladabola.blogspot.com.br/2016/05/mal-banal.html?spref=tw

o auditório sabe como o elefante se suicida?



Bem, na "Noite dos Mascarados", Chico canta que depois do carnaval tudo volta ao normal.

Porém, neste tempo de cinzas em que vivemos, não se tem tanta certeza de que nem mesmo o amanhã será outro dia.

Ao menos no que tange ao controle do mercado por meio destas coisas chamadas "agências reguladoras", o futuro deste presente é sinistro.

Afinal, componente da mais moderna fantasia do capitalismo, a máscara da "regulação" é uma ideia quase divina que, a enebriar como sopro de sereia e a paralisar como um olhar medúsico, não parece querer cair numa quarta-feira qualquer.
Fruto nada proibido do neoliberalismo – no Brasil de cepa demo-tucana –, tem-se esta tese de que a função de regulação deve ser prosseguida não propriamente pelo Estado, mas por agências reguladoras independentes, saindo do controle direto e se assentando numa pseudo-equidistância de interesses públicos e privados...

E agora você dorme ou gargalha.
Ora, esta solução só tenta se justificar porque a velha cantilena liberal entende – e assim age para manipular a consciência popular – que o Estado, declarado por puro preconceito ideológico como incapaz de administrar o setor público da economia – ou se acredita que os setores de telefonia, de energia, de água etc. estão em melhor estado hoje sem o Estado? –, é  também considerado incapaz de exercer bem esta função reguladora, razão pela qual terceiriza para as ditas "agências".

Ao substituírem o Estado no exercício desta função reguladora, as agências concretizam uma poção mágica que contém os ingredientes do dogma liberal, da separação entre Estado e Economia: aquele deve manter-se afastado dessa, porque essa é a esfera privativa dos privados e aquele é uma pura instância política – é, como querem, o “conteúdo mínimo” do “estado mínimo”, na lição do Professor António Avelãs Nunes.

Com o argumento de que as funções das entidades reguladoras são funções meramente  técnicas e não-políticas, o que se pretende é subtrair à esfera da política – ou seja, à competência dos órgãos políticos democraticamente legitimados – a ação destas entidades ditas independentes, alegando-se que só assim se consegue a sua neutralidade.

Só assim – invocam os mais afoitos – o Estado pode ser,  como  regulador, um  "árbitro  imparcial" (ou "neutro", como um sabonete).

E mais: nesta subtração, pressupõe a Política como uma coisa indecorosa, feia, diabólica, uma chaga, uma perigosa praga egípcia reloaded e merecedora do isolamento e confinamento.

Ademais, quer-se trazer a substituição do "Estado democrático" por um "Estado tecnocrático", novamente neutro, governado por pessoas que não pensam em outra coisa que não seja o interesse público, sob os primados da suprema eficiência e retidão... zzzzz...

Parece óbvio que não se pode esperar de um Estado "neutro" – que age segundo critérios técnicos e que rejeita as opções políticas – a definição e execução de políticas públicas, que visam, é claro, a promover interesses públicos e coletivos e escolhas políticas assim comprometidas.

Ora o chamado Estado regulador revela-se, afinal, um estado pseudo-regulador – ou um "pseudo-estado regulador", como sempre sublinhou o Professor Avelãs, inclusive aqui, no seu último livro –, um Estado  que renuncia ao exercício desta sua função, a qual é transferida para sacrossantas entidades e agências “independentes”, “politicamente puras”, atuando apenas em função de critérios “técnicos” e com ímpar "eficiência", a sublinhar que o seu ethos radica na "imparcialidade" da atuação sobre o mercado.

Seria, pois, outro ser apolítico, como os amarelinhos que até recentemente desfilavam pelas orlas brasileiras.

Trata-se de um esforço inglório, por ser por demais evidente que essas agências exercem  funções políticas e tomam decisões políticas com importantes repercussões econômicas e sociais.

Na verdade, as autoridades reguladoras independentes vêm chamando (e recebendo) para si parcelas importantes da soberania, flertando com a sobrevivência do próprio Estado de Democrático de Direito, que se vê substituído por essa espécie de estado oligárquico-tecnocrático para atuar sob a chancela de “técnicos especialistas independentes” que “governam” este tipo de “estado”, mas que não é politicamente (e legitimamente) responsável perante ninguém, embora tome decisões que afetam a vida, o bem-estar e os interesses de milhões de pessoas.

E assim, a imitar o caos cívico de hoje, provoca o caos institucional, numa república democrática esquizofrênica em suas partes e funções.

Vários  argumentos  têm  sido  invocados  para  justificar  a regulação  “amiga  do mercado” e a sua entrega a entidades independentes, mas há raros espaços para se debater as múltiplas reservas que vêm sendo levantadas a esta concepção da função reguladora e ao modo como é exercida.

Por quê? Ora, são negócios da China nas mãos de poucos, poucos que controlam toda a mídia, e toda uma grande mídia que não dá lugar a nada que rediscuta o modelo – e o Estado brasileiro enxerga subserviente e calado este estado de coisas.

Mais do que isso, este Estado (Estado regulador, ou garantidor, ou ativador, ou incentivador, ou contratualizador... são inúmeros os eufemismos) conforma-se como um "super-Estado feudal" – consoante, de novo, acepção do professor coimbrão –, a assegurar aos novos senhores feudais (os parceiros privados das PPPs, as concessionárias...) verdadeiras rendas feudais: em vez de terras, concede-lhes direitos de exploração de bens e serviços públicos ou patrocínios, comprometendo-se, inclusive, a pagar-lhes (com o dinheiro dos tributos cobrados dos “súditos”) o que faltar para complementar as “rendas” contratadas.

É o capitalismo sem falências, fruto deste modelo intervencionista pós-moderno e desenvolvido para aqueles que são “too big to fail” (v. aqui), consoante o mote adotado para livrar da bancorrata parte do sistema financeiro estadunindese pós-crise – esse negócio todo é também mostrado e desenhado nos premiados documentários "Trabalho Interno" (v. aqui) e e "Capitalismo - a Love Story" (v. aqui).

E assim, enfim, neste grande espetáculo, assistimos os seus produtores na incessante busca de tentar disfarçar o estado capitalista com as suas tantas e sempre renovadas vestes, e que agora vem sob o adorno de "estado-regulador" e as suas "agências reguladoras".

Porém, estes mesmos senhores são incapazes de esconder o seu maior propósito: por a nu o Estado, paralisarem-no e asfixiarem-no, provocando a morte da Política e exaltando a ubiquidade onisciente do "Mercado", para aplausos delirantes da galera.

Pois é, nem Rá era tão louvado.


E nem Ary Toledo contaria uma piada melhor.

http://abuladabola.blogspot.com.br/2016/06/o-auditorio-sabe-como-o-elefante-se.html?spref=tw
Fonte :