domingo, 24 de janeiro de 2016

Sorriso Amarelo

Por Paulo César PCO



Não sei o que soa mais falso: As promessas de um político ou os elogios de um rico.


Alguns militantes de direita compartilharam nas redes sociais o caso de um homem de origem humilde que em função de muito trabalho e alguma sorte se deu bem ao arriscar-se como empresário… Até ai tudo ok, se não fosse por um detalhe, a postagem vinha acompanhada dos seguintes dizeres: “Veja pessoal, este merece aplausos! Venceu sem ajuda do governo!”

Ao reconhecer que ele merece aplausos (e a esquerda também reconhece) a direita se contradiz, pois, ao elogiá-lo, automaticamente ela acaba também por reconhecer o quanto é difícil para uma pessoa de origem humilde vencer na vida, dificuldade que esta mesma direita em outras ocasiões insiste em chamar de “frescura”, “exagero”, “vitimismo” etc.

E se reconhece o quanto é difícil para um pobre vencer na vida, fica a pergunta: Por que ao contrário da esquerda, ela sempre critica programas sociais destinados a dar uma ajuda aos pobres e vítimas de preconceito em geral???

Inclusive seu alvo favorito são as cotas raciais. Segundo ela é “vergonhoso” um negro aceitar as cotas em questão. Vale lembrar que em algumas ocasiões militantes de direita chegaram ao cúmulo de sugerir que o governo privatizasse a educação, ou seja, quem tem dinheiro se forma, quem não tem que se exploda. O mais contraditório, no entanto, é que esta mesma direita não acha “vergonhoso” a mãozinha que o congresso vem tentando dar ao grande empresariado com projetos de lei prejudiciais aos trabalhadores (vide PL 4330).

A direita não quer realmente a ascensão dos pobres, basta, por exemplo, conferir no site da Câmara e do Senado que todos os projetos anti-pobres são de autoria de políticos de direita.

Para esta quadrilha, o pobre se quiser vencer que vença, desde que sem a ajuda do governo, em outras palavras; sem a ajuda dos impostos que todos pagamos. Mas o que esta direita (filhinhos de papai em sua maioria) se “esquece”, é que a riqueza que ela ostenta só se sustenta por meio da exploração.

É no mínimo mau-caratismo achar “normal” explorar os trabalhadores ao passo em que critica os que recebem ajuda do governo.

Ora! Já não basta os pobres pagarem mais impostos do que os ricos? Aliás, se pagam mais, nada mais justo que tenham sim um leque de programas sociais à sua disposição (assim como há nos países mais ricos e mais pobres que o Brasil).

A burguesia deseja os pobres menos dependentes do Estado e mais dependentes do mercado, só assim ela poderá se dar ao luxo de voltar a decidir qual a “hora certa” de ajudá-los e qual entre eles merece ser “agraciado” pelos restos que caem da sua mesa.

Numa sociedade menos egoísta, ao invés dos ricos pregarem que milhões de pobres se matem de tanto trabalhar a troco de nada, e destes só meia dúzia vença na vida, eles estariam é lutando por um mundo onde não fosse mais preciso tanto sofrimento.

Numa sociedade menos injusta, estaríamos todos lutando por um mundo onde não só meia dúzia vença, mas por um mundo onde todos tenham as mesmas oportunidades de vencer.

Mas, a questão é que historicamente os burgueses sempre tiveram medo dos pobres terem chance de ficar em pé de igualdade com eles. Por isso sonham que o Brasil volte a ser como antes de Lula se tornar presidente e democratizar a educação, o pobre sempre na condição de subalterno e com oportunidades ridículas de ascensão profissional.

Talvez esteja na hora do Estado lançar um desafio: Se é para os pobres se virarem sem nenhuma ajuda estatal e passarem a acreditar na tal “mão invisível do mercado”, que o mercado triplique o salário deles.

Se é para os pobres abrirem mão desta ajuda, que os ricos abram mão de explorá-los, muito simples. Aí sim, poderíamos dizer que vivemos numa legítima meritocracia, pois, nada mais hipócrita do que uma classe enaltecer a meritocracia estando em vantagem em relação à outra.

Chega a me dar ânsia de vômito ao ver filhinho de papai fingindo não saber que se aquele pobre sofreu tanto para vencer, sofreu basicamente porque os seus antepassados foram explorados pelos antepassados destes mesmos filhinhos de papai que hoje o elogiam.

Os elogios destes filhinhos de papai são tão suspeitos quanto as promessas dos políticos por eles financiados… Ainda mais quando percebemos que eles usam estes casos isolados (de pobres que venceram) como cortina de fumaça para desviar nossa atenção dos outros milhões que continuam na merda por mais que se matem de trabalhar para eles.


Fonte: http://www.ligiadeslandes.com.br/20/01/2016/sorriso-amarelo/

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