Santayana:
Se não se convocar a razão e o bom senso, o Brasil terá a cara de Moro e
Bolsonaro
Em pleno
processo de impeachment, e de julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
das ações envolvendo a chapa vitoriosa nas últimas eleições, a situação da
República tem sido marcada pela espetacularização de um permanente “pega para
capar” jurídico-policial, a ascensão da “antipolítica”, o aprofundamento da
radicalização e a fascistização do país.
Políticos e
empresários têm sido presos — muitos por
ilações frágeis ou exagerado rigor cautelar –, enquanto outros homens públicos
e bandidos e delatores premiados apanhados com milhões de dólares na Suíça
circulam livremente ou estão em prisão domiciliar.
Milhares de
brasileiros acreditam piamente que o Brasil é um país quebrado e destruído,
quando temos as sextas maiores reservas internacionais do mundo e somos o
terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos.
Que um
perigoso “bolivarianismo” pretende implementar uma ditadura de esquerda na
América Latina, quando, seguindo os ritos democráticos normais, e sob amplo
acompanhamento de observadores internacionais, a oposição liberal acaba de
ganhar, pelo voto, as eleições na Venezuela e na Argentina.
Que o Brasil
é um país comunista quando pagamos juros altíssimos, e somos, historicamente,
dominados, na economia e na política, por um dos mais poderosos sistemas
financeiros do mundo, pelo agronegócio e o latifúndio, por bancos e empresas
multinacionais.
Discutindo
na mesa de pôquer da sala de jogos do Titanic, envolvidos por suas disputas, e
por uma rápida sucessão de fatos e acontecimentos, que têm cada vez mais
dificuldade em digerir e acompanhar, os homens públicos brasileiros ainda não
entenderam que a criminalização da política, criada por eles mesmos, como parte
de uma encarniçada e deletéria disputa pelo poder, há muito extrapolou o meio
político tradicional, espalhando-se, como o diabo que escapa da garrafa, como
uma peste pela sociedade brasileira, na forma de uma profunda ojeriza,
preconceito e desqualificação do sistema político, e daqueles que disputam e
detêm o voto popular.
Se não se
convocar a razão e o bom senso, para reagir ao que está acontecendo, e se
estabelecer um patamar mínimo de normalidade político-institucional, tudo o que
restará será o confronto, o arbítrio e o caos.
Está muito
enganado quem acha que o mero impedimento de Dilma Rousseff resolverá a
questão.
No final da
década de 20, os judeus conservadores comemoravam, da varanda de suas mansões,
na Alemanha, o espancamento, nas ruas, de esquerdistas e socialistas, pelos
guardas de grupos paramilitares nazistas como as SS e as SA, e se regozijavam,
em seu íntimo, por eles os estarem livrando da ameaça bolchevista.
Depois
também viram passivamente — achando que estariam resguardados por suas fortunas
— passar sob suas janelas, as filas de
operários e pequenos comerciantes judeus a caminho dos campos de concentração —
até chegar a sua vez de ocupar, como sardinhas em uma lata, o seu lugar nas
câmaras de gás.
Poucas
vezes, na história, o efeito bumerangue costuma poupar aqueles que, como
aprendizes de feiticeiro, se atrevem a cutucar o que está dentro da caixa de
Pandora.
Depois de
Dilma e do PT, seria a vez de Temer, e depois de Temer virão os outros — todos
os partidos e lideranças que tenham alguma possibilidade de alcançar o poder,
por via normal.
Parafraseando
Milton Nascimento, na política brasileira “nada será como antes amanhã”.
O Brasil que
se seguirá à batalha sem quartel e sem piedade, levada a cabo pela oposição nos
últimos anos e meses tendo como fim a destruição e total aniquilamento do PT
— cujas principais vítimas não serão
esse partido, mas o Estado de Direito, o presidencialismo de coalizão, a
governabilidade e a própria Democracia — não terá a cara do Brasil do PSDB de
Serra, de Aécio, ou de FHC, mas, sim, a de Moro e a de Bolsonaro.
A do
messianismo, da vaidade, da onipotência e do imponderável, e a do oportunismo e
do fascismo — e aqui não nos referimos ao velho fascio italiano — em seu estado
mais puro, ensandecido e visceral.
Mauro
Santayana, na Rede Brasil Atual, via seu blog
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