domingo, 29 de março de 2015

O radical classe média


Por Daniel Menezes *
Geralmente, o Radical Classe Média se apresenta como politizado, para, na verdade, repetir os velhos cacoetes do senso comum da política - é contra partidos;
Mais. Todo político é ladrão. Aliás, para o Radical Classe Média, o problema do Brasil não é o da desigualdade, mas o da corrupção. Por isso, não perde a oportunidade de comparar a nossa suposta natural propensão para a malandragem com a sonhada condição positiva dos EUA, ou numa perspectiva intelectualizada, dos países escandinavos;
Nesse sentido, a eleição não passa de uma chantagem. Tanto faz quem vai ganhar - "é tudo igual mesmo". O Radical Classe Média, quando não é capturado pelo moralismo e/ou suposta superioridade gerencial de um bonachão, prega o voto nulo;
Radical Classe Média não gosta muito de se "misturar". Quer exclusividade. No fundo, ele não suporta que ônibus coletivo passe nas praias "nobres" de sua cidade. Ou, em sua versão intelectual, defende a criação de "espaços" para os mais "humildes";
Para o Radical Classe Média, as instituições devem aprender a se relacionar com ele, já que o dito cujo apresenta muitas especificidades;
Instituição a favor dele é democracia. Contra ele? Fascismo;
Seguranças-policiais-trabalhadores devem fazer cursos de capacitação só para aprenderem a se relacionar com ele;
Ele é anarquista para os deveres, mas não para os direitos;
Ele é contra impostos, mas quer que tudo funcione a seu favor;
Um bom Radical Classe Média critica o inchaço do Estado, mas sempre tem alguém da família gozando de acesso privilegiado ao próprio Estado - um cargo, um contrato etc;
Radical Classe Média não tem diploma de graduação. Ele tem diploma de nobreza. E o "resto"? É resto, alienado. Ele se vê como o (único) "intelectual orgânico";
Ele é terminantemente contra o Bolsa Família, a quem ele chama de bolsa-esmola, pois produz preguiçosos e premia quem nunca "quis" estudar;
Para o Radical Classe Média, quem não sabe escrever o português corretamente deveria ser impedido de votar, de expor sua opinião num blog ou jornal. Enfim, de argumentar;
Pensar é sinônimo de dominar a gramática. Do contrário, o dito cujo se encontra no nível dos animais irracionais;
Para ele, às vezes, o problema do Brasil é porque o pobre-analfabeto - ele chama de "não esclarecido" - não sabe votar. Uma cientista política advinda da USP teria um bom conceito radical de classe média para isso - ausência de "sofisticação política";

Na versão intelectualizada, o Radical Classe Média é um crítico do jeitinho brasileiro, gosta de ler Nietzsche, Foucault, Deleuze, Guatarri. É um crítico do "micropoder", dos "fascismos da norma", conceitos mobilizados para negar qualquer coisa que lhe cobre alguma contrapartida social;
Há também aquelas versões do Radical Classe Média que tornam Karl Marx, ou o socialismo, numa questão de superioridade ético-moral;
Radical Classe Média é um supercidadão. Os demais... subcidadãos;
Afinal, o Radical Classe Média estudou. Merece mais do que os simples mortais;

Radical Classe Média se imagina como o que resta de bom no Brasil. Não raro, flerta com o fascismo.

sábado, 28 de março de 2015

Homo ignorans


Pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos bancos, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo.
Por: Ladislau Dowbor, 
27/03/2015
401(K) 2012 / Flickr
O homo sapiens todos conhecemos. Inclusive a maior parte da teoria econômica e das teorias das transformações sociais se baseia numa compreensão otimista de que o homem absorve conhecimentos, confronta-os com os seus objetivos racionalmente entendidos, e procede de acordo. Quando erra, analisa os erros e corrige a sua visão para não repeti-los.

Naturalmente, é agradável pensarmos que somos, conforme aprendi na escola, animais racionais, racionalidade que nos separaria confortavelmente dos animais. As minhas dúvidas aumentam proporcionalmente à minha idade, o que significa que são elevadas. Pensar que somos mais do que somos é uma atitude muito difundida. A bíblia já abre com o tom adequado: Deus nos criou à sua imagem e semelhança, o que implica por virtude dos espelhos que somos semelhantes nada mais nada menos que a Ele. O tamanho desta pretensão, e o fato de passar tão desapercebida e natural, já mostra a que ponto a nossa racionalidade pode ser adaptada ao que é agradável, mas não necessariamente ao que é verdadeiro.

Pensar na dimensão irracional da nossa inteligência, ou nas raízes interessadas e ideologicamente deformadas do que nos parece racionalmente verdadeiro, é muito interessante. Fazemos uma construção racional em cima de fundamentos profundamente enterrados na confusão de paixões, medos, ódios e sentimentos contraditórios. Quanto maior o preconceito – no sentido literal, raiz emocional que assume a postura antes do entendimento – maior parece ser a busca do sentimento de superioridade moral.

Devemos lembrar como foram denunciados e massacrados ou ridicularizados os que lutaram pelo fim da escravidão, pelo fim da discriminação racial, pelos direitos de organização dos trabalhadores, pelo voto universal, pelos direitos das mulheres? A imensa batalha que foi chegar ao intelecto dos dominantes que um povo colonizar outro não dá certo? Hoje é a mesma luta pela redução das desigualdades, pelo fim da destruição do planeta, pela democratização de uma sociedade asfixiada por interesses econômicos. Aqui precisamos de muito bom senso e generosidade. Ou seja, emoções e indignações sim, mas apoiadas na inteligência do que acontece no mundo e visando o interesse maior de todos, e não no interesse particular de defesa dos privilégios.

Aqui realmente é preciso de muita ignorância, ou seja, desconhecimento (voluntário ou não), para não se dar conta dos desafios reais. O aquecimento global é uma ameaça real, mas a direita tende a negar, como se o termômetro e os gazes de efeito de estufa fossem de esquerda. O desmatamento generalizado do planeta está levando a perdas de solo fértil em grande escala, quando iremos precisar de mais área de plantio. A vida nos mares está sendo esgotada pela sobrepesca e em 40 anos, segundo o WWF, perdemos 52% da vida vertebrada no planeta. É um desastre planetário espantoso, mas não aparece na mídia comercial. Os dados sobre a inviabilização ambiental do planeta são hoje amplamente comprovados. Há controvérsias, nos dizem. Mas é questão de opinião ou de conhecimento dos dados?
No plano social é mais impressionante ainda: até o Fórum Econômico em Davos escuta e divulga as pesquisas da Oxfam, do Banco Mundial e das Nações Unidas, dos inúmeros institutos de pesquisa estatística em todos os países sobre a desigualdade crescente da renda. Pior, temos agora os dados da desigualdade do patrimônio acumulado das famílias – 85 famílias são donas de mais riqueza acumulada do que 3,5 bilhões de pessoas na base da pirâmide social – gerando tensões insustentáveis. Mas em Wall Street enchem a boca e declaram “greed is good”. Sobre esta desigualdade de patrimônio uma das principais fontes é o Crédit Suisse, que tem boas razões para entender tudo de fortunas familiares. Nem os dados da própria direita parecem convencer a direita, se não confirmam os seus preconceitos.

Vamos tampar os olhos e fazer de conta que acreditamos que é possível manter a paz política e social num planeta onde 1,3 bilhões não têm acesso à luz elétrica, 2 bilhões não têm acesso a fontes decentes de água, e 850 milhões passam fome? Tem sentido acreditar no bom pobre¸ que se resigna e aceita, quando hoje até no último degrau da pobreza há uma consciência do direito a ter uma escola decente para o filho, saúde básica para a família? Aqui já não são apenas os olhos e os ouvidos que estão tapados, e sim a própria inteligência. O homo ignorans raciocina com o fígado.

E porque toda esta riqueza acumulada no topo não serve para as reconversões tecnológicas que nos permitam salvar o planeta, e para financiar as políticas sociais e inclusão produtiva capaz de reduzir as desigualdades? Basicamente porque está situada em paraísos fiscais, aplicada em sistemas de especulação financeira, sequer orientada para investimentos produtivos tradicionais. Os 737 grupos que controlam 80% das atividades corporativas do planeta são essencialmente grupos financeiros. Fonte? O Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica. São recursos que não só se aplicam em especulação financeira em vez de financiar investimentos produtivos, como migram para paraísos fiscais onde não pagam impostos. O Economist estima que sejam 20 trilhões de dólares, um pouco menos de um terço do PIB mundial.
O Brasil tem cerca de 520 bilhões de dólares em paraísos fiscais, da ordem de 25% do PIB. O HSBC que o diga. Mas no Brasil a grande vitória é a eliminação da CPMF que cobrava ridículos 0,38% sobre movimentações financeiras. No Brasil pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos grandes intermediários financeiros, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo. Em particular quando comete o pecado de melhorar a condição dos pobres. Ainda bem que temos a corrupção para canalizar a atenção e os ódios. O uso produtivo dos recursos não seria mais inteligente?

Não há nenhuma confusão sobre as dimensões propositivas: se estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria que pouco produz e muito especula, trata-se de tributar a riqueza improdutiva para financiar as políticas tecnológicas, ambientais e sociais indispensáveis aos equilíbrios do planeta. Com Ignacy Sachs e Carlos Lopes apontamos rumos básicos no documento Crises e Oportunidades em Tempos de Mudança, não são ideias que faltam: falta muita gente que tampa o sol com a peneira dos seus interesses se dar conta dos desafios reais que enfrentamos. Aliás, o norte é bem simples: toda política que reduz as desigualdades, protege o meio ambiente, e tributa capitais improdutivos contribui não para salvar um governo, mas para nos salvar a todos. E um país do tamanho do Brasil tem como trunfo fundamental, nesta época de turbulências planetárias, a possibilidade de ampliar a base econômica interna através da inclusão produtiva.

Confesso que ando preocupado. Parece que quanto maior a bobagem declarada, maior o sentimento de superioridade moral. E o ódio, esta eterna ferramenta dos preconceituosos, é um sentimento agradável quando se consegue encobrir o interesse com um véu de ética. Nesta nossa guerra permanente entre o frágil homo sapiens e o poderoso e arrogante homo ignorans, a olhar pelo mundo afora, e pelos gritos histéricos de extremistas por toda parte – sempre em nome de elevados sentimentos morais e com  amplas justificações racionais – o direito ao ódio parece superar todos os outros. Pobre Deus, nosso semelhante.

domingo, 1 de março de 2015

CCC, a Cartilha Coxinha de Conduta


Texto imperdível de Alexandre de Oliveira Périgo

Artigo primeiro: Nem toda pessoa de esquerda é “petista” ou ”petralha”, ó tartamudeante coxinha. Usar tal denominação e generalização apenas demonstra sua profunda miopia em relação a conjuntura política nacional e internacional.

Parágrafo único: Denotar aspecto pejorativo ao termo “petista” é mero e vil preconceito, ó direitoso coxinha (vide artigo sexto). Petistas são, via de regra, gente muito bacana.

Artigo segundo: Não use o termo “esquerda caviar”, ó amantíssimo coxinha; ele entrega sua limitação cognitiva de forma cabal. Entenda de uma vez por todas: há sim pessoas humanistas que dentro da realidade capitalista que se impõe ganham dinheiro e nem por isso se tornam menos socialistas ou abandonam seus ideais de esquerda. Sou solidário à sua dificuldade de absorção da realidade, contudo esteja ciente que nem todo comunista é pobre, barbudo, mal ajambrado e sujo consoante seu limitadíssimo imaginário.

Artigo terceiro: Comunismo não tem nenhuma relação com “invasão de casas de veraneio por descamisados”, nem com “divisão de salários com mendigos”, ó odioso coxinha. Mendigos são frutos do capitalismo. E tampouco há um “golpe comunista em curso” no Brasil, pois o PT não é um partido comunista, muito longe disso. Considerável porcentagem das medidas petistas no governo federal privilegiam o mercado financeiro e a parte mais abonada da população. Sendo assim, informe-se antes de zurrar pudins de ignorância dos mais fétidos sabores e que machucam os tímpanos de qualquer interlocutor um pouco mais consciente que um banquinho manco de boteco.

Parágrafo único: Há sim Marxistas críticos e que acham que a experiência soviética foi um rotundo fracasso, ó extremista coxinha; todavia nem por isso tiram do centro de suas problematizações a nefasta lógica capitalista de acumulação de capital e nem abrem mão das ululantes demandas do proletariado do século XXI. Assim, pare de usar o termo “Marxismo” associado a Stalin e aberrações congêneres e, se possível, leia mais que 3 linhas no Google sobre Marx antes de escrever suas brilhantes teses sobre esse grande pensador.

Artigo quarto: Dobre sua enorme língua e limpe seus perdigotos infectados com toneladas de vírus atemporais de burrice antes de chamar os valentes e heroicos combatentes da ditadura de “terroristas”, ó troglodita coxinha; terroristas propriamente ditos são os malditos milicos que matavam primeiro, perguntavam o nome depois e que hoje se escondem, covardes que são, atrás das saias da Lei da Anistia e de mentiras deslavadas à Comissão da Verdade. É graças a gente como Dilma, que usou sua juventude para pegar em armas e não gastou suas noites nos bailinhos dos anos dourados embalados pela alienada “jovem guarda” que você pode hoje se manifestar como quiser, inclusive para criticá-la. E por obsequio, não me venha com essa esparramela rotundamente ignóbil de “os terroristas não queriam combater a ditadura, apenas instalar o comunismo no Brasil” pois isso é de uma inverdade histórica que dói conteúdo e continente de meu saco escrotal; estude um pouco e não pronuncie tamanhas bobagens, pois nunca - repito, nunca - nem chegou-se perto de um golpe comunista no Brasil e a intenção de muitos combatentes da ditadura - que nem eram comunistas - resumia-se a pleitear a volta da democracia no país. Quer um exemplo marcante de um valente combatente da ditadura que nunca foi comunista? Lula! Deu, né?

Artigo quinto: Não diga que “esquerdistas querem uma ditadura gay”, ó relinchante coxinha. Não, por favor, mil vezes não! Não existe “ditadura gay”, seja lá o bizarro sentido que você considere para o termo! Os gays têm exatamente os mesmos direitos que você e eu, sem sectarismo de qualquer espécie - contra ou a favor. E pare com esse papo de “se dar ao respeito”, essa colocação é ridícula e explicita que você deveria estar é preocupado com quem fomenta guerra e violência e não com demonstrações de carinho e amor. Simples, não?

Artigo sexto: Não justifique seus preconceitos com uma suposta “liberdade de expressão”, ó obscuro coxinha. Essa liberdade não é infinita tal qual seu ódio e ignorância; ela tem como limite justamente o direito do outro. Não gostar de negros, judeus, ateus, religiosos ou ser machista não é “liberdade de expressão”, mas sim uma putrefata mistura de sectarismo, preconceito, sexismo, misoginia e ignorância. Além de crime.

Artigo sétimo: Pare com essa estupidez de afirmar que “maconha é o primeiro degrau na escalada sem fim rumo às drogas mais pesadas”, ó esfumaçado coxinha. Poupe-me de seus faniquitos moralistas regados a cervejinha; há milhões de pessoas que fazem uso recreativo da maconha - como você faz do álcool e de remedinhos para dormir ou emagrecer - e que jamais injetarão heroína nas veias da têmpora para assaltar sua casa babando e com os olhos esbugalhados e vender sua TV para comprar mais droga. A questão das drogas é séria e portanto demanda serenidade e não grunhidos desta sorte em sua discussão. Fume um baseado lá no cantinho do castigo enquanto pensa a respeito, ok?

Artigo oitavo: Para sua surpresa completa, as pessoas de esquerda e que apoiam o PT nesse segundo turno das eleições não aprovam nem são lenientes com a corrupção, ó probo coxinha. Ao contrário, se manifestam contundentemente para que todos os casos investigados sejam esclarecidos, o que inclui aqueles que envolvem a direita e que foram parar debaixo do tapete da história recente. Quem curte uma corrupçãozinha básica é você, que aplica sua memória e indignação seletivas quando o assunto envolve as falcatruas dos partidos que defende e que não perde a chance de subornar um guarda e outras autoridades públicas, que não respeita as regras mais básicas de convívio social e que adora levar vantagem em tudo. Da próxima vez que baixar o vidro de seu carro para jogar lixo na rua, aproveite e atire também sua hipocrisia para bem longe de mim, por favor.

Artigo nono: Ser contra a diminuição da maioridade penal não é adorar bandido, ó revoltado coxinha. Tome uma vitamina de banana com leite e ponha seus três neurônios para funcionar: ninguém quer ser assaltado, estuprado e nem é conivente com seres humanos que agem de forma atroz e que merecem a punição prevista em lei. Ninguém “pensaria diferente se fosse sua filha” ou quer “levar bandido para morar em sua casa”. Esses argumentos são de um simplismo e ignorância que quase me persuadem a perder as esperanças na espécie humana. Saiba que as pessoas de esquerda entendem que há meios mais humanos e eficazes de se diminuir a criminalidade do que prender e linchar jovens negros e favelados já condenados no nascimento pela herdada exclusão a que estão submetidos. Entenda: a esquerda quer é atacar as causas da violência, enquanto você quer somente metralhar os seus efeitos.

Parágrafo único: a próxima vez que você, ó truculento coxinha, relinchar para mim que “bandido bom é bandido morto” vou sugerir que aplique essa máxima aos bandidos de colarinho branco que frequentam sua sala de estar nos churrascos de domingo, seja pessoalmente seja na TV. E por favor, não escreva mais “estrupo”, pois isso estupra meus ouvidos.

Artigo décimo: Não defenda a meritocracia, ó hidrofóbico coxinha. Se você era pobre e “venceu na vida” isso vai mostrar sua intolerância e desconhecimento das dificuldades dos outros pobres que são diferentes de você; e se você for rico, pior ainda - isso mostra que você é prepotente, folgado e usa dois pesos e duas medidas na vida: um para os pobres e outro para si próprio que teve tudo na vida de mão beijada. Nesse último caso, a vergonha alheia manda um beijinho no ombro.

Parágrafo único: o pobre de direita é um “ornitorrinco social” que merece toda minha solidariedade, ó heterodoxo coxinha. Não é fácil ser o bravo perdigueiro do capital alheio. E se esse for seu caso, deixo a você um breve e incontido recado: os ricos renitentes agradecem sua postura e mandam lembranças lá de Miami, prometendo um empreguinho de doméstica não registrada à sua mãe assim que voltarem da Disney.

Artigo décimo primeiro: Ateus não adoram o demônio nem são pessoas aprioristicamente más ou sem caráter, ó teocrático coxinha. Pare de vociferar esse mantra obscuro onde associa-se bondade e caráter com religiosidade. Hitler era cristão e Chaplin era ateu - e sabe o que isso significa? Absolutamente nada. Entenda de uma vez: todos são ateus com os deuses das outras religiões que não a sua. Eu sou ateu com todos os deuses e exijo respeito.

Artigo décimo segundo: pare de defender o capitalismo usando como exemplos países ricos como os EUA, ó disneylândico coxinha; você pode não saber, mas há milhões de pessoas passando necessidades nesses lugares todavia a grande mídia que você tanto venera e cultua não mostra. Abra os olhos: o problema não é a quantidade de dinheiro, mas o sistema que o concentra nas mãos de poucos.

Parágrafo único: já que mencionei a grande mídia, seja mais questionador e menos massa de manobra, ó crédulo coxinha. Não aceite como verdade absoluta tudo que é veiculado na grande mídia. Ela defende seus próprios interesses e não quer informar você; ao contrário, quer manipulá-lo. Pense - sei que é difícil, mas pense - antes de repetir como um papagaio acéfalo o que vê na Globo ou lê na Folha de São Paulo e lixos afins.

Artigo décimo terceiro: Respeite para ser respeitado, ó perdigotante coxinha. Lembre-se que todo ser humano é diferente de você e isso não é crime, por mais que você pense o contrário. Não invada a página de desconhecidos para xingar ou impor seu ponto de vista cheio de letras maiúsculas e vazio de bom senso. Além de demonstrar total falta de educação, a tentativa de colonização do outro entrega sua falta de espirito democrático, já diria Saramago. Argumentos Ad Hominem só atestam sua truculência exasperada e completa falta de conteúdo.

Parágrafo único: Não arrisque menção a nomes como Aécio Neves ou Olavo de Carvalho, é vergonha na certa, ó falante coxinha; na dúvida, permaneça em silencio. A parte pensante do universo agradecerá imensamente.

Assim concluo os treze artigos de minha cartilha.

E que Tutatis proteja as almas coxinhas, pois seus cérebros já estão comprometidos com a nobre função de peso de papel no jornaleiro da esquina.


Amém?